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METODOLÓGICAS

1.5 O caso brasileiro: Porto Maravilha-RJ

1.5.2 Considerações acerca do Projeto Porto Maravilha

Após a apresentação do projeto a ser desenvolvido na área portuária do Rio de Janeiro, a seguir serão feitas algumas considerações a partir de ideias de estudiosos da área urbana.

Para Diniz (2014), o Projeto Porto Maravilha foi concebido tendo como princípio o discurso do “imaginário da revitalização”, a partir de modelos como do Porto de Baltimore (EUA) e Port Vell (Barcelona). Conforme aponta o autor, o Projeto Porto Maravilha, na prática, se aproxima mais de um modelo clássico de renovação urbana, pois utiliza da demolição de imóveis, do rompimento com a comunidade local e do uso de recursos públicos para gerar benefícios a investidores privados.

Ainda de acordo com o referido autor, a compreensão desse projeto se faz à luz da teoria urbana crítica, quanto ao processo de transformação da região portuária e sobre os diferentes projetos de renovação desse espaço. O projeto Porto Maravilha constituiu-se em momento oportuno para realizar o chamado “milagre carioca”, do qual emergiu uma coalizão urbana envolvendo os diferentes níveis de governos e os tradicionais e novos atores da economia da cidade. Esses desejam praticar um novo modelo de governança empreendedora, com o objetivo de transformar o Rio em uma global city (DINIZ, 2014).

O Projeto Porto Maravilha buscou em seus princípios adotar os modelos de outras experiências bem sucedidas, como de Boston e Baltimore (EUA); Puerto Madero, Buenos Aires; Kop van Zuid, em Roterdã; e, especialmente, Port Vell, em Barcelona. Existe ainda em comum o discurso adotado pelo prefeito do Rio de Janeiro com o modelo adotado por Barcelona:

Como preparar o Rio para receber o maior evento esportivo do planeta e aproveitar essa oportunidade para transformar as condições de vida dos cariocas? Estamos seguindo à risca o que me disse Pascal Maragal, prefeito de Barcelona à época das Olimpíadas de 1992 e cujo modelo de organização é uma inspiração (DINIZ, p.77).

Mas, é importante evidenciar a diferença entre revitalização e renovação urbana. De acordo com Del Rio (1990), a revitalização caracteriza-se, entre outros aspectos, pela conservação do patrimônio e contextualização, pelo estímulo aos usos mistos e pelas formas “flexíveis” de gestão e planejamento. Por sua vez, os princípios de ordem, normatização e funcionalidade caracterizariam as políticas de renovação urbana, assim como o desprezo pelas tradições e particularidades culturais, históricas e ambientais. Tais argumentos fundamentam- se num maniqueísmo que opõe renovação/modernidade e revitalização/pós-modernidade.

No Rio de Janeiro se optou pela proposta de revitalização, fato esse que não descartou o recurso da demolição/reconstrução e seus efeitos. Podemos citar como exemplo a demolição do Elevado da Perimetral e das antigas edificações que abrigavam ocupações populares do Morro da Previdência.

Para Diniz (2014, p. 77):

Ao analisar na prática o Projeto Porto Maravilha e o seu modo de implementação, fica claro que se aproxima mais de um conceito clássico de renovação urbana caracterizado por romper ligações comunitárias, favorecer a formação de centros de negócios de luxo e por permitir, com a ajuda de recursos públicos, benefícios a investidores e proprietários.

Não é a primeira vez que o Porto Maravilha passa por intervenções urbanas. Desde a década de 1980, esse já possui projetos voltados para sua melhoria, com o objetivo de demonstrar que o ideário de revitalização da zona portuária é antigo. Todavia, as intervenções sempre esbarraram em entraves políticos e conflitos de interesses.

As primeiras propostas de intervenções da região portuária foram elaboradas pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e pela iniciativa privada. Surgiram no contexto da crise econômica do país na década de 1980. As resistências de autoridades portuárias, dos Governos Municipal e Federal e as mobilizações comunitárias pela conservação das características históricas dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo inviabilizaram o projeto.

Já na década de 1990 as ações da ACRJ e os órgãos da administração portuária dos Governos Municipal e Federal e a Lei de Modernização dos Portos, de 1993, estabeleceu as bases jurídicas da revitalização de áreas portuárias no Brasil, implicando em complexas negociações entre as autoridades portuárias, a iniciativa privada e as esferas de governo. As relações entre esses atores manifestaram ora tendências à cooperação, ora conflitos de interesses. No caso do Rio de Janeiro, divergências entre os atores envolvidos comprometeram a realização de diversos projetos.

Em 2000 foi elaborado o Plano de Recuperação e Revitalização da Região Portuária do Rio de Janeiro, denominado “Porto do Rio”. Tal fato marcou a retomada dos debates acerca da revitalização da região portuária carioca. Pela primeira vez, desde os anos 1980, foram construídos equipamentos urbanos como a Vila Olímpica da Gamboa e a Cidade do Samba. Nesse mesmo tempo houve irregularidades na instalação de uma filial do Museu Guggenheim no Píer Mauá, que impediu a continuidade das ações.

Somente no final da década de 2000 que o Projeto Porto Maravilha foi instituído, alterando os parâmetros de usos e ocupação do solo da região portuária, estabelecendo intervenções prioritárias de infraestrutura e transporte, como também mecanismos público- privado de gestão e financiamento.

Diniz (2014) faz uma crítica referente ao processo de implantação do Projeto Porto Maravilha, apontando a expansão da área central da cidade e a produção dos chamados marcos de distinção, além de tendências de gentrificação da região. Segundo o autor, em 2010, as moradias de 671 famílias do Morro da Previdência foram marcadas para demolição no âmbito do projeto Morar Carioca, programa municipal de urbanização das favelas. Esses projetos (Morar Carioca, UPPs, Porto Maravilha e Porto Olímpico) fazem parte de um projeto maior de inserção do Rio de Janeiro na lista das “global citys” e simbolizam um aparato para receber a comunidade internacional durantes os grandes eventos esportivos.

Quanto ao processo de gentrificação já foi citado na seção anterior que o intuito do projeto Porto Maravilha e da Prefeitura do Rio de Janeiro é que os bairros contemplados pelo projeto cheguem a uma população média de 100 mil pessoas, mesclando edificações de cunho residencial, comercial, empresarial e cultural. Porém, em relação ao uso residencial, as habitações são voltadas para uma população de classe média em um primeiro momento. O que se verifica é que as ações de promoção de moradia de interesse social e de regularização fundiária são residuais, o que coloca em questão a base social do crescimento demográfico esperado para a região portuária.

Assim, conclui-se que o Projeto Porto Maravilha não é o resultado de um novo momento do Rio de Janeiro, associado a eventos na cidade e à conjuntura política e econômica. Na verdade, o projeto é realizado sob novas e velhas formas, elementos que aliados à gentrificação da região portuária, exigem pesquisas posteriores à total implantação do projeto.

O projeto Porto Maravilha surge no cenário brasileiro como inovador, haja vista a transformação urbanística que se dará no espaço portuário do Rio de Janeiro. Proporcionará à

Santos (1997), o “novo x antigo” poderão se comunicar e oferecer à população uma boa qualidade de vida.

É claro que problemas e críticas sempre surgem no decorrer do desenvolvimento das ações contidas no projeto. A população deve reivindicar seus direitos. Todavia, devemos ser otimistas e ter em mente que projetos devem ser cada vez mais desenvolvidos para a melhoria dos espaços urbanos das cidades brasileiras.

Os exemplos de Barcelona e seus planos estratégicos aplicados em melhorias urbanas, como também o caso brasileiro do Porto Maravilha no Rio de Janeiro, mostram que é possível transformar uma realidade urbana que se encontrava deteriorada e não atendia mais às necessidades da população. Contudo, devemos salientar que esses exemplos não devem ser copiados como modelos em todas as cidades, pois cada uma apresenta suas especificidades e buscam objetivos diferentes no seu espaço urbano.

O bairro Fundinho, em Uberlândia, possui características diferentes dos exemplos apresentados acima. Mas, o principal objetivo em apresenta-los é mostrar que, a partir das experiências vivenciadas em outros lugres, a cidade de Uberlândia, bem como o bairro Fundinho, pode se espelhar desenvolvendo projetos urbanos. Estes devem atender às necessidades da população local, proporcionando melhores condições de infraestrutura e qualidade de vida.

Diante de todo o referencial bibliográfico apresentado nos itens anteriores, o próximo capítulo possui como objetivo investigar e analisar as atuais características e contribuições que o Plano Diretor de 2006 trouxe para o espaço do bairro Fundinho.

CAPÍTULO II

CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO FUNDINHO PELO