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5. A influência do tipo de alojamento no ambiente dos destinos turísticos

5.3. Determinantes da dimensão da empresa

Para perceber objectivamente o impacto do alojamento no ambiente é essencial distinguir as operações geradas por empresas de diferentes dimensões. Middleton & Hawkins (1998) caracterizam as situações distintas que podem ocorrer conforme se trate de empresas de grande dimensão, basicamente as grandes cadeias internacionais; pequenas e médias empresas; e muito pequenas ou micro-empresas.

Grandes Empresas

Em primeiro lugar, há que considerar a forma de estar das grandes cadeias internacionais, nomeadamente as estâncias turísticas, que detêm espaços amplos que oferecem praticamente todas as componentes do produto turístico de forma integrada, como sejam o

Capítulo V – A influência do tipo de alojamento no ambiente dos destinos turísticos

alojamento, atracções turísticas, animação, espaços verdes, entre outros. É o caso de empreendimentos que constituem o próprio destino turístico, independentemente do país onde se encontram, como o Club Mediterranée ou outros resorts detidos por grandes companhias hoteleiras internacionais em destinos do Mediterrâneo, Caraíbas e Ásia/Pacífico.

A qualidade ambiental destes empreendimentos privados, no seu todo, constitui actualmente um elemento central do negócio, pelo que tende a verificar-se um maior compromisso e investimento nesta área. Neste caso, o próprio mercado e o interesse comercial privado em satisfazer as suas necessidades encoraja o desenvolvimento de políticas sustentáveis.

A tendência é para que, gradualmente, o nível de exigência seja ainda maior, mesmo já na fase de concepção dos empreendimentos, nomeadamente no que diz respeito à realização de estudos de impacto ambiental, modificação da arquitectura dos edifícios e implementação de sistemas de gestão ambiental para melhorar e proteger os recursos ambientais do destino.

Pequenas e Médias Empresas

Relativamente às pequenas e médias empresas, o seu impacto é tanto maior se se considerar a sua actuação no conjunto dos milhares de empresas desta dimensão implantadas no mercado turístico internacional, e cuja actividade assenta essencialmente no produto “sol e mar” que alimenta o turismo de massas.

A maioria destas empresas são independentes e muitas delas estão na quase total dependência dos operadores turísticos internacionais. Muitas vezes sem grande poder negocial, sucumbem às agressivas políticas de negociação praticadas pelos grandes operadores turísticos que dominam o mercado, vendo-se obrigadas a reduzir ao máximo os seus custos operacionais, dadas as reduzidas margens de lucro com que acabam por se confrontar. Esta situação resulta naturalmente em baixos níveis de qualidade, negligenciando-se práticas ambientais mais responsáveis.

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Os segmentos de mercado a quem se dirige este produto, vendido muitas vezes sob a forma de pacote turís tico num preço único reduzido, que inclui normalmente a viagem, alojamento, restauração e animação, não é muito sensível às questões relacionadas com o respeito pelos princípios da sustentabilidade.

Esta situação generalizada tem conduzido à progressiva degradação de muitos destinos turísticos que albergam estas empresas orientadas para um mercado de reduzido poder de compra. Primeiro, porque as unidades hoteleiras construídas especificamente para este mercado não têm em consideração os aspectos estéticos e de enquadramento adequados, já que o principal objectivo é o baixo custo e depois porque, para rentabilizar este tipo de produto, é necessário construir muitas unidades de grande dimensão, não sendo respeitados os limites máximos de densidade de ocupação do solo.

Muito pequenas ou micro-empresas

Por último, nas muito pequenas e micro-empresas, tais como unidades de turismo no espaço rural (TER), a ligação entre o alojamento e o ambiente local é mais estreita. Há, efectivamente, um interesse especial na preservação dos recursos ambientais que integram um produto compósito, baseado num conjunto de elementos que vai desde o alojamento com características especiais, que prevêem determinado enquadramento paisagístico, aliado a uma riqueza patrimonial cultural e natural, até um conjunto de atracções assentes nesta mesma riqueza.

Neste caso, pode-se considerar que os operadores actuam com os mesmos princípios dos dos empreendimentos de grande dimensão, referidos anteriormente, só que numa micro- escala e sem uma responsabilidade directa sobre os recursos que não constituem sua propriedade, na maioria dos casos. São, antes, parte de uma comunidade local, de utilização comum, para os quais poucos contribuem directamente para a sua preservação.

As operações destas pequenas unidades têm aparentemente um impacto mínimo sobre o ambiente, quando analisadas em reduzido número, na ordem das dezenas ou centenas,

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mesmo em áreas mais sensíveis, dependendo da intensidade da sua actividade e do ambiente em que actuam.

É fácil reconhecer nestes casos mais impactos positivos do que negativos, nomeadamente pelo facto do desenvolvimento do turismo em áreas que são normalmente desfavorecidas contribuir para novas formas de exploração e aproveitamento do espaço rural. Reforçam- se, assim, de uma forma mais sustentável, as estruturas económicas e sociais, pela dinamização de novas actividades económicas e criação de postos de trabalho, bem como pelo contributo para a recuperação e manutenção de edifícios antigos de valor arquitectónico e revitalização de actividades tradicionais locais.

Contudo, quando se passa das dezenas para as muitas centenas ou milhares de unidades, em determinadas áreas mais sensíveis, o problema assume outra dimensão, a qual não deve de maneira nenhuma ser descurada porque, por muito insignificantes que possam parecer as decisões tomadas por estas pequenas ou micro-empresas individualmente, o seu impacto global é massivo.

De acordo com Middleton & Hawkins (1998), para muitos países é neste nível operacional que será mais crucial actuar com rigor na regulamentação e monitorização, para impedir que cada uma destas muitas unidades baseie a sua actividade e os seus lucros rápidos livremente, sem qualquer controlo sobre recursos sensíveis que fazem parte de um património e identidade comuns a uma comunidade local, que integra o património nacional.

Mas, para a maioria dos países, como é o caso de Portugal, certamente que o nível prioritário de actuação será precisamente o das pequenas e médias empresas, já que para as muito pequenas e micro-empresas a envolvente faz parte do negócio e como tal será mais difícil encontrar situações de geração de impactos negativos na mesma, deliberadamente.

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