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1 O CONSELHO DE EDUCAÇÃO NAS ESFERAS ADMINISTRATIVAS DE

1.3 ASPECTOS GERAIS DE UM CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

1.3.2 A agenda, a implementação e os reflexos no processo educacional

Ao assumir a pasta da educação no município em 15 de Abril de 20138, o secretário municipal de educação deparou-se com alguns desafios para resolver ou amenizar a situação educacional nesta comuna, dentre eles, a não participação social e até mesmo o esvaziamento dos Conselhos, no qual figura com maior relevância o Conselho Municipal de Educação, pois teoricamente, seus mandatos se encerraram e, embora uma de suas primeiras ações fosse de enviar vários ofícios para os segmentos sociais que requeiram sua formação, não teve indicação suficiente para a consolidação e nomeação dos novos membros.

Esta situação implica numa grande questão a ser resolvida, pois inúmeras decisões precisam ter o aval desse colegiado dentre elas, a aprovação do calendário especial, considerando que 2/3 das escolas da zona rural têm suas atividades

suspensas em decorrência das cheias dos rios da Amazônia, o que dificulta não só o funcionamento, mas a logística para o transporte de alunos e merenda escolar e exige um planejamento mais focado nessas variáveis que se replicam todos os anos. O calendário especial acaba por ser definido pelo executivo, sem a devida análise e parecer do Conselho pondo em dúvida o cumprimento obrigatório dos 200 dias letivos.

A câmara de vereadores9 cobra por ações e resultados tendo em vista já ter indicado seu representante para integrar o Conselho Municipal de Educação. Registros das sessões dessa casa legislativa demonstram nas falas dos vereadores uma constante preocupação quanto ao desempenho dos alunos das escolas do interior. Segundo um deles: “o ano letivo tem sido dificultoso daí a necessidade de um plano de emergência das aulas” (p.1). Neste sentido, alguns vereadores reconhecem que determinadas ações da Secretaria devem ser articuladas com outros órgãos vinculados à educação: “já visitamos algumas escolas do interior junto com o secretário e sabemos que só ele não tem como levar (a educação) em frente” enfatiza um dos vereadores. (URUCURITUBA, 2014, p.2).

É perceptível que a dimensão do problema se perpetua no tempo. Em outra sessão da Câmara Municipal, um ano depois, outro vereador destaca: “É preciso que juntos possamos rever a situação da educação do nosso município, imagina como se encontra a educação no interior!” (URUCURITUBA, 2015, p.4). Embora nesta fala não haja uma alusão direta ao CME/Urucurituba, pode-se notar que o efeito em referência aponta uma possível consequência da não atuação deste colegiado que se aprofunda nas escolas do interior do município.

Outra possível evidência que pesa nesse contexto é a falta de conhecimento que induz as pessoas ao erro ou ao descaso. É possível que a soma desses fatores contribua de forma significativa para que não haja, por parte dos segmentos sociais, o desejo de se fazer representar nos órgãos colegiados e deliberativos.

Neste cenário, embora não seja a questão mais relevante, mas com base nos atribuições de oferecer suporte, faculta-se à Secretaria de Educação tomar as devidas iniciativas no que diz respeito a estar atenta ao término dos mandatos dos conselheiros e convocar, caso o CME10 não o faça, os segmentos sociais a

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De acordo com as Atas das Sessões da Câmara Municipal, verificadas na pesquisa documental.

efetuarem a escolha de seus representantes e encaminhá-los para serem, posteriormente, nomeados por meio de ato do Poder Executivo Municipal cujo procedimento respeite os limites que ensejem a legalidade do ato.

Outra possível evidência que pesa nesse contexto é a falta de conhecimento que induz as pessoas ao erro ou ao descaso. É possível que a soma desses fatores contribua de forma significativa para que não haja, por parte dos segmentos sociais, o desejo de se fazer representar nos órgãos colegiados e deliberativos.

Vale ressaltar que tal procedimento não se configura numa intervenção do poder executivo no órgão colegiado, mas numa atitude que se contextualiza nas necessidades impressas na rotina administrativa, as quais podem ser frustradas caso tais representantes não sejam indicados democraticamente por seus segmentos, pois não compete ao poder executivo efetuar tais indicações a não ser do seu próprio representante com assento no referido conselho.

Conforme teor dos Ofícios nº 048/2013, 049/2013, 050/2013, 051/2013 e 052/2013 de 29 de abril de 2013, constantes nos arquivos da Secretaria Municipal de Educação, indicam que o Secretário oficializou os convites e conclamou os segmentos a apontarem seus representantes, mas a maioria sequer respondeu tais ofícios, o que impede a nomeação legal dos membros do CME e seu efetivo funcionamento.

Os ofícios expedidos com o timbre do gabinete do Secretário e sua assinatura evidenciam que a Secretaria Municipal de Educação não dispõe de um departamento específico para cuidar diretamente das relações desta pasta com os Conselhos Municipais relacionados ao Sistema Municipal de Educação.

A falta de atuação do Conselho Municipal de Educação se caracteriza por grandes lacunas temporais no que diz respeito ao estabelecimento de normas e regulamentações no universo da educação do município que se arrastam por longos períodos desde a criação do Sistema Municipal de Educação que respalda sua institucionalização e define suas competências. O Quadro 2, a seguir, apresenta o histórico de atuação da CME:

Quadro 2 - Histórico dos Atos e Eventos que contextualizaram a atuação do CME

Data Documento Atos e eventos

Junho/2002 Lei Municipal

006/2002 Institui o Sistema Municipal de Educação Outubro/2006 Lei Municipal

054/2006 Dispõe sobre a alteração da Lei Municipal 054/2006 discorrendo sobre a reestruturação do SME.

Maio/2009 Decreto Municipal nº

402/PMU-GP Institui e nomeia os membros do CME Maio/2009 Ata de Reunião de

21/05/ de 2009 Posse dos membros e eleição do Presidente do CME Fonte: Elaboração própria, 2015

Os eventos constantes do Quadro 2 demonstram que, no ato de nomeação do colegiado executado pelo Poder Executivo Municipal por meio do Decreto nº 402/GP, de 19 de maio de 2009 (URUCURITUBA, 2009), há uma decorrência de espaço temporal de três anos depois de ter destaque na Lei Municipal nº 054/2006, de 09 de outubro de 2006 (URUCURITUBA, 2006), o que torna evidente a existência de causas geradoras das dificuldades para a sua formação.

Embora não faça parte do foco deste caso, é importante considerar que tal comportamento se replica em outros setores da administração municipal que requeiram a formação desse tipo de colegiado, o que é um indício da não participação da comunidade local. Em uma audiência na Câmara Municipal, o Secretário Municipal de Saúde apresenta o mesmo desafio e em tom de desabafo declara:

O nosso Conselho Municipal faz seis meses que não funciona e hoje, pela quarta vez convidei para uma reunião, não sei se vai acontecer, a população se omite de fazer a sua parte como cidadã e isso traz grande prejuízo para a gestão (URUCURITUBA, 2015, p.5).

Subentende-se, nesta afirmativa e neste contexto, que a Secretaria Municipal de Educação não tem dimensão do problema com a mesma proporção que tem a Secretaria Municipal de Saúde. A Secretaria Municipal de Educação não tem relatórios que indiquem em que proporções pais, professores, gestores escolares e comunitários trazem suas reivindicações ou reclamações relacionadas aos

problemas decorrentes da lacuna aberta pela falta de atuação dos conselhos municipais. Contudo, é comum encontrarmos nas atas da Câmara Municipal de Urucurituba a reprodução dessas vozes por parte dos vereadores que geralmente visitam as comunidades do interior do Município, onde os reflexos são mais incidentes ou são procurados pelos cidadãos que reclamam suas demandas.