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A Agenda 2030 e a Justiça social como critério transversal

2 A AGENDA 2030 DA ONU COMO PROMOTORA DA JUSTIÇA SOCIAL: RUMO A SUSTENTABILIDADE E A PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

2.2 A Agenda 2030 e a Justiça social como critério transversal

A implementação de políticas sociais deliberantes que favoreçam o âmbito da promoção e desenvolvimento da Agenda 2030, assim como a criação legislativa (referendada pela implementação e aceite de um plano de Estado – de caráter permanente - capaz de atender as necessidades básicas para a erradicação da pobreza, da fome e das diversas formas de desigualdades sociais que assolam a nação) para que se efetive um mínimo aceitável de objetivos alcançados frete ao acordo internacional do qual o Brasil é signatário, sem dúvida alguma, está entre os principais desafios a serem enfrentados para a garantia do sucesso de boa parte das 169 metas estabelecidas a partir das ODS’s estudadas neste trabalho. Por si somente, a Agenda 2030 busca nos anseios sociais, ratificados ao longo de dezenas de anos de lutas e construções ideológicas amplamente debatidas por Estados e atores sociais, respostas efetivas para a garantia de um existencial mínimo a toda a sociedade, vista em seu aspecto coletivo como uma unidade a ser preservada. Da mesma forma, em que é vista unitariamente, objetiva o respeito pelas individualidades de cada um de seus signatários mundiais, no enfrentamento de suas demandas mais importantes, adequadas a sua própria realidade socioeconômica e ambiental, fomentando ações e até implemento de novas perspectivas (seja financeiras, ideárias ou tecnológicas) na realização da justiça social plena e efetiva. Mais do que uma agenda ideológica, com metas a serem (possivelmente) buscadas, ela é o compromisso de um ideal comum para o melhoramento da condição humana em todos os seus aspectos, pensados coletivamente, com coerência e interação, em favor não somente da nossa geração, mas especialmente das gerações futuras, no respeito ao ambiente em que vivemos, alavancando a economia de forma sustentável e reduzindo as desigualdades vivenciadas pela grande maioria das Nações.

Neste sentido é que a própria construção da Agenda ODS, norteia-se pela busca de um caráter de integração lógica e sistêmica, entendendo que o mundo é

um ente social interativo, dependendo que todas as suas faces (neste trabalho, consideradas indissociáveis), assentem-se no aspecto intersetorial e transversal das para que as estratégias a serem implementadas envolvam uma gama de organizações federais e públicas, da sociedade civil ou governamental, na realização de uma planificação macro de garantia real cidadã, em seus planos estratégicos, de ação, de legitimidade e efetivação. Assim, trabalhando com o pressuposto da própria Agenda aqui analisada, importante contribuição sobre a transversalidade nos traz o relatório do Caderno do ENAP - Escola Nacional de Administração Pública, escola de governo vinculada ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP) no que tange aos “Desafios e condicionantes para implementação da agenda ODS na Administração Pública Federal brasileira” (Desafios e condicionantes para implementação da Agenda dos ODS na administração pública federal brasileira. - Brasília: Enap, 2018. Cadernos Enap, 57), ao entenderem que “[...] Transversalizar a atuação do Estado Brasileiro como principal motor da integração dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e entre os níveis federais, e entre o Governo e a Sociedade Civil” (pg.24), garante um sistema integrativo que motiva e incentiva a criação de cumplicidade e arranjos colegiados para as tratativas, mediações e comunicações entre os entes estatais e sociais para a implementação da Agenda. Ainda, conforme os dados elencados pelo Caderno 57 10do ENAP, com base em entrevista quantitativa e qualitativa efetuada pela escola, [...] como a implementação da Agenda demanda integração e visão transversal das políticas públicas, a capacidade de planejamento intersetorial torna- se um diferencial para o sucesso da Agenda.

Por assim entendido, a transversalidade proposta pela própria Agenda 2030 é caracterizadora de uma amplitude de inovações no que tangem a concretização

10 Considerando a pesquisa efetuada para a elaboração do Caderno 57 do ENAP, importante recorte nos traz o estudo com relação a alguma classificações do instrumento analítico. “A primeira, ao que chamamos de uma compreensão instrumental da Agenda, reside na expectativa de utilização da Agenda como uma oportunidade de organização dos objetivos, processos e instrumentos estatais para uma orientação comum e partilhada da ação governamental. Já o segundo entendimento, referido como ideacional, preocupa-se com o sentido de desenvolvimento que a Agenda 2030 carrega. Isto é, sustenta que a adesão à Agenda implicaria a redefinição do modelo de desenvolvimento do Estado Brasileiro e, para tanto, demandaria alteração não apenas das estruturas operacionais do Estado, mas de toda estrutura societal, envolvendo assim condições endógenas e exógenas ao Estado. Por fim, o terceiro entendimento foca no aspecto integrativo da Agenda como uma forma de enfrentamento dos problemas de políticas públicas que não se restringem apenas à atuação do Poder Executivo Federal, mas também à atuação deste com outros níveis de governo, outros poderes e atores da sociedade civil estatal e societal, além de atores internacionais. (ENAP, 2018, p.59)

deste dispositivo e de suas interconexões com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a implementação das discussões acerca da Justiça Social no Brasil. Ressalta-se que, trazer à baila o tema da justiça social é peça estruturante da construção da Agenda 2030, como bem explicada anteriormente. Trata-se de exemplificar e demonstrar a importância de uma justiça distributiva, contemplativa a todos os atores sociais, integradora, não-excludente e afeita a estabelecer aos cidadãos acesso especial dos bens da comunidade e do Estado a todos os seus indivíduos, independentemente do estamento social a que pertençam (ainda que este não seja o melhor modelo de análise).

Ao contemplar o compromisso com um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, a Agenda ODS referenda que, em parceria colaborativa, buscará de todas as formas a erradicação da fome e da pobreza, garantindo a vida com dignidade e igualdade aos seres, em respeito com a natureza e as condições inerentes aos biomas e a diversidade. Ainda, há o compromisso governamental com as estruturas econômicas, a emancipação financeira e sustentável dos cidadãos, a educação inclusiva com respeito as individualidades e condições de cada ser ou Estado (assim considerado). Por fim, é inegável que a ratificação deste compromisso, além de atender pautas de dezenas de anos de construções ideológicas acerca da inclusão e do combate à desigualdade no mundo (em todas as suas formas), entendendo que não há possibilidade de deixar sequer um ser humano para traz nesta caminhada de respeito e construção da Justiça Social:

7. Nestes Objetivos e metas, estamos estabelecendo uma visão extremamente ambiciosa e transformadora. Prevemos um mundo livre da pobreza, fome, doença e penúria, onde toda a vida pode prosperar. Prevemos um mundo livre do medo e da violência. Um mundo com alfabetização universal. Um mundo com o acesso equitativo e universal à educação de qualidade em todos os níveis, aos cuidados de saúde e proteção social, onde o bem-estar físico, mental e social estão assegurados. Um mundo em que reafirmamos os nossos compromissos relativos ao direito humano à água potável e ao saneamento e onde há uma melhor higiene; e onde o alimento é suficiente, seguro, acessível e nutritivo. Um mundo onde habitats humanos são seguros, resilientes e sustentáveis, e onde existe acesso universal à energia acessível, confiável e sustentável. (ONU, 2019, p. 3-4)

O respeito a construção de sociedades nas quais, a garantia da efetivação de direitos humanos, a igualdade substancial e equitativa, o crescimento econômico e

sustentável preocupado com as gerações vindouras e com o futuro de nosso planeta, são parte do documento ratificado pelos organismos estatais internacionais, e demonstram a importância desta Agenda mundial, assim como, da sua transversalidade visando atingir os objetivos, de forma integrada e integradora.

8. Prevemos um mundo de respeito universal dos direitos humanos e da dignidade humana, do Estado de Direito, da justiça, da igualdade e da não discriminação; do respeito pela raça, etnia e diversidade cultural; e da igualdade de oportunidades que permita a plena realização do potencial humano e contribua para a prosperidade compartilhada. Um mundo que investe em suas crianças e em que cada criança cresce livre da violência e da exploração. Um mundo em que cada mulher e menina desfruta da plena igualdade de gênero e no qual todos os entraves jurídicos, sociais e econômicos para seu empoderamento foram removidos. Um mundo justo, equitativo, tolerante, aberto e socialmente inclusivo em que sejam atendidas as necessidades das pessoas mais vulneráveis.

9. Prevemos um mundo em que cada país desfrute de um crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável e de trabalho decente para todos. Um mundo em que os padrões de consumo e produção e o uso de todos os recursos naturais – do ar à terra; dos rios, lagos e aquíferos aos oceanos e mares – são sustentáveis. Um mundo em que a democracia, a boa governança e o Estado de Direito, bem como um ambiente propício em níveis nacional e internacional, são essenciais para o desenvolvimento sustentável, incluindo crescimento econômico inclusivo e sustentado, desenvolvimento social, proteção ambiental e erradicação da pobreza e da fome. Um mundo em que o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia são sensíveis ao clima, respeitem a biodiversidade e são resilientes. Um mundo em que a humanidade viva em harmonia com a natureza e em que animais selvagens e outras espécies vivas estão protegidos. (ONU, 2019, p. 3-4)

Este é o contexto próprio da transversalidade entre a Agenda e a Justiça Social11. Ao mesmo tempo em que trabalha com ideais amplos e objetivos, busca

11 Segundo Tércio Sampaio Ferraz Jr. (apud, BARZOTTO, 2019), o termo justiça social "em nossa tradição constitucional, deita raízes na Doutrina Social da Igreja". Este termo se faz presente no caput do art. 170 e no art. 193.

O caput do art. 170 trata dos princípios fundamentais da ordem econômica. Sua redação é a seguinte: "A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios...". A atividade econômica não tem por finalidade o crescimento econômico e o poderio nacional, mas "assegurar a todos existência digna". A existência digna é a vida humana realizada, a "vida boa" dos clássicos. Na medida em que todos alcançarem uma existência digna, o bem comum terá sido concretizado. Ora, a justiça social, aquela dirigida à consecução do bem comum, exige de todos, portanto, por meio de seus "ditames", que direcionem os seus esforços, tanto no campo do trabalho como no da livre iniciativa, para criar os bens econômicos que possam ser utilizados como meios de garantir a existência digna para todos.

O art. 193 dispõe: "A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem- estar e a justiça sociais." Ferraz Jr. (apud, BARZOTTO, 2019) traça as diferenças entre a justiça

equitativamente, garantir a real interpretação do reconhecimento do ser como sujeito de direito, possuidor de dignidade, de capacidades e potencialidades e, como tal, partícipe de uma comunidade que deve garantir a efetivação mínima de sua condição humana, através da figura do Estado. Da mesma forma, este sujeito, de forma voluntária ou não, tem o dever de reciprocidade com seus pares sociais, protegendo e, quando possível, tutelando os mesmos direitos a seus iguais, respeitando suas individualidades e condições intrínsecas na construção de uma distribuição de bens e serviços estatais, de forma igualitária, com dignidade, e tendo a humanidade como conceito finalístico da transferência/ e ou cedência dos direitos.

2.3 O desenvolvimento humano como prioridade: uma abordagem

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