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3. Políticas e linhas de orientação estratégica para o desenvolvimento do turismo sustentável

3.2. Acção internacional

3.2.1. A Agenda 21 para a Indústria de Viagens & Turismo

A convocação da Cimeira da Terra teve como principal propósito chamar a atenção do mundo para os grandes problemas ambientais que ameaçam o planeta, desde a deplecção da camada de ozono ao aquecimento global e à subida do nível das águas do mar, às chuvas ácidas, à deflorestação, à desertificação e à ameaça à biodiversidade e tantos outros fenómenos associados à destruição ambiental. Pela primeira vez, 182 países sentaram-se à mesma mesa para discutir a “saúde” do Planeta e estabelecer um Plano de Acção alargado, a vários níveis, para o seu “tratamento” urgente e prevenção de males piores - a Agenda 21.

A partir daqui, assiste-se a uma multiplicação de congressos e seminários, está definitivamente aberta a discussão pública, sobre as mais diversas questões relacionadas com o Ambiente. Há, de facto, uma participação activa dos cidadãos, nunca antes vista, uma tomada de consciência por parte dos governos e dos agentes dos sectores público e privado de grande número de países; surgem critérios e indicadores que permitem medir e comparar diferentes situações em várias partes do mundo; há experiências inovadoras e difundem-se valores éticos conducentes ao desenvolvimento sustentável. Foi este, porventura, o maior sucesso da Cimeira da Terra (Scherr & Barnhizer, 1997).

Ainda segundo a mesma fonte, a Agenda 21 veio, no entanto, a revelar-se ficar muito aquém das expectativas, talvez por constituir um documento demasiado ambicioso, na estratégia proposta para o programa de transição para o desenvolvimento sustentável e na transposição para as políticas nacionais das suas inúmeras recomendações. Apesar de ter suscitado grande debate em torno das questões ambientais e de ter levado a uma série de

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compromissos de implementação por parte de muitas instituições, não se registaram as mudanças que se preconizaram no Rio de Janeiro, em 1992.

A discussão da Agenda 21 em 1992 pecou, antes de mais, pela omissão de componentes determinantes no papel que assumem no plano das actividades económicas mais relevantes, como é o caso do Turismo. Cientes dessa lacuna, o WTTC, a OMT e o Conselho da Terra reuniram-se no ano seguinte para trabalharem em conjunto um plano de acção dirigido à indústria de viagens e turismo.

Este documento assumia uma importância crucial para todos os envo lvidos, directa ou indirectamente, nas viagens e turismo: sector privado, sector público, governos, administrações regionais e locais e os próprios cidadãos.

O programa de acção proposto divide-se em três partes principais - áreas prioritárias de acção, objectivos e os meios para os atingir. Para além disso, reforça a importância da cooperação entre governos, indústria e organizações não governamentais (ONG), analisa a importânc ia estratégica e económica das viagens e turismo e, por último, demonstra os enormes benefícios de tornar esta indústria sustentável (Green Globe, 2002a).

Não pode, no entanto, deixar de ser aqui feita referência a uma grande lacuna deste programa, que se traduz no facto de não fazer qualquer referência à questão dos transportes e das alterações climáticas e da sua forte relação com o desenvolvimento da indústria de viagens e turismo. O ritmo a que se prevê o seu crescimento terá implicações directas no sector dos transportes e no consequente aumento das emissões de gases com efeito de estufa, principais responsáveis pelo processo de alterações climáticas verificada cada vez com maior intensidade.

O Objectivo principal da Agenda 21 para a indústria de viagens & turismo é o de incentivar a adopção de normas e procedimentos que permitam introduzir práticas sustentáveis no seu processo de desenvolvimento. Os princípios em que assentou o programa de acção proposto procuraram basear-se na Declaração do Rio para o Ambiente e Desenvolvimento, a saber (Green Globe, 2002a):

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? As Viagens & Turismo devem proporcionar às pessoas experiências saudáveis e produtivas em harmonia com a natureza;

? As Viagens & Turismo devem contribuir para a conservação, protecção e restauração dos ecossistemas;

? As Viagens & Turismo devem assentar em padrões sustentáve is de produção e consumo;

? O proteccionismo nas transações de serviços de Viagens & Turismo deve ser evitado, deixando funcionar o mercado livre;

? A protecção ambiental deve ser parte integrante do processo de desenvolvimento turístico;

? As questões relacionadas com o desenvolvimento turístico devem prever a participação de todos os cidadãos interessados e as decisões de planeamento serem adoptadas a nível local;

? As nações têm o dever de alertar todos os turistas e áreas receptoras para potenciais desastres naturais que os possam afectar;

? As Viagens & Turismo devem utilizar a sua capacidade máxima para incentivar o emprego para mulheres e residentes locais;

? O desenvolvimento turístico deve reconhecer e apoiar a preservação da identidade, cultura e interesses das comunidades locais;

? As leis internacionais aplicáveis à indústria de Viagens & Turismo devem ser sempre respeitadas.

O documento distingue Áreas Prioritárias de Acção para todos os intervenientes no processo, diferenciando dois grandes grupos: Organizações Governamentais e Não Governamentais e Administração Pública, por um lado e, por outro, as empresas. A Figura 3.1 procura sistematizar uns e outros.

O Programa de Acção é bem explícito e detalhado quanto às Medidas ao alcance de cada uma das partes envolvidas para atingir os objectivos específicos inerentes a cada uma daquelas áreas de acção prioritárias (ver Apêndice I).

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Figura 3.1

Áreas Prioritárias de Acção da Agenda 21 para a indústria de viagens & turismo Organizações Governamentais, ONG e

Administração Pública

Empresas

1. Avaliação da capacidade do quadro regulamentar, económico e voluntário existente para garantir o desenvolvimento do turismo sustentável.

1. Minimização de resíduos, reutilização e reciclagem.

2. Avaliação das implicações ambientais, sociais, culturais e económicas das operações das organizações.

2. Conservação, eficiência e gestão da energia.

3. Formação, educação e sensibilização públicas. 3. Gestão de recursos hídricos superficiais 4. Planeamento para um desenvolvimento turístico

sustentável.

4. Gestão de águas residuais.

5. Promoção do intercâmbio de informação, competências e tecnologia s relativas ao turismo sustentável entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

5. Substâncias perigosas.

6. Promoção da participação de todos os sectores da sociedade.

6. Transportes.

7. Concepção de produtos turísticos ambientalmente sustentáveis.

7. Gestão e planeamento do uso do solo.

8. Monitorização de resultados obtidos no desenvolvimento do turismo sustentável.

8. Envolvimento dos recursos humanos das empresas, clientes e comunidades locais nas questões ambientais.

9. Estabelecimento de parcerias para promover o desenvolvimento turístico sustentável.

9. Concepção de projectos para a sustentabilidade.

10. Estabelecimento de parcerias para promover o desenvolvimento turístico sustentável.

Fonte: WTTC, WTO and the Earth Council (1993), versão traduzida de Lima & Partidário (2002)

Entretanto, está a ser preparada uma revisão desta publicação. A nova versão “pretende reflectir as alterações ocorridas desde a primeira e demonstrar o progresso verificado com estudos de caso relevantes para cada área de acção prioritária prevista” (OMT, 2002).

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