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2 Conceito de Poder: sua influência na democracia representativa e na democracia

3.18 A Ação Coletiva Ambiental

Antes de versarmos sobre o objeto desta seção, vamos enfrentar a diferença, raras vezes considerada, existente entre ação civil pública e ação coletiva. A matéria em questão

339 Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002). Código Civil, Código de Processo Civil, Código

Comercial, Legislação civil, processual civil e empresarial, Constituição Federal. Organização: Yussef Said

Cahali. 11. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. - (RT MiniCódigos). 340 MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira. Mandado de segurança e ações

constitucionais. 32. ed. atualizada de acordo com a Lei n. 12.016/2009. Com a colaboração de Rodrigo Garcia

da Fonseca. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 149.

341 Sobre a litigância de má-fé o Código de Processo Civil estabelece: “Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II – alterar a verdade dos fatos; III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V- proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI – provocar incidentes manifestamente infundados; VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.”

também é o motivo do título que damos a esta seção. Consoante Voltaire de Lima Moraes, a ação civil pública e a ação coletiva “não são expressões sinônimas”, pela seguinte motivação:

Enquanto ação civil pública é aquela demanda proposta pelo Ministério Público, destinada a tutelar interesses e direitos coletivos lato sensu, individuais indisponíveis, bem como a ordem jurídica e o regime democrático, ação coletiva é aquela proposta por qualquer legitimado, autorizado por lei, objetivando a tutela de interesses coletivos lato sensu.342

Segundo Voltaire de Lima Moraes, dois pontos básicos distinguem a ação civil

pública da ação coletiva: “a) qualidade da parte que as promove; b) alcance da tutela jurisdicional, levando em conta a relação de direito material posta em juízo que elas visam a tutelar.”343

Tradicionalmente, a distinção apontada não recebe a devida consideração quando a ação é proposta por associação legitimada. Utiliza-se indistintamente a expressão “ação civil pública”. Nós estamos adotando a distinção entre as duas ações pelos fundamentos apresentados por Voltaire de Lima Moraes, com os quais concordamos. Como o objeto do nosso estudo nesta seção é a ação civil em defesa do meio ambiente, como instrumento de democracia participativa ambiental da sociedade civil organizada, vamos tratar dita ação como ação coletiva ambiental. Acrescentamos o adjetivo ambiental à expressão ação

coletiva como forma de identificação do objeto da ação, que também é instrumento para defesa de outros interesses coletivos lato sensu.

Pela distinção aceita entre as duas ações, vamos tratar primeiro da ação coletiva

ambiental quando proposta por associação legitimada para, depois, enfrentar a possibilidade que os cidadãos têm de representar ao Ministério Público para que este promova a ação civil pública ambiental.

342 MORAES, Voltaire de Lima. Ação civil pública: alcance e limites da atividade jurisdicional. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007, p. 23. (Grifos do original.)

343 MORAES, Voltaire de Lima. Op. cit., p. 23. (Grifos do original.) Sobre a nomenclatura ação civil pública utilizada pela Lei nº 7.347/1985, conforme adverte Voltaire de Lima Moraes, a presença do Ministério Público como co-legitimado atraiu a expressão. “Em conseqüência, é possível afirmar que ação civil pública, sob o ponto de vista técnico-jurídico-processual, considerando a gênese deste instituto, é toda ação civil ajuizada pelo Ministério Público, quer envolva interesse difuso, coletivo stricto sensu, individual homogêneo ou simplesmente individual indisponível, ou ainda em defesa da ordem jurídica ou do regime democrático, pois o adjetivo pública está intimamente correlacionado à qualidade da parte que propõe essa ação, causa determinante do uso dessa terminologia, e não com os bens jurídicos objeto da tutela judicial.” (Op. cit., p. 21. Grifos do original.)

Ação coletiva ambiental. Sem prejuízo da ação popular, a Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985, conhecida como Lei da Ação Civil Pública (LACP), criou a ação civil pública, instrumento processual de acesso ao Poder Judiciário (CF, art. 5º, inc. XXXV) para buscar a responsabilização por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente; ao consumidor; aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; a qualquer interesse difuso ou coletivo; por infração da ordem econômica e da economia popular; à ordem urbanística (art. 1º, caput e incs. I a VI).

Aqui nós vamos versar sobre a ação coletiva ambiental somente enquanto instrumento processual de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente (LACP, art. 1º, caput e inc. I) e a sua instrumentalidade para o exercício da democracia participativa ambiental por associação legitimada nos termos do art. 5º, inc. V, da LACP.

A legitimidade ativa para a denominada ação civil pública não foi atribuída com exclusividade a ninguém. É assim que a LACP legitima para promover a ação civil pública e a ação cautelar o Ministério Público; a Defensoria Pública; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; e associação (art. 5º, incs. I a V). Sobre a legitimidade ativa devemos mencionar que a CF estabelece, em seu art. 129, inc. III, entre as funções institucionais do Ministério Público, a de promover ação civil pública para proteção do meio ambiente. Todavia a legitimidade do Ministério Público para a ação civil prevista no mencionado dispositivo constitucional não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto na CF e na lei (CF, art. 129, § 1º). Assim é que as associações continuam com legitimidade ativa, nos termos anteriormente estabelecidos na LACP (art. 5º, inc. V), sem prejuízo para o exercício da democracia participativa ambiental na defesa e preservação do meio ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. Podemos observar que, em termos de democracia participativa ambiental, as associações têm legitimidade ativa para promover ação coletiva ambiental e a ação cautelar ambiental. Na ação coletiva ambiental está configurado um instrumento da democracia participativa ambiental coletiva, enquanto que na ação popular ambiental é individual.344

Para ter legitimidade ativa, a associação deve, concomitantemente, estar constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e incluir, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente (LACP, art. 5º, inc. V, alíneas a e b). Entretanto, o requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (LACP, art. 5º, § 4º).

Conforme a LACP, em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade (art. 5º, § 3º).

As associações com legitimidade ativa têm a faculdade de habilitarem-se como litisconsortes de qualquer das partes (LACP, art. 5º, § 2º).

Nas ações de que trata a LACP (art. 18) não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, nem honorários de advogado, custas e despesas processuais. É disposição legal especial que facilita a atuação das associações por não terem custos. Em caso de litigância de má-fé, devidamente provada, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos (LACP, art. 17).

A ação coletiva ambiental poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (LACP, art. 3º). É o que uma associação pode buscar junto ao Judiciário por meio da ação coletiva ambiental no exercício da democracia participativa ambiental.

Representação ao Ministério Público. Segundo o disposto na LACP, qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando- lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil pública e indicando-lhe os elementos de convicção (art. 6º). Afastamos a hipótese do dever funcional do servidor público por não integrar o objeto do nosso estudo e vamo-nos ater à faculdade (“poderá”) que “qualquer pessoa” (“qualquer”, um pronome indefinido) tem de provocar a iniciativa do

Ministério Público para proteção do meio ambiente. O dispositivo da LACP não especifica a formalidade que deve ser utilizada para provocar a iniciativa do Ministério Público. Por isso, entendemos que poderá ser utilizada uma representação (peça jurídica formal) até uma simples comunicação verbal pessoal ou por telefone, e-mail ou outro instrumento hábil e lícito. O mesmo procedimento poderá ser adotado por associação. No caso, estamos diante da possibilidade do exercício da democracia participativa ambiental individual, por qualquer pessoa, e coletiva, por associação, acionando o Ministério Público.