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CAPÍTULO IV ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS QUE PRESSUPÕEM A

4.1 O CONTEXTO DA ABORDAGEM TEMÁTICA

4.1.2 A Abordagem Temática: seus pressupostos e fundamentos

Pierson (1997) esclarece que o pensamento de Paulo Freire tem sido uma referência constante para a linha de pesquisa em abordagens temáticas, dando uma direção que, em alguns momentos é também metodológica, bem como, fornecendo elementos sobre os quais pode-se fundamentar uma visão de conhecimento baseada na dialogicidade e problematizacão. pressupostos indispensáveis para a construção de um conhecimento emancipatório, conscientizador.

Desta forma, estes dois elementos, dialogicidade e problematização podem ser identificados durante toda a trajetória desta linha de pesquisa, justificando a organização de uma linha de pesquisa a partir da produção de seus participantes.

Para Paulo Freire o processo ensino e aprendizagem é uma relação obrigatoriamente dialógica:

O que se pretende com o diálogo não é que o educando reconstitua todos os passos dados até hoje na elaboração do saber científico e técnico. Não é que o educando faça adivinhações ou que se entretenha num jogo puramente intelectualista de palavras vazias. O que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese (seja em tomo de um conhecimento científico e técnico, seja de um conhecimento ‘experimental’), é a problematização do próprio

conhecimento em sua indiscutível relação com a realidade concreta na

qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la,

transformá-la. (FREIRE, 1975, p. 51, grifo meu)

O destaque para o elemento diálogo pode ser justificado devido ao fato de ser uma importante estratégia que permite problematizar o conhecimento que se deseja viabilizar. No contexto da Abordagem Temática, podemos considerar que a

problematização em torno do conhecimento, relaciona-se primeiramente, ao

conhecimento prévio dos alunos sobre um tema em questão, conhecimento do senso comum, ingênuo, popular, informal, com vistas à despertar o interesse e a necessidade de apreensão por um conhecimento que o aluno ainda não detém - o conhecimento científico, elaborado, sistematizado ou formal, - veiculado na educação científica.

Diante da citação de Paulo Freire, penso que, a Abordagem Temática, enquanto proposta metodológica para a educação científica, pode contribuir para as necessárias transformações sociais, por meio da problematização, viabilizada pelo diálogo acerca das situações/fenômenos da realidade da comunidade, visando o alcance de conhecimentos científicos que os expliquem.

Menezes faz uma citação sobre a educação científica, com relação ao ensino de física:

Será a problematização do conhecimento sistematizado pela física e sua

aproximação do universo do aluno, os primeiros elementos que buscarão dar

à educação científica a função de promover uma real compreensão da

relação entre os seres humanos e entre eles e o meio natural, superando a

postura “cientrficista” que transformou o conteúdo do ensino de ciências em sinônimo de descrição de seu instrumental teórico ou experimental, afastado da

reflexão sobre o mundo natural e do seu significado social-produtivo ou

ético-filosófico. (MENEZES, 1988 apud PIERSON, 1997, p. IV-153,

grifo meu)

Um fator importante na colocação de Menezes e que, ao meu ver, merece destaque, são os elementos “aproximação do universo do aluno” e “problematização do conhecimento” (referenciados por ele com relação à física) mas que, permite aproximações e problematizações com relação à outras áreas da ciência, ambos apoiados no diálogo, como básicos para que a educação científica cumpra seu papel de promover uma real compreensão da relação entre os seres humanos e entre

eles e o meio natural. Acredito, portanto que a apreensão do conhecimento científico

deve promover à nós, seres humanos, um melhor entendimento das relações que estabelecemos com outros seres humanos, com os outros seres vivos e com o meio físico-químico.

Segundo Severino (1997), os estudiosos da Abordagem Temática, mais especificamente o Grupo de Ensino de Física (GREF), se apoiam nas posições de Paulo Freire, na esfera do filosófico-educacional, posições que inspiram seus projetos de intervenção educativa. Paralelamente, ao realizarem estudos teóricos tanto de explicitação da filosofia educacional libertadora como de resgate da história da ciência, expressos em materiais voltados ao ensino da Física, acabaram por realizar um esforço sistemático de articulação do pedagógico com o epistemológico na prática educativa.

Acrescenta que, além do respaldo da filosofia educacional libertadora de Freire, a Abordagem Temática encontra-se amparada nos pressupostos da filosofia dialética,

mediada fundamentalmente pela obra de Snyders, devido à inserção político-social dessa prática educativa. Severino destaca que as investigações epistemológicas do grupo vêm se respaldando:

nas posições de Koyré, Bachelard e Kuhn, com base nas quais buscam mostrar que o ensino de ciências só pode ser eficaz se o estudante puder dar-se conta

também do processo de produção do conhecimento, tal qual ele ocorreu no tempo histórico e no espaço social. (SEVERINO, 1997, p. 86)

Segundo Dal Pian (apud SEVERINO, 1997), o grupo vem elaborando uma teoria abrangente que designam como concepção orgânica (de ensino de ciências), estruturada com base em algumas categorias articuladoras e norteadoras, na tentativa de dar sistematicidade a seu trabalho e de estabelecimento de um referencial próprio. Acrescenta que:

Tais categorias permitem apreender o processo ensino/aprendizagem da ciência a partir de um contexto teórico mais amplo, ao mesmo tempo que asseguram uma relação mais dinâmica entre essa teoria e a prática, uma vez que o conhecimento tem sua validade última na exata medida de sua contribuição à transformação da realidade social. (DAL PIAN, 1991 apud

SEVERINO, 1997, p. 86)

Severino (1997) destaca que são quatro as categorias que expressam os principais conceitos e relações da concepção orgânica, consistindo-se, na realidade, em quatro pares de categorias: fragmentações e totalidades; continuidade e ruptura; interdisciplinaridade e conhecimento; contradições e visões de mundo.

Para Dal Pian:

Na perspectiva da concepção orgânica, o buscar em cada processo identificado (epistemología e pedagogia), quais são os pontos/aspectos onde há continuidacies e rupturas tem, com o decorrer do tempo, constituído uma forma de aproximação básica entre especialistas e professores. Bachelard e Koyré têm constituído uma referência para o entendimento da continuidade, enquanto Kuhn e Snyders têm subsidiado a análise da ruptura. (DAL PIAN,

1991 apud SEVERINO, 1997, p. 87, grifo da autora)

Acerca dos dois primeiros pares de categorias citados acima, serão tecidos alguns comentários sobre suas inserções ao longo da 4a etapa da Abordagem Temática, durante a redução temática, a ser explicitada mais adiante.

4.1.3 A Linha de Pesquisa em Abordagens Temáticas e Física do