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CAPÍTULO 1. ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS, PARQUES URBANOS, E USOS E

1.1 ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS

1.1.2 Tipologias de espaços livres

Magnoli (2006a, p. 179) afirma que “aos espaços livres de edificação é habitual que se acoplem funções, passando a classificá-los”. As funções indicadas por Clawson (1969, apud Magnoli, 2006a) compreendem, embora, muitas vezes, de uma forma sobreposta ou simultânea: propiciar perspectivas e vistas do cenário urbano; propiciar recreação; proteção ecológica; servir como dispositivo ou influência para a morfologia urbana e reservar áreas sem utilização para usos futuros. Outras funções propostas por Tunnard-Pushkarev, também citado por Magnoli (2006a), define os espaços livres em: produtivos, protetores, ornamentais e recreativos; e de uma forma mais elementar, Charles Eliots (apud Magnoli, 2006a, p. 179) os distingue em espaços “de serviço” e espaços “estruturais”.

Por outro lado, Macedo (1985, p. 16 a 21) considera, além da classificação por funções, a presença da vegetação como característica definidora dos espaços livres. Desta forma, adota conceitos como espaços verdes, áreas verdes, áreas de lazer e áreas de circulação, exemplificados abaixo:

Espaços Verdes – Toda área urbana ou porção do território ocupada por qualquer tipo de vegetação e que tenham um valor social. Nele estão contidos bosques, campos, matas, jardins, alguns tipos de praças e parques, etc., enquanto que terrenos devolutos ou quintais não são necessariamente incluídos neste rol. O valor social atribuído pode ser vinculado ao seu utilitarismo em termos de área de produção de alimentos, ao interesse para a conservação ou preservação de conjuntos de ecossistemas ou mesmo de um único ecossistema, ao seu valor estético- cultural e mesmo à sua destinação para o lazer passivo ou ativo.

Área verde – Basicamente, refere-se aos mesmos elementos referenciados anteriormente e ainda designam toda e qualquer área onde por um motivo qualquer exista vegetação. Esse termo também é comumente utilizado para denominar o conjunto de áreas de lazer público de uma cidade, englobando praças, parques, hortos e bosques. Não considero esta última denominação

precisa, pois é sabido que nem todas as praças são áreas de lazer e/ ou necessitam ser ajardinadas para desempenhar seu papel de espaço social [...] o conceito de áreas verdes deve assumir um só significado, o de designar toda e qualquer área plantada, tendo um significado social expressivo ou não; e não deve ser associado a espaços de conservação ou lazer que devem ter denominação específica.

Áreas de Lazer – todo e qualquer espaço livre de edificação destinado prioritariamente ao lazer, seja ele ativo, isto é, uma área para jogos e brincadeiras ou contemplativo, isto é, áreas dotadas de um valor cênico/ paisagístico expressivo em cujo interior o cidadão apenas passeia a pé, montado ou de carro, contemplando o cenário que se descortina ante seus olhos. Todos os parques, praias e praças urbanas estão englobados dentro deste conceito, possibilitando por muitas vezes uma utilização mista, tanto para o lazer ativo, como para o passeio. As praças rotatórias e equivalentes não podem ser incluídas em tal categoria, já que não permitem uma real apropriação e estadia do usuário em seu interior. Paralelamente, terrenos vazios como várzeas de rios [...], utilizados frequentemente pela população para jogos e brincadeiras, podem ser considerados como áreas de lazer, pelo menos enquanto se mantém tal tipo de uso “alternativo”.

Área de circulação – Dentro do contexto urbano, englobam a grande maioria dos espaços livres de edificação de propriedade pública (no caso todo o sistema viário) e parte do sistema privado de espaços, tais como vilas e sistema viário de condomínios. Formalmente se destinam exclusivamente à circulação e acesso de veículos e pedestres [...], as ruas assumem na cidade brasileira um papel complementar, servindo também de espaço de lazer para a população [...].

Para Macedo (2012, p. 92 e 93), a definição de espaço verde se contrapõe à de área verde ao afirmar que o espaço verde é todo aquele estruturado total e predominantemente por vegetação, e que não necessariamente apresenta a totalidade ou predominância de solo permeável; ao contrário da área verde onde a vegetação deve estar situada em “solo permeável”. O autor exemplifica esta diferença utilizando como exemplo uma rua arborizada, onde o volume das copas das árvores a caracteriza como um grande espaço verde, mas não necessariamente uma área verde (permeável) significativa. Neste sentido, Macedo (2012) defende que são espaços verdes todos os espaços dos parques públicos, na medida em que são estruturados morfologicamente por vegetação (uns mais outros menos), em especial pelas massas arbóreas e arbustivas.

Baseado predominantemente no aspecto funcional dos espaços, o grupo de pesquisa “QUAPÁ-SEL” propõe uma classificação para os espaços livres das cidades brasileiras estudadas (CUSTÓDIO et al., 2011)4. Para estes autores, os

4 Primeiros resultados publicados do projeto de pesquisa intitulado “Os sistemas e espaços livres e a constituição da esfera pública contemporânea no Brasil – QUAPÁ-SEL”, realizado entre os anos de 2006 a 2011, autoria dos pesquisadores Vanderli Custódio, Ana Cecília de Arruda Campos, Silvio Soares Macedo e Eugênio Fernandes Queiroga.

tipos de espaços livres são os mais diversos possíveis, podendo ser agrupados em três grandes tipos-padrão: 1) espaços de circulação, convívio, lazer e recreação; 2) espaços de preservação ou conservação ambiental; e 3) espaços livres relacionados a usos específicos. Esses tipos podem apresentar funções mais complexas ao assumir variados papéis ou sobrepostas em um único exemplar. A classificação mais detalhada elaborada por Custódio et al. (2011, p. 24 a 28) considera as seguintes categorias de espaços livres:

a) de caráter ambiental (áreas de preservação, corpos d’água, matas, encostas, dunas, manguezais, bosques urbanos, florestas urbanas);

b) das práticas sociais (mirantes, pátios, recantos, jardins, largos, escadarias, praças, parques, calçadão, praia urbana, quadras esportivas, campos de futebol de várzea, piscinão, piscinas públicas);

c) dos espaços livres de circulação e pedestres (calçadas, ruas, avenidas, vielas, alamedas, escadaria/beco, canto de quadra, estradas, estacionamentos, refúgios, vias parque, ciclovia, caminhos de pedestres, calçadão de área central ou caráter turístico);

d) dos espaços livres associados aos sistemas de circulação (canteiros centrais e laterais; rotatórias, baixos de viadutos, faixas de domínio, taludes, trevos, sobras do sistema viário, praças viárias, redes de ciclovia);

e) dos espaços livres associados à infraestrutura urbana (margens de reservatório, estações de tratamento de água e esgoto, reservatório de água, linhas de alta tensão, adutoras, bacias de detenção/ retenção, viela sanitária, aterro sanitário);

f) de espaços livres associados a edifícios e entidades de serviços públicos (campus universitário, cemitérios, centro administrativo, esportivo ou recreativo, museu, escola, hospital e centro de saúde, centro cultural, parques temáticos, aeroporto);

g) de espaços livres privados de uso coletivo (parques, lajes de moradias, praças, jardins, pátios, parques de bolso, centros campestres, clubes, centros de compras);

h) de espaços livres privados (pátios, jardins, bosques, quintais);

i) e outros, com ou sem vegetação significativa, produtivos ou não (áreas de reflorestamento, viveiros, chácaras, pesqueiros, pastos, horta, sítios, haras, espaços livres industriais, terrenos não ocupados.

Além dos atributos funcionais, os espaços livres podem ser classificados por meio de atributos físicos (localização, distribuição, permeabilidade física e visual, e qualidade paisagística); atributos psicológicos (legibilidade e apropriação); atributos

ambientais voltados para a manutenção de dinâmicas ecológicas, amenização de

temperatura, controle do clima, estabilização do suporte físico, preservação de matas e de vegetação de porte; e atributos estéticos, em função da sua expressão cultural. Uma estrutura de classificação dos espaços livres baseada nos atributos Quadro 2: Tipos de Espaços livres públicos.

dos espaços proposta pelo grupo QUAPÁ-SEL RJ (BAHIANA et al., 2011; MIRANDA, 2014) baseada nos conceitos e métodos adotados por Miranda Magnoli e pelos pesquisadores do grupo QUAPÁ-SEL FAU/USP, divide o conjunto dos espaços livres em: 1) espaços de caráter ambiental; 2) espaços de caráter urbano e 3) espaços de caráter rural. Os espaços de caráter ambiental compreendem as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável; espaços de caráter urbano são classificados em espaços destinados à circulação, à permanência, à infraestrutura e espaços residuais; e os espaços rurais podem ser agrupados em de uso recreativo, uso industrial e agropastoril, e de uso extrativista. Estes subtipos se relacionam aos aspectos voltados para a caracterização, legislação, situação fundiária e gestão, acessibilidade, práticas sociais, atributos paisagísticos, perceptivos e socioculturais.

Outra classificação mencionada por Miranda (2014) diz respeito à proposta por Kelly e Becker (2000) que divide os espaços em escalas: 1) espaços públicos de vizinhança, 2) de bairro e 3) municipais, de acordo com hierarquia, aspectos tipológicos e funcionais.

A classificação por tipos pode, portanto, basear-se em diversos atributos, como escala e níveis de abrangência, características físicas, estéticas, ambientais, culturais e outras, mas o que se percebe é que estes atributos são complementares ao principal critério definidor do espaço livre – sua função na cidade, que permite determiná-los como lugares de circulação, de permanência, de embelezamento, de conservação de bens naturais, assumindo, muitas vezes, duplas, múltiplas ou complexas funções. Estas classificações não são fechadas, permitindo-se que sejam adaptadas e complementadas em função de análises mais complexas efetuadas pelos pesquisadores.

Parques se incluem de acordo com sua função na categoria das práticas sociais, com relação a presença ou não de vegetação são espaços verdes ou áreas de lazer; e de acordo a escala podem ser parques de vizinhança, de bairros ou setoriais/ distritais. O Parque da Cidade se enquadra em parque de bairro para alguns autores ou parque setorial/ distrital ou municipal para outros, como será melhor explicitado na seção 1.2.3.1. Estas diferentes formas de categorização serão úteis para analisar

o papel do Parque da Cidade de acordo com suas funções, usos, características físicas e de relação com o entorno.

O conhecimento da origem dos parques e da sua evolução histórica a ser abordado a seguir possibilitará um maior entendimento sobre conceitos e finalidades atribuídos a esta tipologia de espaço livre público.