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Ação de reparação do dano: particular x Administração

Caso a Administração e o terceiro lesado não consigam entrar em acordo para reaver o prejuízo de forma amigável, na via administrativa, o particular que sofreu o dano praticado por agente público deverá intentar a ação judicial de reparação em face da Administração Pública, pleiteando indenização pelo prejuízo.

Isso porque, conforme o art. 37, §6º da CF, é a própria pessoa jurídica (de direito público ou de direito privado prestadora de serviço público) que responderá objetivamente pela reparação dos danos causados a terceiros por seus agentes. Portanto, quem deve figurar no polo passivo (respondendo, sendo processado) da ação de indenização movida pelo particular é a pessoa jurídica, e não o agente público; este tampouco poderá figurar em conjunto com a pessoa jurídica, na posição de litisconsorte.

Este é o posicionamento do STF, manifestado em inúmeras decisões, dentre elas, no RE 344.133/PE:

Consoante dispõe o § 6º do artigo 37 da Carta Federal, respondem as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, descabendo concluir pela legitimação passiva concorrente do agente, inconfundível e incompatível com a previsão constitucional de ressarcimento - direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

E definitivamente decidido no RE 1.027.633/SP (Informativo 947 do STF), sendo fixada a seguinte tese de repercussão geral:

A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

O colegiado asseverou que o aludido dispositivo constitucional não encerra legitimação concorrente, ou seja, a ação de indenização também não pode ser proposta contra ambos – o Estado e o agente público. Assim, a pessoa jurídica de direito público e a de direito privado prestadora de serviços públicos respondem sozinhas pelos danos causados a terceiros, considerado ato omissivo ou comissivo de seus agentes.

Segundo a jurisprudência do STF, essa sistemática consagra uma dupla garantia: uma, em favor do particular, pois lhe possibilita mover ação indenizatória contra a pessoa jurídica, o que, em tese, aumenta a sua chance de ser indenizado (o Estado tem mais “força financeira” que o agente público causador direto do dano); e outra garantia em prol do agente público, que somente responderá perante a Administração, em caso de dolo ou culpa, mediante ação regressiva.

Detalhando um pouco mais...

Em que pese a posição do STF, há na doutrina quem defenda a possibilidade de se mover ação de reparação diretamente contra o agente público. Tal é a posição, por exemplo, de Carvalho Filho, para quem “o fato de ser atribuída responsabilidade objetiva à pessoa jurídica não significa a exclusão do direito de agir diretamente contra aquele que causou o dano”.

A ação de reparação deve ser movida contra a Administração (pessoa jurídica), e não contra o agente que causou o dano.

Já o autor Celso Antônio Bandeira de Mello registra que a vítima pode propor ação de indenização contra o agente, contra o Estado ou contra ambos, como responsáveis solidários, no caso de dolo ou culpa.

Na prova, portanto, não se deve descartar logo de cara alguma alternativa que afirme ser possível acionar diretamente o agente público; o melhor é verificar se o enunciado faz referência à doutrina, pois, se fizer, o item poderá ser considerado correto.

Não obstante, deve-se tomar como REGRA GERAL (caso o enunciado não cite a doutrina ou apenas peça o posicionamento do STF) que a ação de reparação deverá ser intentada contra a pessoa jurídica causadora do dano, e não contra o agente, não se admitindo sequer o litisconsórcio passivo (entre a pessoa jurídica e o servidor) em tal situação.

Como a responsabilidade civil do Estado é do tipo objetiva (ou seja, independe de culpa ou dolo da Administração), basta ao particular, na ação de reparação, demonstrar a existência de um nexo causal entre o fato lesivo (de autoria da Administração) e o dano (material ou moral). A partir daí, se o Poder Público quiser se eximir da obrigação de indenizar, deverá provar (pois o ônus da prova é seu) que a vítima concorreu com dolo ou culpa para o evento danoso, o que pode resultar em três situações:

1. o Estado não consegue provar (que a vítima concorreu com dolo ou culpa para o evento danoso), portanto responderá integralmente pelo dano;

2. o Estado consegue provar que a culpa total foi do particular (culpa exclusiva da vítima), caso em que ficará eximido da obrigação de reparar;

3. o Estado consegue provar que houve culpa recíproca (parcial de ambas as partes), ou seja, culpa concorrente, caso em que a obrigação será atenuada proporcionalmente.

O valor da indenização deve abranger o que a vítima efetivamente perdeu e o que gastou – por exemplo, com advogado – para ressarcir-se do prejuízo (danos emergentes), bem como o que deixou de ganhar em consequência direta do dano provocado pelo agente público (lucros cessantes). Some-se a isso, quando for o caso, a indenização pelo dano moral.

Detalhe importante é que, conforme previsto na Lei 9.494/9716, a ação de reparação contra a Administração se sujeita a prazo de prescrição de cinco anos.

Em outras palavras, o particular tem cinco anos para mover a ação judicial de reparação contra as pessoas jurídicas cujos agentes tenham lhe provocado algum prejuízo. Passado esse prazo, o particular perde o direito à indenização. O prazo prescricional de cinco anos se aplica, inclusive, para os danos provocados pelos agentes das delegatárias de serviços públicos, não integrantes da Administração.

Jurisprudência

1. Há precedentes do STJ e do STF que reconhecem a imprescritibilidade das ações indenizatórias por danos morais ou materiais decorrentes de atos de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos, praticados durante o regime militar17. Isso, porque as referidas ações referem-se a período em que a

16 Art. 1o-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.

ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, havendo, sem dúvida, incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa humana.

2. Para o STJ, tratando-se de fato danoso caracterizado como crime, o termo de início da prescrição quinquenal para a propositura da ação de indenização contra o Poder Público é a data do trânsito em julgado da sentença criminal condenatória18.

Questões para fixar

Suponha que viatura da polícia civil colida com veículo particular que tenha ultrapassado cruzamento no sinal vermelho e o fato ocasione sérios danos à saúde do condutor do veículo particular. Considerando essa situação hipotética e a responsabilidade civil da administração pública, julgue o item subsequente.

No caso, a ação de indenização por danos materiais contra o Estado prescreverá em vinte anos.

Comentário:

A ação de indenização contra o Estado prescreverá em cinco anos, e não em vinte.

Gabarito: Errado

Todos os anos, na estação chuvosa, a região metropolitana de determinado município é acometida por inundações, o que causa graves prejuízos a seus moradores. Estudos no local demonstraram que os fatores preponderantes causadores das enchentes são o sistema deficiente de captação de águas pluviais e o acúmulo de lixo nas vias públicas.

Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente.

Caso algum cidadão pretenda ser ressarcido de prejuízos sofridos, poderá propor ação contra o Estado ou, se preferir, diretamente contra o agente público responsável, visto que a responsabilidade civil na situação hipotética em apreço é solidária.

Comentário:

Com base na jurisprudência do STF, a ação de indenização deverá ser proposta contra o Estado, e não diretamente contra o agente público, daí o erro. A responsabilidade do Estado, no caso, é subjetiva, na modalidade culpa administrativa, de modo que o cidadão só terá direito a indenização se restar comprovado – e o ônus da prova é do cidadão – que determinada omissão culposa da Administração concorreu para o surgimento do resultado danoso.

Gabarito: Errado

De acordo com a lei e com a jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item com relação à responsabilidade civil do Estado.

As ações de reparação de danos oriundas de violações a direitos fundamentais ocorridas durante o período do regime militar no Brasil são imprescritíveis.

Comentário:

18 STJ – Resp 435.266/SP

Com base no entendimento do STJ e do STF, são imprescritíveis as ações de reparação de dano ajuizadas em razão de perseguição, tortura e prisão, por motivos políticos, durante o Regime Militar, afastando a prescrição quinquenal prevista no art. 1º, do Decreto 20.910 de 1932.

Gabarito: Errado