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CAPÍTULO II PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.3 Procedimentos Metodológicos

2.3.2 O teste de associação livre de palavras (TALP)

O objetivo do Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) foi de tentar apreender o núcleo estruturante das representações sociais dos professores das séries iniciais do ensino fundamental sobre o museu. Para nós, ele não constituiu um elemento fim na coleta dos dados, mas uma ferramenta a ser articulada às entrevistas em profundidade que realizamos em seguida. O uso desse teste pôde nos fornecer os elementos estruturantes das representações das professoras sobre o museu, os quais configuram o

31 Uma (1) Licenciada em História, uma (1) Licenciada em Letras, uma (1) Bacharel em Psicologia, uma (1) Bacharel em Fonoaudiologia, e duas (2) com a habilitação do magistério em nível médio. Mas, esses testes não foram usados na análise.

universo semântico do termo ou objeto estudado, relacionando-o aos sujeitos e estímulos dados.

A ênfase dada ao teste é também justificada em nossa pesquisa pela ressalva mencionada por Abric (1994; apud, SÁ: 1998):

O caráter espontâneo – portanto menos controlado – e a dimensão projetiva dessa produção deveriam, portanto, permitir o acesso, muito mais fácil e rapidamente, do que em uma entrevista, aos elementos que constituem o universo semântico do termo ou do objeto estudado. A associação livre permite a atualização de elementos implícitos ou latentes que seriam perdidos ou mascarados nas produções discursivas.

Segundo Nóbrega e Coutinho (2003), o TALP foi adaptado das pesquisas na psicanálise para o campo da psicologia social por Di Giacomo (1981, apud Nóbrega e Coutinho: 2003) num estudo sobre a doença mental e, desde então, tem sido bastante utilizado nas pesquisas sobre as Representações Sociais (RS). Nessas pesquisas, o objetivo primordial é identificar as dimensões latentes nas RS, através da configuração dos elementos que constituem a rede associativa dos conteúdos evocados em relação a cada estímulo indutor.

Conforme Nóbrega e Coutinho (op. cit), ao citar De Rosa (2003), este teste pode ser constituído de um ou vários estímulos de acordo com os critérios de saliência e de coerência com os objetivos da pesquisa, podendo ser verbal (palavra, expressão, idéia, frase ou provérbio), e não verbal ou icônico (figura, fotografia). De Rosa acrescenta ainda o uso de material de vídeo (filme, publicidade), e de material sonoro (música ou um som).

A realização desse teste consiste em apresentarmos determinados estímulos indutores e solicitarmos dos sujeitos um número determinados de palavras relacionadas a eles. Em nossa pesquisa, utilizamos como estímulo

verbal, a própria palavra “museu”, como também outras que estariam diretamente ligadas aos conceitos e às funções de um museu, e historicamente disseminadas na literatura que estudamos. Ficou, então, o teste constituído dos seguintes estímulos: “museu”, “o que há num museu”, “a finalidade do museu”,

“memória”, “a finalidade da Educação Patrimonial” e, por fim, “instituições que realizam a Educação Patrimonial”. Para cada estímulo pedíamos às

professoras que escrevessem três palavras correspondentes. No final, o teste gerou cerca de 18 palavras por professora (ver anexo 1).

Segundo Nóbrega e Coutinho (2003), o uso de procedimentos projetivos como a Associação Livre de Palavras, tem se revelado um importante instrumento de investigação por possibilitar a apreensão de elementos complementares no cercamento do campo estrutural e dos elementos figurativos constitutivos das representações sociais, que podem ser confrontados com as construções ideológicas exibidas pelos sujeitos no momento das entrevistas. Por se tratar de evidenciar um conteúdo mais inconsciente, de caráter afetivo-emocional do sujeito, buscamos a articulação entre os dados obtidos pelos testes e pelas entrevistas.

Assim, a utilização do TALP constituiu-se de uma aproximação inicial com a estrutura das representações das professoras, por isso orientou a elaboração do roteiro da entrevista. Do campo semântico formado a partir das palavras evocadas pelas professoras, delineamos algumas perguntas-chave para a compreensão das representações das professoras sobre o museu.

Para a aplicação do Teste de Associação Livre de palavras foi necessário observar alguns cuidados. Elaboramos um questionário claro de fácil entendimento sobre os estímulos para que não houvesse nenhum

constrangimento por parte de quem iriam respondê-lo. Em seguida, orientamos que os sujeitos deveriam responder aos estímulos, utilizando-se de expressões ou palavras, substantivos, e/ou adjetivos, evitando assim que fossem escritas frases longas e elaboradas. Observamos o tempo que os mesmos gastaram para dar as suas respostas, pois um tempo longo de reflexão e busca de palavras sofisticadas pode deturpar os resultados da pesquisa.

A observação desse tempo gasto para escrever as palavras constituiu um elemento de análise sobre a relação do sujeito com o termo-estímulo, uma vez que uma maior ou menor facilidade (demora ou rapidez) em responder ao estímulo pode ser reveladora de um certo tipo de entendimento e compreensão sobre o termo que, de uma maneira ou de outra, pode demonstrar sua influência na estruturação da representação sobre o objeto em estudo.

No nosso caso, observamos que nos primeiros estímulos – “museu”, “o

que há no museu” e “finalidade do museu” – houve por parte das professoras,

uma maior rapidez e facilidade nas respostas. O único questionamento que se repetiu com relação ao estímulo “o que tem no museu”, foi se deveriam colocar termos que significavam coisas “concretas” (quadros, peças, por exemplo) ou “abstratas” (cultura, novidade, por exemplo) A pesquisadora orientou, então, que as professoras apenas escrevessem o que lhes viesse à mente, não importando, portanto, a classificação da palavra.

Esse dado foi interessante por revelar a forte marca deixada nas professoras pelo museu como um lugar que guarda a materialidade das relações humanas (os objetos). A fala das professoras, ao apresentar esse questionamento, já era reveladora da influência dos objetos como indicador da visão do museu como um lugar de guardar o “concreto” que o homem produz

em suas relações sociais, culturais e econômicas, o que em si carrega também um caráter imaterial por serem estes objetos representativos dessas relações.

Já quanto aos estímulos “o que é memória”, “finalidade da educação

patrimonial” e “instituições que realizam a Educação patrimonial”, a rapidez e

facilidade para apresentar as respostas não aconteceram com todas as professoras. A maioria se mostrou insegura ao ler esses estímulos e responder a eles, revelando um certo incômodo. Isso sugere uma certa falta de domínio, por parte delas, no tratamento desses temas. Uma professora até justificou a sua não-disposição em continuar colaborando com a pesquisa com a seguinte colocação: “Essa coisa de patrimônio, memória, Educação patrimonial, eu não

sei não, se fosse outro tema, outra coisa, eu continuaria”. Segundo Oriá (1998),

a temática da memória e de sua materialização através dos bens culturais que constituem o patrimônio, bem como o estudo sobre a Educação patrimonial ainda estão praticamente ausentes das escolas.

Amorim (2004) confirmou a constatação de que presença do tema patrimônio e da Educação patrimonial ainda é marcadamente incipiente nas escolas da rede municipal do Recife e do Cabo de Santo Agostinho. Observou, contudo, que, mesmo sendo incipiente, existe receptividade para que o estudo sobre o patrimônio e a Educação patrimonial possa ocorrer, pois as falas dos professores entrevistados em sua pesquisa revelaram que as ações pedagógicas que envolvem esses conteúdos, devem ser incorporadas ao currículo escolar através de estudos sistematizados e de um compartilhamento de experiências.

Ainda com relação ao fator tempo de aplicação dos testes, observamos que as professoras revelaram perceber uma estreita ligação entre museus e a

Educação patrimonial, porque, no estímulo “instituições que realizam a

Educação patrimonial”, rapidamente elas indicavam o museu, esforçando-se

ainda para referir nominalmente as instituições museológicas do nosso estado. Esse aspecto também nos sugeriu a exemplificação feita pelas professoras de instituições museológicas com que, provavelmente, tiveram algum contato e vivenciaram alguma experiência próxima de uma compreensão do que seria a Educação patrimonial para elas. Da mesma forma, houve facilidade em indicar, como instituições que realizam a Educação patrimonial, diversos centros de pesquisas (Fundação Joaquim Nabuco, IPHAN etc), as universidades, a biblioteca e o teatro.