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2.3. Revendo as Abordagens de Ensino da Educação Física Escolar

2.3.2. A Abordagem de Ensino Construtivista-Interacionista

A abordagem de ensino construtivista não foi concebida a partir de concepções do pensamento acadêmico da Educação Física brasileira. Em meados da década de oitenta Emilia Ferrero (1985, pp.42-43), professora titular do Departamento de Investigacione Educativas del Centro de Investigaciones y Estudios Avanzados (CINVESTAV)-MÉXICO, apresentou um estudo que para desenvolvê-lo a autora utilizou “... o marco conceitual da teoria psicogenética de Piaget, para compreender os processos de construção do conhecimento, no caso particular, da linguagem escrita”. Os educadores brasileiros passaram a discutir com intensidade essa forma de abordar o ensino e assim, tal abordagem adquiriu um status importante e fundamental na alfabetização de criança sendo denominada de construtivismo.

Ao explicar essa abordagem de ensino Darido (1999, pp. 21-23), usa a denominação de método na seguinte citação: “A proposta denominada interacionista-construtivista é apresentada como uma opção metodológica [grifo nosso], em oposição às linhas anteriores”. Cremos que ao colocar a questão dessa forma a autora reduziu uma abordagem de ensino à

condição de um método de ensino. Método de ensino no entendimento de Haydt (1997, p. 144), é “... um procedimento didático caracterizado por certas fases e operações para alcançar um objetivo previsto”. Entendemos que uma abordagem de ensino possibilita-nos a escolha de vários métodos e técnicas a partir do seu conceito. Nos estudos de Mizukami (1986), está claro que a abordagem de ensino explica o “fazer pedagógico do professor”, ou seja, ela explica os vários métodos e técnicas que o professor utiliza para efetivar o processo ensino e aprendizagem.

Na perspectiva do construtivismo, o aluno aprende porque ele interage com os fenômenos que acontecem no meio em que está inserido, independentemente do professor exigir essa manifestação. A figura do professor será importante porque existe uma série de conhecimentos complexos construídos pelo homem no seu processo histórico que precisam ser mobilizados para o processo de ensinar. Mas, uma vez que o aluno mantém contato com esses conhecimentos ele desenvolverá meios para assimilá-los. Isso implica dizer que o construtivismo é interacionista, entendemos que é redundante colocar a palavra interacionista associada à palavra construtivismo.

Darido (1999) elege como referência explicativa dessa abordagem de ensino as propostas elaboradas pela Coordenadoria de Estudos e Normas pedagógicas (CENP) e juntamente com o trabalho de João Batista Freire (1994): “Educação Física de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física”. Um diferencial que se estabelece entre a obra escolhida pela autora para a abordagem desenvolvimentista e a obra escolhida para abordagem construtivista-interacionista é o fato de que na primeira, não se apresenta nenhuma proposta concreta de atividades que a justifique; embora esteja contextualizada na escola, não considera os aspectos pedagógicos-educacionais e, pauta-se por uma teoria distante da prática docente. Por outro lado, o estudo de Freire que é a referência principal para abordagem construtivista-interacionista, demonstra que o autor tem uma preocupação em explicar teoricamente as questões do desenvolvimento humano e o desenvolvimento motor e propor para o trabalho com a criança uma série de atividades adequadas às faixas

etárias específicas do desenvolvimento dessa criança.

A autora levanta a questão da avaliação na abordagem construtivista-interacionista, alegando que é uma preocupação de Freire, no que diz respeito à questão da avaliação na Educação Física Escolar. É uma preocupação interessante porque na maioria dos estudos em Educação Física está destacado como forma de avaliar a quantificação de resultados. Se existe uma abordagem de ensino que possibilita a construção do processo, conseqüentemente, essa abordagem requererá um enfoque específico na forma de proceder a avaliação nesse processo.

Darido (1999) destaca dois pontos que merecem análise mais profunda. No primeiro a autora destaca que o construtivismo-interacionista foi incrementado por discussões a respeito da psicomotricidade (leia-se psicocinética), apresentada por Le Boulch na década de oitenta, mas, amplamente discutida nas décadas de setenta e oitenta. A psicocinética proposta por Le Boulch acabou sendo um método de ensino que se prestou e se presta a essa abordagem de ensino. Esse método contempla o respeito às fases do desenvolvimento humano e motor do aluno e, sugere o desenvolvimento de atividades de forma recreativa e lúdica. Atualmente esse método de ensino é denominado de psicomotricidade e é adotado pela maioria dos professores de Educação Física que lidam com as séries iniciais do Ensino Fundamental.

No segundo ponto Darido (1999, p. 22-23) destaca que:

“... a interdisciplinaridade só será positiva para a Educação Física na escola quando estiver claro para o professor quais são as finalidades da Educação Física de modo a guardar a preocupação de introduzir o aluno as questões relacionadas á cultura corporal, guardando as suas características específicas.”

finalidades da Educação Física para compreender a dimensão do trabalho interdisciplinar. Compreendemos, na verdade, que talvez a intenção e a ação de fazer a Educação Física Escolar se relacionar com outras disciplinas na formação do aluno, será o primeiro passo para o entendimento de suas finalidades. Uma vez que ela é componente curricular e já está dividindo tarefas de formação educacional.

Cremos que a obra de Freire citada pela autora não contempla plenamente essa abordagem de ensino, pois o autor desenvolve seus estudos focando o ensino somente em um período escolar, ou seja, nas séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série). Além disso, após os estudos de Darido (1999) já houve outros estudos levantando questões teóricas sobre essa forma de abordar o ensino.

Atualmente os estudos de Mattos e Neira (1999, 2000) e de Neira (2003) discutem especificamente a abordagem sócio-construtivista como sendo abordagem extremamente adequada para se ensinar Educação Física Escolar. No estudo de Mattos e Neira (1999, p. 13), propõe um pensamento acadêmico que se intitula: “Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola”. Esse pensamento proposto pelos autores, advém da idéia que há uma:

“... Articulação teoria-prática, onde cada nova idéia, cada aula, eram prontamente posta em ação, novamente analisada e, finalmente adquiriram o seu “rosto” final. A riqueza deste consiste na sua história – foi escrito na quadra e no pátio, olhando para os alunos”.

No segundo trabalho dos autores: “Educação Física na adolescência: construindo o conhecimento na escola”, os autores propõem ensinar Educação Física Escolar no Ensino Médio na abordagem sócio-construtivista. Para isso, elegem os PCNs como a fonte de informações teóricas que irão subsidiar a prática docente dessa Educação Física.

fundamentam nos trabalhos de Wallon, Piaget e Vayer para a explicação do desenvolvimento psicológico do ser humano e, fundamenta-se nos estudos de Vygotsky para explicar a questão da interação do sujeito com o meio no desenvolvimento da aprendizagem.

O último estudo de Neira (2003), o autor discute-se a questão de estimular por meio do processo de ensino e aprendizagem as competências discutidas no contexto da educação por Philippe Perrenould, pois na concepção de Perrenould (2000, p. 15) competência é a: “... capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações”. Independentemente de uma ação qualquer estar focada no aspecto cognitivo, o aspecto afetivo ou o aspecto motor, o aluno deverá desenvolver competências para a resolução de problemas.

Entendemos que nessa abordagem construtivista-interacionista, está atualmente renomeada a partir dos trabalhos de Mattos e Neira para sócio-construtivista, pois, esses estudos, mais atuais, apresentam fundamentos mais consistentes ao explicar tal abordagem. Além disso, os autores que propõem esse novo olhar sobre essa abordagem promovem uma interação maior entre o pensamento acadêmico específico da Educação Física Escolar com o pensamento acadêmico que é produzido na educação. Considerando que a Educação Física é um componente curricular, analisar e propor reflexão apoiada no pensamento da educação é uma condição sine qua non.