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Capítulo 3 – Metodologia

3.1 Delineamento do Estudo

3.2.1 Área de Estudo: Breve Histórico e Caracterização

O estudo foi realizado no município de Campinas no interior do estado de São Paulo, localizado a cerca de 100 km da capital São Paulo com Latitude S 22°53'20" e Longitude O 47°04'40". A população estimada em 2015 é de 1.164.098 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o terceiro município mais populoso de São Paulo e o décimo quarto do país.

O município apresenta Índice de Desenvolvimento Humano Municipal médio (IDHM) de 0,805 em 2010, o que indica alto nível de desenvolvimento humano.

32 A cidade se apresenta como polo industrial, comercial e científico da região metropolitana que leva seu nome e abrange vinte municípios da região (30).

O processo de urbanização e industrialização do município é caracterizado inicialmente pela atividade agrícola da produção cafeeira durante a segunda metade do século XIX, atividade esta que permitiu a instalação de novos ramos da indústria e serviços que se instalavam no estado e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O processo de interiorização da indústria moderna, caracterizado pela construção das ferrovias Paulista e Mogiana que interligou o município, São Paulo e o interior do estado permitiu à cidade consolidar- se como entreposto para os bandeirantes e tropeiros que se deslocavam para o interior do estado e os estados vizinhos.

A urbanização trouxe consigo o acirramento das desigualdades sociais. Maciel (31) descreve a situação de marginalização, sobretudo da população negra, entre outras parcelas da população campineira durante o final do século XIX e início do século XX (período entre 1888-1926); Sua análise permite-nos obter um quadro da violência e causas externas naquela época, bem como observar sua intrínseca relação com o uso do poder e a exclusão social:

“Tentando determinar quais as principais causas de morte entre negros, verificou-se que, sem ordem de importância: morria em sua maioria sem indicação de causas, quando achados já mortos nas vias públicas; morria de „marasmo senil‟, isto é, velhice; morriam de síncope cardíaca, inanição, assassinatos com facadas, tiros, espaçamentos, envenenamento e enforcados, afogados nas enxurradas de chuvas e nos rios; morriam de frio e atropelados pelo trem, quando não trabalhavam; e de acidentes de trabalho quando estavam empregados” (22).

A crise econômica agrícola cafeeira aumentou o desemprego na cidade, acentuando ainda mais a situação de desigualdade e a violência estrutural e em todos os outros níveis. Destaca-se a violência coletiva contra os grupos marginalizados, no sentido de restrição de sua liberdade e de convivência na cidade:

“Entre julho de 1912 e maio de 1916 foram encontrados mortos nos trilhos dos trens 66 homens pretos e pardos. Nos trilhos

33 aconteciam muitos desastres com os trabalhadores ou eram depositados corpos de mortos. Inclusive suspeita-se que muitos desses tenham sido assassinados pela própria polícia que quando encarregada de expulsar imigrantes mendigos, inválidos e outros indesejáveis, os fazia embarcar nos trens [...]. Ou então, após recolher os que conseguiam chegar até o centro da cidade, levava-os até os trilhos e os mandavam embora para fora da cidade assustando-os com tiros em sua direção”.(Ibidem)

O crescimento desordenado do município, resultante do processo de industrialização se intensifica nos anos 50 e 60 com a chegada das empresas nacionais no município (Bosch, GE, Rhodia, entre outras). Com isto, tem-se a formação de novos bairros, mais afastados, destinados às camadas mais baixas da população trabalhadora que migrava para a cidade. Desta forma o crescimento populacional não foi acompanhado pela infraestrutura de serviços urbanos.

O fenômeno da urbanização observado no Brasil durante os anos 70, foi marcado pela favelização - sobretudo nas grandes capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza - que colocou para a cidade de Campinas problemas encontrados até os dias de hoje no que diz respeito à violência e às condições socioeconômicas de seus habitantes (32).

Nas últimas duas décadas observa-se no município a redução da participação do setor industrial, com empresas buscando outras regiões para sua instalação e um aumento das atividades econômicas ligadas ao setor de serviços, tecnologia e logística. A implementação da Região Metropolitana de Campinas (RMC) na última década aumentou ainda mais o poder do município de atração de investimentos e - como observado em sua história- o consequente aumento da distância entre ricos e pobres, por conta da estruturação desordenada do território.

Dados recentes da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SMS) apresentam coeficientes de mortalidade geral entre 5,9 e 6,3 óbitos para cada mil habitantes, para o período de 2000 a 2016. A figura 2 apresenta em números

Este coeficiente apresentou redução entre os anos de 2003 até 2005, chegando ao seu menor valor de 500 óbitos no ano de 2005. Após este ano os números voltaram a crescer ano após ano (exceto para o ano de 2007, quando apresentou redução) até alcançar a marca de 600 mortes no ano de 2014 (33).

As mortes por causas externas ocuparam, em 2016, o quarto lugar entre os grupos de causas de morte pela CID-10, representando 10,56% das causas de morte do município (Figura 3), sendo superada apenas pelas mortes por doenças do Aparelho Circulatório (37,58%), as Neoplasias (25,01%) e Doenças do aparelho

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O número de subnotificações de registros de óbitos e das ocorrências policiais refletem imprecisões nas informações e as subnotificações que, embora sendo amplamente discutidos em diferentes estudos (11,15,18,20), se apresentam relevantes na composição dos registros sobre este tipo de mortalidade. O Atlas da Violência (20) dedicou seu oitavo capítulo à discussão sobre a qualidade dos dados sobre mortalidade. Nesta sessão, Cerqueira et al. (20) chama atenção para as Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI) em relação às chamadas mortes esclarecidas. Segundo os autores essa razão deve representar um valor residual inferior a 1%, no que diz respeito à qualidade dos sistemas de informações :

“No Brasil, em 2009, esse indicador alcançou um patamar de 9,6%,sendo que no Rio de Janeiro 25,5% das mortes violentas não foram esclarecidas. Cerqueira (2012, 2013) identificou o crescimento dessas mortes não esclarecidas, a partir de 2007, em alguns estados, e concluiu que, em média, 73,9% dessas eram na verdade homicídios classificados erroneamente, decorrentes muitas vezes das falhas de compartilhamento de informações entre as organizações que compõem o Sistema de Informação sobre Mortalidade”(20).

36 encontrada nos sistemas de informações sobre mortalidade de todas as esferas de governo, porém afirma haver avanços na otimização da coleta das informações:

“A primeira grande limitação, assumida pelo próprio SIM, é o subregistro, devido à ocorrência de inúmeros sepultamentos sem a devida certificação, determinando uma redução do número de óbitos declarados. Não só a quantidade, mas também a qualidade dos dados têm sofrido reparos: [...]. Apesar dessas limitações, existe amplo consenso em indicar, por um lado, a enorme importância desse sistema e, por outro, a necessidade de seu aprimoramento” (20).

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