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CAPÍTULO 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 ÁREA DE ESTUDOS AMBIENTE COMPORTAMENTO

Segundo Reis e Lay (2006), essa área de estudos é também conhecida por alguns autores como psicologia ambiental (PROSHANSKY et al., 1970; CANTER, 1977), psicologia ecológica (BARKER, 1968; GIBSON, 1979) ou percepção ambiental (LYNCH, 1960; RAPOPORT, 1977). A psicologia ambiental baseia-se no entendimento que a pessoa influencia o ambiente e ao mesmo tempo é influenciada por ele; e envolve, portanto, disciplinas ligadas ao ambiente - arquitetura e geografia - e ao comportamento - sociologia, psicologia, antropologia e ciências políticas (ELALI, 2006).

Este campo de estudo emerge na década de 1960 como reação aos problemas causados pela implantação de modelos habitacionais inspirados no urbanismo moderno na Europa e nos Estados Unidos (VILLA; ORNSTEIN, 2013). Segundo Reis & Lay (2006), as críticas voltavam-se ao caráter individualista, consumista e fragmentado das cidades modernas que priorizava a subdivisão da cidade em unidades distintas, à falta de consistência formal e de oportunidades diversificadas de serviços e de como resolver o vandalismo, insegurança, insatisfação e desconforto psicológico em lugares públicos e áreas comuns de conjuntos habitacionais.

No Brasil, os estudos sobre as relações Ambiente-Comportamento ganham consistência acadêmica com trabalhos de Avaliação Pós-Ocupação (APO) de ambientes construídos iniciados nos cursos de Arquitetura e de Engenharia em meados da década de 1980 (VILLA; ORNSTEIN, 2013). Estes trabalhos surgem quando diretrizes de projeto passam a considerar, além de critérios de desempenho

físico, o (re) conhecimento dos aspectos culturais, as expectativas e o nível de satisfação dos usuários.

Ao longo dos anos, desde seu surgimento, a APO firmou-se como um conjunto de métodos e técnicas com potencial de aplicação nos ambientes em uso visando incrementar a qualidade dos processos de projeto, construção e uso dos ambientes construídos (VILLA; ORNSTEIN, 2013), desenvolvendo-se inicialmente nos empreendimentos habitacionais e mais tarde em outras tipologias de edificações (corporativas, institucionais, saúde), e também nos ambientes externos.

Inicialmente de caráter tecnicista, nas últimas décadas uma abordagem mais perceptual tem sido adotada. Diversos estudos nesta área vêm sendo desenvolvidos em grupos de pesquisa, laboratórios, mestrados e doutorados ligados aos programas de Pós-Graduação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia e Psicologia, espalhados por diversas instituições de ensino no país.

Nas APOs desenvolvidas na UFRJ, destaca-se o trabalho de Rheingantz et. al. (2009) sobre avaliação de desempenho do ambiente construído e dos demais pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, desenvolvendo pesquisas com enfoque na cognição ambiental e abordagem experiencial.

Rheingantz et. al. (2009, p. 16), em livro sobre procedimentos de APO, conceitua a avaliação pós-ocupação como:

[...] um processo interativo, sistemático e rigoroso de avaliação de desempenho do ambiente construído, passado algum tempo de sua construção e ocupação. Focaliza os ocupantes e suas necessidades para avaliar a influência e as consequências das decisões projetuais no desempenho do ambiente considerado, especialmente aqueles relacionados com a percepção e o uso por parte dos diferentes grupos de atores ou agentes envolvidos.

As técnicas abordadas pelos autores são: walkthrought, mapeamento comportamental, poema dos desejos, mapeamento visual, mapa mental, seleção visual, entrevista, questionário e outras duas técnicas elaboradas pelo grupo de pesquisa desta universidade (APO Pró-Lugar), a matriz de descobertas e a observação incorporada.

Segundo Elali (2008) grande parte dos estudos ligados à APO tem afinidade com a área das relações pessoa- ambiente ou, como adotado nesta dissertação, Ambiente

– Comportamento, uma vez que seu interesse recai na dinâmica ocupacional do edifício ou conjunto edificado, e sobretudo no que se refere ao modo como os usuários percebem e se relacionam com o local, às atividades que ali realizam e aos papéis sociais assumidos ao fazê-lo. Tal entendimento exige que as pesquisas na área recorram a métodos e técnicas que priorizem a análise de aspectos sóciocomportamentais das situações da vida diária.

Estudos das relações Ambiente – Comportamento (RACs) foram também desenvolvidos sob a coordenação principal de Antônio Reis e Cristina Lay do Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com abordagens estética-visual, utilização de métodos de aferição de dados, avaliação de aspectos associados às conexões visuais e funcionais e da atitude de moradores em relação à adequação da privacidade visual.

Outro tipo de abordagem refere-se ao trabalho realizado pelo grupo Inter-Ações Pessoa Ambiente, coordenados inicialmente por José Q. Pinheiro e Gleice A. Elali da UFRN, relacionando aspectos da morfologia urbana e usos, questões ligadas ao conforto ambiental e transformação do espaço habitacional. Com foco na abordagem fenomenológica e participação dos usuários, destaca-se a experiência do Núcleo de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG. Ainda nesta área de estudos, Cavalcante e Elali (2011) enfatizam a atuação recente de grupos de pesquisa e laboratórios de Psicologia Ambiental nas Universidades de Brasília, Fortaleza, São Paulo (USP-SP e USP-Ribeirão Preto) e Santa Catarina, que tem contribuído com diversas pesquisas.

A grande maioria destas pesquisas tem como base a análise de aspectos dos comportamentos dos usuários, abordando modos adequados de aferição de comportamento nos espaços analisados. Tais abordagens discutem a eficiência e a validade dos métodos essencialmente técnicos e quantitativos aplicados em APOs para aferição do comportamento, visto que “conhecer e compreender as relações do homem no espaço vivenciado, muitas vezes, extrapola o universo exato dos números” (VILLA; ORNSTEIN, 2006, p. 1401).

Além dos estudos que fazem parte de grupos de pesquisa consolidados na área Ambiente – Comportamento, outros foram importantes referências para esta

dissertação, pois são aplicações das teorias nesta área em dissertações de mestrado e teses de doutorado relacionadas a praças como “Projeto da Praça: convívio e exclusão no espaço público” (ALEX, 2011), “Praça: lugar de lazer” (LIBERALINO, 2011), “Uma reflexão sobre a vitalidade urbana das praças de Natal/ RN” (SANTANA, 2015), e parques como “Espaço público, entorno e usuário: a qualidade da relação observada no Parque da Luz, em Florianópolis” (BARROS, 2010), “Avaliação pós-ocupação do Parque Jardim dos Namorados, Salvador/ BA” (TRINDADE, 2007), “O papel dos parques urbanos no sistema de espaços livres de Porto Alegre/ RS: uso, forma e apropriação” (MIRANDA, 2014) e “Acessibilidade para pessoas com deficiência visual: uma análise de parques urbanos” (QUEIROZ, 2014).

Esta dissertação se utiliza de técnicas (a serem descritas e detalhadas na seção 3.3), comumente empregados nos trabalhos de Avaliação pós-ocupação (APO).