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Os sistemas agroecológicos no Cerrado mato-grossense

2.1 - Os primeiros colonizadores do Cerrado e seus sistemas agroecológicos

Embora a narrativa tradicional sobre a transformação do Cerrado em área produtiva agrícola afirme tratar-se da ocupação de “imensos espaços vazios”, a compreensão adequada das sucessivas colonizações exige que se abandone o mito de que os bandeirantes que chegaram por volta do século XVIII encontraram uma região vazia.1 O segundo equívoco a ser evitado é a suposição de que conhecimentos sobre o Cerrado só emergem com a ocupação branca.

Conforme demonstrado por Ricardo Ferreira Ribeiro, há milênios sucessivas comunidades humanas têm ocupado a região, estabelecendo com o Cerrado uma convivência sustentável. Graças à clara definição de dois períodos climáticos anuais e a enorme diversidade de ambientes e espécies, o Cerrado tem possibilitado a essas comunidades uma ocupação muito característica. (RIBEIRO, 2002, p. 252)

Baseado na análise de diversos estudos e relatos sobre essa sucessão de ocupações, Ribeiro pode afirmar que a trajetória dos vários grupos humanos que se sucederam foi garantida por uma estratégia de reprodução que combinava a exploração e o manejo de cada um dos ambientes e espécies segundo uma época específica. (RIBEIRO, 2002, p. 252-255)

A antiguidade da ocupação humana no Cerrado foi atestada por estudos como os de Pedro Ignácio Schmitz (2003). Na região de Serranópolis, no sudoeste goiano, ele realizou estudos em um conjunto de aproximadamente 40 abrigos rochosos onde se encontram vestígios de uma ocupação que vai de 9000 a.C. até a fixação de fazendeiros brancos no século XVIII da nossa Era. Estes vestígios indicam sucessivas ocupações em três períodos distintos.

De acordo com Schmitz, entre 9000 e 6500 a.C., os grupos de colonizadores eram predominantemente caçadores. Depois disso, entre 6500 a.C. até o começo da nossa Era, a caça generalizada foi combinada com a coleta de moluscos terrestres e a pesca. O terceiro período, entre 500 d.C. e a chegada do colonizador branco, a caça, a

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Conforme discussão no capítulo IV desta tese, as narrativas oficiais e de visitantes estrangeiros desde o século XVIII privilegiam a noção de que a região era caracterizada por ser um enorme vazio populacional conjugado com existência de enormes recursos naturais inexplorados. Ver: Lylia da Silva Guedes Galetti, (2000); Bartolomé Bossi (2008); Luiz Cruls (1957); Antônio Pimentel (1957); Fernando Tadeu de Miranda Borges (2005); Oscar Moreira (1921); Candido Mariano da Silva Rondon (1921); Francisco Aquino Correa (1921); Generoso Ponce Filho (1932); Axel Lofgren (1976); Leo Waibel (1948); Fabio Macedo Soares Guimarães (1949); Jary Gomes (1950).

pesca e a coleta foram acrescidas do cultivo de algumas plantas tropicais. (SCHMITZ 2003) 2

Foi verificado por ele e corroborado por outros pesquisadores3 que desde o primeiro período houve uma ocupação contínua e extensa do conjunto de abrigos, contradizendo a expectativa de que esses grupos acampariam esporadicamente e, na maior parte do tempo, vagariam pelo território. O nomadismo, como norma, seria aplicável apenas às regiões do Cerrado, onde não existiam abrigos permanentes, e restrito ao período histórico em que as comunidades não possuíam tecnologia e o hábito cultural para o fabrico de abrigos e permanecia em um mesmo local.

Outra constatação interessante foi a de que, embora no primeiro período ainda existissem na região grandes animais remanescentes da última glaciação, vestígios deles não foram encontrados nos restos alimentares.

O que existe são restos de animais de tamanho médio e pequeno, como veados, carnívoros variados, tatus, lagartos, tartarugas, cobras de todos os tamanhos e muitos ratos; também muitas cascas de ovos de ema. Ao lado dos muitos vestígios de fauna há restos de frutas do cerrado e instrumentos para os esmagar ou moer. Em outras áreas do planalto em que sítios arqueológicos da mesma natureza e do mesmo tempo foram estudados, os resultados são parecidos. (SCHMITZ, 2003)

Nesta época, a preferência por animais de médio e pequeno porte estaria ligada à baixa capacidade de fabricar ferramentas e armas, pois os instrumentos mais significamente encontrados em escavações arqueológicas foram os raspadores usados para produzir instrumentos de madeira. As pontas de dardos ou lanças encontradas foram consideradas “extraordinariamente rudimentares e ineficientes. Para apanhar os animais do cerrado seriam de pouca utilidade”. (SCHMITZ, 2003)

A partir de 6500 a.C. é possível notar mudanças no clima e nas práticas culturais, com a ocorrência de numerosos sepultamentos nos espaços ocupados, além de

2 SCHMITZ, Pedro Ignácio. Os primeiros povoadores do Cerrado. 2003. Disponível em:

<http://www.comciencia.br/reportagens/arqueologia/arq11.shtml.>

3 BARBOSA, Altair Sales. Tópicos para construção da ocupação pré-histórica do Cerrado. 2009;

BARBOSA, Altair Sales; SCHMITZ, Pedro Ignácio. Ocupação indígena do Cerrado - esboço de uma história. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (Ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA- CPAC, 1998; POSEY, Darrell A. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados pelos Kayapós. In: RIBEIRO, Darci (Ed.). Suma etnológica brasileira. Edição atualizada do Handbok of South American Indians. Petrópolis: Vozes, 1986. v. 1; PROUS, André. Arqueologia brasileira. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1992.

o uso de instrumentos de pedra se tornar mais popular. Aumentou-se a caça e a pesca, diminuindo-se a coleta de frutos. Embora os estudos não comprovem a substituição de populações, ele infere que neste momento existiu uma sucessão dos grupos negroides pelos mongoloides. A última transição ocorreria a partir de 500 anos de nossa Era:

Os mesmos abrigos são ocupados por outra população que continua caçando e apanhando os frutos do cerrado, aos quais acrescenta o cultivo de plantas tropicais, como o milho, a mandioca, o amendoim, as abóboras e cabaças. E para seu uso fabrica pequenas panelas de barro cozido. (SCHMITZ, 2003)

Um estudo posterior comprovou que essas sucessivas ocupações por bandos de caçadores, coletores e, finalmente, horticultores estavam relacionadas com modificações ambientais, ainda que mediadas pela cultura. Os primeiros povoadores do Cerrado foram grupos vindos do centro-norte ocidental do continente, impelidos ao Planalto Central por mudanças climáticas que alteraram a oferta de alimento e desestruturaram seus sistemas culturais. As populações foram “impulsionadas a buscar novas formas de planejamento ambiental e social, assim como alternativa de sobrevivência”. (BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 51) Essas ocupações duradouras e homogêneas foram favorecidas pelo clima e pela geomorfologia, além dos recursos vegetais e animais.

Desde aquele período, a área do Cerrado já era caracterizada pela estabilidade, por ciclos climáticos e ritmos biológicos homogêneos, o que permitiu “as populações de economia simples a adoção de um planejamento também homogêneo”. (BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 51) Havia, também, abrigos naturais que permitiam a permanência nesses locais em determinadas estações. Ao mesmo tempo as ocupações eram favorecidas pela abundancia de alimentos durante o ano inteiro:

O Sistema Biogeográfico do Cerrado fornece recursos vegetais como fibras, lenha, folhas ásperas utilizadas para acertas superfícies e palha de palmeira para cobertura de abrigos. O mais importante é que, de todos os sistemas biogeográficos da América do Sul, esse é o que fornece a maior variedade de frutos comestíveis. E embora a maturação da sua maior parte esteja relacionada à época da estação chuvosa, sua variedade possibilita a distribuição regular de suas espécies durante todo o ano. (BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 51)

Associada a esses elementos, havia também uma fauna que fazia do Cerrado um ambiente prioritário. Por isso, todos esses fatores favoreceram a fixação de populações

humanas que no ambiente do Cerrado desenvolveram processos culturais específicos. Nestes termos, é possível defender a ideia de que os primeiros colonizadores do Cerrado tiveram sucesso, porque construíram seus sistemas agroecológicos a partir dos constrangimentos e das possibilidades oferecidas pelo ambiente natural.

Um sistema agroecológico é definido por Donald Worster como “um ecossistema domesticado, ou seja, um ecossistema transformado pela ação humana com o objetivo de produzir os recursos necessários à existência da sociedade e dos indivíduos”. (WORSTER, 2003, p. 27)

Ele destaca que todos os grupos sociais na história se defrontaram com a necessidade primária de identificar na natureza os recursos para a sua sobrevivência e de criar uma maneira de extraí-los e levá-los para dentro do estômago.

Além disso, é através deste processo que as pessoas têm se conectado ao mundo natural de forma mais vital, constante e concreta. Poucos desses modos de produzir os alimentos, entretanto, têm sido abordados pelos historiadores com uma perspectiva ecológica. (WORSTER, 2003, p. 27)

Essa perspectiva ecológica da história obriga que o historiador considere o ecossistema como “uma entidade coletiva de plantas e animais que interagem uns com os outros e com o ambiente não vivente (abiótico) num dado lugar”. (WORSTER, 2003, p. 28)

Ao mesmo tempo, este ponto de vista ecológico da história exige que se lance mão de conceitos e informações fornecidos por outras ciências, tais como a Arqueologia, que tem sido importante para se estabelecer a antiguidade e as sucessivas ocupações humanas no Cerrado.

Observando a história através de uma perspectiva agroecológica, Worster verificou a sucessão de pelo menos três sistemas agroecológicos, cada um deles expressando uma maneira distinta de relacionamento com a natureza: um sistema agroecológico natural, um tradicional e um capitalista. (WORSTER, 2003, p. 30)

O primeiro tipo começou com o uso deliberado do fogo para a limpeza de uma área de solo aberto, onde “nas cinzas desta clareira os agricultores plantaram suas espécies favoritas preservando-as contra as pressões sucessórias da vegetação circundante por alguns anos até que a fertilidade do solo se esgotasse e tivessem que mudar para novas terras”. (WORSTER, 2003, p. 30)

Pelo indicado pelas pesquisas arqueológicas sobre as ocupações humanas no Cerrado, o que Worster caracteriza como sistema agroecológico natural parece corresponder ao tipo de ocupação das sociedades indígenas, descritas por Barbosa e Schmitz (2008), que primeiramente colonizaram o Cerrado, e com ele estabeleceram um relacionamento baseado, em primeiro lugar, na capacidade de adaptação a um meio ambiente diversificado, cujas múltiplas fontes de sustento mudavam de acordo com as estações do ano e com as características específicas dos diversos ambientes.

Ao se questionar sobre o que este Bioma teria de especial para atrair e manter populações em ocupações duradouras e homogêneas, Altair Sales Barbosa afirma que as respostas devem ser buscadas no sistema biogeográfico do Cerrado: o clima, a geomorfologia, os recursos vegetais e animais combinaram-se para favorecer este processo de adaptação do homem ao Cerrado. A interação dos grupos com a natureza produziu um sistema agroecológico amplamente disseminado e que se manteve, com algumas mudanças, até o início da colonização branca no século XVIII.4

Como pode ser inferido da análise dessas sucessivas ocupações – os três períodos distintos assinalados por Schmitz – essas comunidades interagiam com a diversidade de ambientes naturais mediados por uma cultura e uma tecnologia que investia na convivência sustentável, já que estavam condicionadas a aproveitar como recursos o que a diversidade de ambientes, clima, fauna e flora podiam oferecer em cada época do ano. (SCHMITZ, 2003)

O Cerrado conta com uma diversidade de ambientes naturais que vão desde os Campos Limpos até as Formações Florestais, áreas que podem apresentar possibilidades distintas de abastecimento de água, alimentos ou abrigo e que vão também mudando com o decorrer das estações. Assim, é evidente que uma estratégia de sobrevivência dos grupos iniciais fosse baseada mais na adaptação do que na transformação radical do meio ambiente.

Por outro lado, tanto o constante deslocamento de grupos nômades quanto à fixação em determinados locais dos grupos mais sedentarizados deve ser visto em numa perspectiva histórica milenar, cujo efeito mais evidente foi o de humanização das vastas áreas de ocupação e/ou circulação. Este contínuo e prolongado intercâmbio com os ecossistemas do Cerrado permitiu a organização de um sistema de abastecimento e abrigo identificado com as próprias características do ambiente natural.

4 BARBOSA, Altair Sales. Tópicos para construção da ocupação pré-histórica do Cerrado. 2009.

Essas populações aprenderam nos seus longos períodos de convivência com o ambiente que a época que oferecia maior variedade de alimentos era, naturalmente, a da estação chuvosa. Mas essa variedade seria trocada, no período da seca, pela grande quantidade de peixes. “Assim, os recursos combinados ofereciam anualmente uma alimentação balanceada, contendo proteínas, açúcares, vitaminas e sais minerais”. (BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 57)

Após alguns milênios, a essas primeiras comunidades sucederam outros grupos históricos que, mais tarde, seriam alcançados pelos bandeirantes em busca de escravos, ouro e pedras preciosas. As conexões entre esses agrupamentos são de difícil comprovação. No entanto, os mesmos dados empíricos que não são suficientes para estabelecer nexos entre os grupos arqueológicos e os pré-coloniais, servem como suposição para afirmar que as populações que foram alcançadas pelos primeiros bandeirantes estavam ali há vários séculos: “Em favor de sua estabilidade, encontram-se numerosas taperas, provando que aldeias sucessivas, idênticas cultura e tecnologia, em quase todas as fases arqueológicas, justapuseram-se durante séculos no mesmo local.” (BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 63)

Tão importante quanto demonstrar que os ambientes do Cerrado eram habitados por milênios, antes que os grupos não indígenas ali chegassem, é ressaltar que o sistema agroecológico natural das populações nativas impactou na estruturação da natureza, na mesma medida em que foi por ela influenciado. Em outras palavras, estaria em andamento um processo adaptativo que poderia ser definido como coevolutivo.

O quadro seguinte mostra como essas populações combinavam caça, pesca e coleta para conseguir alimentos durante todo o ano, sem que houvesse escassez em nenhuma época.

ILUSTRAÇÃO 14 – Diagrama de abastecimento dos primeiros colonizadores do Cerrado

Legenda: Os primeiros povoadores do Cerrado aproveitavam todos os recursos oferecidos pelos diversos ambientes do bioma, de acordo com a época do ano, praticando caça, pesca, coleta e agricultura rudimentar.

Fonte: BARBOSA; SCHMITZ, 2008, p. 57.

Embora não haja um acordo geral sobre o conceito de coevolução em Biologia, o termo é usado para designar uma série de relacionamentos entre duas ou mais espécies diferentes, em que ambos se influenciam mutuamente, como nas relações entre predador e presa, parasita e hospedeiro; ou, ainda, em casos de mutualismo, comensalismo e competição. (RICKLEFS, 1996, p. 255)

Segundo Rosana Miranda, o conceito de evolução se difundiu pelas questões socioambientais e foi fundamental no processo de revisão das ideias sobre os relacionamentos entre os seres humanos e a natureza. Com base neste conceito é possível reavaliar estas relações a partir de três pressupostos: o ser humano produz o

meio que o cerca e é ao mesmo tempo o seu produto; a natureza é sempre histórica e a história tem relação com o meio natural; é a coletividade e não o individuo que se relaciona com a natureza. Portanto, a interferência humana é normal e natural no curso dos fenômenos e ciclos naturais. “O problema reside não no fato, mas na maneira como o homem intervém na natureza”. Também, como a natureza faz parte da história e é sempre alterada por ela, “o problema está em compreender a relação entre a história e a condição da natureza em cada momento vivido”. O fato de colocar o relacionamento entre homem e natureza no nível da sociedade e não do indivíduo refuta a possibilidade de se cair no determinismo biológico, pois tais relações são sempre sociais. (MIRANDA, 2003, p. 80-81)

Nesse sentido, os processos adaptativos que as primeiras populações do Cerrado empreenderam com este ambiente devem ser vistos na perspectiva de que “adaptar-se não significa submeter-se as imposições naturais”, mas aproveitá-las “ampliando seus efeitos positivos ou atenuando os negativos”. (MIRANDA, 2003, p. 80-81). Isto parece ser o que foi feito através dos milênios de ocupação humana até que o Cerrado foi alcançado pelos colonizadores luso-brasileiros do século XVIII. Ao mesmo tempo, é possível afirmar que esses processos adaptativos e relacionamentos sustentáveis com a natureza não são privilégios das comunidades indígenas do Cerrado e nem uma invenção particular dos povos que os antecederam. De acordo com Enrique Leff, estudos de vários autores têm mostrado o funcionamento de uma racionalidade ecológica e de práticas produtivas sustentáveis arraigadas no “estilo de desenvolvimento pré-hispânico”. (LEFF, 2000, p. 59)

Las culturas prehispánicas habían internalizado las bases y las potencialidades ecológicas a sus formas de organización productiva para el uso sustentable de la tierra y de los recursos naturales. Estas prácticas tomaron en cuenta las complementariedades de la diversidad ecológica y los espacios geográficos, integrando regiones que se extendían más allá de los territorios de un grupo étnico particular. Esta estrategia permitió optimizar la oferta ecológica de diversas geografías, del uso estacional de diferentes de los espacios productivos y de la fuerza de trabajo, de los ciclos y pisos ecológicos, así como de la fertilidad de la tierra y los procesos de regeneración de los recursos, para ensayar diferentes estrategias de policultivos, integrando la producción local al espacio territorial a través del comercio interregional y el intercambio intercomunal de excedentes económicos. (LEFF, 2000, p. 59)

Enrique Leff afirma que cada um dos grupos étnicos anteriores à colonização europeia criou um estilo de desenvolvimento em que as relações ambientais e sociais integravam seres humanos e natureza, operando-se através da complementariedade de espaços territoriais e ciclos ecológicos no manejo sustentável e produtivo dos recursos naturais. (LEFF, 2000, p. 60)

Levando em conta as estações de chuva e de seca, a distribuição anual das diferentes colheitas, as condições climáticas de cada estação, o uso integral de algumas plantas e o manejo integrado de variedades genéticas de diferentes espécies de milho, foram possíveis praticar um verdadeiro desenvolvimento sustentável.

Estos ‘estilos prehispánicos de desarrollo sustentable’, caracterizados por la articulación productiva de diferentes ecosistemas y territorios étnicos, provenían de la percepción de la naturaleza como un proceso sinergético e integrado y no como un acervo (stock) de recursos discretos. Estas estratégias optimizaron el uso del trabajo a través de la diversificación de la producción, ajustándose a las condiciones ecológicas y al potencial ambiental de cada región, integrando actividades agroforestales con la caza, la pesca y la recolección de especies vegetales. Este estilo de desarrollo fomentó la complementariedad de los procesos de trabajo y las prácticas de cooperación interétnicas para el manejo integrado de los recursos naturales. (LEFF, 2000, p. 60)

Igualmente, e ao mesmo tempo, esse estilo de desenvolvimento sustentável funcionou estabelecendo regras sociais para a regulação coletiva da produção que decorriam de longos processos de observação da natureza, da experimentação produtiva, da inovação técnica e do intercambio de saberes.

Es en este sentido que la cultura está integrada dentro de las condiciones generales de una producción sustentable; las identidades étnicas y los valores culturales, así como las prácticas comunales para el manejo colectivo de la naturaleza, fueron y son la base para el desarrollo del potencial ambiental para el desarrollo sustentable de cada región y cada comunidad. La cultura se convierte así en un principio activo para el desarrollo de las fuerzas productivas en un paradigma alternativo de sustentabilidad; la productividad ecológica y la innovación tecnológica están entretejidos con procesos culturales que definen la productividad social de cada comunidad; y éstas a su vez se enlazan para generar una economía global alternativa, fundada en las fuerzas productivas de la naturaleza y en los sentidos creativos de la cultura. (LEFF, 2000, p. 60)

Recorde-se que através dos trabalhos de Schmitz, Barbosa e outros foi possível estabelecer uma conexão entre esses povos pré-hispânicos e os habitantes da região central do Brasil. Pesquisando o manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados pelos Kayapó e extrapolando suas conclusões para outros agrupamentos, Posey (1984, 1987) concluiu que grande parte do que tem sido chamado de florestas e savanas naturais, possivelmente foi o resultado de milênios de remanejamento e coevolução humanos.

Ao contrário do que comumente se pensava sobre a agricultura indígena, ele verificou que os campos de cultivo não eram abandonados após a limpeza e alguns anos plantio. As áreas que tinham sido antigos campos de plantio e que se convertiam em capoeiras, aparentemente abandonadas, permaneciam produzindo determinados tipos de frutos e outros artigos por até quarenta anos.

A formação dessas capoeiras sobre as antigas roças não começava apenas com uma ação deliberada da comunidade. Não era raro que essas roças fossem formadas em locais onde algum evento natural havia provocado a formação de clareiras, tais como

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