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A agricultura comercial mato-grossense no início da

Inserida pelo IBGE no contexto da Grande Região Centro Oeste, o Norte de Mato Grosso, era considerada uma região “praticamente desabitada, sendo apenas penetrada, muito levemente, pela população seringueira que de Cuiabá parte em demanda da rica hévea existente em abundancia nos vales dos afluentes e subafluentes dos formadores da margem direita do rio Amazonas”. A capital do estado polariza um pequeno conjunto de núcleos populacionais onde o número de habitantes rurais era maior que os urbanos. Distinguiam-se três centros: o Pantanal, Poxoréo e Cuiabá. 28

A Zona do Pantanal possuía uma população rarefeita e dispersa e sua economia era baseada na criação extensiva de gado. A região de Poxoréo caracterizava-se por pequenas cidades e corrutelas surgidas da garimpagem e que “até 1914 era habitada somente pelos índios bororos”. A Região de Cuiabá destacava-se pela população urbana, mas possuía um numero ainda mais elevado de habitantes na zona rural. Era o polo da chamada Baixada Cuiabana, composta por pequenas cidades que ainda possuíam os “velhos aspectos do tempo de mineração”. (IBGE, 1957, p. 102-107)

A partir dos anos 1970 há um processo de intensa incorporação do território mato-grossense, com a abertura de rodovias e implantação de núcleos de colonização. Estas novas ondas migratórias e colonizadoras vão contrastar com os aglomerados surgidos em função da garimpagem de ouro ou diamantes, das diversas atividades extrativas ou da lavoura extensiva.

Se no passado colonial a cata de ouro e diamantes combinada com as diversas modalidades de extrativismo vegetal e animal foram os vetores da colonização, a partir deste período a abertura de vias de acesso e a implantação de grandes projetos agropecuários e de colonização seriam os fatores catalisadores da ocupação do território.

Simultaneamente, é também a partir da década de 70, que o desenvolvimento das pesquisas de culturas agrícolas adaptadas aos solos de Cerrado e, em especial, a criação de cultivares de soja adaptados às condições climáticas do Estado, propiciaram uma mudança radical nas atividades agrícolas. A cultura da soja e de outros grãos, com moldes de manejo altamente tecnificados, ocupa hoje grande parte do território da região de Rondonópolis e Primavera do Leste (Planaltos Taquari/Alto Araguaia e dos Guimarães), na Chapada e Planalto dos Parecis, ao longo das rodovias BR-163 e MT-170, ocupando ambientes de Cerrado e de formações transicionais, até o

28 IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – volume II: Grande Região Centro Oeste. Rio de

limite dos domínios florestais. (MATO GROSSO/SEPLAN, 2000, p. 14)

Desde o final da década de 1950 – quando havia sido realizado o estudo do IBGE citado acima – até os anos 1970, pouco havia mudado em termos de economia e sociedade. Ao final desta década, a região possuía uma diversidade de sistemas agroecológicos que iam desde a economia agropecuária de subsistência, passando pelo extrativismo vegetal e mineral até áreas onde se cultivavam produtos de exportação para outros estados. A população era rural e habitava predominantemente as regiões do Cerrado.

Igualmente, havia comunidades de indígenas, ribeirinhos, remanescentes de quilombos, posseiros e outros que viviam da caça, coleta e outras formas de economia não monetária. Embora a presença de tais grupos e comunidades tenha sido historicamente invisibilizada na mesma medida em que o ambiente natural por elas ocupado tenha sido classificado como um imenso espaço vazio, o afloramento das contradições decorrentes dos processos de desocupação-reocupação das novas ondas colonizadoras do agronegócio tem feito com que a presença de tais comunidades não possa mais ser ignorada.

Pelo início dos anos 1970 a atividade agropecuária estava espacialmente concentrada em algumas áreas do estado, notadamente nas regiões central e sul, que correspondem hoje ao Sul de Mato Grosso e ao Mato Grosso do Sul, respectivamente. Assim, se desde uma perspectiva geográfica a produção se mostrava concentrada em algumas áreas, era também dividida em dois setores principais: um responsável pelo abastecimento interno e outro que se dedica ao cultivo e produção de itens de exportação para outros estados e países.

Por outro lado, é preciso esclarecer que essa separação em dois conjuntos, um voltado para o abastecimento interno e outro responsável pelo atendimento das demandas dos mercados externos, diz respeito apenas a produção de mercado. É preciso lembrar que dada às condições precárias para o levantamento de informações estatísticas dessa natureza, é evidente que não existiam condições nem maneiras para que os órgãos governamentais estimassem todo o volume e complexidade da produção, principalmente daquela que era realizada a título de subsistência e que só eventualmente entrava no mercado e ainda assim nos comércios locais, à margem de qualquer forma de contabilidade governamental.

É preciso levar em conta a existência de uma grande quantidade de produtores locais – recorde-se que a população é pequena e dispersa por um grande território – que desenvolviam uma produção muito diversificada de culturas permanentes como as do abacate, banana, café, coco da Bahia, laranja, manga e tangerina convivendo ao lado de culturas temporárias como abacaxi, algodão, alho, amendoim, mandioca, melancia, milho, tomate, trigo, cana-de-açúcar, cebola, feijão, fumo e outros produtos que normalmente não entravam no circuito comercial e, por isso, não podiam ser mensurados pelos órgãos oficiais. Por esse motivo é que as instituições governamentais dividiram a produção agropecuária em de consumo interno e de consumo externo e suas estatísticas representavam apenas os aspectos mais visíveis – e o âmbito comercial – da produção. Ao mesmo tempo, havia também uma diversidade produtiva no setor extrativo mineral, vegetal e animal.

Conforme poderá ser visualizado no mapa 1, a maior parte do território considerada um espaço vazio, era ocupada por um grande número de comunidades indígenas, ribeirinhos, posseiros, remanescentes de quilombos, garimpeiros, poaieiros, seringueiros, dos que viviam nas brechas do sistema caçando e pescando, cultivando suas pequenas roças temporárias e itinerantes. Todas essas atividades naturalmente não entravam nas estatísticas a menos que parte da produção de alguma maneira entrasse no circuito comercial, o que era exceção e não regra. Entre o que poderia ser qualificado como exceção a essa regra, pode-se colocar toda a produção extrativa mineral e vegetal, além de diversos itens de origem animal, tais como peles e couros, além da carne de espécies nativas como jacaré e capivara. Entre os produtos enumerados como de atendimento da demanda estadual estavam os seguintes: mandioca, milho, feijão, cana- de-açúcar, café, aves e suínos. Já entre aqueles que se destinavam à exportação, o principais eram: algodão, arroz, amendoim, trigo e soja. Essas características da produção agropecuária não estavam muito distantes da realidade nacional, pelo menos no que tange aos tipos de produtos que eram cultivados de modo mais generalizado em todo o Brasil. Segundo dados do Anuário Estatístico do Brasil (IBGE, 1968), considerando apenas o valor da produção, as cinco principais culturas eram arroz, milho, café, cana e algodão, nesta ordem de importância.

Observando-se a distribuição espacial da produção agrícola verificava-se que duas cidades polarizavam a produção: Dourados concentrava cerca de 40% da produção do Sul do estado e Rondonópolis era responsável por 60% da produção realizada no Norte. Segundo dados do IBGE e da SEPLAN, a produção agrícola da região de

Dourados era mais diversificada, incluindo os seguintes produtos: arroz, amendoim, algodão, café, cana-de-açúcar, feijão, mamona, mandioca, milho, soja e trigo. No inicio dos anos 1970 esses produtos estavam sendo cultivados em uma área de 231.000 hectares. (Apud. KASTRUP, 1974, p. 27)

Já a região de Rondonópolis produzia arroz, amendoim, algodão, café, cana-de- açúcar, feijão, mandioca e milho em uma área de 203.000 hectares. Embora o valor comercial da produção da região de Rondonópolis fosse ligeiramente superior ao de Dourados, a Região Sul de Mato Grosso (que seria transformada em Mato Grosso do Sul em 1979) era visivelmente mais modernizada, mais urbanizada e concentrava o grosso da produção, tanto aquela que estava voltada para o consumo interno, quanto à voltada para exportação. (Apud. KASTRUP, 1974, p. 27)

Além disso, ali as atividades extrativas não tinham um peso relativo tão grande quanto na Região Norte, já que além da pesca e caça no Pantanal a extração vegetal se concentrava na economia da Erva Mate. Ao passo que as microrregiões centrais – 336 e 337 – estavam praticamente voltadas para a economia de subsistência, com alguma participação em produtos de exportação; além de inúmeros assentamentos que tinham sido constituídos a partir da economia extrativista mineral e vegetal. Conforme pode ser visualizado na Imagem 1, havia uma diversidade de sistemas agroecológicos espalhados desigualmente pelo território, mas o contraste era visível.

Embora diversos estudos insistam na tese do isolamento, o que se verifica é que a maior parte das atividades produtivas tinha como objetivo a produção de artigos de exportação, pois mesmo o extrativismo mineral e vegetal, além de diversos produtos derivados de animais de caça, tinham como destino os mercados externos. Grande parte do território da Região Norte se concentrava no extrativismo da borracha e da poaia, além de lenha, madeira e outros itens de origem vegetal. Um pouco mais ao centro havia núcleos de extração mineral (ouro e diamantes) e pecuária, sendo a agricultura praticada na região oeste (Cáceres) e Leste (Rondonópolis).

Na região de Cuiabá se concentravam algumas indústrias de transformação e de alimentos. A Região Sul (Mato Grosso do Sul a partir de 1979) tinha duas zonas industriais, uma na região de Corumbá e oura em Campo Grande. Além disso, contava com a maior parte do rebanho bovino e agricultura mais voltada para itens de exportação. Apenas no extremo sul havia uma pequena zona em que se pratica a extração da Erva Mate.

Note-se que nesta época as cinco culturas de maior importância econômica no Brasil eram algodão, cana-de-açúcar, café, milho e arroz. Destes, Mato Grosso cultivava como produtos de exportação o algodão e o arroz. Para consumo próprio cultivava cana- de-açúcar, café e milho. Todas as cinco culturas mais importantes eram produzidas em maior quantidade na Região Sul.

ILUSTRAÇÃO 28 – Atividades produtivas em Mato Grosso no início dos anos 1970

Começando pela mandioca, desde a época colonial, este produto tinha se consolidado como um dos mais importantes para a alimentação, sendo cultivada em pequenas áreas, sendo toda sua produção, in natura, ou transformada em farinha, consumida no estado. A exploração dessa cultura ocorria principalmente nas microrregiões 344, 335, 342, 341 e 336, cuja soma das médias do período 1968/1970 representava 66,03% da produção total do estado. (MATO GROSSO, 1973, v. II)

As imagens, abaixo, representam a distribuição espacial da produção de mandioca e também do feijão, outro produto muito importante para a economia estadual da época. Note-se que, no caso do feijão, a produção está concentrada nas microrregiões 335, 336 e 344 que produziam cerca de 72% do volume total do estado, sendo cultivado principalmente por pequenos proprietários. (MATO GROSSO, 1973, v. II)

ILUSTRAÇÃO 29 – Produção de mandioca 1970 ILUSTRAÇÃO 30 – Produção de feijão 1970

Fonte: MATO GROSSO, 1973, v. II, p. 33. Fonte: MATO GROSSO, 1973, v. II, p. 65.

Outra cultura tradicional no estado era o milho, muito usado para diminuir o custo na formação das pastagens, a produção era toda absorvida pelo mercado interno. A cultura desse cereal é um exemplo da forma ambígua como se verificou o processo de modernização da agricultura: algumas culturas foram introduzidas e praticamente monopolizaram o conjunto da produção; outras foram abandonadas à pequena produção e algumas outras, como foi o caso do milho, passou da condição de produto consumido internamente para artigo de exportação. (MATO GROSSO, 1973, v. II)

As principais microrregiões produtoras eram 344, 336 e 342 cuja soma representava 63,59% do total das médias do triênio 68/69/70. (MATO GROSSO, 1973, v. II)

ILUSTRAÇÃO 31– Produção de milho 1970 ILUSTRAÇÃO 32 – Produção de suínos 1970

Fonte: MATO GROSSO, 1973, v. II, p. 49. Fonte: MATO GROSSO, 1973, v. II, p. 117.

A cana de açúcar, o café, as aves e suínos eram os outros produtos importantes para o mercado interno. A cana tinha sua produção concentrada nas regiões 335 e 336, que contribuíam com cerca de 40% da produção. O café, embora fosse cultivado em um numero maior de microrregiões – 334, 338, 342 e 344 –, representava pouco mais de 2% do total das principais culturas e o estado produzia então apenas 0,62% da produção nacional. As aves participavam de forma relativamente inexpressiva na formação da renda do setor agrícola e sua produção estava concentrada nas microrregiões 335, 338, 342 e 344. Situação semelhante era verificada com os suínos, cuja produção destinava- se exclusivamente ao mercado interno e realizada na forma de subsistência. A produção concentrava-se nas microrregiões 335, 338 e 344. (MATO GROSSO, 1973, v. II)

Todos esses produtos citados acima se destinavam exclusivamente ao consumo interno. Essa produção era realizada em nível tecnológico de subsistência, não apenas porque grande parte dela era destinada ao incipiente e limitado mercado interno, como porque tal produção era realizada a margem de qualquer tecnologia produção, independentemente do tamanho da propriedade. Para completar-se o quadro da produção, convém lembrar que aqueles produtos destinados ao mercado externo também eram produzidos dento deste mesmo contexto econômico e social.

Do ponto de vista do sistema agroecológico, da forma como os produtores se relacionavam com o ambiente natural e as relações sociais de produção decorrentes, não existiam diferenças substanciais entre a pequena e a grande produção, já que em ambos os casos as relações ambientais e sociais em ambas eram próximas do semelhante. Em outras palavras, a produção agrícola se encontrava em um nível tecnológico muito baixo

– em relação a outras áreas do país -, independentemente do tamanho das propriedades onde eram realizadas e do destino dessa produção.

Por outro lado, a produção para exportação era relativamente mais racionalizada, comportava mão-de-obra que não era a principal consumidora dos produtos e existia sobre uma base social e territorial muito mais ampla, quando se compara este tipo de produção com aquela destinada ao mercado interno. No entanto, as diferenças deste tipo de produção para aquelas baseadas na pequena propriedade de subsistência eram muito mais de escala do que de substância. Além disso, por essa época já existia um consenso de que as políticas governamentais devessem ser direcionadas para busca do aumento da produção e da produtividade, privilegiando assim a produção para o mercado interno e externo e não a produção para a subsistência. Pelo menos é o que se entende na parte do Diagnóstico Econômico que trata dos produtos de exportação:

A produção estadual de arroz, algodão, amendoim, trigo, soja e bovinos destina-se basicamente à exportação, constituindo o grupo de produtos em relação aos quais se torna imprescindível a definição pelo Governo do Estado de medidas, políticas e programas de apoio ao aumento da produção e produtividade, naturalmente a partir da análise das perspectivas de mercado e vantagens comparativas de Mato Grosso em termos das demais áreas produtoras do país. (MATO GROSSO, 1973, v II, p. 125)

Aqui é preciso lembrar que toda essa produção era relativa ao Mato Grosso antes da sua divisão e criação de Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, a espacialização da produção para exportação revela um quadro ainda mais desvantajoso para a região Norte do que aquele verificado com relação aos produtos de consumo interno. É o que se verifica quando se observa cada um desses produtos citados acima os examinando com base nos mesmos aspectos considerados para a produção de consumo interno, conforme ilustrações a seguir.

Os mapas abaixo representam a produção de arroz e algodão, culturas mais tradicionais e de maior importância econômica do estado e que ocupavam destacada posição tanto no valor quanto no volume das exportações mato-grossenses. Além disso, uma vez que esta produção estava voltada para o mercado externo, elas é que estabeleciam os laços com os mercados nacionais. Nesse sentido as culturas do arroz e do algodão podiam ser consideradas como a parte mais modernizada da produção agrícola.

ILUSTRAÇÃO 33 – Produção de Arroz ILUSTRAÇÃO 34 – Produção de Algodão

Fonte: MATO GROSSO, 1973, v II, pp. 126, 141.

Excetuando-se as microrregiões 336, principal produtora com 35,80% e a 337, com 7,41%, todas as outras se concentram na região Sul do estado e representavam juntas 43,20% da produção nos anos de 1968 a 1970. O arroz era usado como forma de diminuir o custo na formação das pastagens. Sabe-se que o arroz pode ser cultivado de duas formas: irrigado ou sequeiro. No primeiro caso exige-se uma topografia plana com leve declividade, solo argiloso ou sedimentar, quantidade de água disponível, técnicas avançadas e mão-de-obra especializada, além de outros investimentos de capital. Este tipo de cultura chegou a ser objeto de uma campanha por parte do governo estadual entre o final dos anos 1960 e o início da década seguinte29.

No entanto, devido aos fatores limitantes citados, disseminou-se a cultura do arroz de sequeiro, que além de não exigir um trato cultural tão meticuloso podia ser cultivado por pequenos e médios produtores. Criara-se uma cultura de que o plantio do arroz podia ser – e comumente era – usado para se abrir uma área, ou seja, planta-se primeiramente o arroz, logo que a área era desmatada, com objetivo de se domar a terra, que após dois ou três plantios era então usada para a formação de pastagens. Considerando a importância estratégica do produto para o mercado externo e a consequente formação da economia estadual, isto fazia da cultura um verdadeiro vetor para a ocupação de novas áreas, já que era cultivado de forma extensiva ao que se seguia a formação de pastos para a pecuária. O uso da cultura do arroz na abertura de áreas, renovação ou formação de pastagens a muito vinha sendo utilizado pelos produtores como uma forma de integrar lavoura e pecuária. Os produtores haviam

29 Conforme dados do Acordo de Classificação no Estado de Mato Grosso (AGRISAC), ano 1, n. 1, 1968;

aprendido a usar a plantação como pastagem após a colheita, o que permitia aos pequenos e médios produtores maior eficiência e aproveitamento no uso da terra durante o ano. (ICEA, 1973, p. 162)

Outro fator que conferia ao arroz uma grande importância em termos econômicos e sociais é que seus tratos culturais exigiam cuidados manuais, na falta de tecnologia adequada, o que era uma característica da agricultura mato-grossense na época. Desde o processo de preparo do terreno, passando pela semeação – quase sempre feita com semeadeiras manuais ou a tração animal -, até a necessidade de realização de capinas para evitar a concorrência das ervas daninhas os tratos culturais com o arroz eram realizados manualmente. Além disso, o produtor devia planejar o tamanho da área a ser plantada de acordo com a sua capacidade material e financeira, pois a colheita – também manual – devia ser feita na hora certa ou implicaria em dificuldades e prejuízos. Nesse sentido é que o sistema agroecológico adotado – de baixa incidência de tecnologia, pesquisa e capital – implicava no uso de grande quantidade de mão-de-obra e facilitava a produção em pequenas e médias propriedades na mesma medida em que dificultava a produção em grandes áreas.

Nas propriedades pequenas, ou naquelas onde se plantam áreas pequenas, a colheita é feita manualmente, com ferro de cortar capim ou com ferro especial de cortar arroz. Eventualmente a colheita é mecanizada. (...) No Rio Grande do Sul, onde a colheita é feita manualmente em grandes áreas, as plantas são postas a fenar em medas bem preparadas. (...) Por outro lado, nas propriedades de maior capacidade econômica, tanto no Rio Grande como em áreas arrozeiras de São Paulo, usam as máquinas de colher, conhecidas como

combinadas ou colhedeiras, que tem múltipla função: colhem,

trilham, abanam ensacam muitas vezes. (ICEA, 1973, p.158-160)

Este estudo citado acima, realizado em 1973 pelo Instituto Campineiro de Ensino Agrícola (ICEA), considerava então o arroz como um alimento característico do pobre e preponderantemente uma cultura de subsistência.30 De acordo com ele, mais da metade da colheita mundial era absorvida na própria área de produção. Paradoxalmente, conforme foi visto linhas atrás o governo de Mato Grosso considerava o arroz e o algodão, além do amendoim, trigo, soja e bovinos como os produtos que deveriam ser objetos de políticas públicas que visassem o aumento da produção e produtividade, pois estas eram culturas de exportação.

30 INSTITUTO CAMPINEIRO DE ENSINO AGRÍCOLA. Principais culturas. 2 ed. Campinas, 1973. v.

Nesse sentido é preciso detalhar com mais profundidade o significado dessa produção em termos de efeitos sociais e econômicos. Isto reforça a tese de que a agricultura mato-grossense não era caracterizada pela subsistência conforme afirmam diversos estudos, mas sim que estava no nível tecnológico da subsistência e ao mesmo

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