5. POLÍTICA AMBIENTAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA
5.4. O Conselho de Meio Ambiente CONSEMA
5.5.3. Competência e atuação
O CERH tem por finalidade regimental estabelecer as diretrizes da política de recursos hídricos, objetivando o planejamento das atividades de aproveitamento e controle dos recursos hídricos no território de Santa Catarina.
Compete ao Conselho, nos termos do artigo 3- de seu Regimento Intemo, Dec. n- 1.003/91:
“I - analisar as propostas de estudos e projetos sobre o uso, preservação e recuperação de recursos hí dricos;
II - propor as diretrizes para o plano estadual de uti lização de recursos hídricos;
III - propor as diretrizes para o programa estadual de defesa contra as cheias;
IV - propor normas para o uso, preservação e recupe ração dos recursos hídricos;
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V - sugerir mecanismos de coordenação e integração junto ao órgão Central do Sistema de Planeja mento para planejar e executar as atividades re lacionadas com a utilização dos recursos hídri cos;
VI - compatibilizar a política estadual com a política federal de utilização dos recursos hídricos;
VII - compatibilizar as ações intermunicipais com a ação estadual na área de utilização de recursos hídricos;
VIII - propor diretrizes relativas à sistemática de elabo ração, acompanhamento, avaliação e execução de programas, projetos e atividades na área de utili
zação de recursos hídricos;
IX - estabelecer normas para a institucionalização de Comitês de Bacias hidrográficas;
X - orientar a constituição de Comitês de Bacias Hi drográficas;
XI - promover, prioritariamente, a integração dos programas e atividades governamentais de:
a) abastecimento urbano e industrial; b) controle de cheias; c) irrigação e drenagem; d) pesca; e) transporte fluvial; f) aproveitamento hidroelétrico; g) uso do solo; h) meio ambiente; i) hidrologia; j) meteorologia; l) hidrosedimentação; e m) lazer;
XII - resolver casos omissos não previstos neste Regi mento; e
XIII - desenvolver outras atividades normativas relaci onadas com a gestão e o controle de recursos hí dricos no âmbito estadual
No período 86/88 o Conselho deu início à elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos, o qual tinha como meta três etapas. A primeira
92 delas seria a análise e diagnóstico da realidade dos recursos hídricos em Santa Catarina. Sem conclusão dos trabalhos iniciados, as atividades do CERH fo ram praticamente parahsadas em virtude de que a presidência foi transferida para a Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente - SEDUMA, a qual mudou de Titular quatro vezes em quatro anos. As substituições de Secretário foram acompanhadas de mudança também na Secretaria Executiva do Conse lho.
Na gestão seguinte - 91/94 - foram aprovadas as Leis n- 9.022/93 e 9.748/94, as quais dispõem sobre o sistema Estadual de gerenciamento de Recursos Hídricos e
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Política Estadual de Recursos Hídricos, respectivamen te.O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem como objetivo implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos e a for mulação, atualização e aplicação do Plano Estadual de Recursos Hídricos, congregando a sociedade civil, órgãos e entidades estaduais e municipais inter venientes no planejamento e no gerenciamento dos recursos hídricos.
A estrutura do Sistema compreende:
“1 - Órgão de Orientação Superior: Conselho Estadual de Recursos Hídricos;
II - Órgão Central: Secretaria de Estado de Tecnolo gia, Energia e Meio Ambiente, ou órgão que venha a sucedê-lo na defesa do meio ambiente e no ge renciamento de recursos hídricos;
III - Núcleos Técnicos:
Comissão Consultiva do Conselho Estadual de Re cursos Hídricos;
Secretaria Executiva do Conselho Estadual de Re cursos Hídricos;r
Areas responsáveis pelo meio ambiente e recursos hídricos do Órgão Central do Sistema;
IV - Orgãos Setoriais de Apoio e Execução: órgão e enti dades públicas sediadas no Estado, que executem ou
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tenham interesses em atividades relacionadas com o uso, preservação e recuperação de recursos hídri cos. "(Lei n^ 9.022/93, art. 3^)
Embora no artigo 1- da Lei n- 9.022/93, que institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, esteja prevista a participação da sociedade civil, no decorrer do texto não se encontra dispositivo estabelecendo essa re presentação no planejamento e no gerenciamento de recursos hídricos. Todos os órgãos ou entidades ah elencadas fazem parte do que foi denominado ante riormente como Vertente Listitucional, especificamente de ordem púbhca.
A Política Estadual de Recursos Hídricos, aprovada pela Lei n- 9.748/94, prevê o Plano Estadual de Recursos Hídricos, a criação de Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas, a instituição do Fundo Estadual de Recursos Hídricos, além da definição de infi-ações e penahdades.
O instrumento de gestão dos recursos hídricos apontado pela Lei é a outorga do direito de uso dos recursos hídricos a ser concedida pela FA TMA, na qualidade de órgão gestor dos recursos hídricos.
A lei prevê, ainda, que o Plano Estadual de Recursos Hídricos ex pressará os princípios, objetivos e diretrizes da Política Estadual de Recursos Hídricos, tomando por base as propostas dos planos de bacias hidrográficas elaborados e encaminhados pelos Comitês de Gerenciamento respectivos, bem como as propostas apresentadas pelos usuários da água tanto a nível individual como coletivo, planos gerais regionais e setoriais, convênios internacionais de cooperação, estudos, pesquisas e documentos públicos. Tal Plano será elabo rado pelo órgão Central do Sistema e aprovado pelo Conselho Estadual de Re cursos Hídricos para, posteriormente, ser submetido à Assembléia Legislativa (artigos 13,15,16 e 19).
94 Os Comitês de Bacias Hidrográficas serão instituídos por Decreto do Chefe do Poder Executivo, que aprovará, ainda os seus Regimentos Inter nos.
A competência dos Comitês está assim enunciada:
“I - elaborar e aprovar a proposta do Plano da res pectiva bacia hidrográfica e acompanhar sua
implementação;
11- encaminhar ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos a proposta relativa a bacia hidrográfica, contemplando, inclusive, objetivos de qualidade, para ser incluída no Plano Estadual de Recursos
Hídricos;
111 - aprovar os programas anuais e plurianuais de in vestimentos em serviços e obras de interesse da bacia hidrográfica, tendo por base o Plano da respectiva bacia;
IV- propor ao órgão competente o enquadramento dos corpos de água em classes de uso e conserva ção;
V - propor ao Conselho Estadual de Recursos Hídri cos, os valores a serem cobrados pelo uso da água da bacia hidrográfica;
VI - realizar o rateio dos custos de obras de interesse comum a serem executados na bacia hidrográfi ca;
VII - compatibilizar os interesses dos diferentes usuá rios da água, dirimindo, em primeira instância, os eventuais conflitos;
Vll - promover a cooperação entre os usuários dos re cursos hídricos;
IX - realizar estudos, divulgar e debater, na região, os programas prioritários de serviços e obras a se rem realizados no interesse da coletividade, defi nindo objetivos, metas, benefícios, custos, riscos sociais e ambientais;
X - fornecer subsídios para elaboração do relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica;
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XI - gestionar recursos financeiros e tecnológicos junto a organismos públicos, privados e institui
ções financeiras;
XII - solicitar apoio técnico, quando necessário, aos órgãos que compõem o Sistema Estadual de Ge renciamento de Recursos Hídricos. ” (Lei no 9.748/94, art. 27)
Cada Comitê será constituído por:
“I - representantes dos usuários da água, cujo peso de representação deve refletir, tanto quanto possível, sua importância econômica na região e o seu im pacto sobre os corpos d'água;
II - representantes da população da bacia, através dos poderes executivos e legislativos municipais, de parlamentares da região e de organizações e enti
dades da sociedade civil;
III - representantes dos diversos órgãos da administra ção federal e estadual atuantes na bacia e que este jam relacionados com os recursos hídricos. ” (Lei
no 9.748/94, art. 21)
Reconhece-se o aspecto positivo da definição e aprovação de uma poHtica de recursos hídricos após aproximadamente vinte anos, contados a partir da estruturação inicial da área ambiental no Estado, incluindo elementos novos, como o licenciamento prévio e a possibilidade de cobrança pelo uso da água (art. 4-, 11 e 27, V), a criação de Comitês de bacias hidrográficas e a de finição de infrações e penalidades. No entanto, o texto legal tende a demons- frar que a descentralização não ocorrerá de fato, ainda que um de seus princí pios fundamentais seja justamente a descenfralização.
“Descentralizar consiste em transferir o exercício do po der de decisão a uma entidade, um órgão, uma comuni dade, etc ..., que passa a exercê-lo sob sua própria res ponsabilidade. ... Implica em uma redistribuição mais
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de pessoas (físicas e jurídicas) que não podiam pro- nunciar-se, até então, sobre o assunto que foi descen tralizado. ” (Caubet, 1994).
Observa-se que a instância em que está prevista a participação popular, dentro da Política Estadual de Recursos Hídricos, é a dos Comitês das Bacias Hidrográficas. Entretanto, pelas atribuições/competências, conclui-se que não disporão de poder de decisão, nem para aprovar seu próprio Regimen to. Destaca-se, ainda, a possibilidade de apresentação de propostas individuais ou coletivas pelos usuários diretamente ao órgão central - Secretaria de Estado - sem prévia apreciação pelo Comitê respectivo.