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CAPÍTULO II ÉTICA ORGANIZACIONAL : BUSCA POR UM ENTENDIMENTO

2.3 ÉTICA ORGANIZACIONAL

No cotidiano, observa-se que ética e moral são utilizadas indistintamente para indicar a presença de valores relacionados a bem e mal no comportamento de indivíduos, mas filosoficamente existe uma diferença.

A moral estaria ligada a valores, princípios, regras que servem para orientar o comportamento do homem. Ligada também à noção de certo e errado, desperta uma expectativa da sociedade em relação ao desempenho dos papéis assumidos e a conduta individual será aceita ou não, caso corresponda ou não ao esperado.

A ética, por sua vez, seria a reflexão crítica sobre a moralidade e não definiria normas (campo da moral), mas indicaria princípios. Assim, ética está, digamos, acima da moral e questiona a consistência dos valores que norteiam as ações de caráter moral.

Enquanto a moral orienta o comportamento, a ética examina a consistência e a coerência com a finalidade de garantir, nas relações sociais, ações legítimas e autênticas.

Segundo Rios, a origem das ações morais se encontra

[...] nos costumes de cada sociedade. Esses costumes estão fundados em valores ± o que é costumeiro é confundido, muito frequentemente, com o que é bom. E, então, porque algumas ações reprováveis tornam-se costumeiras em algumas instâncias sociais, DV SHVVRDV VmR OHYDGDV D DILUPDU TXH ³Mi TXH p FRVWXPHLUR QmR p PDX´(RIOS, 2009: p. 85),

É comum que algumas ações sejam consideradas certas ou erradas não com fundamento propriamente ético ou moral, mas com base no costume. De maneira geral, por exemplo, não se considera errado chegar atrasado para compromissos. Algumas empresas costumam marcar reuniões com antecedência para garantir que ela tenha início no horário necessário. Aliás, essa é uma questão bastante comum na sociedade brasileira. Assim, como faz parte do ethos brasileiro, o atraso não é considerado como falta de ética.

No entanto, esse costume está ligado mais à moral e não à ética, que teria uma atitude reflexiva a esse respeito. O indivíduo ético refletirá a respeito do atraso com base em princípios de respeito, justiça, solidariedade para com aquele que chegou no horário.

Se a ética individual se refere à equação indivíduo e sociedade circundante, esses mesmos princípios são aplicados ao contexto organizacional: a ética empresarial indaga sobre as ações e relações profissionais e está ligada ao bem comum, à dignidade humana, à felicidade coletiva, ao bem público, à cidadania. Nesse sentido, aplica o conceito de bem comum conforme Platão.

É esperado que a atuação de todos nas organizações obedeça aos princípios comentados, de respeito, justiça, bem, solidariedade. Tais valores podem ser medidos a partir dos fazeres que, por sua vez, se originam no conjunto de conhecimentos que cada indivíduo possui, de seu conhecimento enciclopédico. Implicam ainda em um posicionamento diante do que considera desejável e necessário. É preciso salientar que não basta o que o indivíduo considera. Existe uma cultura construída historicamente que determina certas posições, certas atitudes aceitas como corretas.

Pode-se afirmar então, que existe um senso ético pessoal, oriundo do núcleo familiar, do grupo social a que o indivíduo pertence e uma ética coletiva, construída a partir de valores mais universais. A ética das organizações é coletiva, e apresenta algumas características que pertencem ao campo do saber, do fazer e do dever. Do saber, porque o indivíduo precisa, além de possuir competência profissional específica, conhecer a política organizacional e seu propósito; do fazer, porque deve exercer atividades que gerem resultados; e do dever, porque tais atividades se inserem em um sistema estabelecido e que, portanto, precisa ter suas diretrizes cumpridas.

Na competência profissional, saber fazer é apenas uma de suas dimensões. Segundo Rios (2009: p. 87), articulam-se:

- dimensão técnica, referente ao domínio de conhecimentos na área de trabalho e à habilidade na utilização e transferência de conhecimento;

- dimensão estética, ligada à sensibilidade para a percepção das relações intersubjetivas: o bom profissional é sensível às manifestações que ocorrem na prática e possui também um nível de afetividade;

- dimensão política, pois o trabalho é exercido em um contexto social que permite escolher a melhor entre diversas opções. Ser político, nesse sentido, é tomar partido em situações de escolha e não permanecer indiferente diante de situações sociais;

- dimensão ética, que atravessa todas as outras e lhes confere significado pleno. Esta é a dimensão que permite aos indivíduos se fundamentarem ou se deixarem guiar por princípios éticos já citados: respeito, justiça, solidariedade e outros.

Assim, conforme Rios (2008, p. 87), a competência não é una, porém deriva de propriedades plurais que, somadas ou em conjunto, constroem um caráter positivo direcionado ao bem comum. Nesse sentido e conforme explicitado, não existe uma competência parcial: a empresa não deve incentivar pedaços de competências, mas a sua totalidade. A competência ética, assim, é o todo e cada uma dessas quatro partes, as propriedades que a definem. Um trabalho competente é, em resumo, aquele que faz bem aos que de alguma forma estão envolvidos em seu processo, a quem o executa e à organização.

Além dessas propriedades e porque as organizações são formadas por grupos sociais, é preciso acrescentar que a competência não aparece isolada. O indivíduo é competente na prática de suas relações éticas com os outros daquele grupo social. Existe, evidentemente, um componente pessoal que são suas características individuais e seu desempenho, mas mesmo esses devem estar contextualizados.

As reflexões feitas até o momento sobre ética permitem pensar que as organizações trabalham evidentemente com valores numéricos, mas seus valores éticos são substanciais. Há um fator ligado às crenças individuais que não pode ser negligenciado, porém existem também os valores institucionais ligados à competência ética do grupo estabelecido. Não há uma cristalização

de valores, ou seja, eles se modificam com a evolução da sociedade e mesmo do rumo econômico.

Após colocadas as questões de ética e sua aproximação à comunicação organizacional, para compreender mais profundamente esse discurso, é necessário o estabelecimento de uma retórica a ele aplicada. É o que se verá nos capítulos III e IV.

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