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A política de cotas reflete o resultado da força do movimento sufragista feminino que fora fortalecido pelas ações afirmativas existentes no Brasil. (MARTINS, 2007).

Importante destacar, logo de início, a existência de dois tipos de cotas em relação à classificação das ações afirmativas em prol das mulheres. Assim, há a forma de como “ocorre a apresentação dos candidatos para a eleição; e a [...] que diz respeito à maneira que os assentos parlamentares são distribuídos. As cotas podem incidir em qualquer das fases, tanto sobre candidaturas, quanto [...] a reserva de assentos”. (MARTINS, 2007, p. 18-19).

Não é de hoje que o Estado Brasileiro vem realizando a Política de Cotas com o objetivo de garantir a presença de mais representantes mulheres em processos eleitorais. Este movimento vem ocorrendo desde os anos 90, com a criação da Lei de cotas n.º 9.100/95, que “estabelecia a inclusão de uma porcentagem de no mínimo de 20% das vagas para as mulheres na lista partidária. Naquele momento a aprovação dessa lei se deu quase que natural e não conflitante durante a sua aprovação [...]”. (NOGUEIRA, 2014, p. 6).

Pode-se dizer que o que se passava no momento era o período pós-feminista. Não se tinha mais as características do movimento rebelde. O tempo era mais calmo, sem tamanha intolerância dos movimentos anteriores. A concepção desse processo pacífico nada mais foi que o resultado do movimento inicial sufragista e, posteriormente, constituído por uma geração de candidatas vistas como um novo patamar, em uma nova ordem na qual as mulheres, não só politicamente, estavam tomando seu espaço. (BOLOGNESI, 2012 apud NOGUEIRA, 2014).

Contudo, a implementação desta referida Lei de Cotas no Brasil se deu

Para atender a Plataforma de Ação Mundial da IV Conferência Mundial da Mulher [...] assinada pelo Brasil [...] foi incluído um dispositivo de cotas n. 9.100 [...] de 1995, que estabelecia eleições legislativas municipais seguintes. Tal Plataforma recomendava ações afirmativas para a aceleração da diminuição das defasagens quanto às exclusões das mulheres dos centros de poder político. (MARTINS, 2007, p. 21).

Para Martins (2007, p. 21),

A lei n. 9.100 estabelecia que 20% (vinte por cento), no mínimo, da lista de cada partido ou coligação deveria ser preenchida por candidaturas de mulheres. No entanto, a negociação para a aprovação da cota resultou também em um aumento do número de candidatos que os partidos/coligações pudessem lançar em cada pleito, de

100% (cem por cento) como era anteriormente, para 120% (cento e vinte por cento) do número de lugares a serem preenchidos.

Neste sentido, cabe enaltecer a Lei em seu contexto Legal:

Art. 11. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a Câmara Municipal até cento e vinte por cento do número de lugares a preencher.

§ 1º Os partidos ou coligações poderão acrescer, ao total estabelecido no caput, candidatos em proporção que corresponda ao número de seus Deputados Federais, na forma seguinte:

I - de zero a vinte Deputados, mais vinte por cento dos lugares a preencher; II - de vinte e um a quarenta Deputados, mais quarenta por cento;

III - de quarenta e um a sessenta Deputados, mais sessenta por cento; IV - de sessenta e um a oitenta Deputados, mais oitenta por cento; V - acima de oitenta Deputados, mais cem por cento.

§ 2º Para os efeitos do parágrafo anterior, tratando-se de coligação, serão somados os Deputados Federais dos partidos que a integram; se desta soma não resultar mudança de faixa, será garantido à coligação o acréscimo de dez por cento dos lugares a preencher.

§ 3º Vinte por cento, no mínimo, das vagas de cada partido ou coligação deverão ser preenchidas por candidaturas de mulheres.

§ 4º Em todos os cálculos, será sempre desprezada a fração, se inferior a meio, e igualada a um, se igual ou superior. (BRASIL, Lei nº 9.100/95, 2018, grifo nosso). Ao mesmo tempo em que a legislação estabelecia cotas em prol da representatividade feminina, retratando a força do movimento, por outro lado, mesmo que pacífica, a iniciativa não deixou de polemizar, como bem intensifica Miguel (2000 apud VAZ, 2008, p. 41):

[...] a adoção de mecanismos que afirmam, recuperam e redistribuem os direitos, vem sendo aplicado para equilibrar as relações de gênero, raça/etnia, mesmo não sendo novidade, o tema [...] gera polêmica, quando a decisão passa por conceder uma maior divisão de poder. Assegurar cotas de no mínimo 20% para mulheres chefes de família terem preferência no recebimento de financiamento para a casa própria é algo tranqüilo, o problema é assegurar cotas para que as mulheres interfiram diretamente nos destinos dos financiamentos. Beneficiar as mulheres é uma coisa, compartilhar com elas o poder de decisão sobre a implementação de políticas é outra.

A aplicação desta Lei não teve o resultado esperado, pois “[...] nas eleições seguintes não houve melhoras e [...] os 20% iniciais não estavam em conformidade com as demandas vigentes”. (NOGUEIRA, 2014, p. 6).

Posterior a esse resultado, havia a necessidade de criar, mudar ou tão somente, melhorar a referida Lei, a qual ainda era vista como a melhor alternativa para se obter uma maior participação na política. Assim, de acordo com Nogueira (2014, p. 6-7),

[...] em 1997, esse dispositivo que garantia os 20% foi revisado pela Lei nº 9.504 na qual foi estendida a medida para cargos eleitos por votos proporcionais, aumentando a participação de 20% para agora 30% no mínimo e no máximo 70% para ambos os sexos, além disso, é necessário salientar, que a lei só estabelecia uma porcentagem e não obrigava os partidos a preencherem essa quantidade citada. Na verdade, o que inicialmente essa lei refletiu foi a concessão por parte do Congresso a uma pressão vinda dos movimentos feministas, mas, no primeiro momento, não houve mudança no cenário político.

Notável a revisão da Lei n.º 9.100/95 para a Lei n.º 9.504/97, que trouxe mudanças em vários aspectos de forma tímida, mas positivas. Bem como, quanto ao mínimo estabelecido para preenchimento de cargos partidários, passando de 20% para 30%, e estabelecendo um máximo de 70%, que antes não se indicava. Além disso, deixou de ser apenas direcionada a esfera política municipal, ampliando seu alcance. (NOGUEIRA, 2014, p. 6-7).

Cabe elencar, para melhor compreensão, a referida alteração legal:

Art. 10. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 150% (cento e cinquenta por cento) do número de lugares a preencher, salvo: (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

[...] [...]

§ 3o Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido

ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009). (BRASIL, Lei 9.504/97, 2018).

A Lei n.º 9.504/97 objetiva “[...] assegurar um mínimo [...] de representatividade de cada sexo nos pedidos de registro de candidaturas femininas [...] embora a lei permita o preenchimento das vagas parietalmente por homens e mulheres, ou até mesmo majoritariamente por mulheres [...]”. (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA, 2017).

A passagem da Lei no âmbito das eleições municipal à abrangência a todas as eleições, foi inicialmente discutida a partir da necessidade de alteração da primeira Lei de Cotas. Vaz (2008, p. 48) relata o momento:

Durante a discussão do projeto de lei que regulamentava as eleições para a Câmara de Vereadores e Prefeituras, o tema da participação políticas das mulheres passa a ser debatido na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Na Câmara dos Deputados o debate começa a partir da apresentação do projeto de lei que sugeria a inclusão de artigo no Código Eleitoral Brasileiro assegurando a cota de 30% em todas as eleições proporcionais [...].

Há quem defenda a ideia de que o que determina a Lei de Cotas nada mais é do que a afirmação de incapacidade da mulher, que, por própria conta, não conseguiria se estabelecer dentre os homens na política brasileira. Assim, tocante a esse entendimento, Vaz (2008, p. 51) relata o discurso da Deputada Maria Laura (PT/DF) sobre seu equívoco em ser contra tais medidas à necessidade do reconhecimento “[...] de se ampliar os mecanismos de igualdade de participação das mulheres na atividade política [...],” reformulando, assim, um novo exame da sua posição:

Fui daquelas que entenderam, durante muito tempo, que não deveria existir esse dispositivo em lei. Mas hoje estou convencida de que, dado o alto grau de discriminação ainda existente em relação à participação das mulheres em vários

níveis [...] especialmente no tocante [...] à participação política -, são necessários mecanismos que dêem proteção à ampliação dessa participação. Por isso, é de maior importância que a lei eleitoral brasileira contemple esse mecanismo. (VAZ, 2008, p. 51).

A Lei n.º 9.504/97, mesmo com sua alteração, não é vista pelos partidos como obrigatoriedade ao preenchimento do mínimo exigido. Sua alteração se deu da seguinte forma em 2009: “o art. 10 [...] 3º, da lei das Eleições tem sua redação alterada, substituindo-se a expressão ‘deverá reservar’ por ‘preencherá’ o mínimo estabelecido para ambos os sexos”. (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SANTA CATARINA, 2017).

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