• Nenhum resultado encontrado

A tese está estruturada em cinco capítulos, porém, uma etapa introdutória destinada à caracterização geral do trabalho, descrição dos procedimentos adotados e apresentação do objeto de estudo. Os capítulos subseqüentes foram construídos de forma interativa, no qual cada um complementa o outro.

O primeiro capítulo consiste em uma revisão sobre as políticas públicas envolvendo projetos turísticos, destacando o Plano Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT.

Posteriormente analisamos a proposta pública em nível estadual, que se deu a partir do programa do governo do Estado de Minas Gerais em desenvolver circuitos turísticos conforme as tendências regionais. Por fim analisamos essas questões no município de Sacramento-MG sob sua inserção em dois destes circuitos, o Circuito da Serra da Canastra e o Circuito Turístico dos Lagos.

Neste contexto de analise das políticas públicas voltadas para o turismo, entrelaçamos a proposta dos projetos entre os programas federais, estaduais e municipais para entender se realmente existe um plano de gestão turística para o município de Sacramento-MG e identificar o alcance efetivo de seus objetivos.

O segundo capítulo consiste em uma análise sobre os arranjos turísticos locais voltados para os bens naturais; Barbosa e Zamboni (2000) consideram esse aspecto como um epicentro de referência nos projetos turísticos.

A estruturação desse capítulo se dá a partir da identificação dos bens naturais do município de Sacramento-MG dos trabalhos de campo e posterior correlação com as propostas públicas para o turismo local, identificando de que forma estão inseridos nesse planejamento.

Os usos dos bens naturais como forma de projeção municipal em Sacramento é uma realidade usada de forma descompromissada e sem nenhuma preocupação com sua proteção.

Dessa forma, as paisagens naturais compostas por cachoeiras, vales, rios e mirantes ilustram os folders e panfletos lançados para atrair turistas. No terceiro capítulo, portanto, trazemos para a discussão do fazer turismo os usos e apropriações dos bens culturais e os valores simbólicos neles contidos.

O turismo envolve amplas relações intersetoriais, sendo necessário identificar, organizar e articular a sua cadeia produtiva para fazer-se uma análise sistêmica. Este enfoque integrado colabora significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas para o planejamento turístico.

Problematizamos neste capítulo como ocorre a forma de projeção turística no município. É a partir da gestão pública ou por meio das iniciativas privadas ou se desenvolvem aleatoriamente? Assim, finalizando esse capítulo, avaliamos se o município, após estas intervenções, tornou-se turístico.

Um dado importante que ajuda responder este questionamento consiste no fato de que foi no Governo do Prefeito José Alberto Bernardes Borges (1982-1986) que se deu a primeira iniciativa, construindo um centro esportivo destinado à concentração de eventos públicos (SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, 2007) e posteriormente solicitou um estudo espeleológico da Gruta dos Palhares, promovendo assim a urbanização no seu entorno, descaracterizando sua forma original e turístificando-a.

A composição do terceiro capítulo se deu a partir de uma avaliação sobre as vocações inventadas para o turismo local. Os trabalhos de campo foram imprescindíveis para compor essa discussão, pois percorremos o município em busca dos patrimônios concretos e simbólicos, dos bens históricos e culturais e a forma de apropriação turística que está sendo projetada sobre elas.

Alicerçando essa discussão, Thompson (1998, p.192) considera que “as formas simbólicas estão sempre inseridas em processos contextos sócio-históricos dentro dos quais e por meio das quais elas são produzidas, transmitidas e recebidas”, ou seja, cada componente possui um contexto diferente, evidenciado pelas relações sociais e por suas características particulares, gerando uma especificidade própria que através das instituições são gerados, mantidos ou (re) significados.

Os bens históricos e culturais são entendidos como patrimônios, epistemologicamente “bens herdados dos pais”, ou um legado do passado. Mesmo sabendo que muitos desses bens nos chegam através de legados, eles não podem ser vistos simplesmente como heranças de uma geração para outra, são construídos, recriados, apropriados e sua permanência parte de uma incursão do presente para o passado, dessa forma,

O interesse então pela defesa do passado e a proteção do patrimônio conjuga-se com a construção do ambiente (lugar, território) onde se desenvolvem modos de vida diferenciados, muitas vezes contraditórios entre si devido à diversidade cultural. (ARANTES, 1984, p.9)

Esse embate acaba provocando uma medida de forças entre quem procura proteger esse patrimônio construído e outros na sua modernização ou apropriação, acabando muitas vezes destruindo o passado.

Assim, o terceiro capítulo busca os valores culturais do município, suas expressões arquitetônicas, suas manifestações populares e faz uma análise da forma como são tratadas pela gestão pública tanto para lazer como para turismo. E a relação desse capítulo com o quarto capítulo se dá pelo fato de preparar a discussão sobre a forma real das iniciativas turísticas no município.

O quarto capítulo consiste em analisar as problemáticas levantadas no primeiro capítulo, no qual questionamos as formas de expressão das iniciativas turísticas no município.

Os dados também foram obtidos através dos trabalhos de campo que permitiram identificar essas iniciativas representadas por expressões de propriedades próximas aos lugares de maior valorização turística, como a Serra da Canastra, o distrito de Desemboque, às margens do rio Grande, o complexo ferroviário do Cipó, a gruta dos Palhares e o Centro Espírita de Santa Maria, e, percebemos que aos poucos as propriedades próximas aos acessos estão tornando-se pluriativas.

Schneider (1999, p.367) complementa que:

A pluriatividade permite reconceituar a propriedade como uma unidade de produção e reprodução, não exclusivamente baseada em atividades agrícolas. As propriedades pluriativas são unidades que alocam trabalho em diferentes atividades, além da agricultura familiar [...].

Assim, a propriedade continua com suas atividades tradicionais como a produção de grãos, criação de gado e ordenha, mas já permitem incorporar nas suas rotinas de trabalho outros serviços como refeições sob encomenda, pernoites, venda de derivados de leite, doces e cachaças.

Um morador nas proximidades à via de acesso ao Parque Nacional da Serra da Canastra comenta: “Antes era preciso levar o queijo até a cidade pra vender, hoje quem pede informação para serra compra o queijo, nem preciso sair mais”.

Nota-se também uma mudança de comportamento no produtor rural que ao mesmo tempo acha interessante esse novo fluxo na comodidade da obtenção da renda, mas também crítico às agressões trazidas por eles: “Alguns deles não nos respeitam, são poucos, mas fazem coisas que não gostamos”, afirma o morador.

Assim, encerramos o quarto capítulo com um cenário sobre estas iniciativas privadas no espaço rural do município de Sacramento-MG, visitamos, analisamos, discutimos, e identificamos de que forma é implantada e a influência do setor público na infra-estrutura.

O quinto capítulo faz uma reflexão sobre o turismo em Sacramento-MG, abordando os aspectos entre o visitante e o visitado e as exigências da sociedade de consumo para fazer turismo.

No encerramento desse capítulo, entrelaçamos os dados obtidos entre a gestão pública, com o visitado e o visitante, preparamos as considerações finais e posteriormente fornecemos as informações para o poder público local como subsídio ao planejamento de ações turísticas futuras.