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6.1 Sobre o Caps ad III

6.1.4 A produção do cuidado à luz do usuário: A história de Pedro

6.1.4.1 A análise através do fluxograma descritor

Realizar a análise através do fluxograma descritor na equipe do CAPS ad exigiu por parte da pesquisadora uma certa persistência devido ao fato da equipe não se reunir com regularidade. Os próprios encontros de pesquisa que tivemos foram os motivadores da reunião dos profissionais. Além disso, nem sempre são os mesmos profissionais que estão nas reuniões, o que traz uma certa dificuldade de acompanhamento sobre os assuntos discutidos.

De toda forma, conseguimos nos reunir. Em um dos encontros passamos boa parte da tarde para entendermos o que acontecia no serviço, quais eram os serviços prestados e a quem se atendia. Estavam presentes profissionais de quase todos os setores, em torno de 15 pessoas. E muitos participaram ativamente, discutindo e tentando chegar a um acordo.

Disseram haver um boato de que eles não trabalhavam, crítica recorrente. Mas não identificaram de onde surgiu o boato. De outro lado a ociosidade dos usuários acolhidos nos períodos diurno e/ou noturno reforça a ideia de que não há trabalho. Ideia esta que também fez parte de minha percepção no início do contato com o serviço. Mas aos poucos, fomos percebendo que o trabalho estava pautado de forma ambulatorial, atendendo individualmente e com poucos trabalhos em grupo com regularidade. Viram a necessidade de se reorganizarem e se conectarem a outros dispositivos da rede que poderiam atender a uma demanda que não precisaria estar no CAPS ad como por exemplo os usuários abusivos de substâncias psicoativas que poderiam ser atendidos no Ambulatório de Saúde Mental. Então, clarificar a que o serviço se destina, qual seu público-alvo, era um passo importante no processo de cuidado. Reorganizar o Projeto Terapêutico Institucional também seria de grande valia. Nesse sentido, essa visão macropolítica do serviço se faz pertinente para a organização do serviço e o cuidado aos usuários. Também pudemos discutir um pouco a respeito do reflexo da não regularidade de discussão dos casos em equipe. O quanto a equipe reunida discutindo seu cotidiano poderia trazer benefícios ao processo de cuidado criando um espaço coletivo no CAPS ad que poderia reverberar no cuidado do espaço coletivo dos usuários.

O fluxograma descritor do processo de entrada e saída dos usuários do CAPS ad revela que a demanda é espontânea ou encaminhada por outros serviços. Na própria recepção é perguntado ao usuário se ele tem questões com álcool e outras drogas. Se for, ele é admitido no serviço. Caso contrário é encaminhado para outro serviço necessário. Sendo admitido ele

participa da triagem com o plantonista e é verificado se o acolhimento será diurno, noturno, 24 horas ou se será atendido em consultas. Se for para o acolhimento, o usuário é atendido pelo médico de plantão que verifica quais as atividades que o usuário precisa. O usuário que não necessitou dos acolhimentos vai para as consultas e alguns o encaminham para todos os tipos de profissionais do CAPS ad, outros não. Isso gerou a discussão sobre a necessidade desse percurso e a burocracia nos atendimentos. Quanto às atividades oferecidas houve discordâncias, pois algumas não acontecem embora eles a citassem em nossos encontros.

Assim, para uma melhor compreensão segue a seguinte organização do que foi citado nos encontros:

Atividades regulares:

Ambulatório que reúne as consultas com todos os profissionais de nível superior; Grupo de tabagismo; Grupo devocional; Grupo para alcoolistas8.

Atividades irregulares:

Grupo de violão; Grupo Resgate e Superação; Oficina de Arte; Recreação.

A saída do usuário do CAPS ad se dá por conclusão de tratamento, evasão, solicitação do usuário e alta administrativa.

A construção do fluxograma do processo de entrada e saída dos usuários do CAPS ad III (fig. 1) apresentou a necessidade de uma organização do serviço mais condizente com a realidade atual além de revelar um certo não conhecer os objetivos das atividades por parte da equipe bem como dúvidas sobre a realização de todas as atividades citadas.

Já a construção do fluxograma descritor de Pedro (fig. 2), todo referente ao ano de 2015, nos revela que após a informação dada pelo CRAS para a irmã de Pedro a respeito da existência do CAPS ad III, ele buscou o serviço em dois de fevereiro e que foi admitido nesta data por uma das assistentes sociais. Foi encaminhado para diversas consultas: médica, psicológica, nutricional, procedimentos de enfermagem, além da oficina de artes e exames laboratoriais que fazem parte dos procedimentos de enfermagem. Pedro participou do acolhimento 24 horas, e também do período diurno, alternadamente. No dia 21 de fevereiro foi liberado sob responsabilidade de sua mãe para passar o fim de semana em casa e ir ao Templo. Retornou ao CAPS ad III no dia 23 de fevereiro em que, por dores na face, foi encaminhado ao HMI. Do hospital seguiu para casa da mãe e voltou para o CAPS ad III no dia 24 de fevereiro. Novamente sua estadia se deu de forma alternada, porém no mês de abril se tornou 24 horas, período em que conseguiu o trabalho de pintor nos turnos manhã e tarde conseguindo a licença para

trabalhar através da psiquiatra e psicóloga da equipe e voltar à noite para o acolhimento noturno. Seguiu no acolhimento noturno até o dia vinte e dois de abril em que sua alta do acolhimento foi discutida e que seu tratamento passou a ser acompanhado prioritariamente por sua psicóloga em dias agendados, porém Pedro passou a trabalhar no depósito o que lhe dificultou a frequência em seu tratamento. Pedro volta para casa.

Percebemos que todo o acompanhamento de Pedro se deu praticamente no CAPS ad III utilizando-se da rede de atenção para realização dos exames laboratoriais.

A religiosidade de Pedro foi respeitada e quando possível, embora em acolhimento, ele pôde ir ao Templo que frequenta.

Ainda que alguns profissionais da equipe não concordassem com o acolhimento noturno de Pedro este foi realizado.

6.2 Sobre o Consultório na Rua