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4. O CAMINHO DA CONSTRUÇÃO

4.1.9. É preciso restaurar a vergonha ou o ventre livre

Na crônica datada de 17 de setembro de 2002, o autor inicia falando da colonização dos portugueses, ingleses, franceses e finalmente dos americanos. Ao apontar para essas “colonizações”, o discurso de Fausto vem ao encontro de sua ideologia amplamente explicitada no trabalho e de encontro a toda e qualquer forma de poder que possa tirar a soberania do povo.

      

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ACM, como era conhecido, exerceu por três mandatos o governo da Bahia.

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Jorge Konder Bornhausen foi governador de Santa Catarina na década de 1980.

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Jader Barbalho foi governador no Pará por dois mandatos.

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Roberto Jefferson atuou por mais de vinte anos como deputado brasileiro e foi através dele que o chamado escândalo do mensalão adquiriu maiores dimensões. Condenado a mais de dez anos de reclusão em regime fechado por corrupção recebeu o benefício da delação premiada, reduzindo em 1/3 a pena que será cumprida em regime semi-aberto.

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Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho foi um importante arquiteto brasileiro, considerado uma das figuras-chave no desenvolvimento da arquitetura moderna. Escolhido por Juscelino Kubitschek para ser o responsável pelos projetos dos edifícios na construção de Brasília se tornou popular em todo o mundo. Niemeyer morreu em dezembro de 2012, aos 103 anos, deixando um legado para a arquitetura mundial.

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Enfatiza que a OMC72 naquele ano informou que o brasileiro é o operário mais ajuizado e menos rebelde do mundo, ao contrário do dito imaginário que diz ser desonesto, preguiçoso, moleque, vigarista e irresponsável. Isso de dizer que a OMC disse sobre o brasileiro é um artifício que Fausto usa para, mais uma vez, discorrer sobre o assunto que analisamos em todo esse contexto.

Nos primeiros quatro anos de loucura, Fernando Henrique Cardoso vendeu a Vale, a CSN, a Telebrás, as ferrovias, as rodovias, acabou com a saúde e a educação, além de chamar os aposentados de vagabundos. Qualquer outro povo teria posto esse homem na cadeia ou no manicômio, mas tão alienada estava a classe média (que faz a cabeça da maioria), tão amedrontada estava com qualquer possibilidade de socialismo que, em vez de puni-lo, o reelegeu no primeiro turno. Satisfeito com o masoquismo popular comprovado nas urnas, ele foi mais longe: acabou com o Banco do Brasil, a Amazônia, a telefonia, a energia, o décimo terceiro salário e para as vítimas deu a inflação, o trabalho escravo, a prostituição infantil e o dengue.

Ao apontar as privatizações realizadas por FHC ao longo de seu mandato, enfatiza a crítica e o fato de que devido a esse tipo de governante que “os donos do mundo e seus lacaios” ditam as regras em países como o Brasil.

Felizmente, ainda não conseguiram imbecilizar a humanidade inteira, pois fosse assim, seria o suicídio coletivo. Neste momento, em todo mundo existem pessoas de bem, lutando contra todas as máfias. Recentemente tentaram canonizar Fernando Henrique Cardoso por ter obtido 30 bilhões do FMI quando o Uruguai não conseguiu 2. Esse dinheiro porém, não irá para escolas, hospitais, reforma agrária e nem para micro-empresas, como não foram os 250 bilhões anteriores. Esse dinheiro é o pagamento para a

      

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Organização Mundial do Comércio é um órgão que visa supervisionar e alargar o comércio internacional. A OMC surgiu oficialmente em 1 de janeiro de 1995. 

exploração internacional da Amazônia, a começar por um parque no Amapá, que ninguém viu e nem sabe onde fica.

Relembra nesse momento o discurso73 de Cristovão Buarque74 ocorrido em novembro de 2000, em uma Universidade nos Estados Unidos quando um jovem o questionou sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

Ao falar do empréstimo do FMI, da exploração do território brasileiro e, sobretudo, transcrever o texto de Cristovão Buarque, o discurso se sustenta em si próprio e       

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De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

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Atualmente é senador pelo Distrito Federal. Foi Ministro da Educação entre os anos de 2003 e 2004, no primeiro mandato de Lula, por quem foi demitido no início de 2004 via telefone.

na continuidade discursiva do autor. As imagens que se formam socialmente evidenciam e demarcam a todo o momento a sua posição ideológica.

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