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METODOLÓGICAS

1.2 Área Central e os Centros Históricos

Levando-se em consideração que a presente pesquisa possui como área de estudo o Bairro Fundinho, localizado junto ao limite da atual área central e considerado o centro histórico do município de Uberlândia/MG, julgamos importante discutir o papel e o conceito das áreas centrais, bem como dos centros históricos.

A área central de uma cidade possui significativa importância no que se refere à forma espacial e à dinâmica de formação do espaço urbano. Conforme aponta Corrêa (2005), o surgimento da área urbana está relacionado a dois fatores: a Primeira Revolução Industrial, que levou ao aumento do fluxo de pessoas e de mercadorias na cidade, principalmente, nas áreas centrais; e a ampliação das ferrovias que, a partir da metade do século XIX, tornaram-se o meio de transporte mais importante nas articulações inter-regionais.

A partir do surgimento e consolidação das áreas centrais no entorno dos terminais de transportes ocorreu a instalação de indústrias, de empresas de comércio atacadistas, do setor financeiro e de prédios públicos e privados. Tais estabelecimentos davam suporte para a burguesia e os trabalhadores que migravam para a cidade.

A consolidação da área central ocorria de acordo com o ritmo de crescimento da cidade e o valor da terra passou a exercer papel fundamental na dinâmica da infraestrutura, do espaço e dos transportes.

Montessoro (2006) afirma que, ao se discutir a origem da área central nas cidades brasileiras, é necessário compreender o núcleo inicial que surgia a partir de um povoado localizado em ponto estratégico. A organização e diversificação ocorriam a partir da demanda existente, levando a transformações no espaço urbano.

É válido ressaltar que os elementos que propiciaram o crescimento e a consolidação da área central foram os mesmos responsáveis pelo processo de descentralização. A partir de 1950 houve um rápido crescimento e expansão das cidades e, assim, novas centralidades precisavam ser criadas para atender a população que se localizava nas áreas mais periféricas.

Para Corrêa (2005, p. 40): “O núcleo central caracteriza-se, na segunda metade do século XX, quando o processo de centralização já não mais desempenha o papel relevante que desempenhou no passado”.

A partir de 1970 houve um aumento do valor da terra na área central devido aos seguintes fatores: dificuldades de se encontrar novos espaços para a expansão do comércio, restrições legais para construções de novas edificações, falta de infraestruturas urbanas que atendessem à nova demanda resultante do expressivo fluxo de pessoas e falta de estacionamento, dentre outros.

O bairro Fundinho presenciou todo esse processo, pois até meados de 1908 era o espaço onde se localizava a estação rodoviária e todo o comércio da cidade estava concentrado ao seu entorno. Todavia, em meados de 1940 ocorreu a descentralização das atividades comerciais

O rápido crescimento populacional nos grandes centros urbanos contribuiu para o processo de descentralização das atividades, uma vez que as pessoas migravam do campo para a cidade em busca de novas oportunidades e passaram a residir nas áreas periféricas, que possuíam terrenos com valor mais baixo. A expansão do sistema de transporte público, sobretudo, do transporte ferroviário em um primeiro momento também foi outro fator que contribuiu para tal processo.

A descentralização aconteceu de forma tão rápida que, no final do século XIX, as grandes metrópoles encontravam-se consolidadas. Assim, a nova dinâmica que se instaurou no início do século XX foi o deslocamento das residências e das indústrias para áreas mais periféricas e a permanência do comércio varejista e dos serviços na área central.

Cada área central possui sua importância e seu significado para determinada população, em decorrência da diversidade e do sentimento de pertencimento que o patrimônio cultural exerce na vida das pessoas. Essa área deve ser preservada e valorizada devido à significativa importância que possui, todavia, o que se tem presenciado é a degradação de sua infraestrutura e de seu patrimônio.

O patrimônio cultural da área central é um tema que tem gerado grandes debates, pois, a partir da tomada de consciência das funções simbólicas dos espaços urbanos, passa a figurar como uma expressão histórica. Os centros históricos se tornaram um fragmento urbano e são considerados simbólicos, pois permitem ao indivíduo uma identificação que provoca sentimentos de enraizamento, ao passo que também atuam como lugares de memória coletiva. Argan (2000) ressalta em seus estudos que, considerando o ritmo das transformações urbanas, não se tende a salvar o valor ideal dos bairros antigos, mas sim a proteger o valor de venda do terreno. No centro, esse valor continua a crescer devido à ampliação do perímetro urbano, que pode ser comparada a uma mancha de óleo. Para que a especulação imobiliária se efetive é preciso expulsar dos velhos bairros as pessoas de baixo poder aquisitivo que moram ali há séculos. Posteriormente, a destruição radical da antiga fisionomia urbana será apenas questão de tempo.

Segundo Argan (2000, p. 105):

A conservação dos antigos conjuntos arquitetônicos está ligada à conservação integral de seu conteúdo social, sua evolução está ligada à possível evolução histórica da antiga função. A substituição do velho conteúdo por um novo, por seu turno, conduziria rapidamente à transformação radical e à ruína das formas antigas.

O processo de deterioração se intensificou a partir da metade do século XX, dando início a uma série de intervenções que pretendiam amenizar ou até mesmo reverter esse quadro. Diante desse cenário de deterioração das áreas centrais surgiu um movimento de renovação do centro para amenizar e sanar os problemas de degradação, com destaque para as intervenções urbanísticas que visavam à reabilitação, à requalificação e à renovação das estruturas já existentes.

As intervenções propostas procuram resgatar a importância dos espaços urbanos, principalmente nas áreas centrais e nos núcleos históricos, aliadas a aspectos econômicos, sociais e culturais da comunidade, sempre tendo como objetivo primordial a qualidade de vida da população.

Devido ao valor simbólico atribuído aos centros históricos e ao papel que desempenham na cidade, esses são alvo político de intervenções urbanas. Porém, as denominações desse conceito são praticadas muitas vezes de forma indiscriminada, deixando dúvidas se a intervenção corresponde à necessidade efetiva de um determinado sítio urbano.

Desse modo, no próximo item será desenvolvida uma caracterização das principais intervenções urbanas realizadas nos centros históricos, bem como seus objetivos, estratégias e resultados para propiciar à população um espaço urbano equilibrado que resulte em uma melhor qualidade de vida.