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Áreas problemáticas no Estado e atuação da FATMA

5. POLÍTICA AMBIENTAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA

5.6. Fundação do Meio Ambiente FATMA

5.6.4. Áreas problemáticas no Estado e atuação da FATMA

A FATMA aponta com causas históricas, a ocupação das pasta­ gens naturais para criação de gado, na região do planalto central; a pesca, principal atividade dos imigrantes portugueses que se instalaram na orla marí­ tima do Estado e a imigração européia a partir de meados do século XIX, ocu­ pando e destruindo áreas cobertas de florestas, para desenvolver cultivos de ciclo anual, através de minifúndios.

O crescimento econômico, decorrente da ocupação e uso dos es­ paços, deu-se a elevados custos ecológicos, segundo dados da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Santa Catarina, da seguinte forma:

- perda de 7.224.940 hectares de cobertura florestal original - perda, em média, de 15 cm de solo arável

- perda da fertilidade natiiral do solo - quebra do ciclo hidrográfico

105 - extinção de espécies florestais

- extinção de povos silvícolas

Em termos mais recentes, os principais agentes de degradação, especialmente dos cursos de água, são as atividades industriais variadas, os agrotóxicos e fertilizantes, usados excessivamente, os esgotos sanitários e os resíduos sólidos.

Embora haja uma forte regionalização dos ramos industriais, al­ guns problemas são comuns à todo o Estado, como a falta de saneamento bási­ co e a contaminação dos recursos hídricos.

Tomando-se por referência que saneamento é a infra-estrutura de abastecimento de água e de serviços de esgoto tratados. Santa Catarina tem uma situação preocupante. Embora esteja dentro da média nacional em termos de atendimento á população com abastecimento de água - 83,5% -, os siste­ mas de tratamento implantados estão com sua capacidade esgotada. Soma-se a isso a impossibilidade de as estações convencionais de tratamento removerem completamente certos tipos de contaminação, como de metais pesados e agrotóxicos (FATMA, 1991).

O sistema de esgoto sanitário é precário. A maioria dos municí­ pios do Estado, lança os dejetos sem tratamento adequado em fossas, rede pluvial, rios e oceanos. Somente Balneário Camboriú, Joinville e Lagoa da Conceição em Florianópolis, possuem estações de tratamento.

“Apenas 6,4% da população catarinense é atendida por redes sanitárias - uma média abaixo da nordestina, que é de 10,9% e constrangedora em relação ao sul do País, que é de 18,43%. ” (Expressão - Dez/93)

Os resíduos sóhdos, por sua vez, não possuem atenção convenien­ te. O lixo urbano é coletado e, gerahnente, lançado a céu aberto, queimado, ou

106 jogado nos cursos d’água. Paralelamente, há o uso indiscriminado de agrotóxi-

cos nas diversas lavouras cultivadas, desde o fumo até hortaliças.

Somando-se esses fatores de degradação à poluição industrial. Santa Catarina atingiu o diagnóstico de contaminação de 80% dòs recursos hídricos, segundo a FATMA (FATMA, 1991 e Atlas de Santa Catarina).

Tendo em vista as características da industrialização no Estado, distinguem-se 4 (quatro) regiões importantes:

- Nordeste de Santa Catarina ou Litoral Norte:

Nessa região - conhecida como região alemã encontram-se dois poios industriais: Joinville e Blumenau. No primeiro, as principais atividades industriais são a metalurgia, a mecânica, a eletrocomunicação e a de plásticos. No segundo, a ênfase está na produção de bens de consumo: têxtil vestuário (artefatos têxteis), química e mobiliária. Acrescente-se a existência de feculari- as na região, localizadas mais intensamente no Alto Vale do Rio Itajaí.

- Região Sul Catarinense ou Região Carbonífera:

Nessa região as atividades de extração e benefíciamento de car­ vão e produção cerâmica são as de maior destaque. Nela se encontra a Usina Jorge Lacerda (Tubarão), maior termoelétrica brasileira movida a carvão - va­ por e a ICC - Indústria Carboquímica Catarinense (Imbituba), que produz áci­ do sulfurico a partir de rejeitos piritosos de carvão.

- Planalto Catarinense:

Esta não se caracteriza como região industrial, pois não tem cen­ tros industriais concentrados, mas indústrias isoladas - papel e celulose sobre­ postas á economia anterior que era pastoril-latifundiária.

107 - Região Oeste;

Nesta região a atividade agro-industrial é responsável pelas indús­ trias de alimentos, a partir de suínos e aves, bem como pela produção de soja e seus derivados, registrando, ainda, a existência de curtumes e fábrica de papel e celulose.

Observa-se que todas as atividades industriais são potencialmente poluidoras e estão driscriminadas na Portaria Intersetorial n- 01/81. Nessa Portaria, atividades como de extração e beneficiamento de carvão mineral; de metalurgia; de curtimento de couros; de fabricação de fécula, amido e deriva­ dos; fabricação de celulose, estão enquadradas no nível “C” de degradação, o que corresponde a “grande”, ou seja, o nível máximo previsto.

Assim, caracteriza-se a preocupação com os efeitos da poluição originária dessas atividades desenvolvidas na extensão do território estadual.

A preocupação tem sido demonstrada pela sociedade civil, através da criação de organizações não governamentais, no Estado todo (aproximadamente 100) e através de suas ações em relação aos problemas de suas regiões.

Feitas essas colocações, é oportuno apontar os instrumentos de gestão utilizados pela FATMA para enfrentar os problemas ambientais existen­ tes no Estado para, posteriormente, expor e analisar as situações diagnostica­ das como relevantes para uma atuação mais direta.

Os meios indicados pela FATMA (1991), são os seguintes; • Licenciamento de atividades potencialmente poluidoras.

• Fiscalização da flora, fauna e da pesca.

• Programas de controle de poluição por bacia hidrográfica. • Unidades de conservação.

108 Trabalhar-se-á, inicialmente, sobre as quatro regiões caracteriza­ das anteriormente, correlacionando-as com as atividades empreendidas pela FATMA. Após, serão tecidas considerações sobre o licenciamento ambiental, as unidades de conservação e a educação ambiental.

a) Bacia do Rio Itajaí-Açú

Uma das áreas de considerável relevância é a localizada na bacia do Rio Itajai Açú. Em virtude da abundância de recursos naturais, a região desenvolveu-se rapidamente. Localizada na região de colonização alemã, com­ preende as microrregiões de Rio do Sul, Ituporanga e Blumenau, ocupando

16% da área do Estado, aproximadamente 15.000 km^.

Como principal rio da Região, o Itajaí-Açú pode ser dividido em 3 partes:

- Alto Itajaí-Açú, desde a confluência dos rios Itajaí-do-Sul e Itajaí-do-Oeste, em Rio do Sul, até Salto dos Pilões, pouco a montante da foz do rio Itajai do Norte; apresenta-se neste trecho cerca de 26 km, com pequena declividade e curso sinuoso;

- Médio Itajaí-Açú, com extensão aproximadamente de 83 km, desde o Salto dos Pilões até o Salto Weissbach, nas proximidades de Blumenau; os 12 km iniciais apresentam forte declividade, com altitudes variando da cota 300 m para cerca de 100 m, descendo em seguida gradativamente até o Salto Weissbach; todo este trecho é sinuoso, apresentando diversas corredeiras; - Baixo Itajaí-Açú, com cerca de 80 km, a partir do Salto Wissbach até a bar­

ra no Oceano Atlântico; este percurso é menos sinuoso e apresenta declivi­ dade bastante reduzida. (SC/FATMA, 1993)

109 A carga poluidora lançada nos cursos de água é proveniente de indústrias têxteis, pesqueiras, metalmecânica, de papel e pasta mecânica, fri­ goríficos, curtumes, fecularias e extração e beneficiamento de óleo vegetal, tendo como agravante os efeitos cumulativos dos lançamentos de metais pesa­ dos.

Também nessa região há o lançamento de esgotos in natura e a disposição inadequada de resíduos sólidos, comprometendo ainda mais a qua- hdade dos recursos hídricos, que são utihzados, inclusive, como fonte de cap­ tação para abastecimento público especiahnente nos municípios mais próximos da foz do rio Itajaí-Açú.

Outra característica da região são as enchentes, cuja freqüência vem se alterando ao longo do tempo, decorrentes de desmatamentos irregula­ res, destruição de matas ciliares e conseqüentes assoreamentos do longo dos cursos d’água, objeto de denúncia ao Tribunal da Água em 1992 (Caubet, 1994), pela APREMAVI - Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí, especiahnente no que se refere ao Rio Trombudo, a partir dos municípios e Agrolândia, Agronômica, Braço do Trombudo e Trombudo Central. Basicamente a poluição apontada foi decorrente das indústrias de fé­ cula de mandioca e têxteis (poluição química), esgotos domésticos, agrotóxicos e lixo.

Salienta que as águas a montante de Braço do Trombudo são de boa quahdade, porém devido á imensa carga de efluentes que recebem a partir desse município e do município de Agrolândia, a região foi incluída como uma das duas áreas de maior poluição da Bacia do Rio Itajaí-Açú, pelo Ministério da Saúde, conforme relatório “Aspectos gerais da qualidade de água no Bra­ sil”, de maio de 1991.

110 A APREMAVI indicou como responsáveis pela poluição do Rio Trombudo as empresas Multicolor Têxtil Ltda, Indústrias Siegel Ltda, Faller Indústria Fécula Ltda, FATMA, Secretaria Estadual de Saúde e Prefeituras Municipais de Braço do Trombudo, Agrolândia, Agronômica e Trombudo Central. Das empresas relacionadas, a primeira é do ramo têxtil e executa tin- gimento de tecidos, não possuindo tratamento de resíduos. As outras três são fecularias, cujos efluentes são ricos em matéria orgânica e sólidos. A National Starch e a Faller Industrial manifestaram-se na ocasião, por escrito. Ficou constatado que ambas possuem apresentam problemas, como admitiram os di­ retores das duas empresas em declarações à Gazeta Mercantil. (Dez/92, apud Caubet, 1994)

"... Se o efluente não tem a qualidade adequada é por­

que a tecnologia que nos foi repassada não é adequada. Isso também é responsabilidade da FATMA”. (Rene Faller, diretor da Faller Industrial)

”... às vezes há excesso de resíduos e o sistema não dá conta, vazando um pouco para o rio ”. (Fernando Luiz Hoffmann, diretor da National Starch)

Quanto a Multicolor Têxtil, as evidências, através de imagens, laudo de análise e declaração do gerente de licenciamento ambiental da FA­ TMA, demonstraram que os efluentes ultrapassam os parâmetros máximos es­ tabelecidos pela Resolução n- 20/86 do CONAMA e na legislação ambiental catarinense.

Segundo o relator do caso no Tribunal da Água, Zeno Simom, “a FATMA optou por multar enquanto deveria tê-la interditado imediatamente, pois, espantosamente, já devastava o rio Trombudo durante 4 anos sem que o órgão ambiental tomasse conhecimento”.

111 Contra argumentando a FATMA apresentou o “Programa de re­ cuperação ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú”.

Antes de abordar o programa, oportuno ressaltar que especialmen­ te em relação à sub-bacia do Rio Trombudo, cujos problemas foram apresenta­ dos anteriormente, a única empresa nele incluída foi a Siegel. Esta possui sis­ tema de tratamento de efluentes também operando com problemas. Tendo sido multada várias vezes pela FATMA, apresentou recurso junto ao CONSEMA.

O Programa de Recuperação Ambiental abrange inicialmente o setor industrial, especialmente quanto a efluentes líquidos e atmosféricos, in­ duzindo as empresas a controlarem sua emissão, reduzindo a concentração dos elementos poluentes, aos padrões estabelecidos na Legislação Ambiental do Estado de Santa Catarina.

Posteriormente, a cada avaliação, outros setores deveriam ser abrangidos, tais como, setor público municipal (resíduo sólido urbano), setor de saúde (resíduos sólidos hospitalares), setor industrial (resíduos sólidos in­ dustriais) no que se refere ao destino final adequado a ser dado ao lodo prove­ niente dos sistemas de tratamento implantados e desmatamento indiscriminado, e agricultura (usos de agrotóxicos), utilizando a mesma sistemática de convo­ car as atividades geradoras destas degradações ambientais a apresentarem so­ luções técnicas aos problemas.

Os objetivos nele previstos para recuperar os múltiplos usos das águas do rio Itajaí-Açú são os seguintes:

- redução de no mínimo 80% da carga poluidora de origem orgânica;

- redução do lançamento de metais pesados e cianetos, á concentrações com­ patíveis com o estabelecimento no Decreto n- 14.250/81, em seu artigo 19, item VII;

112 - estabelecer diretrizes para preservação e recuperação de matas ciliares e

encostas;

- estabelecer diretrizes para uso e manejo adequado dos solos, e utilização de agrotóxicos.

Em sintese, o programa apresenta, além dos objetivos acima elen- cados, a caracterização da bacia hidrográfica, a caracterização da carga polui­ dora (efluentes industriais, esgotos sanitários e resíduos sóhdos), a metodolo­ gia de execução do programa, descrevendo os critérios para seleção das em­ presas, as empresas selecionadas e sua convocação e o desenvolvimento do programa através de vistorias técnicas e avahações públicas. No documento apresentado ao Tribunal da Água acrescenta a situação atual do programa, identificando as empresas com sistema de tratamento implantado, empresas com sistema parciahnente implantado e as que iniciaram implantação, dentro do universo selecionado.

A caracterização da carga poluidora indica que 53 empresas sele­ cionadas - têxteis e alimentícias - geram poluição equivalente a 1.034.000 habitantes, além dos corantes provenientes das indústrias têxteis. Sete outras empresas representativas do ramo metal-mecânico e cerâmico possuem em seus efluentes líquidos elementos químicos nocivos aos recursos hídricos como metais pesados, cianeto e alcatrão (cromo total = 2,140 Ton/Ano, Zinco = 41,244 Ton/Ano, Chumbo = 0,360 Ton/Ano, Mercúrio = 0,380 Ton/Ano, Ní­ quel = 0,681 Ton/Ano, Cianeto = 8,277 Ton/Ano, Cádmio = 1,340 Ton/Ano, Alcatrão = 612,500 Ton Ano).

Essas 60 empresas foram as iniciahnente selecionadas e convoca­ das para apresentarem cronograma detalhado de todas as obras necessárias para o controle da poluição, em atendimento á legislação ambiental.

113 Observa-se que o Programa identifica aproximadamente 2.500 unidades industriais, atividade considerada, em geral, potencialmente poluidora e sujeita a inscrição e licenciamento conforme a legislação ambiental em vigor. Desse universo, 700 estavam em processo de licenciamento ambiental, das quais foram selecionadas 60.

A justificativa é que essas empresas são responsáveis por 80% da carga poluidora industrial lançada na Bacia, porém o programa não mostra quadro comparativo com as demais indústrias para comprovar tal assertiva.

Como as demais atividades e serviços não foram abrangidas nesta fase do Programa, deixa-se de detalhar informações a respeito.

A metodologia, além da solenidade de lançamento, previa vistori­ as técnicas trimestrais visando fiscalizar o andamento das obras de controle da poluição acordadas no cronograma apresentado.

Nas empresas em que fossem constatados atrasos no cronograma, deveria ser lavrado um auto de infiração caracterizando a irregularidade, sendo a penahdade imposta pela Diretoria da FATMA, por ocasião da avaliação púbhca. Além disso, após as vistorias seriam realizadas trimestralmente avalia­ ções públicas com exposição de áudio visual e levantamento fotográfico reali­ zado em cada empresa, divulgando os atrasos e penahdades, e espaço aberto ao púbhco para manifestações e reivindicações a serem consideradas na conti­ nuidade do programa.

O prazo previsto para execução do programa era de 18 meses. O programa foi objeto de anáhse de Frank, Sanguineto e Adami (Frank et al, in Caubet, 1992) com foco no funcionamento da administração ambiental em Santa Catarina.

O estudo das autoras examinou mais especificamente: a) Os objetivos e a execução do Projeto.

114 b) Os critérios utilizados para escolher as empresas integrantes do Projeto. c) O processo de negociação entre as empresas e a FATMA.

d) A legislação que fimdamenta o Programa e sua aplicação.

e) Os resultados esperados quanto à efetividade da dinâmica sócio-econômica. As conclusões obtidas pelas autoras são, em síntese, as seguintes: 1. O programa surgiu como instrumento alternativo de indução à implantação

de estações de tratamento de efluentes, uma vez que as alternativas anterio­ res não haviam tido êxito (as tentativas anteriores ocorreram através de cor­ respondência entre a FATMA e 4 das empresas selecionadas).

2. Iniciado em agosto/89 com final previsto para agosto/1991, o programa teve uma interrupção em decorrência da mudança de governo, e até julho de 1992 haviam sido realizadas 6 vitórias sendo que 2 delas não foram seguidas de audiências públicas, embora as penalidades tenham sido aplicadas.

3. Na seleção das empresas, a FATMA considerou 60 empresas de maior por­ te, sem considerar toda a bacia hidrográfica. Assim, a redução em 80% da poluição prevista no Programa, ou seja, correspondente à poluição atribuída às empresas selecionadas, não apresentam na prática, melhora da qualidade ambiental em 80%.

Consideram que a seleção das empresas poderia ter sido mais regionalizada, isto é, substituir o critério de 80% do total de carga poluidora em toda bacia pela seleção a partir dos 80% da carga poluidora em cada sub-bacia.

4. “A FATMA concede prazos novos, permitindo sucessivos adiamentos no cumprimento das etapas a serem percorridas pelas empresas. Estes prazos aumentam com a troca iminente de Governo e propiciam a falta de cumpri­ mento das normas legais por parte das empresas.” (Frank et al, in Caubet

115 5. Tratamento diferenciado com aplicação de multas a algumas empresas e

concessão de LAO (Licença Ambiental de Operação) ao sistema de trata­ mento implantado.

6. À pouca fiscalização soma-se um escalonamento irrisório de penalidades, incompatível com os padrões estabelecidos na legislação. Isso decorre do próprio texto legal (art. 93 e seguintes do Regulamento) que permite subje­ tividade na aplicação das penas (registre-se que o quadro de fiscais é redu­ zido em todo o Estado e carece de infra-estrutura).

7. O sucesso atingido pelo programa e divulgado amplamente pela imprensa é relativo.

As empresas do setor têxtil, que têm sido as mais perseverantes implantadoras de Estações de tratamento de efluentes, são também as exporta­ doras ao comércio europeu, cujas exigências têm sido decisivas no âmbito da proteção ambiental (necessidade de cumprimento fiituro da ISO 14.000).

As autoras encerram o trabalho indicado como meio mais apropri­ ado para a prática da política ambiental os impostos ambientais, argumentando que os controles diretos são passíveis de negociações com os órgãos governa­ mentais.

Como foi exposto anteriormente, esse instrumento também apre­ senta falhas e deixaria a critério do empresário pagar impostos mais elevados de acordo com os níveis de poluição causado ou implantar sistemas de trata­ mento visando minimizar a tributação, além da dificuldade de monitorar cada estabelecimento, o que foi constatado já na execução do Programa em tela. O que significa que em ambos os casos, a ação da administração pública deve ser incisiva e constante. No entanto, considera-se que através dos controles diretos os objetivos de recuperação e proteção ambiental possam ser atingidos, desde que, efetivamente, o próprio setor público implemente os dispositivos legais

116 existentes e disponíveis através de ações concretas, excluindo as “concessões” e negociações.

Apesar das deficiências metodológicas, o Programa foi incorpora­ do ao PLADE, Plano Global e Integrado de Defesa contra Enchen­ tes/Ecossistema da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú, sem correção algu­ ma.

a.l) O Plano Global e Integrado de Defesa contra Enchentes - PLADE O PLADE iniciou sua história em 1985, em virtude das cheias de 83/84, ocorridas na região. Instituído pelo Governador do Estado, o Conselho Extraordinário de Reconstrução - CER - foi incumbido da elaboração de um plano global e integrado para a bacia do Itajaí. Redigido por um dos Conse­ lheiros do CER, Edson Flávio Macedo, o parecer, que incluía o Plano Global e Integrado contra as Enchentes, foi aprovado pelo Conselho através da Resolu­ ção CER n^ 30/85.

Em 1986 foi firmado um acordo de cooperação técnica entre o Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS - e a Japan Inter­ national Cooperation Agency - JICA, através da qual esta última comprome­ teu-se a elaborar um plano diretor de controle de cheias para o Vale do Itajaí. Em 1988 foram entregues, pela JICA, o plano diretor e o estudo de viabihdade do melhoramento fluvial no trecho Blumenau-Gaspar. Dois anos após foi apre­ sentado outro relatório, prevendo, entre outras medidas emergenciais, a cons­ trução de um canal extravasor de aproximadamente 10 km de comprimento e

180 m de largura na cidade de Itajaí.

Com a extinção do DNOS, a matéria passou para a responsabih- dade do Governo do Estado de Santa Catarina.

117 Com base nos estudos realizados pela JICA, o PLADE foi refor­ mulado, em 1992, incluindo uma proposta de financiamento na ordem de U$ 294.136.800,00, submetida à Comissão de Financiamentos Externos - COFIEX.

Relativamente ao Plano, a FATMA assim se manifestou:

“... os impactos ambientais positivos são perfeitamente

identificáveis, justificando plenamente a execução do Plano elaborado; no que se refere aos impactos negati­ vos, são conhecidas tecnologias e medidas mitigadoras capazes de reverter os impactos aos parâmetros estabe­ lecidos na legislação ambiental vigente; ... a FATMA poderá, ao longo da fase de licenciamento ambiental, solicitar estudos mais detalhados para as diversas eta­ pas, de modo a identificar os prováveis impactos, bem

como as medidas mitigadoras para reduzir os impactos negativos... “ (apud Scheffer e Prochnow, in Dynamis, 1994)

Tendo em vista que o PLADE foi encaminhado aos órgãos fede­ rais e a um financiador externo (Overseas Economie Corporation Found - OECF - Japão), sem que houvesse sido submetido à Assembléia Legislativa do Estado, aos municípios da bacia do rio Itajaí-Açú, às Associações de Municí­ pios e tampouco às comunidades envolvidas, em maio de 1994 foi promovido um Seminário, em Blumenau, para avaliar as medidas nele previstas. O evento foi patrocinado pela Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB -, a Universidade do Vale do Itajai - UNIVALI - e a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, contando com a participação de organizações não go­ vernamentais - ONG’s. Os trabalhos apresentados no Seminário foram pubh-

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