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Capítulo 1 – O Teatro da Comunicação 1 A evolução da vida nas organizações

1.2 Estudos sobre comunicação

De Paquete de Oliveira (1988) e apresentadas por Dias (2007), as etapas cronológicas da investigação e as fases evolutivas da sociologia da comunicação desenvolveram-se da seguinte forma: a primeira, entre os anos 20 e 50 do século passado, em que o estudo da comunicação teve como principal preocupação e objecto de estudo a influência dos mass

media no comportamento colectivo e no que se refere às questões de ordem política

relacionadas com as duas Grandes Guerras Mundiais; a segunda etapa, inicia-se por volta dos anos 50 nos Estados Unidos (EUA) – período pós II Guerra Mundial – onde foi dada relevância à forma de pesquisa comunicacional e na qual se destacaram Lewin, Hovland, Katz e Lazarsfeld como os pioneiros dos estudos; a terceira etapa decorre a partir dos anos 60 e durante os anos 70, em que os problemas teóricos dos modelos assumem um importante papel e se dá uma deslocação de interesse dos EUA para a Europa, onde as técnicas de análise encontram condições para a continuação do estudo da comunicação; finalmente, a quarta etapa situa-se nos finais dos anos 70 e princípios dos anos 80 e é chamada de terceira revolução industrial por nela predominar a sociedade das altas tecnologias8.

Sousa (2006) apresenta uma vasta parte das teorias e dos seus estudiosos, pensadores de diferentes países e continentes cercados pela vida quotidiana, mas deixa a ideia de que nem todas as “teorias” são teorias científicas no verdadeiro sentido da palavra: Umas não passam de hipóteses, outras não são comprováveis, outras, nalguns casos, são meramente ideologias,

8Tecnologias da Informação (TI) na gestão do conhecimento (GC) “que consistem em ampliar o alcance e acelerar a velocidade de transferência do conhecimento”. (Silva & Neves, 2003, p. 213).

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mas, em jeito de prólogo, o autor refere que o pensamento comunicacional se estruturou muito antes do século XX, como se evidencia em obras de filósofos e políticos britânicos do

século XVII. Apesar de grande parte da investigação sobre a comunicação se ter realizado nos

Estados Unidos (EUA), a Europa também deu importantes contribuições. Sousa (2006) apresenta um resumo histórico notável para nos dizer que o “Homo faber foi substituído pelo

Homo economicus e este está a ser substituído pelo Homo comunicator. O conhecimento, a

posse da informação é a nova chave da riqueza” (Sousa, 2006, p. 249). A agricultura foi a base de desenvolvimento da humanidade durante várias dezenas de

séculos. Depois começou a Revolução Industrial, nos finais do século XVIII, associada ao valor mais material do capital. Mas uma terceira revolução, da informação e da comunicação, afectou o desenvolvimento da humanidade a partir do último quartel século XX. Esta terceira revolução, ou III Vaga, é mais desmaterializada de todas. (Sousa, 2006, p. 249)

1.2.1 Estudos europeus

Sousa (2006) destaca o nome de Tobias Peucer por ter sido o primeiro “doutor da comunicação”. Outros investigadores europeus, em finais do século XIX e princípios do século XX, foram grandes contributos do pensamento comunicacional, conforme se apresenta no Quadro 1.2.

Quadro 1.2

Contributos Europeus do Pensamento Comunicacional (adaptado de Sousa, 2006, pp. 202-205)

Karl Marx Expôs conceitos que se baseiam na teoria crítica marxista da comunicação. Émilie Durkeim Propôs o método funcionalista de análise dos efeitos da comunicação.

Max Weber

Abre uma corrente contra o marxismo porque as formas de acção social são dependentes do significado que os indivíduos lhes dão – as relações sociais, segundo o autor, estruturam-se pela interacção de indivíduos isolados o que, naturalmente, engloba a comunicação.

Alexis Tocqueville

Estudioso da democracia, mostra que a imprensa tem um poder importante exercendo funções de garantia da liberdade, de sustento e integração da comunidade e de tornar possível e rápida uma acção concentrada.

Gabriel Tarde

Sociólogo cujo património tem sido recuperado pelas ciências da comunicação e para quem a imprensa teve um papel importante na formação das comunidades e dos Estados (Nações).

Ferdinand Tonnies

Percursor das escolas do pensamento comunicacional que vêem nas tecnologias da comunicação artefactos capazes de devolver o homem a uma dimensão comunitária, uma vez que permitem aos indivíduos a sua participação activa nessas comunidades.

13 1.2.2 Estudos Americanos

O pensamento comunicacional americano teve início na Escola de Chicago. Embora os estudos somente se tenham estruturado nos finais do século XIX e princípios do século XX, é a partir dos anos 30 que se destaca a sua investigação, conforme se apresenta no

Quadro 1.3.

Quadro 1.3

Contributos da Escola de Chicago para o Pensamento Comunicacional (adaptado de Sousa, 2006, pp. 206-210)

Blumer

Refere o estudo das significações9; os indivíduos agem a partir de significados que atribuem às pessoas e às coisas enquanto interagem (interacções sociais).

George Mead

Diz que a pessoa se constitui através da comunicação interpessoal; em cada acto social o indivíduo interioriza e coordena as percepções que tem dos outros e de si mesmo. As significações são produtos que decorrem das interacções sociais e as pessoas são o produto da sociedade e da cultura.

Charles Cooley

Sociólogo para quem o indivíduo não existe fora do grupo; a opinião pública é um produto da comunicação e da influência recíproca que estes exercem entre si.

Erving Goffman

Apresenta a vida social comparando-a a um espectáculo teatral em que o mundo é o teatro no qual cada actor, individualmente ou em grupo, representa a sua acção de acordo com o momento adaptando códigos, sinais e rituais.

Anthony Giddens

Mostra a influência que a sociedade tem nas pessoas e como as afecta e organiza os seus modos de vida; é a interacção humana que reproduz a estrutura social.

A título de conclusão, poder-se-ia dizer que os indivíduos são peças importantes do modelo de comunicação proposto pela Escola de Chicago. É na interacção simbólica entre os indivíduos e entre estes e a sociedade que se formam os processos de socialização e de aculturação que levam à produção e transformação da cultura e da sociedade, ou seja, é na interacção simbólica entre indivíduos assente na comunicação interpessoal que se estrutura a cultura e a sociedade.

Os meios de comunicação têm grande poder de modificar as atitudes e opiniões dos indivíduos e influenciam os meios. As pesquisas dos investigadores, influenciadas pelo papel das tecnologias e pela transformação da sociedade, tiveram grande influência sobre a forma como cada receptor descodifica a mensagem, como lhe atribui significado, e sobre o modo como são usados. Segundo Sousa (2006), Lasswell propôs um modelo articulado funcional para o estudo da comunicação; Lazarsfeld propôs a ideia funcionalista da mediação das menagens pelos líderes de opinião.

9 A construção de significados é a interpretação que se constrói de uma coisa, deve ser dinâmica e aberta, e pode a de hoje não ser igual à de amanhã.

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À Escola de Chicago seguiu-se a Escola de Frankfurt aonde o pensamento crítico se manifestou na década de 30. Sousa (2006) refere que no trabalho de Montero (1993), os nomes Adorno, Mascuse, Benjamine, Lowenthal e Fromn, são de filósofos-sociólogos que introduziram uma perspectiva crítica no estudo comunicacional contribuindo para desvanecer injustiças sociais. Já na década de 50 e na Escola Canadiana, outros investigadores perceberam que era preciso estudar os efeitos dos meios de comunicação enquanto tecnologia e não apenas os seus efeitos. Investigadores como McLuhan (1962) salientam que a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade é globalmente positiva e que os meios de comunicação electrónicos se tornam a extensão dos sentidos (Sousa, 2006).