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A representação feminina na política brasileira: um breve estudo sobre a implantação de ações afirmativas na legislação eleitoral e a efetividade da participação das mulheres no pleito eleitoral

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BRUNA SCHEFER CANTELI

A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: UM BREVE ESTUDO SOBRE A IMPLANTAÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA LEGISLAÇÃO ELEITORAL E A EFETIVIDADE DA PARTICIPAÇÃO DAS

MULHERES NO PLEITO ELEITORAL

Araranguá 2018

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A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA: UM BREVE ESTUDO SOBRE A IMPLANTAÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS NA LEGISLAÇÃO ELEITORAL E A EFETIVIDADE DA PARTICIPAÇÃO DAS

MULHERES NO PLEITO ELEITORAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Esp. Fábio Mattos Araranguá

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Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me dado energia e benefícios para concluir todo este trabalho.

Agradeço aos meus pais, Dionir e Maria Terezinha, e aos meus irmãos, Jaqueline e José Henrique, pessoas de inteira dignidade, que, com extrema paciência e compreensão, me apoiaram todos os anos de vida acadêmica nesta faculdade. Tenho orgulho de pertencer a essa família.

Agradeço ao meu orientador, professor Fábio Mattos, por todo o tempo que dedicou a me ajudar durante o processo de realização deste trabalho científico.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que, de alguma forma, fizeram parte dessa etapa decisiva em minha vida.

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A presente monografia tem o intuito de demonstrar um breve estudo sobre a representação feminina no cenário político brasileiro sob o enfoque das ações afirmativas e a Lei de cotas existente. O Sistema Eleitoral é um grande propagador da democracia política, e ao longo dos anos vem se amoldando à realidade da sociedade. Contudo, pode-se afirmar que esta democracia será verdadeiramente exercida com uma maior participação das mulheres no pleito eleitoral, pois, mesmo compondo a maior parte do eleitorado nacional, acabam ocupando a minoria dos cargos políticos. O objetivo desta monografia é analisar, não esgotando a matéria, as ações afirmativas de gênero, com ênfase na Lei n.º 9.504/97, que estabelece um número mínimo de trinta por cento e máximo de setenta por cento de integrantes de cada gênero nas listas partidárias, pretendendo considerar sua eficácia quanto à representação feminina nas eleições. Para melhor compreensão do tema a ser abordado no terceiro capítulo, será exposto, previamente, nos dois primeiros capítulos a evolução histórica do sistema eleitoral e o conhecimento do movimento sufragista no Brasil na luta pelo direito do voto feminino, como marco inicial da inserção da mulher na política nacional. Foram utilizadas, para elaboração do presente trabalho, pesquisas bibliográficas e documentais, bem como artigos científicos acerca do tema, além de dados de sites governamentais e, não menos importante, o Código Eleitoral.

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The present monograph aims to demonstrate a brief study on the representation of women in the Brazilian political scenario under the approach of affirmative actions and the existing Law of quotas. The Electoral System is a great propagator of political democracy, and over the years has been conforming to the reality of society. However, it can be said that this democracy will be genuinely exercised with a greater participation of women in the electoral process, since, even though it comprises the majority of the national electorate, they occupy a minority of political positions. The objective of this monograph is to analyze, without exhausting the matter, affirmative actions of gender, with emphasis on Law no. 9.504 / 97, which establishes a minimum number of thirty percent and a maximum of seventy percent of members of each gender in the party lists, intending to consider its effectiveness as regards female representation in elections. For a better understanding of the theme to be addressed in the third chapter, the first two chapters will be exposed in advance the historical evolution of the electoral system and the knowledge of the suffragist movement in Brazil in the fight for the right of the female vote, as the initial mark of the insertion of women in national politics. Bibliographical and documentary research, as well as scientific articles on the subject, as well as data from governmental websites and, not least, the Electoral Code were used to elaborate the present study.

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1 INTRODUÇÃO...12

2 HISTÓRICO DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO...14

2.1 PERÍODO COLONIAL...15 2.2 PERÍODO IMPERIAL...17 2.3 PERÍODO REPUBLICANO...21 2.3.1 Primeira República...21 2.3.2 Segunda República...24 2.4 REGIME MILITAR...27 2.5 REDEMOCRATIZAÇÃO (À ATUALIDADE)...29

3 REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA...34

3.1 MULHERES PIONEIRAS DO MOVIMENTO SUFRAGISTA BRASILEIRO...38

4 AÇÕES AFIRMATIVAS E A LEI DE COTAS NO BRASIL...41

4.1 AÇÕES AFIRMATIVAS...41

4.2 POLÍTICA DE COTAS...44

4.3 PARTIDOS POLÍTICOS QUE NÃO CUMPREM COM O MÍNIMO ESTABELECIDO NA LEI N.º 9.504/97...47

4.4 MINIRREFORMA ELEITORAL DO ANO DE 2015 E O APOIO À REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA...49

4.5 ANÁLISE DAS AÇÕES AFIRMATIVAS ESTABELECIDAS NA LEI DE COTAS E A EFETIVIDADE DA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO PROCESSO POLÍTICO ELEITORAL...50

4.5.1 Decisões recentes às candidaturas femininas (Fundo Partidário)...54

5 CONCLUSÃO...56

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1 INTRODUÇÃO

A mulher, antes sinônimo de fragilidade, na atualidade vem mostrando sua força e capacidade de concorrer em pé de igualdade com os homens no cenário político brasileiro. Porém ainda há uma desigualdade visível da proporção feminina em relação à masculina nas participações eleitorais.

Assim, para discorrer sobre esse tema, esta monografia está delineada em três capítulos e, entre estes, busca, sem esgotar o assunto, analisar a participação feminina na esfera política nacional, sobre a exegese das ações afirmativas e a Lei n.º 9.504/97, quanto a sua eficácia em aumentar a representação da mulher como candidata eleitoral no tocante às candidaturas masculinas.

Assim, o desafio que se busca enfrentar é o de responder a seguinte pergunta: Diante das ações afirmativas para a inclusão de candidatas mulheres no pleito eleitoral, previstas na legislação de regência, é possível verificar uma efetiva participação feminina no processo político eleitoral?

No primeiro capítulo, para melhor compreensão do tema, abordar-se-á o contexto histórico do Sistema Eleitoral Brasileiro (instrumento democrático informativo, que aduz sobre como determinada eleição se estabelecerá), mostrando sua constante adaptação ao longo dos anos, de acordo com os anseios do povo brasileiro.

No segundo capitulo, de forma a enriquecer este Trabalho de Conclusão de Curso, buscou-se contextualizar a trajetória feminina e suas lutas para a conquista do direito de votar e ser votada, através do movimento sufragista, bem como elencar as principais pioneiras brasileiras deste movimento dentro de uma comunidade política predominantemente masculina.

O terceiro capítulo abordará o tema central deste trabalho científico, abordando as ações afirmativas e a Lei de Cotas, bem como a sua conceituação, alterações legais e análise da relevância efetiva destas perante a busca por uma maior inserção feminina nas candidaturas políticas.

Por fim, faz-se uma análise estatística dos reais resultados das ações afirmativas perante a inclusão de candidatas femininas nas últimas eleições, através de informações extraídas de sites eletrônicos oficiais da justiça eleitoral, verificando, assim, a efetiva participação das mulheres nos pleitos eleitorais.

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Como metodologia, foram utilizadas, na elaboração do presente trabalho, pesquisas bibliográficas e documentais, artigos científicos e dados estatísticos de sites governamentais e a legislação aplicável, em especial o Código Eleitoral.

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2 HISTÓRICO DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO

Para compreender a trajetória do Sistema Eleitoral Brasileiro, desde os tempos de colonização no Brasil, este capítulo busca abordar, sem esgotar a universalidade do tema, suas várias fases em território nacional até os dias atuais, bem como a sua conceituação.

O Sistema Eleitoral Brasileiro corresponde aos “[...] instrumentos para garantir eleições transparentes, seguras e rápidas. Ao eleitor, figura central do processo de escolha, cabe aperfeiçoar a democracia por meio de prática cidadã, aprovando ou rejeitando a atuação do parlamentar ou do administrador anteriormente eleito [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 7).

Conceitualmente, o “Sistema eleitoral é um conjunto de regras que determina como será a eleição do país, dando diretrizes para o eleitor fazer suas próprias escolhas”. Assim, “[...] também define a forma como serão contabilizados os votos a serem transformados em mandato [...]”. (SENADO FEDERAL, 2018, p. 13)

Além disso, o sistema eleitoral

[...] impacta diretamente na organização partidária de um país, produzindo agremiações com mais ou menos poder e importância na organização política; [...] na estabilidade do governo; pode responsabilizar mais os representantes individuais ou mais os governos e os partidos; pode dar espaço para a minoria ou, por outro lado, pode barrar-lhes o acesso. [...] trata [...] de um conjunto de regras que acarreta profundas conseqüências na organização política dos países. (SENADO FEDERAL, 2018, p. 13).

Neste contexto, Boas (2016, p. 8) comenta sobre o sistema de eleição, bem como sobre o regime político, quando este ainda não era denominado como tal:

O Sistema Político de um Estado sintetiza a idéia de como aquele país está organizado, tanto no que tange a sua estrutura interna, ou seja, divisão de poderes e soberania, quanto no que se refere a sua ligação com a sociedade civil. O sistema político nacional atual é denominado de república. Nas repúblicas, o chefe do estado é escolhido pela população ou seus representantes por meio de eleições, que geralmente são livres e secretas. Esse poder de sufrágio denota a adoção das repúblicas pelo regime político democrático, o qual reafirma a idéia de que todos os cidadãos, preenchidos os requisitos de elegibilidade, podem participar da gerência e direção do Estado por meio do direito ao voto. Dessa junção resulta a idéia de que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, assim o direito de sufrágio é o cerne dos direitos políticos nacional. Compreende-se que, por do meio do Sistema Eleitoral Brasileiro, o Direito Eleitoral procura, constantemente, se adequar aos anseios do povo brasileiro, para que, desta forma, seja exercida, de forma ampla, a democracia no cenário político nacional. (BOAS, 2016).

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2.1 PERÍODO COLONIAL

A trajetória do Sistema Eleitoral teve seu início “[...] pela Monarquia de Portugal: atos de reis, governadores-gerais, vice-reis, governadores das capitanias e demais atos funcionários da Coroa Portuguesa [...] o povo brasileiro não participava diretamente, pois, na Corte, não havia representantes do povo”. (FERREIRA, 2005, p. 23).

Nesta época, o Brasil estava sobre a colônia do Reino de Portugal e, nesse laço, Melo Filho (2013) afirma que:

[...] este país europeu era governado por uma por uma monarquia vitalícia e hereditária. Não obstante isso, as vilas e cidades fundadas no território brasileiro revestiam-se de uma organização política republicana, cujo governo era formado por meio de eleições populares. A eleição para os cargos das repúblicas das vilas e cidades era disciplinada pelo Código da Ordenação do Reino.

Ainda sobre as palavras de Melo Filho (2013), os cargos públicos existentes neste tempo eram classificados de oficiais, que, por sua vez,

[...] eram os de vereador, de juiz e de Procurador do Conselho. A presidência de uma vila ou uma cidade cabia a um juiz ordinário. Os vereadores, por seu turno, compunham as Câmaras, que eram os corpos legislativos das repúblicas. Ademais, o Poder Executivo ficava a cargo dos procuradores, que contavam com o auxílio dos demais agentes que desempenhavam funções públicas, tais como os almotacés, os fiscais de peso e medidas, os fiscais das moradias e os alcaides. O número de oficiais de cada vila ou cidades era proporcional ao número de moradores. Neste sentido, a quantidade de vereadores oscilava entre 03 (três) e 07 (sete) e o de juízes de 01 (um) a 02 (dois). O cargo de procurador do Conselho, por sua vez, era único. O Mandato desses oficiais era de 01 (um) ano, apesar disso, as eleições não aconteciam anualmente. Os escrutínios eram realizados a cada 03 (três) anos, de sorte que, numa só eleição, eram eleitos três governos, uma para cada ano [...]. Durante o Período Colonial, o Brasil não tinha sua independência conquistada. Tudo advinha do Reino de Portugal “a história do povo, como ser político, acha-se na história das repúblicas das vilas e cidades [...] nelas que a gente do Brasil exercitava o seu poder público, elegendo e sendo eleita para os cargos da sua República [...]”. (FERREIRA, 2005, p. 30).

Desta forma, “[...] o mandato dos oficias da Câmara era de um ano, mas não se faziam eleições anualmente. As eleições eram feitas de três em três anos [...] num só escrutínio eram eleitos três conselhos: um para cada ano”. (FERREIRA, 2005, p. 29-30).

Estas eleições tinham suas divisões em duas fases:

O processo eletivo iniciava-se com a convocação dos eleitores. O governo do terceiro mandato eleito convocava, por meio de editais, as eleições, que seriam realizadas em um dia de dezembro. O sufrágio era universal, pois até a plebe podia votar, mas só poderiam ser votados os indivíduos pertencentes à nobreza das vilas e cidades, pois denominados homens bons ou republicanos. Como em diversas partes da monarquia portuguesa estavam sendo eleitas pessoas sem essa qualificação, foi

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editado, em 12 de novembro de 1611, um alvará régio que ordenavam as Câmaras municipais que organizassem livros onde ficassem assentados os nomes dos nobres e seus descendentes, únicos que poderiam ser eleitos para os cargos eletivos. [...] a eleição propriamente dita era dividida em duas fases: a eleição de primeiro grau e a eleição de segundo grau. Na eleição de primeiro grau, cada cidadão dirigia-se à mesa e dizia ao escrivão [...] o nome de 06 (dirigia-seis) pessoas. Os 06 (dirigia-seis) homens mais votados eram os escolhidos para exercerem a função de eleitores de segundo grau. (MELO FILHO, 2013).

Reafirmando as palavras citadas por Melo Filho (2013), o sufrágio era estabelecido de forma universal. Todos, sem distinção alguma, poderiam votar, porém, para ser votado e representar o povo, apenas os considerados “homens bons” tinham esse direito. Este era o requisito de ser votado em determinadas eleições. Para ser considerado “homem bom”, este tinha de ter posses ou pertencer a uma classe mais alta, caso contrário, não poderia ser votado. (MELO FILHO, 2013).

Ainda segundo Melo Filho (2013):

Na eleição de segundo grau, os 06 (seis) eleitores, escolhidos pelo sufrágio universal, escolhiam os membros do Conselho, também denominados de oficiais da Câmara Municipal, para os próximos 03 (três) anos. Os eleitores eram agrupados em 03 (três) grupos de 02 (dois) e levados a uma casa, onde eram separados em cômodos distintos, de forma a isolar um grupo dos outros. Separados, os 03 (três) grupos organizavam as suas respectivas listas de votação, nas quais escolhiam as pessoas da nobreza da vila ou cidade que deveriam ocupar os cargos eletivos. As eleições aconteciam de forma sucessória em duas fases. O povo elegia seus escolhidos e estes, por sua vez, escolhiam quem representaria o povo. (MELO FILHO, 2013).

Em outras palavras, pode-se detalhar o referido período obedecendo a uma determinada sequência:

Homens bons e povo diziam 6 nomes ao pé do ouvido do escrivão. Os 6 mais votados seriam os eleitores.

O juiz mais velho da comarca dividia os 6 eleitores em 3 duplas. Nessa formação, procurava-se separar os parentes era proibida a comunicação entre as duplas. Cada dupla elaborava 3 listas contendo: nomes dos vereadores, dos procuradores e dos juízes.

O juiz mais velho inseria em cada um dos pelouros uma lista contendo o nome daqueles que exerceriam os cargos da Câmara em um ano. Uma sacola com 4 compartimentos acondicionava os 3 pelouros e a lista contendo os nomes de todos os eleitos. A sacola era guardada em uma arca com 3 fechaduras, cada chave ficava sob a guarda de um vereador que exercia o cargo naquele ano.

No início do ano, numa reunião chamada Janeirinha, a arca era aberta pelos vereadores e um menino de até sete anos sorteava o pelouro que continha o nome dos oficiais que iriam exercer as atividades na Câmara naquele ano. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 14).

Posteriormente, “como resultado da transferência da família real para o Rio de Janeiro, [...] em função da invasão francesa a Portugal, o Brasil foi elevado [...] de colônia a

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Reino do Império Português [...] e culminou com a Revolução Liberal do Porto [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 16).

De imediato, foi instituído às cortes confeccionar uma Constituição inteiramente nacional. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014).

2.2 PERÍODO IMPERIAL

A declaração da Independência do Brasil foi o grande norte de passagem do Período Colonial para o período imperial: “após [...] convocou eleições para a assembléia Geral Constituinte [...] O sistema utilizado foi o de dois graus: não votavam em primeiro grau os que recebessem salários e soldos; para [...] de segundo grau, exigia-se decentes subsistência por emprego, indústria ou bens [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA; 2014, p. 18).

De acordo com Boas (2016, p. 36), “a história revela que a primeira Constituição brasileira foi outorgada e não promulgada, como ansiava a população inebriada pelas benesses da independência”.

Emblematicamente, “[...] nossa primeira Constituição foi autoritária e resguardava a monarquia unitária e hereditária como forma de governo; a instituição do poder moderador ao lado dos três poderes clássicos [...] legislativo, executivo e judiciário; e eleições censitárias, abertas e indiretas”. (BOAS, 2016, p. 36).

Neste período, o Sistema Eleitoral no Brasil ficou mais evidenciado com a outorga da Constituição do ano de 1824,

[...] que dispôs sobre o sistema eleitoral [...] segundo a Carta Magna, a escolha dos deputados e senadores da Assembléia Geral e dos membros dos Conselhos Gerais das Províncias dar-se-ia por eleições indiretas. Por meio de eleições primarias, nas quais apenas os brasileiros no gozo dos direitos políticos e os estrangeiros naturalizados tinham direito a voto, eram escolhidos os chamados eleitores de província, que exerciam a eleição direta dos representantes da nação e da província. (MELO FILHO, 2013).

Diferentemente do Período Colonial, em que o voto estava ao alcance de todos, o Período Imperial não deu continuidade a essa universalidade. Melo Filho (2013) destaca:

Apreende-se, da análise do texto constitucional, que muitas pessoas eram proibidas de votar, em razão da idade, da profissão e da renda anual. Neste sentido, não poderiam votar nas eleições primárias os menores de 21 (vinte e um) anos, salvo se casados; os oficiais militares; os bacharéis formados; os clérigos de ordens sacras; os filhos que ainda morassem com os pais, salvo se servirem em ofícios públicos; os criados, categoria na qual não se incluíam os guarda-livros; os primeiros caixeiros das casas de comércio; os criados da Casa Imperial, se não forem de galão branco; os administradores das fazendas rurais e fábricas; os religiosos e quaisquer que vivam em comunidade claustral; e os que não tinham renda líquida anual mínima de 100 (cem) mil réis.

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Não obstante, de acordo com Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 18), “durante quase todo o período imperial, as eleições eram indiretas, ou seja, os cidadãos escolhiam os eleitores dos deputados e senadores. Nessas eleições, podiam votar homens com mais de 25 anos que atendessem aos critérios censitários legalmente definidos”.

Desta feita, “tendo em vista a concepção restritiva de cidadania, [...] os critérios estabelecidos para exercício dos direitos políticos foram objeto de grande detalhamento por parte dos textos legais”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 17).

Neste período, “o analfabeto pode votar quase que livremente [...]. Ocorreu apenas alguma limitação quando foi instituída a obrigatoriedade de assinatura da cédula eleitoral [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 18).

Boas (2016, p. 39) ressalta “[...] que durante este período, os analfabetos possuíam direitos ao voto, assim, somente às mulheres e aos escravos era negado esse direito”.

Pode-se compreender que neste período já se concentrava a exclusão de gênero das mulheres em relação à política nacional, já caracterizando o cenário como somente de direito do gênero masculino. (BOAS, 2016).

Ainda assim, Boas (2016, p 39) salienta que “[...] o direito ao sufrágio, até o ano de 1881 o voto era descoberto e oral [...] facilitava o abuso por partes dos detentores do poder [...] assim, grande parte do procedimento eleitoral desse período foi marcado por fraudes e corrupções”.

Chaia ([199-] apud BOAS, 2016, p. 39) ainda afirma que:

No império, as eleições eram fabricadas pelo Gabinete no poder, que usava de todas as armas da fraude, do suborno, da pressão e da violência para obter sempre vitória. Criou-se ate a ética de que tudo era permitido ao governo para vencer os pleitos. O vergonhoso para o governo era perder as eleições.

Em relação às Câmaras das Repúblicas quanto ao estabelecimento de posses, [...] os reis de Portugal nomeavam governadores das capitanias, enviavam ofícios às câmaras das repúblicas das sedes das capitanias, informando-as dessas nomeações. Davam notícias detalhadas dos nomeados e solicitavam às câmaras das repúblicas que lhes dessem posse logo após as suas chegadas. Ao chegar às cidades-sedes das capitanias, os novos governadores se dirigiam às câmaras, agora denominadas senados das repúblicas, eleitos pelo povo, davam-lhes posse. Só então os governadores das capitanias passavam a exercer o cargo de representantes dos reis de Portugal. (FERREIRA, 2005, p. 41).

Evidencia-se, assim, conforme textualizado acima, que tudo o que se passava no Brasil era encaminhado para Portugal.

Sobre outro ponto de vista,

[...] os requisitos censitários não eram rigorosos. Contudo nessa época havia a idade de que o voto deveria ser censurado às camadas mais baixas, pelos seguintes

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argumentos: a) financeiro: acreditava-se que somente os mais abastados possuíam interesse em conduzir o país, haja vista que os desprovidos de bens e dinheiro não tinham capacidade de opinar; b) de gênero e idade; sendo capaz somente o gênero masculino, com pelo menos 25 (vinte e cinco) anos. Se casados ou oficiais militares, o critério etário era reduzido para 21 (vinte e um) anos. Se clérigo ou bacharel, não havia restrição etária. (DOLHNIKOFF, 2008 apud BOAS, 2016, p. 38).

Em relação à independência nacional, “o Brasil passou a editar sua própria legislação eleitoral, surgindo assim, diversos diplomas legais [...]”. (MELO FILHO, 2013).

Segundo Ferreira (2001 apud BOAS, 2016, p. 35), “há registros de que a primeira lei eleitoral brasileira foi publicada em 19 de junho de 1822, sendo bem estruturada, com redação simples e acessível”. Deste modo, “essa lei, ora denominada Instruções, norteou sobre a criação e organização da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, a qual foi a responsável pela confecção da Constituição do Império de 1824”. (BOAS, 2016, p. 35).

Porém, o grande marco de inovação do sistema eleitoral nacional no Período Imperial, se manifestou

[...] com a publicação do Decreto n.º 3.029, de 9 de janeiro de 1881, também conhecido como Lei Saraiva [...] entre as principais previsões dessa lei arrolam-se: a) a instituição do voto secreto e direto; b) obrigatoriedade de requerimento escrito para alistamento; c) necessidade de comprovar a renda líquida anual; d) restrição do direito ao voto aos analfabetos; e) comprovação de ficha limpa, ou seja, o candidato não poderia ter sido pronunciado em processo criminal; f) descrição dos crimes eleitorais; g) instituição de procedimentos administrativos eleitorais.

Com a introdução do voto direto para todos os cargos políticos, as eleições para deputados e senadores que antes eram realizadas de forma indireta, passam a ser realizadas de forma direta como já ocorria para os cargos de juiz de paz e vereadores. A Lei Saraiva também inova ao estabelecer o voto secreto, o que moralizou em termos o processo eleitoral. (BOAS, 2016, p. 39).

A partir desse período, o Sistema Eleitoral começou sua trajetória em relação a sua adequação sob a evolução do povo brasileiro. As várias elaborações e decretos constitucionais contribuíram significativamente a trajetória do sistema eleitoral. Contudo, entre a oscilação ora ampla ora limitada aos eleitores, em cada período, “as inovações do processo eleitoral durante o período imperial fez com que o mesmo se tornasse mais completo e legítimo, exceto no que tange a exclusão do direito ao voto dos analfabetos, cite-se, a instituição do alistamento eleitoral e a missão do titulo de eleitor”. (BOAS, 2016, p. 41).

Pode-se preceituar que nem sempre as medidas eleitorais foram tomadas a exercerem a real democracia para com o povo, passando, por vezes, a um mero teatro em intenções.

A despeito das formalidades constitucionais e das eleições periódicas, que garantiam uma aparência de democracia e legalidade ao país, o Brasil Império era uma sociedade na qual o poder político estava concentrado nas mãos de uma oligarquia proprietária de terras e escravos, muito pouco afeita à participação popular. (CASTELLUCCI, 2014 apud BOAS, 2016, p. 41).

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Dentre os vários decretos elaborados neste período, Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 22) aduzem que:

Durante o Império, foram muitas as alterações na legislação que regulamentavam as eleições, ocorridas, dentre outros motivos, para garantir maioria ao partido que estava no poder. Somente em relação aos sistemas eleitorais, tivemos sistemas majoritários de listas completas por províncias, voto distrital com um deputado por província, com ter deputados por província e voto limitado ou de lista incompleta. Cabe apresentar, de forma mais detalhada, algumas alterações do sistema eleitoral brasileiro:

A Decisão nº 57, de junho de 1822, regulamentou a eleição para a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, a ser realizada em dois graus: os cidadãos de cada freguesia escolhiam os eleitores de paróquia, que por sua vez escolhiam os deputados. A eleição indireta seria a regra durante quase todo o período imperial, só sendo introduzido o voto direto em 1881, por meio da Lei Saraiva. O Sistema Eleitoral utilizado era o majoritário, mas com especificidades para cada um dos graus. Os cidadãos da freguesia votavam em listas de eleitos naqueles que figurassem na lista que obtivesse a maioria simples dos votos. Os eleitores, por sua vez, votavam nos deputados por meio de cédulas que eram repetidas tantas vezes quantos fossem os deputados a serem eleitos. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 23).

Em relação ao Decreto n.º 842, que estabeleceu a Lei dos Círculos, vale elencar que, de acordo com Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 24),

[...] inaugurou no Brasil o voto distrital. Por meio de decretos, as províncias foram divididas em círculos (distrito), devendo ser eleito um deputado por cada distrito. O deputado que obtivesse a maioria absoluta de votos no distrito era eleito, sendo possível se eleger por mais um distrito, caso em que escolheria o distrito que queria representar.

O Decreto nº 1.082, também conhecido como Segunda Lei dos Círculos, manteve basicamente todas as disposições da lei anterior, realizando duas importantes alterações: ampliação do número de deputados por círculo, que passou a ser três; exigência de desincompatibilização das autoridades [...] seis meses antes [...]. A segunda lei dos Círculos foi substituída pela Lei do terço (Decreto nº 2.675), que aboliu o voto por círculos, determinando que as eleições fossem realizadas por províncias. A finalidade dessa lei foi a de possibilitar maior representatividade das minorias, tema recorrente nos debates parlamentares. A solução encontrada foi limitar o voto de cada eleitor a dois terços do número total de cadeiras em disputa. No que se refere aos decretos desse período, ressalta-se, ainda, o Decreto n.º 3.029:

A Lei Saraiva [...] publicada em 9 de janeiro de 1881, decorreu dos anseios da sociedade brasileira por mudanças na legislação eleitoral. Um dos principais pontos de inovação foi a introdução do voto direto, reivindicação constante nos jornais, nas ruas e nos debates parlamentares.

Além do voto direto, a Lei Saraiva estabeleceu o voto secreto, confiou o alistamento à magistratura e instituiu o título de eleitor, em substituição ao título de qualificação criado m 1875. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 24).

Ainda assim, “é importante ressaltar que a lei não aboliu o voto censitário, ao contrário, estipulou rígidos critérios para a comprovação da renda e instituiu a vedação ao voto do analfabeto”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 25).

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2.3 PERÍODO REPUBLICANO

2.3.1 Primeira República

Preliminarmente, este período teve início em meados de 1889 e foi “[...] marcado por inúmeros contextos políticos, sociais e econômicos. Nesse período, democracias alternaram-se com ditaduras, o que contribuiu para que o direito de votar e ser votado fosse garantido em alguns momentos e vetado em outros”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 28).

O primeiro passo para o prosseguimento surgiu com a Proclamação da República do Brasil, de acordo com Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 28),

[...] foram grandes incertezas quanto aos trilhos que a nova forma de governos desejava seguir. Numa rápida olhada, se identificam dois grupos que defendiam diferentes formas de se exercer o poder da República: os civis e os militares. Os civis, representados pelas elites das principais províncias [...] queriam uma República Federativa que desse muita autonomia às unidades regionais. Os militares, por outro lado, defendiam um Poder Executivo forte e se opunham à autonomia buscada pelos civis. Isso sem mencionar as acirradas disputas internas de cada grupo.

Em 1891 foi promulgada a nova Constituição Federal de 1891 no Brasil. Esta, por sua vez, trouxe em seu texto legal algumas normas relativas ao sistema eleitoral. O Poder Legislativo Federal, antes de cunho exercido pelo congresso Nacional, “[...] era composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. A eleição [...] deveria ser feita simultaneamente em todo país [...] ademais, ninguém poderia ser, ao mesmo tempo, deputado e senador”. (MELO FILHO, 2013).

Entende-se que “a regulação do processo de eleição e da apuração foi deixada para o disciplinamento por meio de lei ordinária, competindo ao Congresso Nacional, ainda, a regulamentação das condições e do processo de eleição para os outros cargos federais, em todo o país”. (MELO FILHO, 2013).

Propriamente, este período continuou restringindo alguns direitos políticos, diferente do período colonial, que era de alcance a todos, conforme a seguir exposto:

[...] a constituição de 1891 definia como cidadãos os brasileiros natos e, em regra, os naturalizados. Podiam votar os cidadãos maiores de 21 anos que tivessem se alistado conforme determinação legal [...] em 1894, na primeira eleição para presidente da República, votaram 2,2 % da população. Tudo indica que, apesar de a República ter abolido o critério censitário e adotado o voto direto, a participação popular continuou sendo muito baixa em virtude, principalmente, da proibição do voto do analfabeto e das mulheres. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 29).

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Com a legislação eleitoral, “[...] alguns instrumentos legais vieram a público, mas nenhum deles alterou profundamente o processo eleitoral da época. As principais alterações promovidas foram o fim do voto censitário e a continuidade do voto direto [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 29-30).

Apesar das modificações eleitorais, dado o fim do voto censitário e permanecendo o voto direto visando oferecer mais autonomia aos eleitores, não foi o suficiente para maior democratização ao povo, pois o voto ainda se encontrou restrito aos analfabetos e às mulheres. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 30).

O Período Republicano referente ao cargo de presidência ou vice-presidência ficou alocado que, em caso de vaga, “[...] deveria ser procedida uma nova eleição, se não houvesse decorrido 02 (dois) anos do período presidencial, ou serem sucessivamente chamados o Vice-Presidente do senado, o Presidente da Câmara o do Supremo Tribunal Federal, se não houvesse transcorrido [...] prazo”. (MELO FILHO, 2013).

Determinado período, bem como o anterior, fora marcado por diversas fraudes: A Constituição federal de 1891 previu, ainda, hipóteses de inelegibilidade para os cargos de Presidente e Vice-Presidente, para os quais seriam inelegíveis os parentes consanguíneos e afins, nos 1º e 2º graus, do Presidente e Vice-Presidente, que se achasse em exercício no momento da eleição ou que o tivesse deixado até seis meses antes. Os Ministros de Estado, por sua vez, além de serem inelegíveis para Presidência e Vice-Presidência, não poderiam ser eleitos para deputado ou senador nem acumular o exercício de outro emprego ou função pública. Nesse sentido, o deputado ou senador que aceitasse o cargo de Ministro de Estado, perderia o mandato e proceder-se-ia a realização de uma nova eleição, na qual não poderia ser mais votado. (MELO FILHO, 2013).

Referente aos sistemas eleitorais estaduais, “[...] a carta Magna facultou aos Estados a possibilidade de legislar livremente sobre a matéria [...] cada estado reger-se-á pela Constituição estadual e pelas leis estaduais que adotar, devendo respeitar, apenas, os princípios constitucionais da União”. (MELO FILHO, 2013).

A Constituição da República do Brasil, de 1891, trouxe relevantes regras para o referido período:

Abolição das instituições monárquicas; instituição do presidencialismo com mandato de quatro anos; extinção do poder Moderados, assegurando, por conseguinte, a separação e independência entre os demais poderes, quais sejam, executivo, legislativo e judiciário; conversão das províncias em estados federais autônomos. (BOAS, 2016, p. 43).

Além disso, a Constituição da República do Brasil trouxe, em seu texto legal, vários decretos referentes ao processo eleitoral.

Assim, de acordo com Melo Filho (2013), neste primeiro período de República, tem-se por base os seguintes diplomas legais:

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[...] o Decreto 663, de 14 de agosto de 1890, que disciplinou as providências relativas ao processo da eleição do primeiro Congresso Nacional republicano, estabeleceu critérios e mecanismos para a fiscalização eleitoral. A Lei 35, de 26 de janeiro de 1892, que foi a primeira lei republicana em matéria eleitoral, estabeleceu o processo para eleições federais.

Por meio da Lei 1.269, de 15 de novembro de 1904, que ficou conhecida como “Lei Roda e Silva”, em homenagem ao senador do mesmo nome que foi o relator final do projeto no Congresso Nacional, operou-se uma reforma na legislação eleitoral, vigorando até 1930. Ela revogou algumas leis, a exemplo da Lei 35/1892, previu o sistema de apuração pelas mesas receptadoras de votos e elencou alguns tipos penais eleitorais [...].

Por conseguinte ao texto acima, a “[...] Lei Rosa e Silva, reformou a legislação eleitoral, revogando toda a anterior. Manteve o voto limitado e o distrital [...] além de introduzir o voto cumulativo”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 33).

Não obstante, é de suma importância frisar o Decreto do ano de 1911, 1916 e 1920, referente ao processo eleitoral do período que tiveram grande relevância:

O Decreto 2.419, de 11 de julho de 1991, prescreveu os casos de inelegibilidade para o Congresso Nacional e para a Presidência e Vice-Presidência da República, além de alterar algumas disposições da Lei Rosa e Silva. A Lei 3.129, de 2 de agosto de 1916, por sua vez, regulou o processo eleitoral, prescreveu o modo pela qual deveria ser feito o alistamento eleitoral e deu controle de execução ao Poder Judiciário sobre leis eleitorais. A Lei 3.208, de 27 de dezembro de 1916. Também trouxe disposições sobre o processo eleitoral, aperfeiçoando o sistema eleitoral do país. Por fim, o Decreto 4.226, de 20 de dezembro de 1920, modificou a legislação sobre o alistamento eleitoral, instituindo o alistamento eleitoral permanente, e regulou a exclusão eleitoral [...]. (MELO FILHO, 2013).

Dessa forma, de acordo com o que preceitua Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 33), “a Lei nº 3.139 [...] aumentou o rigor quanto à comprovação da documentação exigida para a qualificação, devendo o eleitor provar: idade, capacidade de assegurar sua subsistência, residência por mais de dois meses no município e demonstração de saber ler e escrever”.

A exemplo, “o Decreto nº 200-A promulgou o regulamento para a eleição do Congresso Nacional Constituinte, manteve o voto direto e determinou a inclusão de todos os eleitores já qualificados pela Lei Saraiva”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 29).

Ao contrário do que almejava a Lei Saraiva, “a qualificação de outros eleitores [...] não era feita pelas autoridades judiciárias, ficando sob a responsabilidade de comissões distritais, que iniciavam a elaboração das listas de eleitores, e de comissões municipais, que finalizavam a qualificação [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 29).

Já “as comissões distritais eram formadas por um juiz de paz, um eleitor e o subdelegado da paróquia; as municipais, por um juiz municipal, o presidente da câmara de vereadores e o delegado de polícia [...] todos recebiam o título de eleitor”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 29).

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De todo modo, Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 34, grifo dos autores) exteriorizam o referido primeiro momento da República da seguinte forma:

[...] durante muito tempo, esse período foi visto como uma espécie de idade das trevas eleitoral. As eleições eram consideradas nada mais do que mera legitimação, por meio de artifícios fraudulentos, do poder de elites tradicionais. A expressão voto de cabresto, com suas inúmeras ilustrações, é recorrente ainda hoje para explicar o período. Entretanto, é bom lembrar que essa imagem [...] não pode ser vista como uma fotografia da experiência eleitoral do período. É claro que fraudes e violência eram elementos recorrentes, mas as eleições não se reduziam a isso. Elas tinham um papel estratégico, permitindo uma relativa circulação de elites, estabelecendo um mínimo de competição e renovação no mundo político. Elas também eram capazes de mobilizar [...] os eleitores, fundamentando um aprendizado político.

Além disso, é preciso reconhecer que atuação política é maior do que a experiência eleitoral. E o período conhecido como Primeira República foi o palco de diversas manifestações de atuação popular [...].

O primeiro Período Republicano foi derrotado tamanha insatisfação dos demais Estados da federação, bem como, consequentemente, com a “[...] fraude eleitoral para o cargo de Presidente da República em 1930 [...] assim, o Exército mobilizou-se e expulsou a oligarquia cafeeira, colocando em seu lugar Getúlio Vargas [...]”. (BOAS, 2016, p. 46).

2.3.2 Segunda República

Posteriormente ao primeiro Período da República, designado de República Velha, sobreveio o segundo Período da República. Este, por sua vez, teve início após a Revolução dos anos 30. Conforme Melo Filho (2013),

Após a Revolução de 1930, foi promulgada a Constituição de 1934, cuja principal inovação em matéria de direito eleitoral foi a previsão, no seio da Carta Magna, da Justiça Eleitoral como órgão do Poder Judiciário. Ela atribuiu aos juízes vitalícios a jurisdição eleitoral em sua plenitude e estabeleceu a competência privativa da justiça eleitoral para o processo das eleições federais, estaduais e municipais, inclusive as dos representantes das profissões. Dispôs, ainda, sobre a organização e a competência da justiça eleitoral (arts. 82 e 83, CF/1930), bem como sobre os direitos políticos, o alistamento eleitoral e as inelegibilidades (arts. 108 a 112, CF/1930). Neste embasamento, determinada revolução foi estabelecida por intensas “[...] disputas, entre os grupos políticos estaduais e pela crise mundial [...] seu objetivo foi centralizar o país em detrimento ao regionalismo excessivo da Velha República. A era Vargas pode ser dividida em [...] a) Governo Provisório [...] b) Governo Constitucional [...] e c) Estado Novo [...]”. (BOAS, 2016, p. 47).

Em vista disto, de acordo com Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 36, grifo dos autores), “em 1932 é concretizada a ideia de centralizar no Poder Judiciário o gerenciamento das eleições”.

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Ponderoso abordar que a “[...] a Justiça Eleitoral tornou-se responsável por todos os trabalhos eleitorais: alistamento, organização das mesas de votação, apuração dos votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos, bem como o julgamento de questões que envolviam matéria eleitoral”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 36).

A Segunda República foi marcada por grandes inovações na esfera eleitoral. Entre elas, a elaboração do primeiro Código Eleitoral, o qual nada mais foi que uma resposta positiva “a demanda social por eleições mais limpas e confiáveis [...] um dos primeiros atos do Governo Provisório foi a criação de reforma da legislação eleitoral [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PERERIA, 2014, p. 37).

Intensificando o momento, “a partir dessa Revolução de 1930 que o Brasil ingressou na época das codificações eleitorais [...]”. (MELO FILHO, 2013).

Sobre a elaboração do primeiro Código Eleitoral:

[...] foi o instituído pelo Decreto 21.076, de 24 de fevereiro de 1932. Todas as eleições [...] eram reguladas. O código eleitoral de 1932 destacou-se por criar a Justiça Eleitoral, o que, como já foi dito, foi seguido posteriormente pela Constituição Federal de 1934. Além disso, criou o voto feminino, a representação proporcional e o voto secreto em cabine indevassável. O sufrágio era universal e direto e já havia a possibilidade de a eleição ser feita em dois turnos. O domicílio eleitoral era escolhido livremente pelo eleitor. Foi delegada a lei especial o disciplinamento das hipóteses de ilegibilidade. O eleitor era parte legítima para ação penal relativa a crimes eleitorais, cujo prazo prescricional era sempre 10 (dez) anos. A competência para processa-los era do Tribunal Regional, cabendo aos juízes apenas a preparação e a instrução do processo, desde que fossem para tal designados. Ao Ministério Público não foi dada a devida atenção, pois, sem um capítulo próprio no código, ficou relegado o segundo plano. (MELO FILHO, 2013).

O primeiro Código Eleitoral proporcionou maior abrangência aos eleitores referente ao direito de votar. As mulheres, seres excluídos anteriormente do cenário político, começaram a fazer parte dos cidadãos eleitores brasileiros. (MELO FILHO, 2013).

No decorrer de todo o período Vargas, foi criada a comissão de reforma da legislação eleitoral, da qual originou o Código Eleitoral do Brasil. Posteriormente, o país acolheu codificações eleitorais de maior relevância: “[...] datado em 1932, o Código objetivou moralizar o processo eleitoral nacional, ao instituir e criar a Justiça eleitoral”. (BOAS, 2016, p. 48).

Sobre a ótica de Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 37, grifo dos autores), pode-se abordar a perspectiva da inclusão da mulher relacionada à previsão do voto feminino facultativo, porém “[...] o Código de 1932 não ficou isento de críticas, especialmente no que se refere ao processo de qualificação [...] vale ressaltar que permaneciam restrições ao pleno

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exercício da cidadania, dentre as quais a impossibilidade de votarem os analfabetos, mendigos e praças de pré”.

Por conseguinte, a elaboração do Primeiro Código Eleitoral surge com a edição da Lei n.º 48, de maio de 1935, ou seja, a elaboração do Segundo Código Eleitoral do Brasil. Este não acarretou mudanças quanto à regulamentação das eleições federais, estaduais e municipais, continuando com as mesmas diretrizes anteriores. Segundo a Carta Magna do ano de 1934, as mulheres só poderiam votar caso tivessem alguma função pública que fosse assalariada. (MELO FILHO, 2013). Além disso,

[...] os juízes passaram a ter uma parcela de competência decisória em matéria de crimes eleitorais. Ao Ministério Público foi reservado um capítulo próprio, no qual se previu uma ampla participação dos Ministérios Públicos estaduais em todas as fases eleitorais. Os prazos prescricionais dos crimes eleitorais foram reduzidos sensivelmente para 5 (cinco) anos, nos casos de pena privativa de liberdade, e para 2 (dois) anos, nos demais casos, aplicando-se, ainda, as hipóteses de suspensão e interrupção prevista na lei penal comum. A regra do domicílio eleitoral foi restringida, retirando a possibilidade de o eleitor escolhê-lo livremente e fazendo-o coincidir com o domicílio civil. As inelegibilidades foram elencadas no próprio selo do código, sem prejuízo de outras hipóteses previstas pela Constituição federal ou pelas leis estaduais. (MELO FILHO, 2013).

O golpe “[...] ditatorial de 1937 atingiu profundamente a estrutura da justiça eleitoral, que chegou a ser extinta pela Constituição Federal outorgada no mesmo ano do movimento golpista [...]”. (MELO FILHO, 2013).

De acordo com o entendimento de Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 40), mais precisamente em 1937, Getúlio Vargas anunciava uma nova ordem no país. A anunciação é dada ao conhecimento da criação da Constituição de 1937, conhecida como Constituição Polaca, a qual “[...] extinguiu a Justiça Eleitoral, aboliu os partidos políticos existentes, suspendeu as eleições livres e estabeleceu eleição indireta para presidente da República, com mandato de seis anos [...] conhecido como Estado Novo, não houve eleições no Brasil [...] a ditadura governou [...]”.

Ademais, “o golpe de estado [...] criou condições para a edição da constituição de 1967, que manteve a existência autônoma da justiça eleitoral como órgão do poder Judiciário [...] dispondo sobre direitos políticos [...] e sobre partidos políticos [...]”. (MELO FILHO, 2013).

Assim, “[...] os atos institucionais e as emendas constitucionais que a sucederam, dentre as quais toma destaque a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, mantiveram, em geral, a mesma linha de disciplinamento dessas matérias”. (MELO FILHO, 2013).

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Sem conseguir prolongar a ditadura, em 1945, Getúlio anuncia eleições gerais [...] a oposição e cúpula militar se articulam e dão o golpe, em 29 de outubro de 1945, destituindo Getúlio. Como na Constituição de 1937 não havia a figura do vice-presidente, a Presidência da República foi ocupada pelo então presidente do Supremo Tribunal federal [...] até eleição e posse do novo presidente da República [...] era o fim do Estado Novo. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 40). Diante de tal cenário, fez-se necessária a volta da Justiça Eleitoral de forma definitiva: “[...] sua principal novidade foi a obrigatoriedade de os candidatos estarem vinculados a partidos políticos [...] eleições diretas para todos os cargos nos três níveis de governo”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 41).

Dentre os vários momentos ocorridos desse período, pode-se resumidamente conhecer um pouco mais da legislação de forma a reforçar o que fora dito até o momento:

A lei nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, criou a Justiça Eleitoral [...]. Além disso, o código possibilitou, pela primeira vez no país, às mulheres o direito a votar, mas, por outro lado, manteve grave obstáculo à universalidade do voto ao continuar proibindo o voto do analfabeto.

Apesar de ainda ser possível a candidatura avulsa, o código já mencionava a possibilidade de os partidos políticos registrarem seus candidatos para concorrerem ao pleito. Em todo caso, era sempre obrigatório o registro prévio de que, desejava concorrer a cargos eletivos. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 44). O decreto n.º 22.621, de 5 de abril de 1933, “[...] convocou a população a votar em seus representantes para a Assembleia Nacional Constituinte e fixou o número de deputados [...] que deveriam ser eleitos de forma mista [...] segundo as normas do Código Eleitoral [...] o que ficou conhecido como representação classista”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 38, grifo dos autores).

As principais alterações com a Lei n.º 48, de 4 de maio de 1935, a qual remodelou o código Eleitoral de 1932, “[...] foram: redução da idade [...] para 18 anos; obrigatoriedade de voto das mulheres que exerciam função pública remunerada e a limitação à candidatura avulsa: só podia se candidatar sem partido político quem registrasse sua candidatura mediante requerimento [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 39). Cabe ressaltar que esse código nunca foi usado “[...] em função da interrupção da ordem democrática, em 1937, com o golpe do Estado Novo”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 39).

2.4 REGIME MILITAR

Durante esse período, alguns direitos foram praticamente arrancados das mãos dos cidadãos eleitores. “O período que vai de 1964 a 1985 foi marcado, no Brasil, por uma combinação entre expansão dos direitos sociais, redução drástica dos direitos civis e

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restrição aos direitos políticos [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 50, grifo dos autores).

No que se alude ao Regime Militar, as eleições foram exercidas de forma direta e indireta, oscilando entre uma e outra. A funcionalidade dessas funções nada mais foi que “[...] legitimar as decisões do governo, já que, pelo menos formalmente, existia oposição; e servir como uma espécie de laboratório eleitoral, na qual a população podia exercer [...] o direito de votar”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 51, grifo dos autores).

O Congresso Nacional tinha a função de legitimar decisões tomadas pelo governo, bem como reservar seu espaço para que direitos políticos pudessem ser exercitados, porém sempre de acordo com os moldes impostos previamente. Deste modo, como forma de credibilizar esse instrumento, o bipartidarismo foi criado. Neste modelo era exercida uma oposição controlada, que se opunha à Aliança Renovadora Nacional. Seu papel era referendar as decisões tomadas pela cúpula militar. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 51).

De forma a compreender melhor essa passagem militar, Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 52-53) sintetizam a legislação eleitoral deste período em seu Ato Institucional nº 1:

O Ato Institucional nº 1, de abril de 1964, instituiu alterações à Constituição de 1946. Estabeleceu a eleição indireta para presidente da república pelo Congresso Nacional. Determinou a aprovação de projetos por decurso de prazo: projeto de lei enviado pelo presidente ao Congresso deveria ser aprovado em 60 dias (30 dias na Câmara e 30 dias no Senado), caso contrário seria considerado aprovado tacitamente. Fixou a suspensão de garantias de vitaliciedade dos magistrados e estabilidade dos servidores públicos por seis meses. Também autorizou o Comando Supremo da Revolução a cassar mandatos em qualquer nível e suspender direitos políticos pelo prazo de dez anos, vedada a apreciação judicial. O AI nº 1 teve vigência até 31 de janeiro de 1966.

De toda forma, seguindo o contexto legal dos Atos Institucionais da época, o Ato Constitucional nº 2 tinha a ressalva de disciplinar a constituição em suas várias formas de emenda. Porém manteve o decurso do prazo, ampliando, assim, para 45 dias para a aprovação de seus projetos, os quais deveriam ser aprovados pela Câmara e o Senado. Em forma de votação nominal, firmou as eleições indiretas. Bem como extinguiu de forma total os partidos políticos, dando fim aos respectivos registros partidários. Estabeleceu, também, recesso parlamentar em estado de sítio, mesmo que não vinculado a este. No mesmo seguimento, o Poder Executivo ficou responsável por legitimar sobre a totalidade Constitucional, tanto quanto as leis orgânicas, durante todo o período de recesso. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 53).

O Ato Institucional nº 3, “[...] Não determinou limite como atos institucionais anteriores”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 53).

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O Ato Institucional nº 4 dispôs sobre a afirmação de a Constituição ser promulgada até determinada data, sendo aprovada ou reprovada. Já o Ato Institucional nº 5 reafirmou a rigidez do Regime Militar. O recesso ficou de forma livre nas mãos do Presidente da República, deixando o Congresso sem função, salvo quando este fosse convocado pelo próprio Presidente. Os que tivessem sido alvos de cassações poderiam ter sua liberdade limitada, além de perderem exercício dos seus direitos políticos. O momento era de estabilidade do poder aos militares em uma incansável rigidez. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 54).

Findando o resumo do contexto legal desse período, tem-se:

Ato Institucional nº 14, de 5 de setembro de 1969, alterou a Constituição de 1967 para possibilitar a pena de morte para os casos de guerra externa, psicológica adversa ou revolucionaria ou subversiva.

A Lei nº 4.740, de julho de 1965, também conhecida como Lei Orgânica dos Partidos Políticos, regulamentou diversos aspectos relativos ao registro e funcionamento dos partidos políticos. A personalidade jurídica do partido era de direito público interno, a ser adquirida por meio de registro ao Tribunal Superior Eleitoral, ficando vedada a existência de qualquer entidade com fim político ou eleitoral que não fosse um partido registrado. Limitou a participação nos quadros dos partidos aos brasileiros que estivessem no exercício de seus direitos políticos. A ingerência nas atividades partidárias era tamanha que a lei normalizava a estrutura dos órgãos internos, as condições para a expulsão dos filiados e, inclusive, a forma de eleição dos diretórios (voto direto e secreto). (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 56, grifo dos autores).

Durante o Regime Militar, muitas questões políticas foram restritas aos cidadãos, centralizando o poder apenas aos próprios militares que estavam no governo. Dessa forma, “[...] a transição se tornava inevitável à medida que engrossava o número daqueles que pressionavam e ansiavam pela mudança [...] a crise no reconhecimento da legitimidade do regime [...] a eleição de governadores oposicionistas [...] e a maior manifestação [...] de campanhas pelas Diretas”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 56).

2.5 REDEMOCRATIZAÇÃO (À ATUALIDADE)

No que tange o período da redemocratização, “a Emenda Constitucional nº 25, de maio de 1985, que alterou alguns artigos da Constituição Federal de 1969, representou um marco à redemocratização do país, restabelecendo eleição direta para Presidente e Vice-Presidente da República e o voto do analfabeto como facultativo [...]”. (MELO FILHO, 2013).

O movimento das Diretas Já, que sobreveio ao fim da ditadura militar, “[...] foi um movimento em favor de eleição direta para o cargo de presidente. Foram feitas manifestações públicas [...] em várias cidades brasileiras, ao longo do ano de 1983 e 1984,

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que mobilizaram mais de 5 milhões de pessoas”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 60).

Assim, sintetiza-se seu início após o fim do período militar. Dessa forma, “[...] o Estado Democrático de direito é restaurado e resgata o regime representativo, federativo e presidencialista. Ele se mantém até os dias atuais e é denominado de Nova República”. (BOAS, 2016, p. 57).

Esta nova fase revolucionou a forma instrumental das eleições. A Lei n.º 7.444, de 1985, “[...] dispôs sobre a implantação do processamento eletrônico de dados no alistamento eleitoral e sobre a revisão do eleitorado nacional”. (MELO FILHO, 2013).

A elaboração da Constituição de 1988 foi a demarcação da democracia nacional neste período. Esta, por sua vez, “[...] ficou conhecida como a Constituição Cidadã, pelo fato de ampliar o rol dos direitos sociais e políticos. Assegurou a liberdade de expressão, de reunião, garantiu o direito à privacidade, [...] proibiu a prisão sem decisão judicial [...] em contraposto ao regime anterior [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 62).

Vários acontecimentos ocorreram, se mantendo presentes nos dias de hoje, como aludem Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 63), em resumo:

A Constituição de 1988 determinou a realização de plebiscito para definir a forma [...] e o sistema de governo [...] e prescreveu que o presidente e os governadores, bem como os prefeitos dos municípios com mais de 200 mil eleitores, fossem eleitos por maioria absoluta na primeira votação.

Nos municípios com menos de 200 mil eleitores, os chefes do executivo seriam eleitos, em turno único, por maioria simples. Estabeleceu, ainda, que o período de mandato do presidente seria de cinco anos, vedando-lhe a reeleição para o período subsequentemente, e fixou a desincompatibilização até seis meses antes do pleito para os chefes do Executivo [...] que quisessem concorrer a outros cargos.

No que se refere aos partidos políticos, foi ela que, pela primeira vez, conferiu aos partidos o caráter de pessoa jurídica de direito privado, outorgando-lhes ampla autonomia do ponto de vista da sua auto-regulamentação e autogestão, sendo livre a criação, fusão e cancelamento de registros de partidos.

Ao longo dos anos e períodos abordados, houve a necessidade de aprimoramento dos sistemas eleitorais concomitantes com as elaborações das Constituições. Esta teve papel fundamental quanto ao enriquecimento do Direito Eleitoral à democracia para com os eleitores brasileiros. (BOAS, 2016).

Cabe, assim, elucidar as principais normas deste novo período, tais como: “[...] principio da igualdade de todos perante a lei; [...] liberdade de expressão e do pensamento, sem censura, salvo em espetáculos e diversões públicas; [...] inviolabilidade do sigilo de correspondência; [...] liberdade de crença e de cultos religiosos [...]”. (BOAS, 2016, p. 51).

A redemocratização, como bem já diz, trouxe de volta a democracia política que anteriormente foi limitada pelo governo militar. Para esse novo momento, a Constituição de

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1988 estabeleceu sobre plebiscito a alternativa de escolha entre república ou monarquia, e entre presidencialismo ou parlamentarismo, o que culminou na fixação do Brasil como república presidencialista. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 62).

Em complemento a algumas normas que caracterizaram este período, há:

A Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990. Também conhecida como Leis das Inelegibilidades, estabeleceu, em acordo com o art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidades, prazos de cessação para proteger a normalidade e a legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico e do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta e indireta.

A Emenda Constitucional nº 4, de 14 de setembro de 1993, estabeleceu que a lei que alterasse o processo eleitoral somente seria aplicada um ano após sua vigência. A Emenda Constitucional de Revisão nº 5, de 7 de junho de 1994, alterou o mandato presidencial [...] para quatro anos. [...] a Lei nº 8.713 [...] regulou as eleições para todos os cargos.

A Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, que disciplina o art. 17 da Constituição Federal, dispõe, dentre outros assuntos, sobre a criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos.

A Emenda [...] nº 16, de [...] 1997, possibilitou a reeleição para cargos de prefeito, governador e presidente. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 65). A Lei das Eleições de n.º 9.504, de 1997, por sua vez, estabeleceu data para as eleições, bem como para:

[...] os cargos que estarão em disputa, os critérios para o reconhecimento do candidato eleito, em eleições majoritárias, e ainda, normas sobre coligações partidárias, período para as convenções partidárias de escolha de candidatos, prazos de registro de candidaturas, forma de arrecadação e aplicação de recursos, prestação de contas, pesquisas pré-eleitorais, propaganda eleitoral e fiscalização das eleições; veda determinadas condutas a agente públicos [...]. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 65).

De forma ampla, a Lei das Eleições, disciplinou a matéria relacionada às eleições, deixando de ser necessária leis para regulamentar determinado pleito. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 65).

Dentro das eleições advindas desta nova democracia, “[...] tiveram a propaganda eleitoral em um espaço cada vez virtual e informatizado. Da panfletagem tradicional, passando pela televisão e agora pelas redes sociais e internet, a discussão política está definitivamente embrenhada aos novos meios tecnológicos [...]”. (CAJADO; DORNELLES; PEREIRA, 2014, p. 66).

Compilando este sistema, Cajado, Dornelles e Pereira (2014, p. 68) também expõem que, conforme os anseios da sociedade, o cenário televisivo e virtual ganhou mais destaque, influenciando, assim, em outros aspectos em relação ao voto. Pode-se, assim dizer, que a informatização eleitoral é um grande instrumento aliado à democracia. Por base, a urna eletrônica é fragmento ágil positivo desta informatização, pois através desta o sistema eleitoral se tornou mais amplo e moderno.

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Quanto aos Sistemas Eleitorais mais executados, abordar-se-á sobre uma breve conceituação dos mesmos:

[...] Majoritário: também chamado de sistema de maioria, no qual, apurados os votos em uma determinada região ou circunscrição eleitoral, os mais votados são, em regra, eleitos para o mandato (exemplo no Brasil: eleição para presidente da República, governador, prefeito e senador).

[...] Proporcional: o número dos eleitos é diretamente proporcional à votação obtida pelo partido ou coligação. O principal instrumento do sistema proporcional é o chamado quociente eleitoral, que é determinado dividindo o número de votos válidos apurados pelo de vagas a preencher em cada circunscrição eleitoral (exemplo no Brasil: eleição para deputado federal, estadual e vereador).

[...] Misto: procura associar as fórmulas dos modelos proporcional e majoritário nas eleições para o Legislativo, ou seja, elege-se parte pelo sistema majoritário dentro de uma circunscrição ou distrito previamente definido e outra parte pelo sistema proporcional por lista aberta ou fechada. (SENADO FEDERAL, p. 13, grifo do autor).

Cada sistema estabelece meios de instrução de como cada eleição se efetuará. Assim também como cada partido se estabelecerá em determinada quantidade de representantes nos cargos políticos disponíveis. Igualmente, pela sistemática eleitoral, além dos sistemas majoritário, proporcional e misto, pode-se assimilar tal feito com as chamadas listas de candidatura. Esta, por sua vez, nada mais é que a lista apresentada, pelo partido ou coligação, de seus candidatos inscritos dentro do previsto legalmente. Conforme nos exemplifica o Senado Federal (2018, p. 13, grifo do autor), podendo a lista ser dada de tal forma:

Aberta: o eleitor vota no candidato, sendo a ordem dos eleitos definida de acordo

com a quantidade de votos por cada um. São considerados eleitos os mais votados dentro de um número de vagas definido pela quantidade de votos recebida pelo partido ou coligação.

Fechada: o eleitor vota no partido e a ordem dos eleitos é definida previamente pelo

próprio partido, sendo os eleitos os primeiros da lista dentro de um número de vagas definido pela quantidade de votos recebida pelo partido. Vários países que adotam esse sistema estabelecem, por lei ou por decisão partidária, uma alternância entre gênero, o que tem sido decisivo para uma maior presença das mulheres no parlamento.

Mista: o eleitor vota duas vezes, em um partido e em um candidato, sendo que,

dentro de um número de vagas definido pela quantidade de votos recebidos pelo partido, uns serão eleitos pela quantidade de voto recebido individualmente e outros, pela ordem estabelecida previamente na lista partidária.

Em relação à representação, a lista de candidatura fechada proporciona uma maior inserção da mulher como representante política, pois a escolha dos representantes se dará pelo próprio partido. O eleitor vota no partido e dentro desses votos escolherão, de forma homogenia e igualitária de gênero, os seus representantes. Neste caso, é diferentemente da lista de candidatura aberta, em que o eleitor vota no candidato do partido, porém se este candidato, dentro do partido, estiver em porcentagem de votos sendo um dos últimos da sua lista partidária, não terá chance devido à forma como é procedida determinada escolha

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definida de acordo com a quantidade de votos recebida por cada um. (SENADO FEDERAL, 2018, p. 13).

No que aufere à divisão territorial nacional, em relação às candidaturas municipais, estaduais e federais, tem-se no Brasil “[...] as circunscrições eleitorais nas eleições para governador, deputado federal [...] estadual e senador. Nos municípios [...] se dá pela escolha do prefeito e vereadores. [...] para presidente do país, o Brasil se transforma em uma única circunscrição eleitoral”. (SENADO FEDERAL, 2018, p. 14).

No Brasil, o sistema atual estabelecido é o proporcional, majoritário, de lista aberta e se estabelece em circunscrição eleitoral. (SENADO FEDERAL, 2018).

O presente capítulo buscou abarcar, historicamente, a política nacional através da evolução do sistema eleitoral brasileiro para maior enriquecimento dos capítulos que seguem.

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3 REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA BRASILEIRA

O presente capítulo visa apresentar a trajetória inicial da mulher em relação às questões políticas no Brasil, através do movimento sufragista, bem como destacar quais foram as mulheres pioneiras frente ao movimento de reivindicação do direito de votar e de ser votada.

Ainda hoje, é perceptível que, em termos proporcionais, existe um número maior de homens na política do que de mulheres, embora a relação de eleitores brasileiros seja, comprovadamente, de maioria feminina. (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA, 2013).

O marco inicial das discussões sobre a participação feminina na questão política, em torno do direito do voto, foram os debates que antecederam a Constituição de 1824. Esta Constituição não estabelecia a possibilidade de a mulher votar, porém, também não expressava proibição quanto à possibilidade da mulher em exercer esse direito. (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA, 2013).

Sobre o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (2013), supõe-se que as diversas elaborações da Constituição, ao longo do tempo, calcificaram a relação política do Brasil. Através destas, percebe-se que elas possibilitam, ainda, voltar no tempo, e, assim, estudar e analisar o que defendiam para que se possa, no presente, e, consequentemente, de acordo com a evolução e necessidade da população, questionar e consolidar novos e mais aceitáveis meios de democracia para com a população dento do cenário político nacional.

Da mesma maneira, Menuci (2017, p. 1) relata que

A imagem de dependente do homem sempre foi atrelada às mulheres, elas precisavam de um parceiro para poder existir na sociedade. As mulheres que mal completavam os estudos já casavam, saindo da casa dos pais para o lar onde iriam construir suas famílias. A mulher era definida por característica que corroboravam essa dependência masculina, fazendo-as acreditarem que eram o sexo frágil e que precisavam de um homem para ampará-las. Tomando por emoções, influenciadas por paixões, se envolvendo e se sensibilizando com todos que necessitam, todas essas fraquezas definiam uma mulher, características que atribuíam a ela fragilidade, pena e necessidade de proteção.

Em razão dos anos de indiferença social e desigualdade entre homens e mulheres, surgiu o movimento pelo qual as mulheres se uniriam, em busca de conquistar seus direitos políticos. Direitos esses que até então eram de total alcance somente aos homens. Deu-se assim, o surgimento do movimento feminista, mais conhecido pela luta do voto feminino: o movimento sufragista. O “[...] início desse movimento ocorreu [...] quando as mulheres

Referências

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