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A Oficina de Atualização Profissional, Percurso Formativo na Raps: Intercâmbio

6.1 Sobre o Caps ad III

6.1.2 O Intercâmbio com Resende

6.1.2.1 A Oficina de Atualização Profissional, Percurso Formativo na Raps: Intercâmbio

A oficina que estava prevista para ser realizada ao longo de toda a semana se estendeu até 5ª feira, pois as facilitadoras ao perceberem que haviam poucos representantes dos serviços de Imperatriz participando do evento optaram por reorganizar a proposta. Porém, na 6ª feira de manhã alguns profissionais de Imperatriz se reuniram para apresentar os Projetos Terapêuticos Institucionais aos demais profissionais da rede. Em verdade, foi apresentado apenas o projeto do CAPS ad em função do tempo. Este projeto por sua vez está em construção.

Embora estivessem poucos representantes de cada serviço, e que a sua maioria não pudesse participar da oficina de forma integral, se fizeram presentes CAPS ad, CAPS ij, NASF, Residência Terapêutica, Hospital Geral, CnR, CAPS e Ambulatório de Saúde Mental.

Os temas abordados durante a oficina foram: a apresentação das RAPS de Imperatriz e Resende, a história da reforma psiquiátrica no Brasil, o tema da linha “atenção à crise e urgência em saúde mental”, a Redução de Danos, o Matriciamento, e a proposta de construção de um projeto de intervenção para Imperatriz. Como recursos técnicos foram utilizadas técnicas de grupo para leitura de textos, para respostas a perguntas pré-organizadas, filmes e discussão em plenária.

Não houve pressa em responder às questões dirigidas da oficina ou mesmo aos textos trabalhados, ou ainda sobre o filme. Foi destinado praticamente um turno para cada atividade e os grupos se apresentavam e os outros participantes podiam perguntar e contar suas histórias relacionadas às questões trabalhadas. As questões estão em anexo.

Dois serviços, segundo as palavras das facilitadoras se destacaram como um trabalho mais consistente em relação à produção de cuidado, o CAPS ij e o CnR. Estas observações foram construídas através das falas dos participantes da oficina.

E foram se revelando a organização dos serviços, a produção de cuidado, o que os profissionais pensam a respeito da saúde mental, da organização de sua rede. Discutiu-se a respeito da clínica ampliada e sua relação com os CAPS, os projetos terapêuticos singulares e institucionais, a desospitalização e desinstitucionalização, a saúde mental e a psiquiatria, os vínculos terapêuticos, o usuário em crise e sua participação em seu tratamento, o cotidiano da residência terapêutica de Imperatriz, o acolhimento, o acompanhamento da família, a capacitação e formação das equipes.

A lógica biomédica bem como as práticas manicomiais ainda insistentes no cotidiano dos serviços foram discutidas através das falas e apresentações dos profissionais. Os serviços de saúde, em sua maioria, são atravessados por essas lógicas trazendo uma tensão em seu

cotidiano. Por outro lado, a lógica usuário-centrada também se faz presente. O que parece interessante em momentos de análise dessas ações é justamente o fato de se identificar esses processos no cotidiano, não fazendo julgamentos, para que se avance em direção ao encontro com os usuários. A oficina, como um dispositivo de agenciamento, proporcionou um espaço importante para a reelaboração do modo de produção de cuidado na medida em que ofereceu suporte e questionou o conteúdo produzido pelos profissionais, colocando em análise as situações trazidas.

Quanto aos Projetos Terapêuticos Institucionais (PTIs) da rede de saúde mental verificou-se a necessidade de terminá-los.

Os outros profissionais de outros serviços consideraram relevante a leitura do projeto do CAPS ad para conhecer e opinar, porém marcou-se a necessidade do projeto ser elaborado pela própria equipe.

Também foi revelado que embora tenha vários dispositivos, Imperatriz ainda trabalha de forma isolada necessitando dinamizar a rede de atenção.

Um efeito produzido durante essa semana foi o acordo de que as equipes de Saúde Mental se organizariam por território para iniciar o matriciamento uma vez que Imperatriz é polo de outras regiões.

As propostas resultantes sobre que intervenção Imperatriz necessitaria inicialmente eram:

1. Matriciamento da RAPS

2. Estratégia de Atendimento de urgência e emergência no HMI. 3. Organização da Saúde Mental (processo de trabalho)

4. Educação Permanente.

A Educação Permanente foi retirada desse grupo de intervenções uma vez que reuniões de equipe e matriciamento a contemplariam.

Na votação sobre qual intervenção seria premente, a Estratégia de Atendimento de urgência e emergência no HMI venceu, causando estranheza às facilitadoras e a alguns presentes. A estranheza se deu na medida em que os serviços não estão organizados, alguns como o PTI em construção, as reuniões de equipe não acontecem regularmente nos serviços salvo o CAPS ij e isso tudo foi discutido durante toda a oficina.

Por intermédio das facilitadoras de Resende e do próprio estranhamento causado rediscutiu-se o resultado chegando à conclusão de que seria necessário organizar primeiro os processos de trabalho da Saúde Mental, e que a lógica do trabalho seria o matriciamento. Já

havia um esboço por parte do coordenador de saúde mental a respeito do matriciamento que foi exposto por ele em meio ao processo coletivo de elaboração dos profissionais.

E então, na 6ª feira de manhã, as equipes sozinhas se reuniram para discutir seus processos de trabalho. Em verdade leu-se o PTI do CAPS ad que se encontrava por completar.

Gostaria agora de dar destaque à oficina de RD que ocorreu na 4ª feira de manhã. Seu início se deu com a apresentação de um filme denominado A verdade de cada um produzido pela ONG Centro de Convivência É de Lei como disparador da discussão. O filme discorre a respeito de uma das estratégias de RD que são os insumos preventivos e exemplifica com as piteiras de silicone e os protetores labiais de calêndula e própolis. Também discorre a respeito do preconceito do trabalho da RD sendo entendida muitas vezes como apologia ao uso e propõe uma visão mais realista do uso. Fala do afastamento criado pelo moralismo e preconceito e a questão da ilegalidade como fatores prejudiciais à produção de cuidado ao usuário. Além desses temas, a invisibilidade dessas pessoas, a ação repressiva da polícia militar em São Paulo e do eterno “jogo de gato e rato” com as rondas, não trazendo resolutividade nem para polícia nem para os usuários se tornando uma ação sem sentido foram abordados. O filme traz ainda a disfuncionalidade das internações de longa duração e da falta de pesquisas sérias a respeito das internações. Também fala da necessidade de atividades que tenham adrenalina que chamem a atenção do usuário, do uso de substâncias desde os primórdios da humanidade e da ideia utópica de acabar com as drogas. O filme propõe que se abra o diálogo às questões sobre o uso de drogas se tornando um assunto presente. Poucos profissionais se colocaram a respeito do filme, exceto os profissionais do CnR.

Após o filme abriu-se plenária e foram discutidos o quanto há de valor moral no uso de drogas, o quanto a política para álcool e drogas ficou mais “esquecida” por parte do MS e o quanto de dinheiro essa questão absorveu para dar conta de uma resposta social a fenômenos das grandes capitais.

E a oficina seguiu com um trabalho em grupo em que foram apresentados casos clínicos para serem pensados à luz da RD ampliando o conceito para a alimentação, o cuidado, a proteção, a diminuição de riscos e danos sejam orgânicos ou sociais e depois aberto a plenária para todos.

Considero o intercâmbio como um todo, um dispositivo de agenciamento importante para a rede de cuidado de Imperatriz ainda que resultados objetivos não tenham sido alcançados até o momento em que pude acompanhar na rede de atenção. As discussões realizadas, a experiência em participar do cotidiano de uma outra cidade, o compartilhar o conhecimento adquirido aos seus pares podem ter um efeito de desterritorialização de alguns territórios

manicomiais sendo um fator de afetivação para os trabalhadores da rede. Contudo, os efeitos da oficina poderão ou não ser sentidos ao longo do tempo.