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A ação de improbidade administrativa e o ressarcimento do dano

A EXTINÇÃO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PELO RESSARCIMENTO DO DANO AO ERÁRIO

5. A ação de improbidade administrativa e o ressarcimento do dano

A Lei de Improbidade Administrativa elucida dois tipos de procedimentos para apuração de condutas de improbidade: administrativo e judicial. Quanto ao procedimento administrativo, previsto entre os artigos 14 a 16 da Lei no 8.429/92, não há possibilidade de aplicação das sanções elencadas na lei, pois esta depende do ajuizamento da ação de improbidade administrativa para que dê azo à uma sentença determinando a punição a ser aplicada.

No que concerne ao procedimento judicial, regulado pelos artigos 17 e 18 da Lei de Improbidade Administrativa, constitui um procedimento especial de jurisdição contenciosa. Ao ser instaurado o processo, tem início a fase prévia em que ainda não há formação integral da relação processual, uma vez que ainda não há citação. Nesta fase o magistrado determina a notificação do requerido para que este se manifeste e apresente documentos, se desejar. A partir da manifestação do requerido o juiz pode: a) extinguir o processo, com resolução ou não do mérito; b) receber a petição inicial e determina a citação do réu para apresentar contestação. Ao final do processo pode ensejar a condenação do requerido na submissão a uma ou algumas sanções previstas na Lei de Improbidade que foram sinteticamente esmiuçadas acima.

182 O objeto do presente estudo versa sobre a extinção da ação de improbidade administrativa pelo ressarcimento do dano ao erário, assim, cumpre tecer alguns comentários sobre este tipo de sanção prevista na Lei de Improbidade Administrativa para, por fim, abordar a questão atinente à possibilidade da extinção da ação mediante a reparação do dano causado à pessoa jurídica.

Ab inicio saliente-se que pelo fato de esta sanção ostentar natureza indenizatória, somente

será aplicada nas hipóteses em que o autor da improbidade tenha causado danos ao erário. O Superior Tribunal de Justiça sumulou entendimento no sentido de que se aplica juros de mora e atualização monetária, cuja contagem se inicia na data do efetivo prejuízo (BRASIL. Súmula Nº 43, STJ, 1992).

Admite-se, também a indenização por dano moral no caso de improbidade administrativa (BRASIL. Súmula 227 do STJ, 1999). Há vozes dissonantes com relação à esta possibilidade, sob o argumento de que a multa civil e a perda de bens já estariam englobadas na indenização por dano moral (MARTINS, 2001, p. 266), entretanto, há de se entender que o autor do dano está sujeito à indenização por dano moral (ALVES; GARCIA, 2004, p. 471), bem como as demais sanções, cujos fundamentos são diversificados. A condenação do sujeito ativo ao pagamento de danos morais pela prática do ato de improbidade administrativa fundamenta-se na frustração causada pelo ato ímprobo à comunidade, bem como pelo desprestígio causado à entidade pública que experimentou o prejuízo (BRASIL. STJ, REsp 960.926, 2011).

Vale destacar, neste aspecto, a expressão patrimônio público utilizada na Lei de Ação Popular (lei no 4.717/65) como “os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico”. Infere-se, destarte, que determinados atos podem não ocasionar prejuízo material ao erário, mas ensejar ofensa ao patrimônio moral, o que é passível de reparação deste tipo de dano. Por isso, tem-se que a lei de improbidade administrativa pune além do dano material à administração, também qualquer tipo de lesão ou violação à moralidade administrativa, havendo ou não prejuízo no sentido econômico.

Não obstante a Lei de Improbidade Administrativa prever, notadamente no art. 23, os prazos prescricionais, o art. 35, §5o da Constituição Federal dispõe que a pretensão de ressarcimento de danos ao erário configura-se imprescritível, portanto, caracterizada a existência de dano ao erário não pode o juiz extinguir o processo em decorrência da prescrição (MARQUES, REsp 1.171.857, 2010).

Feitas essas considerações atinentes à sanção de ressarcimento integral do dano ao erário, passa-se à análise da (im) possibilidade de extinção da ação de improbidade administrativa na hipótese de o sujeito ativo da improbidade administrativa ressarcir o prejuízo causado ao erário.

183 Não se exige para a caracterização do ato de improbidade administrativa a existência de dano ou prejuízo material, este se torna pressuposto para aplicação da sanção de ressarcimento integral do dano, pois não se pode olvidar de que esta sanção possui natureza civil e não há que se falar em indenização ou reparação do dano se do ato praticado não resulta prejuízo, mas, existem outras sanções que independem do efetivo prejuízo econômico causado ao sujeito passivo da improbidade administrativa, a autoridade pode, por exemplo, praticar determinado ato com o escopo diverso daquele previsto na regra de competência, o que caracteriza ato de improbidade sem resultar em prejuízo econômico à pessoa estatal.

Na hipótese, porém, de o ato de improbidade resultar em prejuízo ao erário e o sujeito ativo providenciar o ressarcimento do dano, este ato, por si só, não está apto a ensejar a extinção da ação de improbidade administrativa, pois não exclui a aplicação das demais sanções previstas no art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa, assim, se o ato perpetrado pelo agente público e/ou terceiro permitir poderão ser aplicados outros tipos de penalidades. Avente- se a hipótese, por exemplo, de pagamento de danos morais, cuja existência e consequentemente o valor somente serão atribuídos ao final do processo.

Considerando-se, pois que em decorrência de um ato pode ensejar a aplicação de mais de uma sanção prevista na Lei de Improbidade administrativa, bem como a possibilidade de condenação do sujeito ativo do ato de improbidade ao pagamento de ressarcimento pelos danos morais causados à pessoa jurídica estatal, o ressarcimento do prejuízo material não pode acarretar a extinção da ação de improbidade administrativa, sob pena de o patrimônio público, objeto de tutela da legislação em comento, restar desprotegido.