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Os entrevistados foram questionados quanto à participação dos mesmos e/ou dos seus colaboradores, em algum curso de treinamento e capacitação de recursos humanos, nos últimos três anos. Em suas respostas apareceram as seguintes instituições: Ministério do Turismo, SEBRAE, EMATER, SENAC, SENAI, SESI, AHTURR e UFSM.

[...] todos os setores de turismo: ecoturismo, artesanato, hospedagem, restaurantes, todos os setores se trabalhou [...] meios de hospedagem, na questão dos restaurantes, a gente teve muitas reuniões e questões práticas [...] muitos outros empreendedores que começaram juntos, na verdade depois pararam, porque o Sebrae puxava o pessoal. Eles tinham os técnicos que coordenavam os encontros. Nós trabalhamos todos os 9 municípios juntos, mas de certo modo, cada um por si. Então, quando chegou numa fase de integrar, todos os municípios, pro turismo começar a funcionar mesmo, mas daí mudou os governos municipais. Era uma coisa irrisória que as prefeituras tinham que repassar pro Sebrae [...] Eu, como eu sempre me virei sozinho, eu continuei. Mas muita gente parou. (Empresário AZ).

O Qualifica Brasil, que foi via Ministério do Turismo. Foi aproveitado, tinha bastante coisa que a gente não conhecia [...] Fizemos agora o da vigilância e fizemos “boas práticas” também [...] (Empresário BY).

[...] a Emater sempre capacitou para a produção de conservas e dos doces, de receitas, eles já têm uma prática porque as comunidades se reúnem pra fazer o almoço das festas, então elas sabem fazer comida pra bastante gente, o que eu fiz foi dar dicas pra não usarem tanta gordura, vamos usar o que vocês têm, não vamos comprar maça pra botar no café, tem fruta da época, tem figo, então eu faço reuniões com eles, bem antes e próximo do evento [...] (Empresário DN).

Um dos objetivos do plano estratégico do SEBRAE é a capacitação dos empresários da área de turismo, hotelaria, gastronomia, e dentro desta ideia nós começamos a montar, junto com a AHTURR, um plano de capacitação buscando empresários para participar. Nós estamos trabalhando com uma meta de 20 empresas no mínimo, e já estamos com 13 empresas [...] (Representante do SEBRAE).

[...] A Emater trabalha com o turismo rural, o Sebrae na qualificação, o Senai tem trabalhado com alguns cursos, o Sesi, o Senar. Então, acho que todo esse conjunto tem nos ajudado. Nós tivemos um projeto muito grande, bancado, uma parte pelos municípios, mas o maior percentual com recurso do governo federal, através do Sebrae. Foi quando se mexeu realmente com toda essa região. E hoje nós estamos qualificando as agroindústrias, através da Abengoa11, com recurso de medidas compensatórias [...] (Político A – São João do Polêsine).

Curso é o que a gente mais faz, é SEBRAE, é SENAC, todo curso se aprende alguma coisa, às vezes até relembra o que já tinha esquecido, porque tu se acomoda às vezes, os funcionários também fazem [...] (Empresário GT).

[...] Nos últimos anos, fizemos o Qualifica Brasil, mais antigo, de 2010, fizemos um curso do Senac de Boas Práticas, acho que esses foram os últimos (Empresário LO). Eu trabalhei em 2005 e 2006, não naquele projeto grandioso do SEBRAE, mas ainda tinha ações, foi no projeto da Casa da Quarta Colônia, uma das reivindicações de todos os secretários é o retorno do SEBRAE, eu acho que todos os municípios precisam. (Político C – Dona Francisca).

[...] Teve várias ações, com o SEBRAE, com a UFSM, capacitamos uma quantidade de agricultores nos municípios pra diversificação, os municípios botaram dinheiro, o governo federal, através do MDA e capacitamos todo esse pessoal por ai, a ideia era

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Abengoa Brasil é um grupo de negócio de engenharia, construção e infraestruturas de tipo concessional, uma companhia que aplica soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável nos setores de energia e meio ambiente, gerando eletricidade a partir do sol, produzindo biocombustíveis, dessanilizando água do mar e reciclando resíduos industriais. Disponível em: http://www.abengoabrasil.com/web/pt/quem_somos/nossa_companhia/abengoa_brasil, acesso: 01 de maio de 2014.

criar a Casa da Quarta Colônia, obra do CONDESUS, era pros agricultores formarem uma cooperativa, chegou no final e eles não quiseram, depois que estavam capacitados, uns quiseram trabalhar por conta, montaram um negocinho aqui, um negocinho ali, viram que não ia adiantar porque sabiam que não ia adiantar trabalhar pra cooperativa porque eles iam produzir e tinha 10 que não queriam, e aqueles 10 iam quebrar a cooperativa, então, eu vou por conta, e foi o que aconteceu [...] (Presidente do CONDESUS – Prefeitura de Dona Francisca).

Constatamos que muitos dos entrevistados relatam com aprovação o trabalho do SEBRAE na região, apesar de ter ocorrido já há bastante tempo, no período de outubro de 2002 a março de 2003, é recorrente em diversos momentos das entrevistas e permeia o discurso dos atores ora do setor público, ora do privado, de que eles gostariam que essa instituição voltasse com as capacitações específicas para o setor de turismo. Porém, esse trabalho também teve dificuldades no momento de integrar os municípios, muitos estavam trabalhando sozinhos, faltou confiança entre os produtores rurais para concretizar o projeto da Casa da Quarta Colônia. Alguns agricultores preferiram abrir o seu próprio ponto de comercialização, fizeram as capacitações, prepararam-se, mas depois optaram por abrir o seu próprio negócio, “seguir por conta”, o que acarretou na necessidade de um município assumir o espaço, no caso Restinga Sêca, acabando por licenciar o ponto comercial para apenas um empresário local.

Para Putnam (2000), a confiança é a expectativa de reciprocidade que as pessoas de uma comunidade têm acerca do comportamento dos outros, baseadas em normas compartilhadas. Neste caso, um não confiou no outro para que o projeto se tornasse uma realidade e não quiseram comprometer-se de forma associativa. Na concepção de Coleman (1990) apud Fukuyama (1996), a capacidade de associação depende do grau em que as comunidades compartilham essas normas e valores e mostram-se dispostas a condicionar interesses individuais aos de grupos, aparecendo, assim, a confiança, que, no entender do autor, tem um precioso valor econômico.

Destacamos que, conforme relato do representante do SEBRAE, não há previsão de atuação por parte deste na área de turismo na Quarta Colônia, no momento eles estão atuando em alguns projetos na cidade de Santa Maria, atendendo a temática de organização e gestão de empresas de eventos, e, futuramente, será ofertada a capacitação para o setor, construindo em parceria com a AHTURR.

Observamos que não há cursos demandados pelos próprios atores e sim cursos que estão prontos, no catálogo das instituições, não há uma reflexão e planejamento para definir

demandas de capacitação e qualificação que sejam uma necessidade coletiva por parte dos empresários da região.