• Nenhum resultado encontrado

6. Domínios de acção ambiental das empresas do sector hoteleiro

6.3. Principais áreas operacionais de gestão ambiental

6.3.1. Gestão da energia

6.3.1.1. Requisitos legais

A Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 11/87, de 7 de Abril) constituiu o factor impulsionador decisivo de toda a legislação ambiental actualmente em vigor em Portugal. De facto, esta procurou alcançar dois grandes objectivos distintos. Por um lado, fixar as grandes orientações da política do ambiente e os seus princípios fundamentais e, por outro, definir o quadro legal que, na sequência das normas constitucionais, deve reger as relações do homem com o ambiente de forma a garantir a sua efectiva protecção (Assembleia da República, 1987).

Nos termos desta lei, previa-se, na alínea h) do artigo 4º, “a definição de uma política energética baseada no aproveitamento racional e sustentado de todos os recursos naturais renováveis, na diversificação e descentralização das fontes de produção e na racionalização do consumo”. Apesar deste apelo à racionalização do consumo, esta lei, por outro lado, procura assegurar, no número 1 do artigo 9º, que “todos têm direito a um nível de luminosidade conveniente à sua saúde, bem-estar e conforto na habitação, no local de trabalho e nos espaços livres públicos de recreio, lazer e circulação.”

Capítulo VI – Domínios de acção ambiental das empresas do sector hoteleiro

Com o decorrer dos anos, a legislação tem procurado responder à Lei de Bases, mas também, e principalmente desde a assinatura do Protocolo de Quioto em 1997, às novas orientações no quadro do controlo das emissões atmosféricas, nomeadamente as decorrentes do Plano Nacional das Alterações Climáticas (PNAC).

Este Plano enquadra-se na estratégia de combate às alterações climáticas, integrando políticas, medidas e instrumentos para os sectores da oferta de energia, indústria, transportes, residencial e serviços, floresta e resíduos. Para esse efeito, estima o seu potencial técnico de redução de emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e a respectiva relação custo-eficácia. A necessidade de adopção de medidas de mitigação das emissões de GEE envolve toda a sociedade portuguesa, desde os consumidores privados aos agentes económicos produtivos, passando pela administração pública (DGA, 2001b).

A primeira legislação para a gestão do consumo energético surgiu com a necessidade de criar meios para minimizar os efeitos da crise energética que se fizeram sentir a partir da década de 70, tendo sido publicado o Decreto-Lei nº 58/82, de 26 de Fevereiro e a consequente Portaria 359/82, de 7 de Abril. Esta Portaria pôs em execução o primeiro Regulamento da Gestão do Consumo de Energia (RGCE) que é aplicável a toda e qualquer instalação consumidora de energia, que tenha tido, durante o ano anterior, um consumo energético superior a 1000 toneladas de equivalente petróleo (1000 tep/ano), que tenha instalados equipamentos cuja soma dos consumos energéticos nominais exceda 0,500 tep/hora ou que tenha instalado pelo menos um equipamento cujo consumo energético nominal exceda 0,300 tep/hora.

Em 1990, é publicado o Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), Decreto- Lei nº 40/90, de 6 de Fevereiro, que tem como objectivo principal a melhoria da qualidade térmica da envolvente dos edifícios, de forma a possibilitar melhores condições de conforto sem o correspondente acréscimo do consumo energético. Este regulamento estabelece as regras a observar no projecto de edifícios de forma a que “as exigências de conforto térmico no seu interior possam vir a ser asseguradas sem dispêndio excessivo de energia” (alínea a) do art. 1º do RCCTE).

Capítulo VI – Domínios de acção ambiental das empresas do sector hoteleiro

Mais recentemente, em 1998, é publicado o Regulamento dos Sis temas Energéticos de Climatização em Edifícios (RSECE), no Decreto-Lei nº 118/98, de 7 de Maio, que visava os edifícios com sistemas energéticos de climatização, com o objectivo de melhorar a sua eficiência energética. Assim, pretendia-se estabelecer as regras a considerar no dimensionamento e instalação dos sistemas energéticos de climatização em edifícios, garantindo as “exigências de conforto e de qualidade do ambiente impostas no interior dos edifícios...” (alínea a), nº 1 do art. 1º).

De acordo com um estudo coordenado por Seixas (2000), relativo à avaliação das emissões e controlo dos GEE em Portugal, será necessária uma revisão regulamentar com vista a aumentar o nível de exigência da eficiência energética dos novos edifícios.

O referido estudo aponta os sectores com maior responsabilidade nas emissões de CO2 e que são, por ordem de importância, os da indústria, transportes e residencial / serviços, cujo contributo para o balanço global de emissões se situou, em 1990, nos 40%, 24% e 17%, respectivamente. Neste último, os subsectores dos restaurantes e hotéis apresentam uma posição de destaque.

No PNAC foram equacionadas a aplicação de determinadas medidas e acções para os sectores residencial e de serviços, bem como o potencial de redução de CO2 de cada uma destas e o seu contributo, em termos percentuais, para a redução das emissões daquele sector, em 2010. A estratégia seguida poderá permitir a Portugal cumprir, nos prazos estabelecidos, as exigências da proposta de Directiva Europeia para a Eficiência Energética nos Edifícios.

Prevê-se que, com a entrada em vigor daquelas medidas em 2003, seja possível impedir a emissão de cerca de 650 mil toneladas de GEE/ano em 2010, o que contribuiria para que Portugal conseguisse respeitar o limite imposto de emissões previsto pelo Protocolo de Quioto no âmbito da União Europeia (MNE, 2002).

Para tal, é fundamental a promoção do Programa E4 - Programa Eficiência Energética e Energias Endógenas, enquadrado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 154/2001,

Capítulo VI – Domínios de acção ambiental das empresas do sector hoteleiro

de 19 de Outubro (DGE, 2001), que propõe uma política abrangente para a ene rgia em Portugal, com um impacto directo no sector doméstico e de serviços. Igualmente importante é o lançamento do programa nacional de promoção e credibilização do aquecimento de águas sanitárias por energia solar, através do Programa Água Quente Solar (AQS), que prevê a instalação de cerca de 1 milhão de m2 de painéis solares até 2010 (ADENE / DGE / INETI, 2001).

No que se refere aos edifícios, o Programa E4 estabelece também o lançamento de um programa nacional para a eficiência energética dos mesmos. O Programa Nacional para a Eficiência Energética nos Edifícios, P3E ou PNEEE (DGE, 2002), aponta uma estratégia centrada na revisão da regulamentação térmica existente, RCCTE e RSECE, bem como na introdução da certificação energética obrigatória para todos os edifícios.