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1 O CONSELHO DE EDUCAÇÃO NAS ESFERAS ADMINISTRATIVAS DE

1.4 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL INVESTIGADO

2.1.2 Os CME como espaço de participação e controle social

Tendo como pressuposto as diretrizes constitucionais que recomendam a participação da sociedade cujos atores são considerados peças fundamentais na formulação de políticas sociais, vê-se a importância da formação de Conselhos.

A forma representativa que figura na organização dos poderes no âmbito das instâncias administrativas de governo não são concebidas como a única forma de participação social na qual o cidadão, no exercício do direito de voto, elege seus representantes que comporão as casas legislativas. Os espaços de representação social, nos quais figuram os Conselhos deliberativos, assume um status de coadjuvantes no processo de fortalecimento da democracia à luz dos preceitos que vinculam a participação social.

Convém afirmar que o controle social consiste na utilização de instrumentos democráticos, no qual os cidadãos no amplo exercício da cidadania, sintam-se partícipes do poder decisório onde a vontade social seja considerada como fator de avaliação do alcance de metas impressas no desenho das políticas públicas. Trata- se de uma maneira de estabelecer um compromisso entre o poder público e a sociedade com o intuito de encontrar soluções para as demandas sociais.

Nos dizeres de Degues “ a expressão 'controle social' comumente é utilizada para designar os mecanismos que determinam a ordem social regulamentando a sociedade e submetendo os indivíduos a determinados padrões sociais e princípios morais” (2013, p. 5)

Ressalta-se que os espaços dialógicos funcionam como mecanismo de controle social de políticas públicas que fomentam de forma organizada a fiscalização, o controle e o monitoramento das ações propostas, assim como promove a interlocução do governo com a sociedade civil, fortalecendo a autonomia dessas esferas administrativas.

Ao observar o desenho das políticas e programas do governo federal que são voltados para o âmbito educacional, há sempre uma abertura de espaços que contemplem a participação da sociedade no acompanhamento e no controle dessas políticas através dos conselhos, seja como órgãos consultivos, deliberativos ou fiscalizadores.

Tais iniciativas, figuram como instrumentos e espaços legítimos para a implementação de mecanismos para a democratização das ações de governo, sob

as quais repousa os anseios da sociedade no que tange à qualidade da educação pública.

Em uma formatação geral, os Conselhos Municipais de Educação – CME detém em sua natureza a tríplice função: consultiva, normativa e fiscalizadora, o que requer que sua formação seja norteada pelo princípio da paridade, de maneira que comporte representantes, na mesma proporção, de membros indicados pela gestão local e segmentos sociais para que se promova o equilíbrio nas decisões deliberadas pelo colegiado.

Vale destacar que a falta de paridade nos órgãos de deliberações coletivas, além de ferir os princípios constitucionais que delega soberania da vontade popular, cria um círculo vicioso no qual as decisões do colegiado estejam mais alinhadas com os desejos dos representantes do poder público, o qual passa a ser apenas um espaço de ratificação das decisões dos gestores públicos. Um CME com representação equitativa, ao torna-se uma seara de participação social possibilita sua oxigenação dando mais legitimidade às deliberações oriundas de sua mesa de debate.

Neste sentido, os CMEs surgem como espaço de participação da sociedade na questão de gestão e controle de políticas educacionais engendradas nos Sistemas Municipais de Ensino, cuja atribuição tem como meta principal a consolidação da cidadania ativa.

Cury (2006, p.1) destaca que “um Conselho de Educação é, antes de tudo, um órgão público voltado para garantir, na sua especificidade, um direito constitucional da cidadania”. Logo, um espaço de participação social deve ser ocupado por cidadãos conscientes de seus direitos e “deve ser um polo de audiências, análises, reflexões e estudos de políticas educacionais do seu sistema de ensino” (CURY, 2006, p.21).

Os Conselhos Municipais de Educação como espaços dialógicos surgem ante a necessidade da aproximação dos anseios da sociedade por qualidade na educação sob os auspícios da democratização da gestão pública educacional intermediada pelo controle social impresso nas atribuições deste colegiado, em contraposição a uma cultura de não participação decorrente de longos períodos ditatoriais que permearam o nosso percurso histórico como nação democrática.

Para Alves (2005) a inter-relação participativa engendrada dentro dos espaços dialógicos podem surgir como agentes que deverão inverter esse aspecto

cultural de forma que incentive o cidadão local à participação social. Ela destaca que:

[...] a partir da criação da cultura da participação a mesma estará se fortificando e sendo assumida por um maior número de pessoas. Aparentemente um grupo, assembleia ou colegiado pode fazer pouco pelos seus objetivos específicos, mas ao fazer parte dos grupos em suas diversas tipificações as pessoas contribuem para o alargamento da consciência cívica e política, o que por si só já significa um ganho para a sociedade (ALVES, 2005, p.47).

Este processo requer a necessária participação dos segmentos sociais em espaços públicos para a tomada de decisão com vista a indicadores gerais que consubstanciam a agenda/problema que justifica a formulação de determinadas políticas ou programas, inclusive como agentes de transformação social. Nesta perspectiva, Alves (2005) acrescenta:

É importante que, em espaços públicos já existentes, os grupos possam operar uma transformação social, modificando inclusive a forma de ser destes espaços e gerando novas arenas políticas, onde o cidadão comum se veja representado. Espaços onde sejam gerados mecanismos de participação direta do cidadão no poder local (p.54).

Os dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, quando têm a educação como referente, dão especial destaque aos espaços públicos como mecanismo de controle social das políticas educacionais delegando aos representantes da sociedade civil organizada o poder de decisão ao intervir de forma efetiva na agenda, formulação, implementação e avaliação contemplando o acompanhamento social de todos os ciclos de formulação de tais políticas que, ao se constituírem como ambientes de participação reúnem Estado, governo e sociedade.

Essa junção figura como mecanismo de enfrentamento de uma cultura patrimonialista que mantém raízes na administração pública como resquício de nosso recente antepassado histórico que ainda predominam com maior incidência na gestão pública municipal com maior destaque ao âmbito educacional principalmente nos pequenos municípios (REZENDE, 2011).

Neste sentido, a participação é fundamental para o fortalecimento da democratização da gestão. Isto só será viável mediante a consolidação e o fortalecimento de arenas e, ou espaços dialógicos que legitimem a

representatividade dos mais variados segmentos sociais, cruciais no fomento e controle de ações interventivas dentre os quais figuram os Conselhos Municipais de Educação.

Na seção que se segue, abordaremos a metodologia adotada para o procedimento desta pesquisa, descrevendo os métodos e os instrumentos utilizados para a coleta e as técnicas de análise dos dados.