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GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: a defesa do patrimônio cultural brasileiro

Antónia Fialho Conde Giselda Shirley da Silva Vandeir José da Silva

Introdução

Este texto apresenta como objeto de estudo o Patrimônio Cultural no Brasil, analisando as políticas públicas criadas ao longo do século XX e o papel do gestor do Património em relação às medidas e ações adotadas em prol da valorização, conhecimento, proteção, salvaguarda e difusão desse patrimônio.

Entendemos serem importantes discussões sobre patrimônio cultural, sua relevância na constituição da identidade, preservação/divulgação da memória e história dos povos, ao percebemos que esta temática tem sido alvo de incisivos debates, diálogos e reflexões, tanto nas mídias quanto no universo acadêmico, possibilitando a atribuição de valor e sentido nestas representações.

Visando contribuir para este debate, realizaremos uma análise retrospectiva, entre os anos de 1930 a 2017, a fim de entender a ideia do que é patrimônio cultural, a relação com a coletividade, à materialidade e imaterialidade, conhecendo esta trajetória no contexto brasileiro. Para isto, procuramos encontrar respostas para as seguintes indagações: Qual o papel dos gestores e das políticas públicas por eles criadas para a preservação do patrimônio cultural brasileiro ao longo do período estudado. Quais as concepções de patrimônio nortearam as políticas públicas de preservação do mesmo no Brasil? Como as políticas internacionais influenciaram as nacionais em relação à cultura e patrimônio? De que maneira a legislação brasileira aborda a questão do patrimônio cultural e atribuem responsabilidades na sua preservação? Como o conceito de patrimônio histórico e artístico orientou as diretrizes gerais do SPHAM/IPHAN e as ações desenvolvidas ou estimuladas por esta instituição?

O objetivo principal do estudo consiste em perceber como foi se estruturando as políticas públicas de preservação do patrimônio no Brasil, entender de que forma as ações dos diferentes gestores contribuíram para a criação e consolidação das políticas culturais e a preservação/divulgação do patrimônio nacional. Perceber a forma como foi definido patrimônio e as implicações desta concepção através das medidas governamentais adotadas; Compreender

106 como as medidas adotadas a nível internacional provocaram ações de preservação e salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro; analisar o conceito de patrimônio histórico e artístico que orientou as diretrizes gerais do SPHAM/IPHAN e as ações desenvolvidas ou estimuladas pela instituição.

Outras linhas de análise se desenham no presente texto, nomeadamente: perceber como foram se estruturando as políticas públicas de preservação do patrimônio no Brasil e entender de que forma as ações dos diferentes gestores contribuíram para a criação e consolidação das políticas culturais de preservação/divulgação do patrimônio nacional; perceber a forma como foi definido patrimônio e as implicações desta concepção através das medidas governamentais adotadas; compreender como as medidas adotadas a nível internacional provocaram ações de preservação e salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro; analisar o conceito de patrimônio histórico e artístico que orientou as diretrizes gerais do SPHAM/IPHAN e as ações desenvolvidas ou estimuladas pela instituição.

Em relação aos aspectos de preservação dos bens de Patrimônio Cultural, pensamos que a melhor definição de Política Pública está ligada as reflexões de Márcia Chuva ao fazer o prefácio da “Revista do Patrimônio Histórico Artístico Nacional” (2011) e considerar que esta relação de patrimonialização requer instrumentos legais jurídicos da Política Pública. Compreendemos que somente à interligação entre políticas públicas e instrumentos jurídicos proporcionarão uma implementação responsável destas ações.

Ao refletir sobre a atuação dos gestores nas diversas instâncias e nas políticas voltadas para o patrimônio, faz-se necessário conceituar patrimônio cultural e refletir como esta conceituação tem norteado a criação de políticas públicas e culturais e possibilitado a preservação e proteção dos mesmos. Neste sentido compreendemos Patrimônio como a relação definida pela professora Antónia Fialho Conde em uma de suas orientações chamando-nos a atenção para nos atentarmos que: “O patrimônio cultural é também uma relação da memória da comunidade num tempo e num espaço determinados e deve desta maneira ser considerada a sua relação com o passado”.

A adoção de medidas de salvaguarda e proteção do patrimônio cultural consiste em um dos temas de debate em vários países na contemporaneidade. Em novembro de 1972 foi realizada em Paris a Convenção para a preservação do Patrimônio Mundial, Cultural e

Natural, resultando desta, medidas importantes para a preservação do patrimônio em diferentes

esferas e lugares. Uma das atribuições da Convenção foi no âmbito conceitual definindo o que seria considerado patrimônio cultural, sendo:

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Os monumentos - obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas

monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

Os conjuntos – grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por

sua arquitetura, unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

Os sítios – obras do homem ou obras conjugadas do homem e da

natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico (UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, 1972).

De acordo com a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial definido em 1972, são muitos os bens a serem resguardados e as tipologias dos mesmos, entendendo desde as formações físicas, biológicas e geológicas contidas no patrimônio natural ou cultural, a espaços que tenham valor estético, científico, etnológico, antropológico, arqueológico, histórico e que sejam portadores de significados e características que devem ser conservadas por seu valor excepcional, rompendo com os limites dos Estados Nacionais e constituindo-se como Patrimônio da Humanidade.

A Convenção determinou ainda no artigo 3º e 4º cada Estado a função de identificar, delimitar, proteger, conservar os diferentes bens localizados em seu território. Esta determinação amplia a responsabilidade dos diferentes países e gestores em relação ao patrimônio, seja ele, local, regional, nacional ou mundial.

Levando em consideração as inquietações e os objetivos do estudo, procuramos fundamentar em autores que abordam o tema e fazer um levantamento da legislação brasileira no que tange aos princípios adotados em relação ao patrimônio, sua definição e as determinações para a sua preservação e divulgação. Foram analisados dispositivos das diferentes Constituições brasileiras1 no que tange ao patrimônio cultural, o código penal, leis e decretos que normatizaram a questão do patrimônio e cultura no Brasil. Analisamos também as Cartas patrimoniais e de que forma influenciaram a adoção de medidas no Brasil.

O Brasil e a trajetória da preservação do patrimônio cultural

O Brasil é um país de dimensões continentais e uma riqueza cultural grandiosa, tanto no que se referem ao patrimônio natural e material, as suas edificações, sítios arqueológicos,

1Constituição do Brasil dos anos de 1934(promulgada), 1937(outorgada), 1946(promulgada) 1967(outorgada), e

108 quanto às tradições, saberes e fazeres, ou seja, no domínio do património imaterial ou intangível. Além da extensão territorial, sendo o quinto maior país do mundo, possui uma paisagem natural composta de muita diversidade e beleza, entre as quais algumas estão classificadas como Patrimônio Mundial por sua exuberância e valor para a humanidade, como o Parque Nacional do Iguaçu (1986), Parque Nacional da Serra da Capivara (1981), Mata Atlântica - Reservas do Sudeste, São Paulo e Paraná (1999), Costa do Descobrimento-Reservas da Mata Atlântica, Bahia e Espírito Santo (1999), Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central (2000), Área de Conservação do Pantanal-Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2000), Ilhas Atlânticas brasileiras-Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas (2001), Áreas protegidas do cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas. (2001). (BOTTALLO, 2014)

Muito além das belezas naturais acima mencionadas que são patrimônio da humanidade, o Brasil possui ainda diversos sítios ou práticas e tradições inscritos na lista representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da humanidade2 e isto nos faz refletir sobre a forma como esta questão é pensada e gerida no âmbito local, perpassando pelo valor atribuído a esses bens, mas às políticas públicas a elas relacionadas no entrecruzar do nacional e o global, mas também no local e regional. Reveste-se de relevância também pensar como os diferentes bens culturais são apropriados e preservados pela população e pelo poder público, sendo que isto envolve diretamente a governança e o papel dos gestores na prática cotidiana. Esta questão perpassa pelas políticas públicas, pelo intercambiar de experiências locais e também globais, pelas reflexões oriundas do universo acadêmico e por questões econômicas, sociais e culturais as quais são historicamente construídas.

Percebemos que proporcionar uma política de proteção do patrimônio significa ir além de um conjunto de ações voltadas para a preservação dos bens culturais. Faz-se necessário ter uma política cultural que perpasse as diferentes gestões, não como uma política de governo, mas uma política de Estado. Política cultural é entendida como definiu Canclini:

Um conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, as instituições e os grupos comunitários organizados a fim de orientar o desenvolvimento

2 De acordo com as informações obtidas no site da UNESCO as tradições são: As expressões orais e gráficas dos

wajapis, que pertencem ao grupo etnolinguístico tupi-guarani (2008); Samba de roda do Recôncavo Baiano (2008); Museu vivo do Fandango (música e dança tradicional das comunidades do Sul) (2011); Yaokwa, ritual do povo enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica (2011); Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife (2012); Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará); Roda de Capoeira (2014) Dados disponíveis em:http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world- heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/c1414250.Acesso: junho/2017.

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simbólico, satisfazer as necessidades culturais da população e obter consenso para um tipo de ordem ou de transformação social (2001, p. 65).

É preciso analisar o papel do Estado e a criação de políticas culturais que viabilize sua preservação, seu uso e sua promoção. É preciso pensar na forma como a atribuição de valores a esses bens, contribui para o fortalecimento de sentimento de pertença ao lugar, a história, a nação como uma “comunidade imaginada” conforme refletiu Benedict Anderson (2005).

A identidade e auto reconhecimento dos povos são condições indispensáveis para a existência da democracia e fortalecimento da cidadania. Por isso, é necessário entender que a preservar o patrimônio cultural é um ato político e deve ser pensado e repensado com muito cuidado pelos diferentes gestores, devendo assumir uma postura que contribua para a existência de uma política cultural que seja eficaz e permanente, sendo a preservação/proteção um instrumento ativo e transformador da realidade.

O Brasil e as diferentes contribuições no âmbito da preservação do patrimônio cultural

No Brasil, a preservação do patrimônio como um bem de interesse coletivo e compartilhado é fruto de reflexões do último século (XX e XXI). Apesar da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro-IHGB no período imperial (1838) e que ao longo do tempo desempenhou um papel importante em relação à escrita e conhecimento da história, contribuindo para o fortalecimento da monarquia e do Estado, não houve iniciativas significativas do Estado para a preservação do patrimônio cultural.

(...) embora pudéssemos retroceder para buscar algumas iniciativas isoladas já desde o período colonial e que tiveram sequência até os primeiros 30 anos do século XIX, o que parece relevante é considerar como a preservação patrimonial se tornou tema de interesse e preocupação nacional. Vale lembrar que a ideia de preservação vai além da preocupação com vestígios do passado ou a ele vinculada. Ela considera, também, o presente e é capaz de nos representar como uma cultura ampla, diversificada e rica. (BOTTALLO, 2014, p.08)

A preservação do patrimônio cultural no Brasil está ligada as ações de alguns gestores e intelectuais que ao longo do tempo deram sua contribuição para a escrita dessa história, perpassando por meios legais e pelo apoio institucional dos órgãos governamentais criados para tal fim. Foi preciso à adoção de políticas públicas de preservação e a criação de linhas de investimentos e fomento a preservação do patrimônio e sua promoção, sendo estes, ampliados ou reduzidos, conforme as tomadas de decisões dos diferentes gestores deste país. Nesse sentido, o papel do gestor é fundamental para adoção de medidas de salvaguarda e proteção do

110 patrimônio cultural e muitas iniciativas adotadas na esfera nacional sofreram influencias de debates e discussões internacionais.

Durante as primeiras décadas do século XX houve algumas inciativas isoladas de valorização e preservação do patrimônio cultural, mas não havia uma política pública que efetivamente promovesse e fomentasse o cuidado com o patrimônio cultural brasileiro. Algumas unidades da federação adotaram medidas em âmbito estadual, entre elas, o governo de Minas Gerais que nomeou em 1925 uma comissão com a finalidade de apresentar medidas de proteção dos monumentos históricos mineiros. Em 1926 foi criada a Inspetoria Estadual dos Monumentos de Minas Gerais, sendo seguido pelos governos dos estados da Bahia (1927) e Pernambuco (1928) que criam Inspetorias em suas respectivas Unidades da Federação3. Faz-se importante destacar o contexto histórico brasileiro e o grande número de edificações que remetem ao período colonial que existiam/existem nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão.

No Brasil, as ações voltadas para o reconhecimento e proteção do patrimônio edificado foram adotadas inicialmente na gestão do presidente Getúlio Vargas e seu governo foram fundamentais para dar início às políticas públicas de preservação do patrimônio cultural brasileiro. Nesse sentido, é importante destacar a elevação da cidade de Ouro Preto a Monumento Nacional por meio do Decreto 22.928/1933 e a criação de Inspetoria de Monumentos Nacionais (IMN) criada pelo decreto nº 24.735 julho de 19344, sendo o primeiro órgão de preservação do patrimônio edificado com esta finalidade na América do Sul.

No governo de Getúlio foi promulgada a Constituição 1934 que definiu os papéis do poder público em relação preservação do patrimônio. No artigo 148, do Capítulo III da Educação e Cultura determinou que (...) cabe à “União, aos Estados e aos Municípios (…) proteger os objetosde interesse histórico e o patrimônio artístico do país (…)” 5. Essa menção

3Cf. página do IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1211 Acesso: 02 de maio de

2017

4Cf. página do Iphan “Caberia ao novo departamento do Museu Histórico a função de inspeção das edificações de

valor histórico e artístico e o controle do comércio de objetos de arte e antiguidades, o que seria feito com base em algumas determinações, entre as quais a organização de um catálogo dos edifícios dotados de “valor e interesse artístico-histórico existentes no país” para propor ao governo federal aqueles que deveriam ser declarados Monumentos Nacionais, não podendo ser demolidos, reformados ou transformados sem a permissão e fiscalização do MHN. A IMN não tinha autonomia para determinar quais edificações deveriam ser consideradas monumentos nacionais. ” 1934-1937. Esse departamento foi substituído pouco depois pelo SPHAN Dados disponíveis em: http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/29/inspetoria-de-monumentos-nacionais-1934- 1937. Acesso: março de 2017

5Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm Acesso em constituição

Federal do Brasil, 1937, Presidência da República, Casa Civil, subchefia para Assuntos Jurídicos. Acesso: março/ 2017.

111 ao patrimônio cultural na Carta Magna marcou o início da inserção da questão patrimonial na Constituição e atribuiu a União, Estados e municípios a responsabilidade de proteger os bens culturais brasileiros. Esta atribuição de responsabilidade ao poder público, de certa forma, fez com que, os gestores desde então, tivessem que criar mecanismos para proteger os bens culturais em suas respectivas áreas de abrangência.

Ao tecer considerações sobre a história do Brasil na década de 1930, Boris Fausto (2001, p.368) escreve sobre a implantação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937 iniciando uma nova fase política no governo Vargas, em um estilo autoritário. Nesse contexto, foi apresentada a nova Carta Constitucional outorgada por Vargas e elaborada por Francisco Campos, em substituição da que havia sido promulgada em 1934. Fausto menciona que durante a vigência do Estado Novo (1937-1945) houve o desaparecimento da representação via congresso e na liderança do Estado, o poder pessoal de Vargas significava a instância decisiva nas resoluções mais importantes. Vargas lançou mão do uso de Decretos-leis e adotou diversas medidas governamentais que ficaram conhecidas na história do Brasil, entre elas, a base patrimonial brasileira.

A Constituição de 1937 faz menção à preservação do patrimônio e determinou em seu artigo nº 134 que:

(...) os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como as paisagens ou os locais particularmente dotados pela natureza, gozam da proteção e dos cuidados especiais da União, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.

Além da determinação da responsabilidade da União, Estados e Municípios com o patrimônio, a legislação prevê punição para quem não cumprisse a legislação. Essa atribuição de responsabilidade as diferentes instâncias governamentais com os seus bens culturais significam um marco importante no que respeita às políticas públicas patrimoniais.

Chuva (2011) faz uma análise das políticas públicas acerca do patrimônio cultural brasileiro e mostra à contribuição de Mário de Andrade, que apresentou, a pedido de Gustavo Capanema, a organização de um serviço direcionado para a preservação do patrimônio. Nesse sentido, a criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) pelo presidente Getúlio Vargas por meio de decreto significou a adoção de uma medida importante para a preservação e valorização do rico patrimônio cultural brasileiro. Faz-se importante mencionar que o governo contou com a colaboração de grandes intelectuais brasileiros nesta

112 tarefa, Mário de Andrade6 e Rodrigo Melo Franco de Andrade7, sendo lembrados por muitos como fundadores de práticas de preservação cultural no Brasil.

Este órgão (SPHAN) criado pelo governo federal por meio do decreto presidencial assinado em 30 de novembro de 1937 foi integrado no Ministério da Educação. Ao longo do tempo, passou por algumas mudanças de nomes. Tornou-se Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Dphan), em 1946, no governo de Eurico Gaspar Dutra por meio do decreto-lei8 nº 8.534. Em 1970, foi transformado em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan. Posteriormente dividido em Sphan (órgão normativo) e Fundação Nacional Pró-Memória (FNpM)9. No governo do presidente de Fernando Collor de Melo (1990- 1992), a lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990 determinou que o Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural sucedesse a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-SPHAN nas suas competências e atribuições. Baseando-se nessa legislação, em setembro do mesmo ano, publicou-se o decreto nº 99.492 que em seu artigo 1º determinou que “ficam constituídas as Fundações Instituto Brasileiro de Arte e Cultura IBAC, Biblioteca Nacional - BN, e a Autarquia Federal Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultura-IBPC, vinculadas à Secretaria da Cultura da Presidência da República.”. No mesmo ano, a Lei nº 8.113, de 12 de dezembro de 1990 atribuiu natureza jurídica de autarquia federal a este órgão. Observamos que, ao longo de 80 anos o Iphan, mesmo com diferentes nomenclaturas, galgou uma história importante na preservação da cultura e do patrimônio brasileiro (BOTTALLO, 2014, p.09).

O Iphan é vinculado ao Ministério da cultura e possui jurisdição administrativa em todo o país. Recebeu apoio dos demais presidentes do Brasil e aos poucos foi consolidando uma política de valorização e proteção patrimonial, pois desde a sua criação, o Iphan busca preservar o patrimônio cultural brasileiro por meio de diversas ações adotadas englobando a diversidade de bens culturais e referenciais na construção/reconstrução da identidade nacional.

Fazendo um levantamento das ações que foram realizadas, totalizam 1.263 bens materiais tombados, possuindo entre eles 81 conjuntos urbanos que contemplam a diversidade cultural brasileira. Foram também cadastrados 24.000 sítios arqueológicos, 639 bens da extinta rede ferroviária nacional, inscritas na lista do patrimônio cultural ferroviário. Vinte destes bens

6Escritor, poeta, folclorista, professor de História da Arte.

7 Advogado e jornalista mineiro, membro do Ministério da Educação e Saúde do Governo de Getúlio Vargas e

atuou na coordenação do Sphan entre os ambos de 1937 e 1967. (BOTTALLO, 2014, p.09)

8. É espécie de ato normativo que foi substituído na Constituição de 1988 pela Medida Provisória. Decreto-Lei não