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Capítulo 2 – Comportamentos Colectivos nas Organizações 2 O grupo e a cultura de segurança

2.5 A Cultura de Segurança

2.5.2 A abordagem à cultura

No sentido amplo do termo, a cultura abrange os sistemas, os valores e os símbolos que servem de mediação às interacções sociais: As tradições culturais, as humanidades, os mitos, a literatura, as representações religiosas, as formas artísticas, as crenças, os modos de divertimento, os valores éticos, etc.

A palavra "cultura", que se universalizou na segunda metade do século XIX, é um termo polissémico, ambivalente e contraditório. Como o conceito de sociedade, a noção de cultura é usada em várias ciências para designar as normas, os valores e os bens materiais característicos de um determinado grupo. Mas outras definições são utilizadas: simplesmente aquilo que torna a vida digna de ser vivida, ou a totalidade em que se combinam as relações sociais, económicas, políticas, religiosas de uma sociedade ou de uma comunidade. (Sousa, F. 2008, pp. 57-58)

40 Quadro 2.5

Algumas Definições de Cultura ( cit. in Cunha, Rego, Campo e Cunha & Cabral-Cardoso, 2007, p. 637).

Autores Definições

Jacques (1951, p.251)

"A forma costumeira ou tradicional de pensar e de fazer as coisas partilhada por todos os membros de uma organização e que os novos membros têm que aprender e respeitar, pelo menos parcialmente, para serem aceites ao serviço da firma."

Schein (1985, p.9)

“O padrão de pressupostos básicos que um determinado grupo inventou, descobriu, ou desenvolveu ao aprender a lidar com os seus problemas de adaptação externa e integração interna, que funcionaram suficientemente bem para serem considerados válidos e que, por isso, são ensinados ao novos membros como a maneira correcta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas."

Hofstede (1991, p.19)

"A programação colectiva da mente que distingue os membros de um grupo ou categoria das pessoas de outros grupos ou categorias."

Cook & Yanow (1993, p.379)

"O conjunto de valores, crenças e sentimentos que, juntamente com os artefactos da sua expressão e transmissão (tais como os mitos, símbolos, metáforas e rituais) são criados, herdados, partilhados e transmitidos no interior de um grupo de pessoas e que, em parte, distinguem esse grupo dos demais grupos."

Schneider, Brief & Guzzo (1996, p.11)

“Os valores e crenças firmemente partilhados pelos membros de uma organização."

Fan (2000, p.3-4)

"A cultura pode ser descrita como o conjunto de valores, crenças, comportamentos, hábitos e atitudes que distinguem uma sociedade. A cultura de uma sociedade proporciona aos seus membros soluções para problemas de adaptação externa e integração interna."

A cultura está ligada à própria noção de identidade – a mesma língua, religião ou etnia. Ainda que não criando identidades perenes “a cultura organiza o comportamento do actor mobilizável, mas também o actor detentor do poder” (Bertrand Badie, cit. in Sousa, 2008, p. 58). Por outro lado, o povo português tem uma cultura fatalista. Os portugueses reconhecem a existência de forças que condicionam a evolução das suas vidas, as quais não controlam. Para Hofstede (1991/2003), as pessoas dentro de uma empresa e em certas condições ambientais, como no sector da construção, aprendem com mais facilidade os maus hábitos do que os bons costumes. É neste contexto que importa conhecer a cultura organizacional e a sua influência na (in) cultura de segurança, para poder compreender e avaliar o indivíduo, o grupo e os seus empenhos, com o objectivo de facilitar a sobrevivência da cultura da segurança.

41 2.5.3 A cultura nas organizações

As empresas têm uma missão e visam alcançar um objectivo. A missão envolve a definição do que é uma organização, o que se propõe fazer e atingir no sector e actividade. Os objectivos dizem respeito ao que se pretende atingir com as suas actividades, num determinado tempo e com variáveis determinadas. Segundo Silva (2008) Pettigrew (l979) foi o primeiro investigador que “introduziu o conceito e definiu cultura organizacional como sendo o sistema de significados presente num determinado grupo, num determinado momento e que é pública e colectivamente aceite” (p. 61).

A preocupação em estudar a cultura organizacional tem origem na constatação da existência de diferenças (valores, estilos de gestão) entre empresas com diferentes níveis de sucesso. A forma de abordar a cultura organizacional é saber o que é a cultura, como definir a cultura e quais são as suas características.

Para Schein (1985/1992), a cultura organizacional é considerada um processo de construção de significados partilhados que se encontram associados à história do grupo. Para o autor, o grupo desenvolve mecanismos de actuação que têm de ser partilhados e que têm de obter um significado comum, definindo a cultura organizacional como:

É a forma de assunções básicas que um dado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os seus problemas de adaptação ao exterior e de integração interna, e que têm resultado bem ao ponto de ser considerada válida e, por isso, ser ensinada aos novos membros do grupo como a maneira correcta de perceber, de pensar e de sentir face àqueles problemas. (Schein,1985/1992, p. 12)

Já Hofstede (1991/2003), que desenvolveu o modelo originalmente chamado de modelo das relações humanas ou equipa, propõe a existência de vários tipos de valores; é um modelo contrastante que incide nas diferenças e nas semelhanças entre culturas nacionais e as suas influências na cultura organizacional. O autor considera a existência de quatro níveis: símbolos (e.g., gestos, palavras, objectos), heróis, rituais (e.g., actividades colectivas) e valores, propondo o agrupamento dos três primeiros como práticas porque são facilmente observáveis: Os valores, que correspondem ao núcleo central da cultura, traduzem a “tendência para se preferir um certo estado de coisas face a outro” (p. 23).

Para Silva (2008), a cultura organizacional é considerada o processo de interacção social dos membros de uma organização reproduzido pelas suas percepções e interpretações do ambiente organizacional, assim como “as memórias e aprendizagem organizacionais” (p. 389). A definição de cultura organizacional no plano estrutural da organização é constituída por pressupostos básicos: Valores, normas, artefactos e, ainda, pelos valores declarados e pelos valores em uso, que se explicam no Quadro 2.6.

42 Quadro 2.6

Definições dos Pressupostos para a Conceptualização de Cultura Organizacional (Silva, 2008, pp. 131-134)

Valores Indicam o que vale a pena ter ou fazer.

Normas Dizem às pessoas como se devem comportar e as formas que permitem expressar, afirmar e comunicar as coisas.

Artefactos Correspondem a objectos materiais ou não materiais que fornecem informação sobre os pressupostos e valores que caracterizam o grupo.

Valores declarados Correspondem aos valores em que as pessoas dizem acreditar e são comunicados directamente.

Valores em uso

Correspondem àqueles valores que se encontram realmente activos e são identificáveis a partir de dois tipos de manifestações culturais: As práticas (e.g., programas de formação, normas formais ou informais) e as formas (e.g., linguagem, histórias, rituais).