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4.2 PARTICIPAÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS LOCAIS N O PLANEJAMENTO E NA

4.2.4 Índice de potencialidade turística da participação social no planejamento e gestão do

A governança pública excede atingir a efetividade e a eficiência na intervenção de uma realidade e exprime a legalidade e a legitimidade no processo de gestão pública. Para Slomisk (et al, 2008), o setor público apresenta complexidades que extrapolam a realidade corporativa e por isso, a governança pública requer uma estrutura administrativa e uma rede

131 que possibilitem a interação entre as diferentes instâncias que compõem o processo administrativo.

Baseada nisto e no conceito de governança, a política pública de fomento do turismo no Brasil estabeleceu o processo de gestão, a ser feito de maneira compartilhada e descentralizada, através da diluição do poder do Estado no processo de tomada de decisão e gestão do turismo. Esta forma de gerir está devidamente apresentada no Plano Nacional de Turismo 2003-2007, que estabelece que a criação do Ministério do Turismo permite o diálogo entre a instância federal e os governos estaduais, municipais, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada (BRASIL, 2003).

Deste modo, o PRT foi concebido tendo a governança como estratégia de gestão participativa. Como a governança pressupõe um ―processo pelo qual interesses conflitantes e díspares podem ser acomodados para que uma ação cooperativa possa ser adotada‖ (STREESEN, 2001, p.118), ela não deve acontecer somente em nível de poder público. Pelo contrário, a governança deve envolver as relações entre sociedade civil, setor privado, mercado e cidadão individual, sem imposições e com empoderamento dos sujeitos sociais.

Sendo assim, analisar a gestão participativa na política pública territorial do turismo, qual seja o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil requer analisar também como acontece a participação e qual o nível de conhecimento da comunidade local sobre o processo de planejamento e gestão para o fomento turístico.

Por estas questões e por acreditarmos que gestão descentralizada não é somente a institucionalização de um espaço de discussão, mais principalmente uma mobilização social voluntária e crítica, realizamos pesquisa com os membros da instância de governança regional e também com a sociedade civil organizada, para conhecer como eles avaliam a atuação do conselho no fomento do turismo, bem como o estímulo à participação da comunidade no processo de gestão do turismo.

No que se refere à gestão participativa, cinco dos seis municípios analisados apresentaram o nível BOM a partir da aplicação da matriz de avaliação, apresentando o índice maior que 33,33, com destaque para Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá e Florânia que atingiram pontuação maior que 60,5. Dos seis, somente o município de Acari ficou com o nível BAIXO de gestão participativa no planejamento e gestão do turismo, apresentando o índice de 25,31, conforme pode ser visto no quadro 17.

Assim, considerando que a governança na gestão pública pressupõe uma serie de requisitos e princípios, entende-se que os seis municípios contemplados nesta investigação atendem de forma mediana a governança no processo de gestão do fomento turístico.

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Quadro 17 - Índice de Potencialidade Turística de participação social no planejamento e na gestão do turismo

PONTUAÇÃO 0 – 33 pontos Baixo 34 – 66 pontos Bom 67 - 100 pontos Alto

DIMENSÃO GESTÃO PARTICIPATIVA IPT (Índice de Pote ncialidade Turística por Dime nsão) Carnaúba dos Dantas 49,37 52,17 60,79 56,26 60,66 25,31 60,61 Currais Novos Ce rro

Corá Acari Florânia Pare lhas

Fonte: PINHEIRO, I.F.S.

Com base nos dados, constatamos uma parcial aprovação quanto à atuação dos membros do conselho. O que detectamos a partir da aplicação da matriz de avaliação, com o parcial estímulo à participação social no processo de planejamento do turismo, corrobora com a avaliação de Nascimento (2012). A pesquisadora afirma que a respeito da gestão descentralizada e participativa, o Plano Nacional de Turismo - PNT não deixou claro quais estratégias utilizar para estimular a participação social. Além disso, não houve participação da comunidade local e dos turistas no processo de avaliação do PNT. Diante destes gargalos, justifica-se o índice mediano da participação social na implantação e gestão do PRT no âmbito do Polo de Turismo Seridó, pois apesar deste programa estimular a descentralização na gestão do turismo não existe por parte da instância federal propostas e orientações que viabilizem e ampliem a participação social, deixando as instâncias de governança regionais despreparadas técnica e metodologicamente. E neste sentido, surge o seguinte questionamento: como delegar e cobrar das IGRs maior participação social, se a política pública, de onde decorreu a proposta de gestão descentralizada do turismo, não foi concebida também de forma participativa?

Além disso, não ocorre um ―monitoramento apoiado por uma supervisão próxima e bem coordenada‖ (STREETEN, 2001, p.111) por parte da instância estadual (Secretaria Estadual de Turismo) e federal de turismo (Conselho Nacional de Turismo). Esta supervisão impediria que problemas de gestão participativa acontecessem, problemas estes que consequentemente comprometem a governança, tais como o esvaziamento quantitativo e qualitativo da instância de governança regional, assim como o total ou gradual afastamento da sociedade civil no planejamento e na gestão do turismo.

133 As participações nas reuniões do conselho, assim como as conversas que ocorreram durante a pesquisa possibilitaram perceber que a sociedade civil ainda está distante da gestão do turismo na Região do Seridó. Isso pode ser comprovado nas respostas dos presidentes de associações da sociedade civil, uma vez que a grande maioria dos entrevistados afirmou sequer conhecer o Conselho do Polo de Turismo Seridó, fato preocupante uma vez que a descentralização administrativa e a gestão compartilhada remetem à participação efetiva e crítica da sociedade.

Durante as reuniões, as discussões se debruçavam sobre demandas da iniciativa privada, que pedia por maior divulgação do Roteiro Seridó junto à Secretaria Estadual de Turismo, assim como demandas por melhoria da infraestrutura que viabilizasse o acesso em alguns empreendimentos turísticos.

No que se refere à legitimidade do processo de decisão, uma questão que merece destaque na análise da participação social diz respeito à nomeação do representante do município na instância de governança, que deve ser voluntária ou através de votação interna envolvendo a comunidade local. No entanto, três dos representantes da instância de governança envolvidos na pesquisa afirmaram que sua nomeação foi através de indicação. Esse fato também justifica o nível BOM de gestão participativa, uma vez que a nomeação de três dos representantes entrevistados, por ter sido feita através de indicação da gestão pública municipal, leva a inferir que a representação não aconteceu por interesse dos mesmos, e nem como uma expressão da vontade da sociedade civil, como aponta (DURIGUETTO, 2007) em estudo sobre participação social em processos de gestão descentralizada. Esta realidade pôde ser comprovada quando acompanhamos as reuniões do conselho e constatamos que alguns dos membros não participavam das discussões, de modo que sua presença nas reuniões era meramente pontual.

Ainda tratando da legitimidade do processo de decisão, o índice BOM atribuído à gestão participativa se refere ao fato de que metade dos entrevistados membros do conselho do Polo Seridó afirmaram que as deliberações e prestação de contas através da socialização das atas e divulgação de hora e data das reuniões do conselho atingem parcialmente representantes e representados. Além disso, cinco dos seis entrevistados avaliam satisfatoriamente um princípio relevante na gestão participativa, que se refere à paridade nas decisões, afirmando que todos que fazem parte do conselho têm poder igualitário de voz e voto.

Com estas questões, constatamos que no quesito participação social, a implantação e a atuação da IGR do Polo Seridó se configura como um avanço da gestão

134 descentralizada e da institucionalização dos canais de participação na gestão do turismo. Nesse sentido, o Conselho do Polo de Turismo Seridó se caracteriza como uma estratégia de intervenção mais participativa para o fomento do turismo em um território, já se caracterizando como um canal legítimo de participação (AZEVEDO; ANASTASIA, 2002).

Mesmo assim, acreditamos ser relevante chamar atenção para uma questão na geração deste índice. A maioria das avaliações positivas no quesito ―participação social no planejamento e na gestão do turismo‖ foram dos membros do Conselho do Polo de Turismo