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A Ação Civil Pública para Cumprimento de Obrigação de Fazer e de Não

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CAPÍTULO 3 A IGUALDADE DE TRATAMENTO DAS PESSOAS COM

3.6 AS AÇÕES JUDICIAIS

3.6.3 A Ação Civil Pública para Cumprimento de Obrigação de Fazer e de Não

O Ministério Público goiano ingressou com Ação civil pública para cumprimento de obrigação de fazer e de não fazer com pedido de antecipação de tutela in limine em face do Estado de Goiás, em 21 de julho de 2011, de protocolo nº 201102966767, a qual tramitou perante a 2ª. Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Goiânia, requerendo a isenção de ICMS e IPVA às pessoas com deficiência não condutoras.

A Promotoria de Justiça de Defesa do Cidadão arguiu que a negativa em conceder isenção de ICMS e IPVA a pessoas com deficiência não condutoras de automóveis afronta as normas constitucionais e legais relevantes à inclusão social dessas pessoas, apontando os princípios da igualdade, da dignidade da pessoa humana e da não discriminação tributária. Ressaltou, ainda, sobre a flagrante discriminação “àqueles que necessitam de cuidados ainda mais intensos [...] penaliza portadores de deficiência mais severa, que são claramente os mais necessitados da proteção pretendida pela própria lei”.

Em sentença prolatada em 28 de fevereiro de 2013, o Juiz de Direito Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, deferiu os pedidos para o Estado de Goiás conceder a isenção da cobrança de ICMS na aquisição de automóvel e de IPVA da propriedade das pessoas com deficiência não condutoras, conforme se observa em sua transcrição, em trechos, a seguir:

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Supremo Tribunal Federal. Acompanhamento processual ADO 30. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4732377>. Acesso em 23⁄112015.

[...] A pretensão posta em julgamento cinge-se na verificação do direito à isenção de IPVA e ICMS, para aquisição de veículo automotor, às pessoas portadoras de deficiência não-condutoras. [...] Assim, se o deficiente físico que consegue dirigir veículo adaptado tem direito à isenção tributária, não vejo razão para privar do benefício o portador de deficiência com caráter similar, que dependa de terceiros para se locomover, sob pena de afronta ao princípio da proteção aos portadores de deficiência, da isonomia, da razoabilidade e da dignidade da pessoa humana. [...] É preciso conferir ao ordenamento uma interpretação teleológica, pertinente inclusive para leis de ordem tributária. Ressalto que não se trata de estender a interpretação dos dispositivos legais, mas uma verificação do real significado da norma, atendendo-se aos ditames sociais de integração e proteção do portador de deficiência, asseverados repetidas vezes pela Constituição Federal [...] Atento aos fins sociais a que a lei se dirige e às exigências do bem comum (Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, art. 5º.), assim como visando diminuir as desigualdades e promover a proteção da dignidade humana, tenho por imprescindível afastar a legalidade estrita e a interpretação literal aplicável à isenção no direito tributário (art. 111, inc. II do CTN), para conceder a isenção tributária pleiteada aos portadores de deficiência não-condutores, pois, conquanto estes não possam conduzir seus próprios veículos, têm limitações físicas maiores que as do grupo com limitações menos severas (motoristas deficientes físicos) ao qual é concedido o benefício sob o fundamento da legalidade e reserva legal. [...] Ao se consagrar a possibilidade de isenção tributária aos deficientes físicos não condutores, prestigia-se o princípio da isonomia, conforme os postulados da dignidade da pessoa humana e busca da concretização da justiça com igualdade material. [...] Diante do exposto, com fulcro no artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, acolho parcialmente os pedidos contidos na inicial, para o fim de impor ao réu a obrigação de fazer consistente na concessão da isenção da cobrança de ICMS na aquisição de veículo automotor por pessoas portadoras de deficiência não-condutoras, e na obrigação de fazer consistente na concessão de isenção da cobrança de IPVA da propriedade de veículo automotor de pessoas portadoras de deficiência não-condutores, desde que preencham os requisitos contidos na legislação aplicável [...]. (Processo judicial nº 201102966767, Ação Civil Pública, autor: Ministério Público, Réu: Estado de Goiás, 2ª. Vara da Fazenda Pública Estadual, Juiz de Direito Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, datado de 28⁄0213).

O processo seguiu em Duplo Grau de Jurisdição para o Tribunal de Justiça de Goiás, e encontra-se aguardando julgamento. No entanto, foi proferida uma decisão em Agravo Interno, reconhecendo a perda superveniente do objeto em relação ao ICMS em razão da alteração realizada pelo Decreto Estadual nº 7.817⁄13, que modificou o regulamento do Código Tributário Estadual e suprimiu a restrição, conforme se vê:

AGRAVO INTERNO. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ISENÇÃO DE ICMS. EDIÇÃO DO DECRETO ESTADUAL Nº 7.817/13. PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO. IPVA. ISENÇÃO. OBSERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE/ISONOMIA, E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PREQUESTIONAMENTO. I-Impõe-se reconhecer a perda superveniente do objeto em relação à isenção de ICMS, vez que com a edição do Decreto Estadual nº 7.817/13 tal benefício foi concedido a todos

os portadores de deficiência não condutores de veículos, desde que preenchidos os requisitos ali previstos. II- Deve ser mantida a sentença no que tange a procedência do pedido de extensão da isenção do IPVA a pessoas portadoras de deficiência não condutoras de veículos, eis que a não concessão da benesse afronta os princípios da igualdade/isonomia, e dignidade da pessoa humana, amplamente protegidos pela Carta Magna. III- Uma vez que o agravante limita-se a ratificar os fundamentos deduzidos nas razões do apelo, mantém-se tal como lançada a decisão hostilizada, nada acrescendo que pudesse alterá-la. IV- Para fins de prequestionamento, basta que o julgador demonstre os elementos em que fundamentou seu convencimento acerca da matéria posta em debate, não estando obrigado a se manifestar expressamente sobre todos os dispositivos elencados pelas partes. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E IMPROVIDO. (Processo 296676-61.2011.809.0051 (201192966767). TJGO, 2A CAMARA CIVEL. Juiz de Direito Substituto em 2º Grau JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA. Data: 28⁄042015)

Importante salientar que, conforme estudado no Capítulo 2, a redação do Decreto Estadual nº 7.817⁄13, passou a conceder o benefício fiscal de isenção de ICMS às pessoas com deficiência física, visual, mental e com autismo, mas não àquelas com deficiência auditiva.

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