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As ações afirmativas estão presentes na política brasileira como forma de assegurar a participação feminina no processo político. Essas ações foram implantadas pela primeira vez nos Estados Unidos da América, na década dos anos 60. (VAZ, 2008).

Sua criação se deu em momento de reivindicações democráticas, as quais buscavam maior igualdade no exercício dos direitos civis. (VAZ, 2008).

Ainda na concepção de Vaz (2008, p. 36), a ideia da ação afirmativa, que mais tarde foi adotada mundialmente, desenvolveu-se de maneira gradual, exigindo do Estado a adoção de políticas e ações de melhoria das condições de igualdade, não somente em relação ao gênero, mas, também, em relação à cor, à raça e a outras situações que causam desigualdades dentro da sociedade.

O Sistema Eleitoral Brasileiro evoluiu de acordo com os anseios da população conjuntamente a cada Constituinte elaborada. Pode-se sustentar que as políticas afirmativas no Brasil tomaram realmente forma após a elaboração da Constituição de 1988, quando, de fato, determinada ação tomou impulso. (MENEZES, 2001 apud ROCKENBACH, 2016).

As ações afirmativas podem ser consideradas como ações de políticas públicas, dado ao fato da sua vinculação à legalização de instrumentos para auxiliarem e se inserirem na sociedade, para que, assim, no âmbito social e também econômico, e não somente político, os excluídos tenham as oportunidades que já deveriam ter. Assim, estas ações assumiram formas e maneiras diversas para que sua abrangência fosse total, tais como: programas governamentais, leis e orientações de decisões jurídicas de fomento e regulação. (VAZ, 2008, p. 36).

Não obstante, Vaz (2008, p. 36) aponta que a ação afirmativa é determinada a um público alvo, os excluídos, e, segundo ele, as mulheres no âmbito político se enquadram a este.

Estas ações envolvem meios diversos para suas várias destinações, como o sistema de cotas, cujo objetivo é estabelecer um percentual inicial e final em determinada esfera, no caso deste trabalho monográfico em questão, na política brasileira em relação à ocupação mínima de grupos definidos, não necessariamente proporcionais. (MOEHLECKE, 2002 apud VAZ, 2008, p. 36).

Para GOMES (2001 apud VAZ, 2008, p. 36-37), as referidas ações podem ser estabelecidas como

[...] um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego. Diferentemente das políticas governamentais antidiscriminatórias baseadas em leis de conteúdo meramente positivo (...), as ações afirmativas têm natureza multifacetária, e visam a evitar que a discriminação se verifique nas formas usualmente conhecidas – isto é, através de mecanismos informais, difusos, estruturais, enraizados nas práticas culturais e no imaginário coletivo.

No Brasil, nos anos 90, houve a criação do Programa Nacional dos Direito Humanos (PNDH). O programa vislumbrava promover os direitos humanos, apresentando ideias como auxílio à efetivação desse direito, a fim de alcançar a todas as pessoas, independente de sexo, idade e posição social. É sabido que o programa não tinha como especificação ser uma ação direta para inclusão da mulher na representação política, mas sim em estabelecer a diminuição da discriminação e preconceito existente contra o gênero feminino. (VAZ, 2008).

A política de cotas, neste caso, pode ser considerada como fruto desta ação afirmativa, quanto ao processo de estruturação do poder das mulheres em relação à igualdade e equilíbrio na esfera política. (VAZ, 2008, p. 37).

A criação das ações afirmativas, bem como a Lei de Cotas no Brasil, afirma a incidência do “[...] reconhecimento do direito à diferença de tratamento legal, ou seja, institucionalizando o sistema de cotas”. (VAZ, 2008).

De toda forma, de acordo com Vaz (2008, p. 40), mesmo com a criação de tais políticas,

[...] findo o século XX verifica-se que a presença feminina nas instâncias de representação política continua baixa em quase todo o mundo, principalmente nas instâncias mais elevadas hierarquicamente. As democracias ocidentais definem espaços e direitos distintos para homens e mulheres, excluindo-as da esfera pública e da cidadania política por muito tempo. As desigualdades nas relações sociais de gênero e essa herança dificultam o equilíbrio entre os homens e mulheres nas áreas da representação política.

A luta sufragista “pelo direito ao voto desencadeou outras ações afirmativas para a conquista da cidadania política das mulheres. [...] Porém, as conquistas dos direitos políticos formais [...] não foram suficientes para alterar o processo histórico de exclusão ao que as mulheres eram submetidas”. (VAZ, 2008, p. 40).

Em complemento, Martins (2007, p. 4) afirma que,

Embora essa luta venha de muito tempo atrás, ainda há muito que ser conquistado, por mais significativo seja a busca de identidade feminina, as diferenças são

atenuantes na diferença salarial para com o homem, no assedio sexual, na condição racial, da economia e mesmo na situação política. A mulher por mais que deseje se impor frente à sociedade, passa por diversas barreiras [...].

A luta feminina pela participação no processo é reivindicação por maior inclusão das mulheres na sociedade brasileira na qual o homem ainda é visto como soberano, uma sociedade que possui resquícios de uma cultura patriarcal que ainda se arrasta no tempo, e que deve ser desmitificada. (MARTINS, 2007).

Além disso, Martins (2007, p. 4) preceitua: “a mulher um símbolo de sensibilidade e delicadeza era a rainha do lar, aquela que acatava as decisões do senhorio. A mãe extremosa, a esposa dedicada. Mas, ao contrário do que era expresso, a mulher desejava deixar para traz essa imagem e conquistar espaço na sociedade”.

Fica evidente que os movimentos feministas foram resultado desse desejo de crescimento e evolução e, após estes movimentos, a mulher tomou conhecimento de quão longe poderia ir em relação a sua inclusão no cenário político do país. (MARTINS, 2007).

Sobre estas perspectivas, entende-se o quão relevante à emancipação da mulher foi a elaboração das derivadas políticas públicas no Brasil. Assim, Bartky (2005 apud MARTINS, 2007, p. 6) entende que,

Além da eficácia de políticas voltadas para a redução das assimetrias de gênero, para a condição de haver uma mudança no perfil da institucionalização vigente, há que se reconhecer a influência de outros fatores estruturais na reprodução e ampliação dessas assimetrias: as mudanças sócio demográficas que interferem no perfil do emprego; as mudanças do papel do Estado no mundo globalizado; os desafios colocados pela diversidade racial / étnica; as alterações que vêm ocorrendo na estrutura da família com os múltiplos arranjos familiares, e ainda, as mudanças no tradicional padrão da divisão sexual do trabalho e nos padrões da sexualidade, entre outros.

A implementação de ações afirmativas, advindas das políticas públicas “[...] em favor da desigualdade de gênero e raça proporciona a condição da mulher em desenvolver o seu papel na sociedade com mais confiança, [...] exercendo os mesmos direitos, tanto civis como políticos, [...] para ela desenvolver seus direitos de cidadã numa sociedade repressiva”. (MARTINS, 2007, p. 7).

Salientando a objetividade das ações afirmativas mencionadas, Vaz (2008, p. 41) elenca que o:

investimento na qualificação das mulheres ou a proteção ao trabalho feminino por intermédio de incentivos específicos seriam outras medidas de ação afirmativa. Todas com o objetivo de diminuir a distância da representação de mulheres e homens, no caso das cotas por sexo, em diferentes áreas da vida, significando um empoderamento das mulheres.

Em relação ao surgimento à ação afirmativa no Brasil, ao longo dos anos, reforça- se que “a mulher e seus direitos, os humanos e os políticos, passaram por grandes

movimentos. Surgiram nas últimas décadas considerações que ampliam a sua dignidade frente à sociedade”. (MARTINS, 2007, p. 7).

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