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Capítulo III: Dos Eixos de

Mapa 4 Uberlândia (MG): limites do bairro Fundinho conforme as Leis 224/99 e 245/

Fonte: Uberlândia (2014) Autor: SILVA, L. O. (2016).

No dia 30 de novembro de 2000 foi aprovada a Lei n° 245/00, que se pautou em relação ao parcelamento e zoneamento do uso e ocupação do solo de Uberlândia. Uma das mudanças previstas que interferiu no Fundinho foi a ampliação do seu perímetro, conforme apresentado no Mapa 4. Foram agregadas algumas quadras em sua área já delimitada pela Lei 224/99. No artigo referente ao Fundinho não houve transformações significativas. É importante ressaltar que a Lei n° 245/00 criou dificuldades para o remembramento dos lotes, dificultando a continuidade do processo de verticalização no bairro. Nos anos posteriores, houve uma completa estagnação no lançamento de novos empreendimentos de condomínios verticais.

Quanto aos índices urbanísticos para a ZER a lei determinou que a taxa de ocupação máxima fosse de 60% e o coeficiente de aproveitamento de 1,5.

É nítido que existe uma contradição a respeito da delimitação do perímetro do bairro Fundinho, pois são adotadas duas metodologias e duas legislações distintas, fator que gera conflitos em vários estudos e pesquisas desenvolvidas no bairro utilizando perímetros diferentes.

A primeira delimitação refere-se à Lei de Uso e Ocupação do Solo n° 224/99, utilizada atualmente na base cartográfica do Projeto “Bairros Integrados”. Essa não inclui algumas

que são consideradas importantes por conterem exemplares da arquitetura, história e cultura da cidade.

A segunda delimitação tem como base a Lei de Uso e Ocupação do Solo n° 245/00, perímetro que continuou sendo utilizado pela revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo n° 525/2011 até os dias atuais, sendo a base cartográfica utilizada para o presente estudo.

Percebemos que o Plano Diretor de 1994 obteve alguns avanços referentes ao Fundinho, pois o considerou como um Centro Histórico e ressaltou a necessidade de preservação de suas características. Todavia, é nítido que quanto à legislação voltada para o uso e ocupação do solo existe uma confusão de propostas e objetivos, dada a existência de duas delimitações. Outro ponto identificado foi a falta de estratégias voltadas para a preservação do Fundinho com ações aplicadas para o encontro dos cidadãos, ou seja, o bairro foi identificado como uma ZER. Contudo, as ações para a concretização desse propósito não foram determinadas, tornando-se diretrizes superficiais.

2.3.4 Plano Diretor de 2006

O ano horizonte para o Plano Diretor de 1994 previu quinze anos para implantação de suas propostas. No decorrer desse período foram várias as transformações no cenário nacional, no que se refere à economia e política, as quais se refletiram em âmbito municipal. Aliado a isso, houve o contínuo crescimento populacional na cidade de Uberlândia, fato que contribuiu para a transformação do espaço, aumentando a demanda por saúde, educação, segurança, lazer, cultura, mobilidade urbana (elementos agregados ao crescimento da frota de veículos).

Diante desse cenário e das legislações estabelecidas pelo Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), terminava o prazo para que todos os municípios brasileiros com população superior a 20 mil habitantes realizassem a elaboração ou revisão de seus Planos Diretores.

A Prefeitura Municipal de Uberlândia, a partir da Lei Complementar n° 432 de 19 de outubro de 2006, fez uma revisão do plano Diretor de 1994. Para cumprir o objetivo foi firmado um contrato de consultoria externa com a empresa Tese Tecnologia em Sistemas Especiais Ltda, com sede em Curitiba. Essa, em parceria com a equipe técnica da Prefeitura, integrou o Núcleo Gestor de revisão do plano diretor, culminando na elaboração de um novo Plano. Esse ainda encontra-se em vigor e possui como ano horizonte 2016, em que haverá nova revisão.

A elaboração de novas diretrizes para o Plano Diretor de 2006 foi baseada na metodologia do planejamento estratégico, sendo pautado na formulação de cenários prospectivos para o município, de forma a:

- conduzir as propostas na direção de um quadro referencial pré- estabelecido-o cenário ideal.

-captar os anseios da sociedade local sobre seu futuro coletivo- o cenário desejado. -sistematizar e analisar as informações sobre a realidade atual nos seus diversos aspectos, com a elaboração de um diagnóstico da situação – o cenário atual; e, por último,

-estabelecer diretrizes e normas na direção de um cenário futuro possível, que concilie as ideias estabelecidas no cenário ideal com as expectativas da população evidenciando as potencialidades e minimizando as deficiências verificadas no diagnóstico da situação atual (UBERLÂNDIA, 2006, s. p.).

Tendo em vista que a revisão do plano diretor foi pautada na formulação de cenários, o primeiro foi chamado de “Cenário Ideal”, cujo objetivo principal foi recorrer ao conceito de cidade sustentável. Esse remete a uma cidade socialmente mais justa, economicamente viável e ambientalmente sustentável. De acordo com o Plano Diretor de 2006, o desenvolvimento desse cenário se baseou em três princípios:

 Cidade Compacta: ou seja, o aumento da densidade de ocupação da malha e maior pluralidade no uso e ocupação do solo. Esse conceito, se bem aplicado, permite uma melhoria na eficiência econômica e ambiental na utilização da terra e na distribuição de infraestruturas públicas, sobretudo no que diz respeito aos transportes e ao saneamento.

 Policentrismo em Rede: esse conceito está pautado na valorização de subcentros e formação de redes radiais de transporte coletivo, ou seja, essa combinação contribui para a formulação de modelos integrados de ocupação do solo e de transportes, que contemplem a densificação da habitação nos pontos de conexão das redes de transporte público, a implementação de rede cicloviária e vias de uso exclusivo para pedestres na zona central;

 Princípio da Manutenção da Forma Urbana e dos Limites Urbanos: a partir do incentivo à verticalização em torno de polos estruturadores, implementação de uma rede de áreas verdes na cidade e de áreas protegidas nas áreas periféricas. (UBERLÂNDIA, 2006, p. 1).

Referente ao “Cenário Atual”, esse foi desenvolvido a partir da elaboração do diagnóstico integrado entre a equipe da Prefeitura e a equipe consultora Tese Tecnologia. Foi necessário levantamento de dados e fontes de aspectos socioeconômico, meio ambiente natural e construído (uso e ocupação do solo), aspectos legais e institucionais. Tais informações contribuíram para a identificação qualitativa da situação urbana da cidade. A sistematização dos dados coletados foi realizada pela equipe técnica da PMU, juntamente com os desenhistas e estagiários contratados. A finalização dessa etapa do trabalho aconteceu com a identificação dos pontos fortes e fracos da realidade local.

O “Cenário Desejado”, aquele que parte do princípio do anseio da população, baseou-se nas consultas realizadas junto à mesma, apresentando um ranking dos problemas levantados durante a pesquisa comunitária realizada por audiências públicas. Outra metodologia utilizada para o levantamento de informações junto à população foi através de Reuniões Setoriais, realizadas nos setores norte, sul, leste, oeste, centro e rural. Essas reuniões aconteceram no período noturno, onde foi aplicado um método no qual cada grupo de moradores e técnicos da PMU avaliariam conjuntamente os pontos fortes e fracos de cada região, além de apresentarem possíveis sugestões.

Outro ponto importante abordado pelo Plano Diretor foi a elaboração de questionários, com o objetivo de:

[...] levantar a opinião da comunidade. Foram produzidos 80.000 questionários com 04 perguntas, sendo 03 perguntas abertas. Esses foram distribuídos junto às escolas municipais e estaduais, escolas de ensino particular, nos postos de saúde, nos clubes recreativos, durante o mês de Abril/2006. Foram respondidos e compilados cerca de 26.000 questionários, pela empresa – Instituto Veritá (UBERLÂNDIA, 2006, p. 2). O recurso utilizado a partir dos questionários não surtiu o resultado desejado, visto que não obteve a adesão necessária e seu formato e conteúdo se limitaram apenas a participação da comunidade a assuntos superficiais. Ou seja, o questionário serviu apenas como um mero elemento formal para atender a necessidade de participação popular exigida pelo Estatuto da Cidade.

Em busca de finalizar o plano diretor, a empresa de consultoria contratada realizou cursos de capacitação técnica (Indicadores de Planejamento, Planejamento Estratégico e Geoprocessamento) para integrantes do Núcleo Gestor e reuniões temáticas (Uso e Ocupação do Solo, Estatuto da Cidade, Mobilidade, Políticas Sociais Públicas e Meio Ambiente). Os objetivos eram identificar os problemas do município e fortalecer os dados e informações, além de discutir possíveis soluções para os problemas urbanos apresentados.

O cenário proposto era:

[...] o resultado do consenso coletivo (objeto da 3ª Audiência Pública), onde as propostas contidas no cenário ideal, no cenário desejado pela comunidade , nas propostas técnicas e nas propostas apontadas pela equipe do Núcleo Gestor, foram incluídas no Plano Diretor com o horizonte 2006/2016. Essa etapa do Plano consistiu na construção do cenário proposto baseando-se numa visão estratégica que contemplou os três aspectos determinantes do desenvolvimento municipal: o econômico, o social e o físico. Os resultados dessa etapa foram pautados nas discussões da equipe técnica municipal com a sociedade e demais entidades governamentais, que atuam no território municipal sobre o documento apresentado (UBERLÂNDIA, 2006, p. 3).

Tendo em vista os procedimentos adotados para a revisão do Plano Diretor de Uberlândia de 2006, é possível verificar que o esforço do poder público municipal em cumprir os requisitos do Estatuto da Cidade, referente à participação popular, foi maior que o desejo de se construir uma cultura de gestão democrática da cidade. Ou seja, a metodologia adotada não chegou aos resultados esperados, pois não ofereceu capacitação ampla aos participantes para que esses pudessem interferir de forma mais qualificada nos debates realizados. Assim, as maiores contribuições da comunidade aconteceram na elaboração de um “cenário desejado” de importância secundária, fato esse que tornou distante do cenário proposto, que buscava a junção de critérios técnicos e anseios sociais.

Entretanto, apesar da deficiência no que se refere à participação popular durante a elaboração do plano, a análise do diagnóstico e das diretrizes permite constatar que esse possui avanços em relação aos planos elaborados anteriormente. Há a apresentação de um diagnóstico mais compacto que ressalta, principalmente, as potencialidades e as fragilidades, considerando os problemas urbanos do município, além das questões viárias e de discussões acerca da expansão do sítio urbano da cidade. Foi o primeiro plano a discutir a questão da circulação de forma mais ampla, abarcando todos os meios de locomoção possíveis, bem como suas articulações.

Em conjunto com a efetivação do novo Plano Diretor de 2006, as leis complementares a esse também passaram por um processo de revisão. Isso porque o artigo 4° da Lei Complementar 432/2006 previa que todos os instrumentos necessários à implantação das diretrizes do novo plano diretor deveriam ser revisadas e atualizadas em um prazo máximo de um ano. Dentre tais leis, destacam-se:

 Lei de Parcelamento do Solo (revisada pela Lei Complementar n°523/2011);  Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo (revisada pela Lei Complementar n°

525/2011);

 Código de Obras (revisado pela lei Complementar n°524/2011);  Código de Posturas (revisado pela Lei n°10.741);

 Código Tributário (instituído por Lei Ordinária n°1448/66, não foi totalmente revisada apenas alterado por leis complementares ao longo dos anos);

 Lei do Meio Ambiente (revisada pela Lei n°10.700/2011) e;  Código de Saúde (revisado pela Lei n° 10.715/2011).

É possível verificar que a maior parte da legislação que complementa o Plano Diretor de 2006 foi revisada cinco anos após a vigência do mesmo, ou seja, fora do prazo estabelecido em lei. Tal fato gerou prejuízos para a aplicação dos instrumentos de gestão urbana.

Devemos ressaltar que a legislação que rege o parcelamento do solo em Uberlândia (que possui como objetivo disciplinar os critérios de parcelamento do solo integrados à política de uso e ocupação do solo urbano) e o sistema viário da cidade passou por diversas alterações desde que o Plano Diretor foi sancionado em 2006.

No que se refere ao bairro Fundinho e a aplicação da Lei 525/11 do Uso e Ocupação do Solo, podemos salientar que o Poder Público buscou consolidar a ZER, alterando novamente seus índices urbanísticos, mantendo o coeficiente de aproveitamento do solo em 1,5 e aumentando a taxa de ocupação para 70% do lote. Restringiu o gabarito máximo das edificações em 10 metros (como pode ser observado no Mapa 5), afastando de vez a possibilidade de construção de novos condomínios verticais de médio e grande porte. Limitou a construção de edificações a, no máximo, 3 pavimentos, se consideradas todas as diretrizes contidas na legislação. No que se refere ao perímetro urbano do Fundinho esse continuou o mesmo, quando delimitado pela Lei de Uso e Ocupação do Solo n° 245/00.