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CAPÍTULO I O MUSEU E O PROFESSOR NA RELAÇÃO MUSEU-

1.2 A construção conceitual das representações sociais: sua contribuição

1.2.1 A Abordagem Conceitual da Teoria das Representações Sociais

A teoria das representações sociais surgiu do debate da Psicologia Social e da Sociologia que refletia sobre a relação indivíduo e sociedade.

Por um lado, na discussão da Psicologia Social, ganhava relevo o papel do estímulo na construção de atitudes e/ou representações, analisadas no âmbito do funcionamento do sistema cognitivo dos indivíduos, relacionando-o aos aspectos motivacionais ou reportando-os às atividades de percepção para

categorização e organização de informações. Nessa elaboração, buscava-se entender o papel do grupo nessa construção individual cognitiva (Vala: 2000).

Por outro lado, na Sociologia, discutia-se a noção de Representações Coletivas de Durkheim, entendidas como produções sociais que se impõem aos indivíduos, tais como os mitos e as crenças, que têm a função de estruturar os grupos de maneira coercitiva. Assim, ele fazia a distinção entre as representações individuais e as representações coletivas, sendo estas autônomas do ponto de vista do indivíduo. Na perspectiva durkheiminiana, as representações coletivas seriam exteriores aos indivíduos, porque são produzidas em sociedade, devendo ser analisadas em relação à natureza das sociedades e não dos indivíduos. A estes, então, caberia somente reproduzi- las através das gerações, para manter a coesão social.

Décadas mais tarde, Moscovici, com a sua pesquisa sobre a apropriação pela sociedade parisiense da Teoria da Psicanálise, defendeu a não-separação entre o universo interior e exterior do indivíduo e, assim, colocou em destaque o papel dos indivíduos na construção das representações sociais. Moscovici entende o conceito de representação como uma variável independente na relação entre sujeito e objeto, ou seja, ele não o reduz a uma mera resposta a um estímulo dado, mas o entanto como um fator que transforma e é transformado no processo de construção do conhecimento (VALA: 2000; cf. JODELET, 2001 e NÓBREGA, 2001).

Para Moscovici, as representações são sociais porque resultam das diversas interações que os indivíduos estabelecem na sua vida cotidiana. É nesse sentido que ele justifica a não-separação entre indivíduo e objeto, pois ambos são transformados na formação das representações.

Moscovici reconhece a noção de representações coletivas de Durkheim, mas salienta que a sua análise só é possível em sociedades menos complexas, como aquelas pelas quais que o sociólogo se interessou. Já as representações sociais abarcariam a dinâmica que tem configurado o mundo moderno, a partir das diversas relações que têm se instituído desde a Revolução Industrial até a consolidação do papel da ciência como um saber legítimo. É neste foco que Moscovici irá centrar a sua atenção, ou seja, na dinâmica existente entre a forma como os indivíduos comunicam e se posicionam para explicar a sua realidade, mais precisamente a partir da socialização da ciência na vida cotidiana. Assim, como aponta Nóbrega (2001, p.63), Moscovici, “através da teoria das representações sociais, define os parâmetros de uma análise científica do que se chama senso comum atribuindo uma lógica a esse conhecimento”.

Nessa perspectiva, ele apresenta os dois universos em que circulam tipos específicos de saber, que se interelacionam, influenciando-se mutuamente: o universo reificado, representado pela elaboração científica em seus conceitos e procedimentos, e o universo consensual, representado pelo senso comum, pela elaboração de categorias que emergem da vida concreta (cotidiana) dos indivíduos, nas maneiras como resolvem os seus problemas e explicam os fenômenos em relação aos quais têm que tomar posições. Nesse contexto, Moscovici considera importante o papel dos meios de comunicação de massa para a formação desses dois universos.

Ele apresenta também três formas pelas quais as representações sociais podem se tornar sociais: quando são formas equivalentes às representações coletivas de Durkheim, ou seja, quando são entendimentos

amplamente partilhados por um grupo fortemente estruturado e não foram necessariamente produzidos pelo mesmo, tendo uma função coercitiva, a exemplo do que acontece num partido, numa igreja etc. Essas são as

representações hegemônicas. Elas podem se tornar sociais quando

emergem da relação dinâmica entre diversos grupos a partir da troca de significados diferentes sobre um mesmo objeto, estando estritamente ligadas aos grupos que lhes dão origem. Essas são as representações emancipadas. Podem ainda se tornar sociais quando são produzidas nos conflitos sociais e são determinadas por relações antagônicas ou de diferenciação entre os grupos sociais que elaboram pontos de vistas exclusivos e distintos sobre um mesmo objeto. Essas são as representações polêmicas. Essas distinções são necessárias para dar conta do caráter multifacetado e dinâmico das representações sociais (VALA: 2000).

Em suma, Moscovici (1981, apud SÁ: 1996, p.24) denominou de representações sociais:

um conjunto de conceitos, explicações e afirmações originado na vida diária no curso de comunicações interindividuais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; poder-se-ia dizer que são a versão contemporânea do senso comum.

Este movimento percorre três dimensões estabelecidas pelo teórico: a

informação, referindo-se à organização dos conhecimentos que um grupo

possui a respeito de um objeto social; o campo de representação, remetendo- se à idéia de imagem, modelo social, ao conteúdo concreto e limitado das proposições acerca de um aspecto preciso do objeto da representação; e a

atitude, que termina por focalizar a orientação global em relação ao objeto da

Moscovici ainda chama a atenção para o fato de que

a atitude é a mais freqüente das três dimensões e, talvez geneticamente a primeira. Por conseguinte, é razoável concluir que as pessoas se informam e representam alguma coisa somente depois de terem tomado uma posição e em função da posição tomada.

Ele procurou, no entanto, enfatizar que as representações sociais não são apenas “opiniões sobre” ou “imagens de”, mas teorias coletivas sobre o real, que têm uma lógica e uma linguagem própria estruturadas a partir de valores e conceitos partilhados no meio social.

Daí que, para ele, as representações sociais devem ser compreendidas como uma modalidade específica de conhecimento que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos.

Nesse sentido, Jodelet (2001) denomina de representações sociais um saber prático, que se refere tanto à atividade cognitiva do sujeito em se reportar a um objeto (modelo figurativo) para representar algo, quanto à pertença social de que este faz parte. Na singularidade de contextos sociais, de práticas, de modelos de conduta e na forma de comunicação, esse saber elaborado torna- se o guia de ação nas trocas cotidianas dos diversos grupos sociais. Assim, o estudo das representações sociais contribui para dar relevância a uma abordagem da vida mental individual e coletiva sem dicotomizá-las (JODELET, 2001).

Ao se constituirem dessa maneira, Jodelet (ibid, p.22) chama atenção para o fato de que as representações sociais devem ser analisadas como produto e processo de uma atividade dinâmica, na qual é feita a apropriação da realidade exterior ao pensamento, bem como a elaboração psicológica e social da realidade.