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3. A TRÍPLICE RESPONSABILIDADE DO DIREITO AMBIENTAL

3.2 A tutela civil ambiental

A responsabilidade civil ambiental está fundamentada no artigo 225, § 3º da Constituição Federal.

Art. 225. [...]

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 2016).

Contudo, antes de falarmos na responsabilidade civil ambiental cabe verificar que esta está prevista em nosso Código Civil nos artigos 186 e 927.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (BRASIL, 2016).

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (BRASIL, 2016).

A responsabilidade civil é o dever que o causador do dano, seja ele direto ou indireto tem de reparar o dano causado a outrem, este dano pode ser subjetivo ou objetivo, no caso do dano subjetivo o agente causador agiu com culpa, ou seja, negligência imprudência ou imperícia, sem o dolo, ao passo que a vontade direta de

causar o dano está expressa no caput do artigo 927, combinado com os artigos 186 e 187 do Código Civil.

Já para a teoria objetiva o agente causador do dano deve repará-lo, independentemente de ter agido com culpa ou com dolo, conforme está expresso no parágrafo único do artigo 927, retro mencionado.

Assim, analisando a teoria objetiva, temos duas correntes desta teoria, a teoria objetiva do risco administrativo, quando o agente responde independente de dolo ou de culpa. Nesta teoria devemos levar em consideração às excludentes de ilicitude, tais como a culpa exclusiva da vítima, a força maior, o caso fortuito, pois estas excluem a responsabilização do agente causador do dano. A outra teoria da responsabilidade objetiva, e é esta que interessa ao direito ambiental, é a teoria do risco integral, a qual não admite qualquer excludente de ilicitude, daí o termo “integral”.

Esta teoria parte da premissa de que o agente não poderá, em hipótese alguma, se eximir de seu dever de reparar e está fundamentada no artigo 225, § 3º da Constituição Federal. Pressuposto para esta teoria nada mais é do que a socialização do lucro, ou seja, aquele que causou dano ao meio ambiente objetivando o lucro deve ser responsabilizado integralmente, tanto pelo risco como pela desvantagem dela resultante, mesmo que em nada concorreu para o evento danoso.

Por exemplo: um sujeito possui uma área de terra com a devida reserva legal, entretanto, devido ao longo período de seca, parte da reserva legal pega fogo e queima, nesse caso o proprietário tem o dever de reparar a parte que foi perdida, eis que teoria integral, como já dito, leva em consideração o risco de acontecer. Isso ocorre porque o cuidado preventivo do patrimônio ambiental é um dever do proprietário, ou seja, apesar de ser uma atividade lícita, o proprietário a explora economicamente, portanto deve arcar também com os possíveis riscos e consequências danosas de sua atividade.

Mas, desde 1981, em nosso direito ambiental vige a responsabilidade civil objetiva, prevista no artigo 14, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n° 6.938/1981.

Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental.

§ 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente (BRASIL, 2016).

Porém, cumpre mencionar que quando se tratar de responsabilidade ambiental de pessoa jurídica de direito público, na hipótese de omissão do poder de polícia, a responsabilidade ambiental do Estado será subjetiva e não objetiva. Entretanto, como não há base legal para tal teoria, ela está baseada nos julgados do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

3.2.1 A solidariedade no dano ambiental

A solidariedade dos indivíduos no caso de danos ambientais está previst a no artigo 942 do Código Civil.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação (BRASIL, 2016).

Dessa forma, mesmo que vários agentes tenham concorrido para causar o dano ambiental, na esfera cível, pode-se atribuir a responsabilidade a todos ou apenas à um deles individualmente, fazendo com que apenas um cumpra com o dever de reparar, o que não impede que este que reparou, posteriormente se volte contra os demais. Diferentemente é na esfera penal onde só pode ser responsabilizado aquele que for apurado como autor ou coautor do dano ao meio ambiente.

Neste sentido é o posicionamento de Tribunal de Justiça de Rio Grande do Sul.

APELAÇÃO CÍVEL. MEIO AMBIENTE. TERRA ARRENDADA. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO PELO DANO AMBIENTAL CAUSADO. SOLIDARIEDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A responsabilidade pelo cometimento de dano ambiental é objetiva - independe de culpa - e solidária - podendo o órgão do Ministério Público demandar contra um ou outro ou contra todos. A mera titularidade das terras onde se concretizou o dano remete à responsabilização do proprietário. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70066206210, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Roberto Lofego Canibal, Julgado em 09/03/2016) (RIO GRANDE DO SUL, 2016, a).

APELAÇÃO CÍVEL. MEIO AMBIENTE. QUEIMADA. SOLIDARIEDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A responsabilidade pelo cometimento de dano ambiental é objetiva - independe de culpa - e solidária - podendo o órgão do Ministério Público demandar contra um ou outro ou contra todos. Caso concreto em que o réu é filho do proprietário e admite ser o responsável pela área, face á idade avançada de seu pai.. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70066500729, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Roberto Lofego Canibal, Julgado em 09/03/2016) (RIO GRANDE DO SUL, 2016, b).

Dessa forma concluímos que a solidariedade no direito ambiental incidirá sobre todos aqueles que de uma forma ou de outra concorreram para a degradação ambiental, sempre levando em conta o nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Assim, uma vez caracterizada a solidariedade entre os poluidores, cada um é obrigado pelo todo. Outrossim, na mesma linha de rac iocínio, o titular do direito de ação poderá demandar em face de um agente ou de todos conjuntamente, ou ainda, daquele que tiver a melhor condição econômica de suportar a reparação do dano.

3.2.2 O objetivo da reparação ambiental na esfera civil e o bem jurídico tutelado

O bem juridicamente protegido é a natureza em todas as suas formas, ou seja, em toda a amplitude do que se constitua por natureza, fauna, flora, oceanos, micro-organismos. Em suma todas as formas de vida e até mesmo o ambiente cultural, artificial, ou físico de cada região pode ser considerado bem tutelado pelo direito ambiental. Nesse sentido, temos que o bem tutelado do meio ambiente está definido no artigo 3º da Lei n° 6.938/1981.

Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL, 2016).

Outrossim, acerca do objetivo da reparação do dano ambiental, esta se impõe a medida que dependemos dela para nossa sobrevivência. A reparação pode se dar de duas formas, a reparação preventiva, onde normas de conduta, bem como campanhas de conscientização são observadas, a fim de evitar que o dano ambiental ocorra, e a reparação específica, que ocorre após o acontecimento do dano ambiental. Esta reparação específica visa recuperar o ambiente natural degradado até que ele retorne ao “status quo” anterior ao evento danoso.

Nesse sentido, Milaré (2001, p. 337), nos diz que:

Como o objetivo maior é dar efetividade à garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (Caput do artigo 225 da Carta Magna), sempre que for possível, deve-se imputar ao poluidor a obrigação de reconstruir o meio ambiente agredido.

De outra forma, caso essa reparação não seja possível, nada obsta em fazer com que o agressor do meio ambiente utilize-se de outros meios para compensar o dano ambiental. Essa compensação pode ser a construção de um espaço de estudo destinado a preservação, a recuperação de área diversa daquela que foi degradada, sendo que estes meios de compensação podem ser cumulados com pena pecuniária pelo dano causado.

3.2.3 O termo de ajustamento de conduta como forma de composição civil dos danos ambientais

O termo de ajustamento de conduta (TAC) é um importante, senão o mais utilizado, meio de reparação ambiental. Ganhou previsão legal com a Lei n° 7.347/1985. Trata-se de um acordo extrajudicial entre as partes (poluidor e órgão público), onde estas estabelecem a forma como se dará a reparação, os meios que serão utilizados, um acompanhamento de profissional para a área, bem como o tempo limite para sua implantação.

Com efeito, com a utilização do TAC, abre-se mais uma oportunidade para que o infrator possa dar objetividade ao objetivo primordial de restauração do ambiente ao seu estado original em detrimento da aplicação de sanções, as quais podem deixar de serem aplicadas quando o termo é devidamente cumprido (DEON SETTE, 2010, p. 134).

Dessa forma, os termos do contrato devem ser rigorosamente cumpridos pelo causador do dano, eis que enquanto não cumprido o termo o infrator poderá ser responsabilizado pelo não cumprimento deste, pois, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) o dano ambiental é imprescritível.

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