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3. A TRÍPLICE RESPONSABILIDADE DO DIREITO AMBIENTAL

3.4 A tutela penal ambiental

3.4.3 A ação penal

Segundo o artigo 26 da Lei n° 9.605/98 a ação penal é pública e incondicionada a representação.

Observando as sanções penais cominadas na referida Lei, percebe-se que a maioria das condutas danosas tem pena máxima cominada não superior a dois anos, o que faz que a maioria das ações danosas sejam submetidas ao benefício da transação penal, prevista no artigo 61 da Lei n° 9.099/95. Através da transação penal é possível impor ao transgressor a possibilidade da recomposição da área degradada sem a aplicação imediata de pena, eis que pelos princípios do direito ambiental brasileiro a reparação é a medida que se busca.

Outras infrações submetem-se à possibilidade da suspensão condicional do processo, sendo que através desta também é possível buscar a reparação e o retorno ao “status quo” da área degradada.

A extinção da punibilidade nos casos de crimes ambientais, somente se dará com laudo de profissional habilitado atestando a reparação integral do bem afetado ou a impossibilidade de fazê-lo, tendo em vista a imprescritibilidade da reparação ambiental, conforme entendimento das cortes superiores. Caso não haja a reparação o prazo da suspensão condicional do processo poderá ser prorrogado por até mais quatro anos, acrescidos de mais um ano pela suspensão do prazo prescricional, nos termos do artigo 28, incisos II e III, da Lei n° 9.605/98 no qual não serão paliçadas as condições dos incisos II a IV do artigo 89 da Lei n° 9.099/95.

Caso não haja a reparação do dano neste período o inciso IV, do artigo 28 da Lei n° 9.605/98 diz que poderá ser o prazo prorrogado por mais cinco anos, nos mesmos moldes da prorrogação anterior. Esgotado este último prazo a extinção da punibilidade somente ocorrerá após a elaboração de um laudo técnico atestando a recuperação ou a impossibilidade de fazê-lo, desde que as razões pelo não cumprimento sejam alheias à vontade do causador do dano.

Por conseguinte, conclui-se que a responsabilidade penal do meio ambiente será apurada e o infrator, seja pessoa física ou jurídica, responderá, mesmo que já houver reparado o dano na esfera civil ou efetuado o pagamento de multa na esfera administrativa, tendo em vista que as responsabilidades pelos danos causados são independentes, tanto que os próprios tipos penais da Lei n° 9.605/98 preveem a cumulação da pena com multa ou com a obrigação de reparar o dano.

CONCLUSÃO

Este estudo permitiu concluir uma série de fases do direito ambiental e momentos do direito ambiental, sendo que partir do século XIX e XX, a corrida humana em busca do acúmulo de bens se tornou uma constante na sociedade liberal-individualista que se moldou na época. Alavancada pela revolução industrial a exploração de recursos naturais chegou ao seu pico, sem qualquer política pública de remanejamento ou compensação, apenas se tirava e esgotava, sem pensar, a luz do “progresso”.

Apenas a partir dos anos 70 é que se começa a verificar e pensar acerca do esgotamento dos recursos naturais, que não se renovam na mesma proporção em que são explorados. Entretanto, apesar da ainda fraca conscientização ambiental, a preservação do planeta começa a ser alvo de debates mundiais. O marco internacional que alavancou o direito ambiental foi sem dúvida a Conferência de Estocolmo, de 1972. A partir daí é que o meio ambiente passou a ser visto como um bem coletivo de interesse difuso e essencial à qualidade de vida. Foi a partir desta Conferência que o direito ambiental começou a fazer parte das constituições e dos ordenamentos jurídicos do mundo globalizado.

Não obstante a isso, mesmo com o desafio de tutelar o meio ambiente através de políticas públicas pouco eficientes que, na maioria das vezes, deixam sem punição o agente poluidor, é necessário mais do que interesses políticos para a busca do meio ambiente equilibrado. É necessário, também, conscientização da sociedade. O grande debate entre a garantia da propriedade privada e a proteção do meio ambiente vem à tona, sempre em forma de ponderações: em alguns casos deve se respeitar o direito a propriedade, em outros a preservação de bens difusos como o meio ambiente. O ordenamento jurídico criou a função social da propriedade privada, elencada na Constituição Federal de 1988 nos artigos 170, incisos II, III e V e 182 § 2º.

Na tentativa de resolver o conflito do direito de propriedade e da proteção do meio ambiente um novo mecanismo de composição foi estabelecido, assim, a propriedade que não cumprir com sua função social estará sujeita a sobreposição do interesse coletivo sobre o interesse individual.

Em outro viés, a propriedade privada rural também foi aludida com o dispositivo da função social, segundo o artigo 186, incis o II, da Constituição Federal. Esta será atendida toda vez que o agricultor utilizar de forma adequada os recursos naturais disponíveis, bem como atentar a preservação do meio ambiente. Tem-se que não há direito de propriedade se não forem atendidos os requisitos da função social desta. Outrossim, a verificação do cumprimento da função social no exercício da propriedade privada se dará através do poder de polícia do Poder Público.

Como já citado no primeiro capítulo, o direito ambiental é intitulado como um bem difuso, ou seja, de interesse de toda a coletividade, sendo indivisível quanto ao seu objeto e indeterminado quanto a titularidade. Ademais, geralmente suas lides se originam de circunstâncias fáticas, ou de ações que desencadeiam uma conduta degenerativa ao meio ambiente.

Por outro lado, é preciso fazer mais do que esperar a conduta danosa acontecer. É preciso repensar o conceito de educação ambiental, focada nos princípios do direito ambiental, como por exemplo, nos princípios da prevenção, da precaução, da responsabilidade social, do desenvolvimento sustentável, da participação.

Por conseguinte, conclui-se que a responsabilidade ambiental apresenta-se de três formas independentes entre si, sendo elas a responsabilidade civil, a administrativa e a penal, de acordo com a infração e com o respectivo regime jurídico aplicado. Entretanto, concomitantemente ao uso dos instrumentos de defesa e tutela do direito ambiental, doutrinariamente nominados como a tríplice responsabilidade, é necessário, acima de tudo, educação ambiental, com vistas a gerar uma mudança, de fato, não só para as futuras gerações, mas para esta geração também.

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