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Águas subterrâneas transfronteiriças compartilhadas

3. A IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

3.3 Águas subterrâneas transfronteiriças compartilhadas

Diversos países, em todo o mundo, possuem recursos naturais, como a água, compartilhados. Assim como existem rios transfronteiriços, também há recursos hídricos subterrâneos transfronteiriços, como por exemplo, o Aqüífero Guarani.

Esses tipos de recursos hídricos são conhecidos como aqüíferos transfronteiriços, pois abastecem e pertencem a mais de um país. Assim, a água subterrânea alimentada em uma bacia hidrográfica de um determinado país pode atravessar as fronteiras e ser explorada por outro país. Por isso, esse tipo de aqüífero, que pertence a bacias hidrológicas compartilhadas entre dois ou mais países, como no Mercosul, devem ser gerenciados e manejados de forma conjunta e com critérios ambientais de sustentabilidade.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2008), o debate sobre o gerenciamento de rios transfronteiriços tem sido feito há algum tempo, porém o mesmo não pode ser dito acerca dos aqüíferos transfronteiriços. Por isso, foi

identificada a necessidade de iniciativas internacionais voltadas para a gestão compartilhada de aqüíferos transfronteiriços.

A Associação Internacional de Hidrogeólogos (IAH) formou uma comissão de investigação sobre Aqüíferos Regionais em Zonas Áridas, com suporte da UNESCO e em cooperação com a FAO, onde delinearam uma proposta de programa de aqüíferos transfronteiriços de iniciativa internacional, o International Shared Aquifer Resource Management (ISARM).

Um dos objetivos do programa é o de fornecer suporte para a cooperação entre os países a fim de desenvolver o conhecimento científico e eliminar o conflito potencial, particularmente nos locais onde diferenças, como a de legislações, possam criar tensões. Objetiva também, treinar, educar, informar e prover informações para políticas e tomadas de decisão, baseadas na boa técnica e conhecimento científico. (BRASIL, 2008).

O objetivo a se alcançar é gerar uma gestão transfronteiriça, respeitando as diferenças existentes, tomando as mesmas como ponto de partida, sem tentar impor uma modificação dos marcos legais, mas sim impulsionando os pontos coincidentes.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2008), um órgão de gestão conjunta ou coordenada propicia o diálogo, possibilitando assim um caminho rápido para a solução de conflitos e melhorando a comunicação de todos os atores. A gestão dos recursos hídricos implica o desenho e a implementação de políticas públicas para a gestão e uso sustentável da água, necessitando assim do apoio completo da sociedade.

As ações de gestão incluem marcos legais, políticas, instituições e o manejo de ferramentas. Sem instituições apropriadas, as políticas não funcionarão. Ou seja, sem um conjunto de políticas e instituições que funcionem, o manejo das ferramentas é irrelevante. Sem um bom controle governamental, a sociedade civil não apoiará as políticas e será muito difícil obter o uso sustentável e eqüitativo da água.

Um bom controle governamental requer, acima de tudo, transparência por parte das instituições e participação dos cidadãos. As estruturas institucionais variam de um país para outro, mas qualquer que seja sua estrutura, é essencial ter mecanismos para o diálogo e coordenação para assegurar as medidas de integração dos países. (BRASIL, 2008).

Para o êxito da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos é necessário conhecer e identificar a gestão de conflitos e o procedimento para a construção de consensos entre os países. Os conflitos podem ocorrer por muitas razões. As áreas potenciais de conflito são: a interdependência das pessoas e as responsabilidades, ambigüidades sobre a jurisdição, encobrimento de funções, competência, diferenças na posição e influência organizativa, objetivos e métodos incompatíveis, diferenças no estilo de comportamento, diferenças de informação, deformações nas comunicações, expectativas não cumpridas, necessidades ou interesses não satisfeitos, desigualdade de poder ou autoridade e percepções equivocadas; entre outros. (BRASIL, 2008).

Os conflitos são inevitáveis em uma gestão integrada de recursos hídricos, mas esses podem ser positivos. Por exemplo, é possível que os conflitos ajudem a: identificar os problemas reais que requerem uma solução; realizar uma mudança necessária; permitir fazer ajustes sem ameaçar a base da relação; ajudar a construir novas relações; mudar a maneira de ver os assuntos, esclarecer os propósitos e identificar o que é mais importante. (BRASIL, 2002)

A gestão de conflito se refere ao uso de uma ampla quantidade de ferramentas para antecipar, prevenir e reagir aos conflitos. A seleção da ferramenta depende da causa fundamental do conflito, assim como do tipo e do lugar. As ferramentas para o manejo de conflitos implica numa combinação das mesmas. (BRASIL, 2002)

Nesses casos, elas permitem às partes avançar além da posição negociada, facilitando assim o processo de reclamação e convencimento. As técnicas tentam ajudar as partes a identificar quais interesses estão detrás da posição de cada um. Elas ajudam também a construir conjuntamente as soluções que permitam que todos ganhem, baseadas no alcance dos interesses dos mesmos. Entretanto, não é possível resolver todas as situações para que todos ganhem. (BRASIL, 2008).

Às vezes, o resultado necessário são as concessões mútuas e as soluções intermediárias. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2008), a gestão do conflito entremeia a mudança e a aprendizagem social que possui muitos benefícios, incluindo sua natureza voluntária. Já as técnicas podem desenvolver procedimentos e soluções rápidas para resolver disputas, ter maior controle das soluções por parte dos mais próximos a esses assuntos, oferecer maior flexibilidade

para o arranjo de soluções que o oferecem por meio dos mecanismos legais, além de economizar tempo e dinheiro.

Pode-se afirmar que a facilitação, mediação e a arbitragem são exemplos de ferramentas de solução de conflitos que podem trazer bons resultados nos casos de gestão integrada de recursos hídricos.

Alguns conflitos podem ocorrer e com isso, impedem a geração de assimetrias de informação, equilibrando as possibilidades de alcançar a eficácia e a eficiência no emprego dos recursos hídricos.

Todos os Estados Membros devem controlar a mesma informação de dados, para o qual seria conveniente a criação de um cadastro comum ou unificado. Esse cadastro deveria corresponder a cada uma das zonas compartilhadas do aqüífero em razão dos efeitos das ações do mesmo.

Portanto, com a finalidade de coordenar ações ou políticas de gestão que permitam mitigar os efeitos negativos e realizar um aproveitamento sustentável em cada uma das zonas que se identifiquem em razão do compartilhamento do aqüífero, os países compreendidos contariam com informações idênticas. (BRASIL, 2008)

Por isso, é importante contar com a vontade política favorável para avançar na construção de marcos institucionais de aqüíferos transfronteiriços. Isso implicará a coordenação de políticas de gestão como também em um nível maior de integração entre os países.

Cabe ressaltar que será um desafio evitar a jurisdição cruzada ou conflito de competências diante da disparidade de regulação jurídica da matéria hídrica que se observa nos países, como por exemplo, a carência dela no Paraguai. Considera-se, portanto, importante obter uma analogia legislativa, implementando assim um Sistema de Negociação de Políticas Ambientais Equiparadas.

O sistema referido é empregado na União Européia - UE, onde se tem desenvolvido uma metodologia para solucionar as brechas que provocam as diferentes circunstâncias ou ordens normativas entre os países membros. Consiste no estabelecimento de um standard normativo comum a todos os países membros e similar ao dos países com maiores exigências de proteção ambiental. (SG- GUARANI, 2008)

Para alcançar uma gestão eficiente, tanto no que se refere à geração de um marco legal, como a implementação de políticas e ferramentas, é essencial a

capacidade dos órgãos na regulação e no cumprimento legal, tal circunstância, entretanto é distinta em cada região. Sendo assim importante a legitimidade da agência reguladora para assegura o acordo.

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