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XI.6 Os questionários

XI.6.4 A adequação do projeto Solos ao tempo escolar

Uma questão que vem nos chamando atenção no desenvolvimento da sequência sobre Solos no Pibid de química é a adequação do projeto ao tempo regular de aulas na escola. A princípio, muitos problemas podem surgir em virtude dessa tentativa de adequação que envolve fatores como tempo, conteúdo e os próprios indivíduos envolvidos no processo. Contudo, observamos que esse processo de adequação, do projeto proposto, ao tempo escolar nas escolas parceiras está ocorrendo de maneira satisfatória. Podemos validar nossa afirmação por meio das respostas dadas pelos professores no questionário. Os três professores relataram que a adequação do projeto Solos está ocorrendo em suas aulas no tempo regular.

Assim, para orientar nossa análise, levantamos as seguintes questões relacionadas à adequação dos projetos propostos no Pibid: Em que medida é possível desenvolver o mesmo projeto em turmas de séries diferentes? Como os professores estão fazendo essa adequação?

Para podemos tecer considerações para essas perguntas, acreditamos que antes devemos levar em consideração pontos importantes envolvendo o planejamento do grupo Pibid de química da UFMG. Sabemos que o conceito de planejamento é amplo e pode ser entendido de várias maneiras. Portanto, nos orientaremos por Vasconcellos (2000, pg. 79) que apresenta um conceito de planejamento no seu sentido amplo e pertinente aos nossos propósitos:

O planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórica metodológica para ação, que em função de tal mediação passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário estabelecer as condições objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo. (Vasconcellos, 2000, pg. 79)

83 Assim Vasconcellos (2000) atribui ao ato de planejar uma articulação das ações dentro do processo teórico-metodológico. Sendo assim, o planejar apontado pelo autor tem por finalidade o fazer acontecer e para isso, se faz necessário estabelecer condições e prever ações. Nesse sentido, retomando o contexto de desenvolvimento do Pibid no ano de 2015, os planejamentos do grupo são elaborados no início do ano letivo. Assim, antes de iniciarem as aulas, o grupo organiza e seleciona os materiais didáticos a serem utilizados, decide as metodologias, seleciona as ferramentas, como o uso do Blog, e realizam estudos e pesquisas envolvendo os temas a serem abordados nas aulas. Acreditamos que a existência de um material previamente elaborado antes do início das aulas contribui para que os bolsistas e professores concentrem seus esforços nos planejamentos de suas aulas.

É interessante notar como a dinâmica envolvendo o planejamento ocorre nas reuniões semanais do grupo Pibid na universidade. Os professores e bolsistas das respectivas escolas planejam e pesquisam materiais que são compartilhados nas reuniões semanais. Podemos citar o exemplo do professor supervisor da escola C que compartilhou um texto com todo o grupo em uma das primeiras reuniões, texto que, futuramente, teve um papel na formulação da problematização em suas aulas na escola. Ressaltamos também que o grupo Pibid, no decorrer das reuniões semanais, discute e planeja as atividades envolvendo a sequência de ensino, sendo assim, existe um planejamento comum a todas as escolas. Contudo, a coordenadora orienta e cria condições para que os grupos de cada escola se reúnam para planejarem suas aulas a partir do que foi decidido pelo grupo Pibid, condição relevante para adequação do projeto ao tempo escolar, pois permite que cada grupo adeque o material e planejamentos ao contexto de aplicação da sua escola.

Após ter discutido sobre o planejamento do grupo e suas implicações na adequação do projeto Solos no contexto das escolas, voltaremos às perguntas levantas no início do texto. Em que medida é possível desenvolver o mesmo projeto em turmas de séries diferentes? Como os professores estão fazendo essa adequação?

O projeto Solos é implementado pelo Pibid nas escolas em turmas de séries diferentes. Na escola A o projeto é desenvolvido em 8 turmas do terceiro ano, na B em 8 turmas do primeiro e 3 do segundo e na menor das três escolas, a escola C, o projeto é desenvolvido em 3 turmas de segundo ano do ensino médio. O material utilizado pelo grupo Pibid nas escolas é a sequência de ensino sobre Solos elaborado para os alunos do primeiro ano do ensino médio. O material do professor possui uma indicação das competências e habilidades abordadas em cada atividade. Assim, podemos observar uma questão importante relacionada ao uso do

84 material elaborado para o primeiro ano em turmas de segundos e terceiros anos do ensino médio.

A questão 10 do questionário aplicado aos professores pergunta se é possível contemplar o conteúdo de outras séries usando o material da sequência de ensino e como os professores estão pondo isso em prática em suas escolas.

A professora da escola B cita alguns conteúdos de outras séries que se relacionam em um nível mais elaborado em relação aos de primeiro ano, ela também nos conta que desenvolve o conteúdo a partir do conhecimento que os alunos trazem para a sala “[...] quando temos que trabalhar algo que eles não têm conhecimento já os instigamos a falar o que sabem sobre o assunto e os ajudamos na construção de conceitos.” (Relato da professora B).

Corroborando com os argumentos da professora da escola B, o professor C afirma que a adequação está sendo possível. Ele trabalha o projeto em suas turmas do segundo ano e relata em sua resposta um exemplo de conteúdo possível de ser abordado pelo material em um nível mais elaborado no segundo ano “Certamente que uma adequação é possível. Estamos estudando concentrações de soluções e consideramos o Solo homogêneo para calcular as concentrações dos sais minerais presentes no Solo.” (Relato do professor C)

A professora da escola A trabalha o projeto Solos nas suas turmas de terceiro ano. Sendo assim, ela responde a pergunta referente ao uso da apostila em turmas de outras séries afirmando que ela mescla as aulas referentes à sequência de ensino com as destinadas ao cumprimento do planejamento anual. A professora também relata que trabalha os conteúdos do primeiro ano como revisão no terceiro e adapta algumas atividades da apostila para ficarem adequadas ao programa da escola “Além dos conteúdos de primeiro ano como Tabela Periódica, pH, condutividade, soluções... aplicando em turmas de terceiro ano, destacamos esses conteúdos como revisão e adaptamos algumas atividades[...]” (Relato da professora A)

Apesar da fala da professora da escola A evidenciar uma distinção entre as aulas referentes ao planejamento anual da escola e as do projeto Solos, quando ela nos apresenta exemplos de atividades reelaboradas a partir das propostas pela apostila, percebemos a presença da recursividade como forma de revisão em suas aulas.

Análise de gráficos e tabelas através de análises de Solo destacando os ácidos húmicos. Contextualização das funções orgânicas e suas propriedades; Presença de minerais nos alimentos com análise de rótulos onde destacaremos também vitaminas, proteínas, carboidratos, gorduras e as reações em nosso organismo; Diferenciar ação de fertilizantes e agrotóxicos. (Relato da professora A).

Tendo em vista as repostas dos questionários, percebemos que os professores abordam os conceitos presentes no material da sequência de ensino em um nível de elaboração

85 adequado às suas turmas. Contudo, o projeto do Pibid ainda não compõe completamente o planejamento anual dos professores, pois, dentre as duas aulas por semana ministradas em cada turma, apenas uma é destinada ao Pibid. Sendo assim, consideramos que o Pibid consegue oferecer condições para adequação de suas propostas nas aulas dos professores, no entanto, a adequação ainda não é plena, pois projeto ainda não participa integralmente do planejamento dos professores.