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4. O CAMINHO DA CONSTRUÇÃO

4.2. Segunda parte: Mentira Foi tanta mentira que você contou!

4.2.13. Mentira Foi tanta mentira que você contou!

Inicia falando de algumas mentiras que ouviu durante a vida e do modo como reage a elas. “Depois de muitos porres e porradas cheguei à conclusão de que só aceito um tipo de mentira: a gentil. Aquela que não terá consequências no lugar da verdade inútil que feriria uma ou mais pessoas que amamos.”

Traça um paralelo entre mentira e política.

       

ferisse tratariam do seu machucado para ele não morrer antes do tempo. Para que não ficassem tristes os tubarões lhes dariam festas aquáticas porque os peixes alegres tem melhor gosto. Nas grande caixas haveria escolas onde os peixinhos aprenderiam a nadar diretamente para a goela dos tubarões. A aula principal seria sobre formação moral. Os peixinhos aprenderiam que é belo sacrificar-se para os tubarões que velam pelo futuro dos novos peixinhos. Os peixinhos só teriam futuro se obedecessem. Primeiro os peixinhos não poderiam ser ignóbeis, materialistas ou marxistas. Deveriam denunciar aos tubarões qualquer colega que tivesse tais inclinações. Se os tubarões fossem homens guerreariam entre si e as guerras seriam conduzidas pelos próprios peixinhos. Ensinariam que eles eram muito superiores aos peixinhos de outros tubarões. Os peixinhos, como todos sabem, são mudos e calam nas mais diversas línguas. Cada peixinho que matasse mais peixinhos da outra língua muda ganharia medalhas e seria herói. Haveria também arte. Nas telas as goelas dos tubarões seriam pintados como parques de diversão e nos teatros mostrariam valorosos peixinhos nadando diretamente para dentro dos tubarões. A música seria tão encantadora que os peixinhos em êxtase entrariam em bandos para as gargantas dos tubarões. A religião ensinaria que só no estômago do tubarão é que a vida começa de verdade. Os tubarões acabariam com a igualdade entre peixinhos. Uns mandariam nos outros de acordo com seus cargos. Os maiores podiam até comer os menores pois mais gordos estariam quando fossem comidos pelos tubarões. Só assim haveria civilização no mar se os tubarões fossem homens.”

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Mein Kampf é o título do livro de dois volumes de autoria de Adolf Hitler no qual expressa ideias anti- semitas adotadas pelo partido nazista.

A mentira e a política são irmãs siamesas. A mentira confunde-se com a pele dos políticos. No fim dos anos 60, princípio dos 70, um bando de intelectuais burgueses com complexo de culpa decidiu que o trabalhador Lula não tinha defeitos e tudo o que ele fazia era bonito. Àquela altura já deveríamos ter desconfiado que esses intelectuais eram burros. Lula chegou ao governo despreparado e rodeado de incompetentes cuja única bandeira era a de demonstrar mais fidelidade a Washington do que o grande burlador FHC. Lula comete erros sobre erros, mais por incompetência brega do que má fé, e todos confundem isso com sofisticação: tanto o Fome Zero, a ridícula reforma do Torto, como o avião com banheira, de 70 milhões de dólares. Um escárnio. Seu erro principal, como o de Collor, foi mentir logo no primeiro ano de governo.

E daquele sonho que teve início ainda no último ano de FHC começa a projetar no futuro um passado recente.

Por enquanto Lula só mentiu e terá de continuar mentindo. Isso o eleitorado, por mais alienado que seja, não perdoará. FHC só começou a mentir no atacado a partir do primeiro dia do seu segundo mandato. Waldomiro146, como varíola, deixou marcas na alma – logo aparecerão na cara – de muita gente. Estão aí, ao lado de Lula, moços de boa família como ACM, Sarney, Barbalho e Roberto Jefferson que não me deixam mentir mas aplaudem as mentiras do governo.

Fala sobre as mentiras de Reagan147, que antes de ser presidente atuava como ator, e conjetura que um país que votou em Reagan tranquilamente votaria em

      

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Waldomiro Diniz é ex-assessor da Casa Civil e ganhou notoriedade em 2004 após a divulgação de uma gravação feita pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, que deu início a primeira crise ética e política do governo Lula. A divulgação das imagens enfraqueceu a posição do então ministro José Dirceu no governo e o fato deu início ao caso do Mensalão.

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Ronald Wilson Reagan trabalhou como ator em diversos filmes. Foi governador da Califórnia e presidente dos Estados Unidos.

Schwarzenegger148. Outrossim, no Brasil, porque não votaria na Xuxa149 o eleitor que vota em Rosinha150, conjetura. Compara Reagan, considerado pelo eleitor americano o presidente que mais bem discursava, a Lula. Fala sobre as eleições de Bush que foram fraudulentas e da relação com Chalabi151. Continua enumerando as barbáries americanas e os gastos excessivos em armamento para propagar a guerra pelo mundo em busca de poder.

Depois de todas as colocações manda um recado a Lula:

PS: Meu caro Lula, é por causa deste país, por causa da falsa dívida que insistes em pagar com o sangue do nosso povo trabalhador, que o Brasil está na situação em que está. Aprenda com os erros de Bush e não minta mais. Ainda há tempo para desatrelarmos a nossa economia dos nossos algozes. Ainda há tempo para se fazer uma revolução popular.

Mesmo descrente naquilo que um dia chamou de “revolução democrática” o discurso de Fausto parece retomar a vontade de que Lula fizesse a tão sonhada e esperada mudança. Essa edição de O Pasquim 21 foi a de número 115 e o hebdomadário duraria apenas mais cinco edições chegando ao fim de uma trajetória que marcou uma fase histórica tanto para o Brasil quanto para o jornal.

Fausto continuaria a expor seus argumentos através de seus textos coerentes e afiados no Jornal do Brasil até o dia de sua morte, em 2009, porém essa é outra história que remete a outras condições de produção.

      

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Arnold Schwarzenegger atuou como fisiculturista e ator. Foi também governador do estado da Califórnia.

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Apresentadora de programa infantil.

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Esposa do político Anthony Garotinho. Foi a primeira mulher a ser eleita governadora do estado do Rio de Janeiro.

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Ahmed Chalabi é um dirigente político iraquiano nascido no seio de uma família rica de banqueiros. Com a deposição de Saddam Hussein do poder após a intervenção militar norte-americana no Iraque em 2003, Ahmed Chalabi foi insistentemente falado com um dos mais prováveis sucessores do ditador. 

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