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mesmos efeitos de atos desta natureza (administrativos). São exemplos as leis que aprovam planos de urbanização, as leis que concedem isenções fiscais a determinado setor ou pessoa, etc.

Em relação à edição de leis inconstitucionais, parte-se da premissa de que o Poder Legislativo, embora possua soberania para editar leis, deve elaborá-las em conformidade com a Constituição. Assim, caso o Legislativo não observe essa condição e venha a elaborar leis inconstitucionais, poderá surgir a responsabilidade extracontratual do Estado.

Ressalte-se que a responsabilização do Estado, nessa hipótese, depende da declaração de inconstitucionalidade da lei pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tanto no controle concentrado como no difuso. Sem a declaração da Suprema Corte, não há que se cogitar a responsabilidade estatal.

Ademais, é necessário que a lei tenha efetivamente causado dano ao particular. Dessa forma, havendo a declaração de inconstitucionalidade da lei, a pessoa que tenha sofrido danos oriundos da sua incidência terá que ajuizar uma ação específica pleiteando a indenização, a fim de demonstrar o dano sofrido.

Para a autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o entendimento quanto às leis inconstitucionais pode ser estendido aos regulamentos do Poder Executivo e às normas das agências reguladoras, com a peculiaridade de que a indenização poderá ser pleiteada com fundamento na simples ilegalidade do ato, dispensando-se a prévia apreciação judicial.

Finalmente, ressalte-se que alguns autores também apontam que a omissão legislativa pode gerar a responsabilidade civil do Estado, especialmente quando a mora do legislador é reconhecida por meio de decisão judicial (exemplo: mandado de injunção).

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, não há dúvida de que a omissão da norma pode ensejar a responsabilidade por perdas e danos, pois assim já decidiu o Supremo Tribunal Federal. O “problema” é que solução diferente foi adotada em outras hipóteses em que o STF não reconheceu o dever de indenizar diante da inércia do Executivo em iniciar a revisão geral dos vencimentos, prevista no artigo 37, X, da Constituição. De acordo com a autora, “a diversidade de tratamento diante da omissão do legislador mostra a insegurança do Poder Judiciário em relação à matéria, ou talvez a sua resistência em invadir matéria legislativa que envolve o servidor público”.

Questões para fixar

O Estado só responderá pela indenização ao indivíduo prejudicado por ato legislativo quando este for declarado inconstitucional pelo STF.

Comentário:

O Estado responderá pela indenização ao indivíduo prejudicado por ato legislativo quando este for declarado inconstitucional pelo STF e também quando este for um ato legislativo de efeitos concretos.

Portanto, a palavra “só” restringe indevidamente o item. Alguns autores ainda apontam que a omissão legislativa pode gerar a responsabilidade civil do Estado, especialmente quando a mora do legislador é reconhecida por meio de decisão judicial (ex: mandado de injunção).

Gabarito: Errado

Atos judiciais

No que diz respeito aos atos judiciais típicos, a própria Constituição Federal estabeleceu, como garantia individual, que “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença” (CF, art. 5º, LXXV).

Portanto, na hipótese de o indivíduo ser condenado por erro judiciário, terá direito, contra o Estado, à reparação do prejuízo. No caso, a responsabilidade extracontratual do Estado é objetiva, isto é, independe de dolo ou culpa do magistrado.

Detalhe é que esse dispositivo da CF alcança apenas os erros cometidos pelo Judiciário na esfera penal. Nesses casos, o Estado poderá ser condenado a indenizar na esfera cível a vítima do erro ocorrido na esfera penal. Por outro lado, o dispositivo da CF não alcança os erros cometidos nas outras esferas, como a cível e a trabalhista.

Jurisprudência

Supremo Federal entende que a responsabilidade objetiva do Estado não se aplica nas hipóteses de prisão preventiva em que o réu, ao final da ação penal, venha a ser absolvido ou tenha sua sentença condenatória reformada na instância superior. Nesses casos, não cabe ao prejudicado pleitear do Estado indenização ulterior por dano moral20.

Em outras palavras, pode-se dizer que o decreto judicial de prisão preventiva, desde que adequadamente fundamentado, não se confunde com o erro judiciário. Interpretação diversa, de acordo com o STF, implicaria total quebra do princípio do livre convencimento do juiz, afetando de modo irremediável sua segurança para apreciar e valorar provas.

Ressalte-se, contudo, que o STF já admitiu a possibilidade de responsabilização civil objetiva do Estado por conta da decretação de prisão preventiva em que não tenham sido observados os pressupostos legais para a adoção da medida, gerando um grande prejuízo ao particular prejudicado (no caso, ele perdeu o emprego) 21.

Por fim, é importante mencionar que, por força do que dispõe o art. 143 do novo Código de Processo Civil, o magistrado responderá “civil e regressivamente” por perdas e danos quando, no exercício de suas atribuições, proceder dolosamente, inclusive com fraude, assim como quando recusar, omitir ou retardar, sem motivo justo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte. Nessas situações, em que o juiz pratica atos jurisdicionais com o intuito deliberado de causar prejuízo à parte ou a terceiro (conduta dolosa), também incide a responsabilidade civil objetiva do Estado, assegurado o direito de regresso contra o juiz.

Questões para fixar

Considere que o Poder Judiciário tenha determinado prisão cautelar no curso de regular processo criminal e que, posteriormente, o cidadão aprisionado tenha sido absolvido pelo júri popular. Nessa situação hipotética, segundo entendimento do STF, não se pode alegar responsabilidade civil do Estado, com relação

20 RE 429.518/SC

21 RE 385.943

O erro judiciário que gera a responsabilização civil do Estado restringe-se a erro na esfera penal.

ao aprisionado, apenas pelo fato de ter ocorrido prisão cautelar, visto que a posterior absolvição do réu pelo júri popular não caracteriza, por si só, erro judiciário.

Comentário:

A questão apresenta corretamente o entendimento do STF acerca do assunto, no sentido de que a prisão preventiva, por si só, não é suficiente para atrair a responsabilidade civil objetiva do Estado nos casos em que o réu, ao final da ação penal, venha a ser absolvido ou tenha sua sentença condenatória reformada na instância superior.

Gabarito: Certo

Incidirá a responsabilidade civil objetiva do Estado quando, em processo judicial, o juiz, dolosamente, retardar providência requerida pela parte.

Comentário:

À época da prova, vigorava o CPC antigo, o qual estabelecia que, quando o juiz, dolosamente, retardasse providência requerida pela parte, incidiria a responsabilidade pessoal subjetiva do magistrado, ou seja, não seria o Estado quem deveria pagar a indenização ao prejudicado, e sim o próprio juiz. Porém, o novo CPC modificou essa regra: a partir de agora, na hipótese de conduta dolosa do magistrado que venha a causar prejuízo à parte ou a terceiro, incide a responsabilidade civil objetiva do Estado, assegurado o direito de regresso contra o juiz. Assim, vamos atualizar o gabarito original da questão.

Gabarito: Certo

Suponha que o TJDFT, por intermédio de um oficial de justiça, no exercício de sua função pública, pratique ato administrativo que cause dano a terceiros. Nessa situação, não se aplicam as regras relativas à responsabilidade civil do Estado, já que os atos praticados pelos juízes e pelos auxiliares do Poder Judiciário não geram responsabilidade do Estado.

Comentário:

No que concerne aos atos administrativos praticados pelos agentes do Poder Judiciário, incide normalmente a responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que, é lógico, presentes os pressupostos de sua configuração. Portanto, não se deve confundir os atos jurisdicionais típicos (que, em regra, não geram responsabilidade civil para o Estado) com os atos administrativos praticados pelos agentes do Poder Judiciário (que, como visto, não se diferenciam dos atos administrativos praticados pelo Executivo e demais Poderes).

Gabarito: Errado