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2 METODOLOGIA

2.10 ÉTICA EM PESQUISA E QUESTÕES ÉTICAS NA PESQUISA COM

Como um dos objetivos desta pesquisa é investigar a visão dos/as alunos/as diante da identidade negra na constituição imagética dos livros didáticos de história, e tendo-se em vista que “toda a ação humana é social e exige ética em seus princípios e em seus procedimentos” (BARBOSA, 2014, p. 236), senti a necessidade de buscar embasamento teórico acerca dos procedimentos éticos relacionados à pesquisa com seres humanos.

Diante da necessidade de entender a recepção dos alunos diante dos discursos dos livros didáticos, se faz necessário o entendimento de postulados éticos no trabalho com adolescentes. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, criança é considerada a pessoa até os doze anos incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. A denominação “adolescente” se encaixa melhor para a maioria dos sujeitos desta pesquisa8.

A Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, estabelecia as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo os seres humanos. A Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) substituiu a Resolução 196/96 do CNS. Essa nova versão confirma a necessidade do cuidado em respeitar a dignidade e a autonomia de crianças e de adolescentes na participação de pesquisas, por meio da informação e da autorização dos seus responsáveis legais, com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)9. O referido documento é uma das estratégias desenvolvidas para tentar garantir os interesses e a proteção dos sujeitos da pesquisa. De acordo com essa resolução, toda pesquisa que envolva ser humano deve atender às exigências éticas e isso significa tratá-lo com dignidade, respeitá-lo na sua autonomia e não deixá-lo vulnerável; examinar os riscos individuais ou coletivos; respeitar seus valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, hábitos e costumes.

Existe na infância dos jovens um estado de dependência, principalmente dos pais e da família. Com o passar do tempo, essa dependência tende a diminuir e o adolescente vai perdendo a identidade infantil. Pouco a pouco, passa do estado de

8 BRASIL, Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de

Janeiro: Imprensa Oficial, 2017. Disponível em: < http://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp- content/uploads/2017/06/LivroECA_2017_v05_INTERNET.pdf>. Acesso em 11 jan. 2018.

dependência total para uma autonomia crescente ao longo dos anos, caso encontre ambiente favorável. Passada essa fase, os adolescentes começam a procurar relações fora da família, os amigos. Esse fato caracteriza o aspecto da juventude. Assim, esse novo grupo desempenha papel importante, agindo como elo entre a família e o mundo exterior, sendo esse fato determinante para o seu modo de vida futuro (VELHO; QUINTANA; ROSSI, 2014, p. 78).

É na adolescência que começam a aparecer os primeiros comportamentos de contestação. Esse processo é importante para enfrentar o novo e o desconhecido e para que as pessoas possam, no futuro, afirmar-se como indivíduos adultos e independentes. Nesse caminho, se bem conduzido e vivido, os adolescentes começam a construir seu próprio mundo de valores, crenças e habilidades para afirmar suas identidades como indivíduos independentes (VELHO; QUINTANA; ROSSI, 2014, p. 78). A escolha por estudantes adolescentes como sujeitos desta pesquisa não teve apenas a intenção de analisá-los, mas também de interferir na realidade. Esses estudantes fizeram parte de discussões que podem despertar um senso mais crítico no enfrentamento das discriminações cotidianas.

Para Celani (2005, p. 107), as pessoas não são objetos e, portanto, não devem ser expostas indevidamente. Elas precisam sentir-se seguras com relação às garantias de preservação da dignidade humana. Pode haver danos e prejuízos, seja de posturas, como de procedimentos considerados não éticos. A perda da confiança na pesquisa pode representar danos irreparáveis. A proteção dos participantes é essencial, sendo indispensável o consentimento informado e reafirmação de consentimento ao longo da pesquisa. Esse diálogo possibilitará ao pesquisador assegurar-se de que os participantes entenderam os objetivos da pesquisa e os seus papéis como participantes, deixando clara a possibilidade de desistência a qualquer momento.

O pesquisador deve primar sempre por evitar danos e prejuízos a todos os participantes, garantindo direitos, interesses e suscetibilidades (CELANI, 2005, p. 110). A construção dos significados é feita pelo pesquisador e pelos participantes, em negociações. Portanto, os sujeitos passam a ser participantes, parceiros (CELANI, 2005, p. 109). As obrigações éticas devem garantir o estabelecimento do respeito mútuo, de apoio e de tolerância, de maneira a garantir um lugar seguro de aprendizagem. As pesquisas com adolescentes podem oferecer um espaço de transformação para esses interlocutores, que saem da esfera de seres frágeis, incapazes, para chegar à visão de que são sujeitos que exigem proteção e cuidado, mas que possuem potência.

A investigação com os/as adolescentes teve como objetivo o vislumbre de como eles/as recebem os discursos escolares a respeito da identidade negra. Para tanto, optei por preservar os seus nomes, já que poderia haver a exposição de integrantes do ambiente escolar e possíveis represálias para os sujeitos envolvidos.

Indagando-se sobre o que torna humano o ser humano, a antropologia mostra como diversidade e pluralidade formam as subjetividades dos seres humanos, apesar de continuarem sendo articuladas formas sutis ou explícitas de tentativa de eliminação das diferenças. Escutar os/as adolescentes e analisar como eles/as recebem e são influenciadas pelo discurso escolar é uma forma de empoderá-los/las. Enxergá-los/las como atores sociais de forma a possibilitar que se apresentem como sujeitos de conhecimento nos seus próprios termos é legitimar suas formas de comunicação. Dar visibilidade às suas opiniões e entender os mecanismos da sua construção identitária pode ser um caminho para o despertar da sociedade para o estabelecimento de estratégias que busquem uma sociedade mais justa e igualitária.