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Os atores foram questionados sobre como percebem as relações estabelecidas entre a cidade polo, que é Santa Maria, e os municípios da Quarta Colônia em prol do desenvolvimento do turismo na região. Alguns deles reconhecem a importância que tem a logística da cidade de Santa Maria para a microrregião, em especial, quanto aos serviços turísticos de meios de hospedagem, opções gastronômicas e espaços de entretenimento. Os gestores de Santa Maria destacam o potencial paisagístico, cultural e patrimonial da microrregião da Quarta Colônia, o qual vem a somar na oferta turística regional para a cidade

polo Santa Maria. Todavia, o que os relatos trazem são ações insuficientes e pontuais de integração, como, por exemplo, ações em eventos onde se dá a participação da promoção regional de forma integrada, Santa Maria e Quarta Colônia, sendo necessário avançar para uma articulação política institucional integrada, essenciais ao trabalho em “rede” conforme apontam Casarotto Filho e Pires (1999). Segue alguns trechos dos relatos dos entrevistados:

[...] Santa Maria se relaciona mais com Silveira, não sei o grau de relacionamento com Faxinal, Polêsine, Dona Francisca, porque acho que foi os próprios municípios da Quarta Colônia que fizeram esse isolamento, anos atrás. Porque Santa Maria mesmo sendo a maioria de colonização italiana, ela nunca pertenceu a Quarta Colônia, porque a Quarta Colônia se intitulava de Silveira para lá [...] eles ficaram acho que meio assim, porque se Santa Maria participasse, os turistas não iam comprar nada lá, Santa Maria tem muito mais comércio pra eles gastar, então ficaram assim, meio arredios. E outra: há muitos anos atrás, eu não sei se vocês notaram que a briga era quem ia comandar a Quarta Colônia. [...] (Empresário BY). Eu acho que a gente tem um apoio sim, porque olha, o município de Santa Maria nos dá oportunidade, como a FEISMA, que é uma feira que é realizada lá, então eles nos incentivam [...] (Empresário CX).

[...] pra mim, a região Quarta Colônia tem o seu APL, a região Santa Maria tem outro, tá ligada a Mata, São Pedro, até mesmo pelo acesso, e daí tu uni, mas agora construir junto não dá, porque é muito diferente, por causa de certas lideranças locais, que já estão trabalhando Quarta Colônia a muito tempo, trazendo projetos e que não agrega com o institucional de Santa Maria [...] porque não dois APLs? Porque já existe uma construção de microrregião Quarta Colônia, esse selo Quarta Colônia já é forte, isso puxaria um APL [...] a construção a partir do que já existe aqui facilita muito mais, entre os nove municípios [...] (Empresário DN).

Acho que deveria ter uma articulação maior entre as instituições. Não se vê muitas ações assim, mais parcerias, como a da rota que envolve dois municípios, deveriam ser incrementadas. (Empresário LO).

Na prática, a coisa não desenvolve. A gente faz reunião com todos os secretários de turismo, terminou a reunião: pronto. Na prática, a coisa não acontece. Todo mundo tem boa vontade, mas dentro da sala onde a gente tá na reunião. Mas depois que a gente sai da reunião, parece que esquecem. (Representante da AHTURR).

[...] A Quarta Colônia demonstra que não pode se vincular a Santa Maria, porque Santa Maria é muito grande, e pode perder terreno, é uma visão errônea da coisa. Muitas ações dos consórcios que envolveria Santa Maria e a região como um todo né. E eles acabam meio que se isolando lá [...] Santa Maria é um polo de onde tem toda a estrutura que poderá ajuda-la. E eles também têm que entender que eles precisam de Santa Maria. E Santa Maria sabe que sozinha, sem um produto maior que englobe a região, não vai conseguir desenvolver [...] Eu acho que o CONDESUS, tu vai falar com a pessoa lá, eu tenho minhas dificuldades [...] quem administra o CONDESUS são os prefeitos. Os prefeitos estão envolvidos em seus municípios com seus problemas e acabam não se interando mais das coisas [...] Mas ainda acho que o problema tá no gerenciamento do Consórcio [...] (Representante do COREDE).

Olha, na verdade, a parte assim organizacional pública está distante, pela dificuldade do que é uma gestão de cidade grande, com uma cidade pequena. [...] Mas Santa Maria, hoje, é o nosso ponto de apoio, porque a parte de hotelaria principalmente está em Santa Maria [...] tem também como outro ponto ao contrário, busca uma região de colonização italiana ou alemã – no caso de Agudo – vão conhecer algo que continua ainda ‘primitivo’ eu diria assim com a sua originalidade [...] é que nós não sabemos como vamos nos integrar ainda, com eles do setor público, mas a iniciativa privada está diretamente conosco né, nos intercâmbios, enfim. A própria vinda dos turistas pro polo é um trabalho efetivo que nós fazemos com Santa Maria, com as irmãs Schoenstatt [...] as nossas festas, elas sobrevivem da população de Santa Maria praticamente [...] (Político A – São João do Polêsine).

Muito embora, eles estejam tentando separar a Quarta Colônia da região Central, do Vale do Jaguari, das Águas da Serra, com pequenas unidades [...] percebo que eles entendem que estão sendo desprestigiados, acham que na formação desse grupo, da região, eles não estariam devidamente reconhecidos ou contemplados, e se dissociando de Santa Maria, apareceriam mais e teriam um melhor resultado [...] eu acho muito equivocadas, sabe? Porque Santa Maria, sozinha, não anda! [..] Tanto é que aquele famoso exercício de o que temos para fazer em Santa Maria, ele continua igual, depois de tantos anos que estamos aqui “temos a Basílica, a Vila Belga, a Gare e temos a Quarta Colônia”. É como se a Quarta Colônia fosse um bairro, também de Santa Maria [...] é um equívoco, não é tempo ainda de desmembrar [...] (Político B – Santa Maria).

[...] o pessoal de Santa Maria se esforça, vem aqui, procura, mas eu vejo uma restrição grande, por parte dos gestores, e até dos secretários municipais que não entendem muito essa relação, eu acho que nós ganhamos e Santa Maria ganha. Santa Maria vai fazer um evento, tem capacidade pra isso, tem rede hoteleira, bem maior do que nós todos juntos aqui, mas ele não tem muito turismo e precisa de nós pra ofertar [...] só não pode vir com o bolo pronto pra fatiar, tem que ser feito pelos gestores, construído por eles, daí vai dar certo, senão o pessoal questiona, o que Santa Maria quer? Tirar o brio? Não é isso, só que enquanto aqui tá todo mundo pensando no seu umbigo, Santa Maria é maior, tem muito mais gente, tem a rota, intercâmbio, as universidades, as próprias empresas de turismo que já trouxeram tanta gente pra cá [...] (Político C – Dona Francisca).

Alguns dos gestores públicos da Quarta Colônia não visualizam uma união com Santa Maria, por meio de uma integração político-institucional, por entenderem que as diferenças de uma cidade polo inibiriam as iniciativas dos municípios de pequeno porte da microrregião. Enquanto outros gestores acreditam que tal integração só traria ganhos, são a favor da integração e exemplificam que a articulação de uma cidade polo emanaria naturalmente para a microrregião. Conforme afirma Favareto (2006), um dos fatores que contribuem para a ocorrência de bons indicadores de desenvolvimento territorial é o aproveitamento do dinamismo gerado a partir da vitalidade dos espaços urbanos próximos.

As aglomerações produtivas, tecnológicas e/ou inovativas, tais como distritos industriais, clusters, arranjos produtivos locais, entre outras (CASSIOLATO; SZAPIRO,

2003) são formações propícias a interações. Ocorre “troca de conhecimento e aprendizado, por meio de diversos, tais como mobilidade local de trabalhadores, redes formais e informais, existência de uma base social e cultural comum que dá o sentido de identidade e de pertencimento” (ALBAGLI; MACIEL, 2004, p. 11).

Os relatos abordam questões como divergências políticas entre os municípios da Quarta Colônia pela liderança da região, dificuldades de colocar em prática as ações propostas em muitos encontros de planejamento regional e que tais tentativas não funcionam quando um dos atores traz as ações prontas, sem a construção de forma coletiva, como, por exemplo, quando representantes de instituições da cidade de Santa Maria levam propostas fechadas não conseguem aceitação, conforme relato: “não pode vir com o bolo pronto pra fatiar”, só para dividir a conta, tem que construir no coletivo.