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PROJETOS TURÍSTICOS: REFLEXÕES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

AÇÃO CARACTERÍSTICA

Roteiros Turísticos Criação de roteiros por segmento como: naturais, religiosos,

aventura, histórico e cultural, executados através dos guias locais. Calendário de Eventos Utilização dessa importante ferramenta de comunicação turística no

qual disponibilizando as datas dos principais eventos locais.

Cursos de Capacitação Qualidade nos serviços e a qualificação da mão-de-obra ministradas em parceria com o SEBRAE-MG, SENAR, SENAC.

Reestruturação dos Eventos Locais A reestruturação dos eventos já formatados no calendário anual, para melhorar o seu próprio desempenho como também proporcionar melhores condições de permanência ao visitante.

Captação de Eventos A proposta consiste em buscar eventos paralelos aos já existentes, de forma a ٛ onsolida-los e valor agregado.

Plano de Marketing Através da campanha “Sacramento, natureza e historia para você” o departamento de turismo pretende estender a imagem do município não somente na região como também a participação em eventos de repercussão nacional como o Salão do Turismo realizado em São Paulo em 2005.

Certificação Criação de um selo de qualidade em que os empreendimentos e

prestadores de serviços receberão conforme as exigências propostas e fiscalizadas pelo COMTUR e Departamento de Turismo.

Melhoria do receptivo na Gruta dos Palhares Ampliação das atividades no parque da Gruta dos Palhares através de atividades de recreação e lazer nas dependências das piscinas e quadras.

Trilhas educativas Criação no entorno da Gruta dos Palhares que é o maior receptivo local, trilhas interpretativas para o visitante conhecer um pouco mais sobre esse atrativo.

10. Implantação do turismo rural Incentivo aos produtores rurais na sua inserção nesta modalidade econômica através de cursos de capacitação para produção de artesanatos e produtos da gastronomia local.

11. Turismo de aventura Ampliar a prática desta modalidade para melhor aproveitar o

potencial natural do município como as cachoeiras, penhascos, rios e lagos.

12. Projeto adote uma cachoeira São mais de 200 catalogadas no inventário municipal, a proposta consiste em que os empresários locais assumam parte da manutenção e preservação das mesmas.

13. Criação de RPPN Incentivar os proprietários rurais na criação de reserva particular de proteção natural visando proteger os recursos naturais e promoção da educação ambiental através da criação de trilhas.

14. Plano de manejo para Gruta dos Palhares Ordenamento sobre o uso da gruta e do parque do atrativo

15. Caminho para a Serra da Canastra Criação de ponto de apoio para os produtores rurais está nas margens de acesso ao portal da Serra da Canastra, objetivando despertar para os serviços turísticos.

Fonte: Departamento de Turismo (2007). Organização: Silva, P. (2008).

A tabela acima apresenta propostas importantes para fazer turismo, no entanto ela não se efetiva na sua totalidade, pois depende daquilo que os projetos turísticos não valorizam, que é o envolvimento amplo da comunidade.

A quinta e última etapa do plano de ação consiste em uma ação a longo prazo voltada para os programas de sustentabilidade turística, baseado no uso racional dos recursos turísticos.

A primeira proposta volta-se para um projeto de educação ambiental pelo importante papel no desenvolvimento equilibrado e contribuindo na informação e sensibilização tanto para comunidade como para o visitante sobre a proteção ambiental. Destaca-se entre elas o plantio de mudas no entorno do parque da gruta dos Palhares, criação de trilhas educativas e campanhas nas escolas por meio de palestras.

Podemos analisar o desenvolvimento local com uma proposta em que os gestores administrem as atividades turísticas conjuntamente com os demais setores econômicos, visando à solução de problemas sociais e econômicos apresentados nas localidades.

A atividade turística deve ser administrada como uma atividade que não é apenas econômica, de modo que ela gere benefícios para a comunidade envolvida. Essa questão, porém, não é simples, e torna-se um pouco mais complexa no caso da atividade turística, devido às peculiaridades do produto turístico.

As peculiaridades tornam a atividade turística complexa, em especial no que diz respeito à sua gestão. Os gestores do turismo muitas vezes, movidos até mesmo pelo fascínio dos números e cifras, tratam o turismo como a “salvação da lavoura”, o remédio para todos os problemas sociais e econômicos, pois como já dito, gera emprego e renda.

O que os gestores desconhecem, e hoje analisando o turismo sob a ótica do desenvolvimento local, é que tipo de turismo deve ser desenvolvido para que este proporcione desenvolvimento no sentido puro da palavra, e como esta atividade deve ser gerida, de forma integrada ao conjunto macroeconômico, para que ela seja uma forte ferramenta para o desenvolvimento.

O projeto turístico, no qual a comunidade deixa de ser a parte consultada pelos técnicos e passa a ser o agente de seu próprio planejamento, isto é, está descobrindo suas potencialidades e colocando-as a favor de seu próprio destino, torna o caminho para a sua

efetivação mais fácil, pois o direcionamento das mudanças já foi incorporado pela comunidade.

Os gestores do turismo local trabalham com um modelo de planejamento que não dá margens para que esta realidade seja desempenhada, pois ainda se encontra dentro de uma visão muito fechada e técnica, que utiliza um modelo ou receita inadequada às realidades encontradas nas localidades.

Devemos mudar também a forma de pensar o turístico, procurando não um método ou modelo, mas sim uma forma de fazer com que as teorias, práticas e técnicas necessárias para a realização de um planejamento comprometido com as especificidades dos lugares sejam incorporadas também pela comunidade.

Ao considerarmos o turismo como um agente que modifica também a cultura local, o poder público deve primeiramente entender que o turismo impõe transformações cujo significado para as pessoas é complexo e determina um amplo esclarecimento, bem como trabalho de minimização das contradições desse processo.

Canclini (2003, p.28-32) acredita que a cultura,

Corresponde à produção de fenômenos que contribuem, mediante a representação ou reelaboração simbólicas das estruturas materiais, para a compreensão, reprodução ou transformação do sistema social, isto é, a cultura diz respeito a todas as práticas e instituições dedicadas à administração, renovação e reestruturação do sentido. (CANCLINI, 2003, p. 28).

Neste sentido, a cultura aparece enquanto aspecto que garante a continuidade da coesão social, mesmo sendo transformada. A produção simbólica do sentido e da prática se faz enquanto específica de um modo de vida, isto é, depende do grupo, da sociedade e do lugar, em que cada grupo somente se organiza a partir de um sentido de afinidades entre eles.

Segundo Bourdieu (1989) através da preocupação com a formação de um campo social, categoria trabalhada pelo autor para representar as relações sociais, podemos observar a formação de determinados grupos. Assim, o fato de a identidade das cognições de existência tender a produzir sistemas de disposições semelhantes dos “habitus” que delas resulta está no princípio de uma harmonização objetivas das práticas e das obras.

Ao analisarmos o relacionamento entre o projeto turístico e sua implantação no município de Sacramento-MG, identificamos impactos causados pelas ações representadas pelo homem como aquelas que afetam o meio ambiente.

Na verdade, somente os empresários e gestores do turismo local é que conseguem ver essa atividade como benéfica e desenvolvimentistas comumente utilizados em seus discursos. Porém, não existe uma análise sobre como evitar os impactos negativos gerados pela atividade, bem como a identificação dos reais valores obtidos pelo turismo e seu retorno para a comunidade.

Segundo Canclini (2003), o turismo tem a função, dentro do que chama de sociedade tradicional ou rural, de transformar qualquer apelo referente à tradição, ou associação ao “atraso”, em uma boa mercadoria para ser vendida, isto é, o que aparece recentemente não tem valor e é “transmutado”, “embalado” e transformado em possibilidade de troca pela atividade turística.

As alterações do turismo mal planejado sobre as comunidades dizem respeito à destruição de tradições, no aumento do índice de violência e na modificação dos papéis sociais tradicionais, bem como na noção de que se perde a identidade particular das expressões diante de uma uniformização de ações que avançam sobre a comunidade local.

Krippendorf (1989) considera que, mais que observar o fato de que as “manifestações culturais” são comercializadas e transformadas em espetáculo, demonstra como o imaginário do visitado se transforma no sentido em que a mercantilização praticamente passa a ser a mola mestra de qualquer comportamento social do grupo, onde até mesmo a hospitalidade passa a ser um produto possível de ser vendido e comercializado.

Outro aspecto observado também consiste em avaliar a relação visitante e visitado, no qual a expressão do visitante emana de uma superioridade perante o visitado, demonstrando uma afirmação a todo o momento em que induz o morador em sobreviver ou conviver diante dessa não relação apreciada como peças ou símbolos.

A atividade turística pode, desde que bem planejada, e com a participação democrática de todas as pessoas envolvidas, contribuírem de maneira significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental de muitas regiões de muito recurso turística.

Quando o turismo é analisado apenas em sua potencialidade econômica, deixa de cumprir sua função social e cultural de promover e dar continuidade às suas ações ligadas à preservação desses valores. Concluímos que o planejamento turístico de base local beneficia o setor público, o setor privado, a comunidade local e os patrimônios materiais, imateriais, natural e humano.

Estas transformações podem propiciar tanto a descaracterização das cidades brasileiras, quanto o fortalecimento da identidade cultural, mantendo a integridade do patrimônio natural e cultural sem ocasionar perda à memória coletiva.

Na verdade, a efetivação dessa atividade não acontece de forma homogênea. O patrimônio natural está aos poucos sendo totalmente desestruturado em função de ações que a gestão pública acaba favorecendo, em prol da questão econômica.

A questão ambiental fica de lado, uma vez que a projeção das ações não se preocupa tanto com o seu futuro. Projeção turística não significa necessariamente entregar o município para as vantagens que a atividade proporciona, mas, sim, ajudar no sentido de conter esse avanço.

E finalmente acompanhando de perto estas propostas, todas elas acabaram não se efetivando, o que vimos foi apenas a manutenção de um calendário anual de eventos que simboliza o turismo via atrações artísticas e comerciais.

Por outro lado, também vimos um crescente número de iniciativas privadas que se lançaram sobre os bens naturais e culturais no município de forma irresponsável e comprometendo de modo geral, o seu futuro, pois essas ações não comprometem apenas a sua condição de atrativo, mas do próprio bem enquanto patrimônio de uma coletividade.

Neste pressuposto, portanto, identificamos não somente a ação da gestão pública em lançar seu domínio sobre os atrativos do município. Os proprietários empreendedores de

alguns atrativos naturais acabam se lançando sobre esses recursos pelo fato de visualizar um retorno de capital muito rápido, dado ao investimento que realizam.

Diante destes fatores, podemos considerar que os recursos turísticos ficam muito expostos às ações de dominação, exploração e a falta de compromisso com a preservação ou manutenção de suas características originais, geram a necessidade de satisfazer essa nova clientela que possui uma força maior que o bom senso, vê-se, portanto, que dessa forma, não há sustentabilidade.

Neste sentido, não basta à elaboração de projetos turísticos que não aproxime as realidades locais, eles precisam ser elaborados com vistas a respeitar os valores locais, baseados nas relações sociais estabelecidas principalmente pela comunidade, pois se estes fatores não forem considerados, dificilmente alcançarão seus objetivos.

Diante destas questões expostas, torna-se necessário considerar as ações públicas locais como gestora, direcionadoras e responsáveis pela exploração e manutenção destes recursos. Por outro lado, as iniciativas privadas devem priorizar planos de manejo e de conservação dos aspectos naturais, culturais e as identidades do lugar, concebendo-os como sendo à base de sustentação de qualquer projeto turístico.

Por fim, a comunidade deve assumir o papel político na relação que se busca estabelecer com o estado, principalmente com as suas políticas públicas, pois somente assim as pessoas do lugar turístico conseguirão receber os bônus da atividade, e não somente os ônus que se tornam tão prejudiciais para aqueles que resistem em permanecer no lugar, transformado pelos usos e apropriações inconseqüentes.

CAPÍTULO II

“O chapadão termina. Começam os vales, colinas, morros e riachos que circundam o Desemboque, nosso berço civilizatório. Esta era nossa primeira vez. Talvez por isso, a sensação de uma aventura no tempo fosse maior. Ao chegarmos fomos recebidos pelo silêncio. Desemboque parecia dormir embora meio-dia fosse. (...) Gente havia. As igrejas Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora do Desterro insistiam incólumes, ostentando o peso de dois séculos”

OS BENS NATURAIS DE SACRAMENTO-MG: APROPRIAÇÃO E