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A abordagem territorial do desenvolvimento dialoga com diferentes noções da chamada economia da proximidade: as concepções de Clusters (grupos, agrupamentos ou aglomerados); Distritos Industriais, Aglomerações e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais; Sistemas Locais de Produção (SLP); e Arranjos Produtivos Locais (APLs). Tais concepções

são adotadas e aplicadas de acordo com as especificidades territoriais de cada país/localidade e a corrente teórica/acadêmica a que pertence, a exemplo, a abordagem Neo-schumpeteriana com os Sistemas Locais de Produção, já no caso italiano com os Distritos Industriais, também a teoria da escola de Harvard com os Clusters, e, por fim, o enfoque brasileiro com os Arranjos Produtivos Locais.

Para perpassar tais concepções trazem-se as suas diferenciações. Os distritos industriais caracterizam-se como um local específico para a instalação de empresas, geralmente determinado pelo poder público. Trata-se de aglomerado territorial de empresas do mesmo ramo ou de ramos similares ou muito parecidos, em que mão-de-obra especializada, insumos e prestação de serviço estão facilmente disponíveis e inovações rapidamente tornam-se conhecidas. Lastres, Cassiolato e Arroio (2005) identificam como principais características dos distritos industriais contemporâneos: i) proximidade geográfica; (ii) especialização setorial; (iii) predominância de pequenas e médias empresas; (iv) estreita colaboração entre firmas; (v) competição entre firmas baseada na inovação; (vi) identidade sociocultural com confiança; (vii) organizações de apoio ativas, para prestação de serviços comuns, atividades financeiras, etc.; e (viii) promoção de governos regionais e municipais.

Cluster significa agrupamento, coleção, reunião, cacho, etc. Termo anglo-saxão que sintetiza conceitos e estratégias locais de desenvolvimento, mas extrapola o âmbito das pequenas e médias empresas (PMEs). Trata-se de um conjunto numeroso e localizado de empresas, operando em regime de intensa cooperação, em que cada uma das firmas executa um estágio do processo de produção. Envolve também o relacionamento com instituições correlatas que apoiam o aglomerado (PORTER, 1993).

Para Beni, um dos pioneiros no Brasil que apresenta a reflexão entre o tema no turismo, um cluster de turismo é: “um conjunto de atrativos de destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços e qualidade, com excelência gerencial, concentrado num mesmo espaço geográfico delimitado […]” (1998, p.2). O conceito de clusters de turismo relaciona-se com uma alta integração vertical, horizontal e interdisciplinar que ocorre na atividade turística e, para que se atinja a competitividade, deve-se realizar uma abordagem sistemática de formatação dos produtos turísticos capaz de assegurar que a oferta seja o instrumento mais completo possível de satisfação das necessidades da demanda por meio de um modelo flexível, capaz de traduzir os conceitos de segmentação, multidestinação e destinação múltipla (BENI, 2006).

O Sistema Produtivo Local (SPL) é uma nomenclatura para indicar grande número de firmas, no mesmo território, na maioria, de pequeno porte, envolvidas em vários estágios,

com articulação e aprendizagem entre si e outros atores locais, para produção de produtos homogêneos. Barquero (2001) apresenta uma proposta de tipologias dos sistemas produtivos locais quanto aos aspectos territoriais e o tecido produtivo que se desenvolve nestes territórios, destacando quatro estágios:

a) Territórios que apresentam pontos fracos tanto no que se refere à sua capacidade empresarial quanto à potencialidade de resposta inovadora, tal como seria o caso de muitas áreas rurais; b) Territórios que dispõem de um sistema de empresas suficientemente bem organizado, ainda que precisando introduzir inovações para o fortalecimento de sua competitividade. Seriam os sistemas locais que passam por reestruturação produtiva; c) Territórios que apresentem pequena capacidade empresarial e/ou de organização do sistema de empresas locais, mas que tiveram sua posição fortalecida nos últimos anos graças a uma política tecnológica inovadora da vinda de projetos que se propõem a difundir as inovações; d) Territórios cujos pontos fortes residem na capacidade empresarial e organizacional, bem como na capacidade de resposta inovadora aos desafios da competitividade (BARQUERO, 2001, p.118).

Arranjo Produtivo Local (APL), derivado do sistema anterior (do SPL), significa uma aproximação do conceito à realidade brasileira, uma vez que as aglomerações brasileiras apresentam-se ainda em estágio inicial de interdependência, entre as empresas e entre estas e instituições de fomento. A consolidação do arranjo depende dos seguintes elementos essenciais: território, capital social, organização produtiva, articulação político-institucional e estratégia de mercado.

De acordo com Tomazzoni (2007, p.52), “a visão sistêmica da concentração regional das atividades produtivas é uma estratégia relevante para entender as variáveis que dificultam ou impulsionam o desenvolvimento”. O arranjo territorial é a forma organizada de uma determinada atividade no território. Tomazzoni (2007) define Arranjo Produtivo Local (APL) como um modelo aplicado no contexto das organizações, analisados sob a perspectiva das redes para entender os motivos pelo quais as aglomerações desenvolvem-se, dando visibilidade ao comprometimento das organizações públicas e privadas.

A concepção deSpínola (2003) a respeito da classificação dos arranjos produtivos é a seguinte: (A) com empresas âncora, são caracterizados pela existência de uma firma motriz que mantém fortes vínculos técnicos, comerciais e financeiros com um grupo de fabricantes ou prestadores de serviços; (B) os arranjos sem empresa âncora são aglomerados produtivos, geralmente formados por micro, pequenas e médias empresas de um mesmo setor de atividade, com maior ou menor grau de interação, onde não há uma empresa grande capaz de definir o caminho estratégico. Quanto ao nível de consolidação Spínola (2003) define: (A)

arranjo elementar ou básico, onde há uma rede de relacionamento entre os agentes com as instituições locais, mas também com conflito de interesses que não permite visão estratégica e coordenação entre os agentes; (B) o arranjo em fase de consolidação, onde embora haja maior sinergia entre as ações de seus agentes do que no arranjo elementar, o seu grau de coordenação é baixo; e o (C) arranjo consolidado ou maduro, onde há um alto grau de coesão e organização entre os agentes. Na articulação institucional dos arranjos produtivos locais, estão presentes órgãos governamentais e outras instituições, tais como universidades, escolas técnicas, agências de fomento e associações profissionais.

Alguns autores acreditam que os Arranjos Produtivos Locais não podem ser pré- fabricados ou criados, entretanto salientam que o setor público e as instituições coletivas desempenham papel chave na identificação e no incentivo ao fortalecimento. A identificação do Arranjo Produtivo Local está diretamente relacionada à capacidade de percepção, nos diversos lugares, da base cultural e social comum que, ligando agentes econômicos por meio de comportamentos, valores, regras e práticas cotidianas, potencialize a formação da atmosfera local voltada para a melhoria de condições do grupo ou comunidade.

No setor do turismo, considerando a gama de serviços que a atividade oferece, faz-se necessário observar o porte dos atores envolvido, o grau de interdependência entre eles e o seu poder de influenciar de uma forma positiva os acontecimentos ao longo do Arranjo Produtivo Local (APL). Os relacionamentos gerenciados com sucesso em um Arranjo Produtivo Local normalmente ocorrem como reflexo de ações bem sucedidas de cooperação e confiança, possibilitando melhores condições de coordenação das atividades.

Para os autores Fecha, Fusco e Silva (2011, p.1): “um APL de turismo é composto por uma variedade de serviços o que de certa forma poderia dificultar na busca de uma uniformidade ou alinhamento competitivo dos comportamentos dos seus integrantes”. A percepção de aglomerações de micro e pequenas empresas de setores diversos, com forte vinculação ao turismo não parece tarefa difícil, mas, a partir daí, consolidar as ações para dar a forma ao APL não se mostra tarefa fácil (CORIOLANO, 2009).

No âmbito das políticas públicas federais, o Ministério do Turismo, compreende rede como “[...] um conjunto de pontos interligados que tomam uma determinada forma de organização [...] de uma dinâmica que favoreça a integração entre pessoas ou instituições em torno de objetivos específicos” (2007, p.16). As redes são alternativas às formas de mercado, dispõem de interdependência de recursos e linhas recíprocas de comunicação, por meio de composições horizontais e verticais de troca. Porter (1998), por sua vez, define redes de

empresas como sendo o procedimento de organizarem-se atividades econômicas por meio da coordenação e/ou cooperação interfirmas.

A abordagem de redes permite a autoria do empresariado local em projetos de desenvolvimento, em parceria com instituições e organizações representativas do território. Tais empresas são apoiadas por instituições provedoras de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura. A interação entre elas e as instituições gera a capacidade de inovação e conhecimento específico por meio da constituição de uma rede. As principais características das redes correspondem a velocidade da comunicação, a decisão, a credibilidade entre os atores envolvidos, o espírito de inovação, a experiência, os benefícios mútuos, a confiança, as ações recíprocas e a estrutura formal.

Tanto Corrêa (1999) como Casarotto Filho e Pires (1999) concordam que a formação e a sobrevivência das redes depende do equacionamento destes três aspectos: a cultura da confiança, a cultura da competência e a cultura da tecnologia da informação. A cultura da confiança está ligada aos aspectos de cooperação entre as empresas, envolvendo aspectos culturais e de interesse de pessoas e de empresas. A cultura da competência refere-se às questões ligadas às competências essenciais de cada parceiro. E a cultura da tecnologia da informação significa que a agilidade do fluxo de informações é de vital importância para a implementação e o desenvolvimento de redes flexíveis.

A confiança é definida por Arruda e Arruda (1998) como sendo a crença de uma das partes em que suas necessidades serão satisfeitas, no futuro, por ações tomadas pela outra parte. Dessa maneira, confiança é uma forma de se ter com o parceiro um intercâmbio, sem toma-lo como um oportunista, e a sua constituição não pode ser imposta (FUSCO, 2004). Provavelmente, seu desenvolvimento pode implicar um processo de longo prazo, no sentido de que o ‘gerador’ da rede desenvolveria, pouco a pouco, relacionamentos pessoais e uma reputação de justiça. Isso explica porque muitas redes apresentam um forte componente geográfico ou cultural, porque é mais fácil desenvolver relacionamentos estreitos com alguém que possua um registro de integridade pessoal.

Para Abramovay (2003), a credibilidade está no fortalecimento dos vínculos fixados que permitem a ampliação da confiança e, portanto, o alargamento do próprio círculo de negócios e atores sociais. Confiança da própria identidade social dos atores, pela qual se define um território, sendo, portanto, mais que um conjunto de atributos objetivos de distância e localização, o território forma-se por uma rede de relações, de significados, de conteúdos vividos pelos indivíduos que permitem a construção de modelos mentais partilhados subjacentes ao sentimento de pertencer a um lugar comum. Assim, um ambiente de confiança

entre atores sociais oferece uma das bases mais sólidas para o desenvolvimento de uma região.