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No que tange ao remanescente florestal na ADA, zona de mata atlântica original – área diretamente afetada – haverá supressão de vegetação, que é dominada, em larga escala, por pastagem, a vegetação arbórea a ser desaparecida equivale a uma área de 10 mil e 250 metros quadrados, composto por árvores isoladas e de espécies não regenerantes. Esta área, é ainda abriga duas espécies arbóreas ameaçadas de extinção, quais sejam: o jacarandá-da-bahia e a inuíba ou sapucaiu. (EIA, 2018)

Em relação à fauna, de mamíferos, a área é habitat de uma abundância de mamíferos, foi contabilizada 51 espécies, como macacos, antas, morcegos insetívoros, que se alimentam de insetos, e, portanto, têm uma grande tolerância aos humanos, tem a presença também do lobo-guará, um dos animais símbolo do Brasil, que apesar de não estar ameaçado de extinção, o classificam com certo grau de ameaça, ameaça esta que está atrelada principalmente à destruição do cerrado – onde é encontrado mais facilmente – por causa da ampliação da agricultura e agropecuária - que desmatam grande zona rural sem levar em consideração o nicho dos animais – e à caça ilegal23. (EIA, 2018)

Em relação à vegetação e a fauna na área de influência, há grandes remanescentes bem conservados na Fazenda Santa Rita e nas Serras das Pedrinhas, que tem vegetação original da região de mata atlântica, como pau-óleo, jequitibá-rosa, jacarandá-cabiúna e outros. Há também outros mamíferos, como toupeiras e lontras,

23 A caça, enquanto exercício de lazer e profissional, é considerada ilegal no Brasil, de acordo com a

Lei nº 5.197/67, só sendo permitida pelo poder público federal em razão de peculiaridades regionais. Também sendo proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos que impliquem na

e, diga-se de passagem, é o único lugar da região, com registro, que abriga a lontra longicaudis, um animal raro e precioso para o balanceamento do sistema ecológico. (EIA, 2018)

Segundo o EIA, a área que será utilizada para a implementação da Usina tem uma população de aproximadamente 1.200 pessoas, entre parceleiros (pessoas que têm uma parcela da terra) e não parceleiros, que produzem principalmente, leite, queijo e cultura de grãos. O espaço é original para a colonização da reforma agrária e não é contemplada com saneamento básico – esgoto e rede canalizada de água.

4.2.1 A questão da Mata Atlântica

A Mata Atlântica, também chamada de Mata de Araucárias, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Decidual e ainda de Floresta Estacional Semidecidual, é um bioma pertencente à categoria de Floresta Tropical, que contorna quase todo o litoral brasileiro, o leste do Paraguai e parte da Argentina, mais especificamente, a província de Misiones. De acordo com os estudos geológicos, a mata surgiu no período em que os continentes já estavam alocados como o conhecemos hoje, período de tempo conhecido como Eoceno; e esta área é ocupada por humanos há mais de 10 mil anos. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, sine data). Originalmente, a mata ocupava mais de 1,3 milhões de quilômetros quadrados, em 17 estados do Brasil, (MMA, sine data)

Segundo o Ministério do Meio Ambiente24, desde a colonização europeia e

mais especificamente o século XX, a região de mata atlântica vem passando por um intenso desmatamento, tendo hoje menos de 29% de sua cobertura original, e isso acarreta uma série de consequências extremamente gravosas, tanto para o ambiente regional quanto para todo o equilibro do ecossistema brasileiro, uma vez que a Mata Atlântica junto com a Floresta Amazônica são as principais florestas tropicais do mundo e responsáveis concomitantemente pelo abastecimento, regulação e produção

24 O Poder Executivo é constituído por ministérios, cada um é incumbido por uma determinada área e

chefiado por um ministro. A salvaguarda do meio ambiente é um comando imbuído na nossa Carta Magna e atribuição do Poder Público, o que justifica legal e constitucionalmente a existência de um ministério próprio para tratar de questões ligadas ao assunto. O Ministério do Meio Ambiente foi criado em 1992, sob a sigla MMA, e tem como missão promover a adoção de estratégias e princípios para a defesa, manutenção, investigação e proteção ao meio ambiente e aos seus recursos naturais, incluindo também a introdução de projetos de desenvolvimento sustentável. É com uma grande preocupação que a extinção do MMA esteja prevista dentro do plano de governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em 2018.

aquífera, purificação do oxigênio proteção de encostas, que faz evitar desmoronamentos, e atenua desastres ambientais, equilíbrio do clima, proteção e fertilização do solo, com isso acarreta diretamente na produção de alimentos, fibras, madeira, óleos e remédios, além de abrigar quantidade colossal das mais variadas espécies animais, ficando conhecida pela descomunal diversidade de fauna que abarca.

O bioma abriga por volta de 1.020 espécies de aves, 350 de peixes, 370 de anfíbios, 298 de mamíferos, 200 espécies de répteis e em torno de 20 mil espécies de árvores e arbustos. (WWF, sine data)

É um grande centro de espécies vegetais também, que são extremamente heterogêneas, que compreende desde florestas chuvosas perenes a grandes campos abertos em montanhas.

Hoje, dentro desses 29% de cobertura, cerca de 15% é de vegetação original e sua maior parte está contida em pequenos fragmentos de floresta secundária. O Brasil possui por volta de 15,3% de mata atlântica, a maior concentração está localizada na Serra do Mar25, que de acordo com a CRFB/88, em seu artigo 225, §4º

constitui patrimônio nacional. O Paraguai possui aproximadamente 15% e a Argentina tem a maior quantidade, sensivelmente 45%. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,

sine data).

25 A Serra do Mar é uma região de cadeia montanhosa que compreende em torno de 1.500 km

Nestas figuras comparativas conseguimos visualizar claramente como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica foram perdidas ao longo dos séculos. Antes da chegada dos portugueses, por uma projeção proporcional e computadorizada, a estimativa é de que a Mata recobria densamente quase todo o litoral brasileiro, e a Floresta Amazônica se alongava do Norte, parte do Centro-Sul e chegava até o Maranhão. Com isso, é demonstrado o alto custo da expansão indiscriminada dos que chamam de “progresso” o grande desmatamento das nossas florestas em prol de um agronegócio desregrado de condutas sãs e legais, anulando toda a sustentabilidade ambiental em nome do capital.

Cabe aqui um momento para refletir acerca do pensamento de Édis Milaré, in

verbis:

Marcas do século XX são a concentração da população das cidades, a elevação do nível econômico de boa parte da população, a produção intensiva de bens de consumo e o descarte precoce de bens usados. Nesse sentido, a mentalidade dominante era inteiramente favorável a tudo isso, enaltecendo o progresso industrial e econômico e pondo nele toda sua fé e esperança. Quem não se lembra do ufanismo paulista: ’A cidade que mais cresce no mundo’? Quem não se recorda do louvor às ‘ chaminés fumegantes’? ”

Esse sistema socioeconômico, porém, leva à exploração predatória dos recursos naturais, renováveis ou não, e à geração de grande quantidade de resíduos de toda natureza. (MILARÉ, 2013)

Momento em que começamos a ficar desenganos com toda essa lógica de produção e sistema existentes hodiernamente.

Na virada do milênio, foi constatado que após cinco séculos, 93% da Mata Atlântica foi varrida do território e 15% da Amazônia aniquilada, sendo pelos meios tecnológicos atuais, impossível de reverter tal perda. Tem-se que o total da degradação é em torno de 2,7 milhões de quilômetros quadrados. (REVISTA GALILEU, 2002)

É possível analisar também que as áreas florestais mais arruinadas são as pertencentes às zonas em que o dito “desenvolvimento” surgiu antes que a ideologia e entendimentos dos ambientalistas angariasse adeptos e conseguisse potência para pelo menos mover uma massa em prol da conscientização não só das florestas, mas da natureza global como um todo.

Fato disso é que foi necessário um longo período de tempo para que essa ideologia “verde” ganhasse um mínimo de respeito no Brasil.

A WWF – World Wide Fund for Nature26 fez uma repartição da Mata em 15

regiões, com a intenção de trabalhar de forma mais precisa e próxima de cada ecorregião, uma vez que cada área demanda diferentes tipos de ação específicos, já que o modo de tratar e conservar a mata no sul é distinto da proteção necessária ao leste, por exemplo, pois no sul a temperatura tende a ser mais baixa, influenciando a vegetação e fauna; e mais ao leste sentido norte a temperatura é maior, o que muda o tipo de vegetação e de animais também. (WWF, 2012)

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a ideia é que haja atualmente aproximadamente 20 mil espécies vegetais, que em termos numéricos, representaria 35% de toda a vegetação brasileira existente, incluindo várias espécies ameaçadas de extinção, um dos justos motivos que faz com que a Mata Atlântica seja prioridade para a proteção, conservação e recuperação para a biodiversidade global.

Ademais, a Mata provê inúmeros serviços ecossistêmicos imprescindíveis para os 145 milhões de brasileiros que vivem na região abarcada pelo bioma, que é protegido pela Lei nº 11.428/06, também conhecida como Lei da Mata Atlântica, regulamentada pelo Decreto nº 6.660/08. Para a recuperação, manutenção e salvaguarda da Mata há as áreas protegidas, como as Unidades de Conservação (SNUC, pela Lei nº 9.985/00), As Terras Indígenas, pelo Estatuto do Índio, criado em 1973, pela Lei nº 6.001, e as Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, pelo Código Florestal de 2012, Lei nº 12.651. (MILARÉ, 2013)

É com grande pesar que haja tanto descaso e desconsideração, somente 506 anos depois do descobrimento do Brasil – pelo olhar europeu – que foi criada e regulamentada a lei que protege um dos maiores biomas do globo, a Mata Atlântica é magnânima e merece defesa por tudo que ela fornece, equilibra, produz, alimenta e representa não só para nós brasileiros que vivemos dentro dela e dependemos diretamente, mas também para com o planeta, pois há o dever de lutar por sua preservação e proteção para que continue ofertando ao mundo toda sua exuberância, potência e magnitude, equilibrando todo o ecossistema que dela se sustenta.

26 A WWF – World Wilde Fund for Nature atua em regiões de proteção, recuperação, investigação e

conservação ambiental. É uma ONG internacional, criada na Suíça em 1961, por cientistas ambientais alarmados com a crescente devastação da natureza. A rede WWF é independente e é composta por diversos escritórios em vários países, com quase 5 milhões de associados pelo mundo.

No Brasil, há o dia nacional da Mata Atlântica, que é comemorado em 27 de maio, estabelecido em legislação própria, como o intuito de criar reflexão e consciência popular. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, sine data).

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