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A Análise Fílmica e seus elementos básicos

2. APORTES METODOLÓGICOS NA ANÁLISE DE FILMES

2.1. A Análise Fílmica e seus elementos básicos

A “análise fílmica”, como informam Vanoye e Goliot-Lété (1994, p. 9), “... não é um fim em si”, é uma prática investigativa, uma técnica de pesquisa que pode ser apropriada por profissionais e pesquisadores diversos. Os resultados de uma análise fílmica são variados, assim como também são os possíveis usuários desta técnica, e um destes resultados pode ser uma Tese, mas também uma resenha de filme, uma crítica, uma sinopse etc. A prática de análise fílmica é uma prática sistemática, como informam Vanoye e Goliot-Lété (1994, p. 15):

Analisar um filme ou fragmento é, antes de mais nada, no sentido científico do termo, assim como se analisa, por exemplo, a composição química da água, decompô-lo em seus elementos constitutivos. É despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar, destacar e denominar materiais que não se percebem isoladamente “a olho nu”, pois se é tomado pela totalidade. (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 15).

O processo de análise fílmica, como informam Vanoye e Goliot-Lété (1994, p. 18), obedece a quatros passos básicos: a “desconstrução” do filme, o ato de isolar cada elemento fílmico; a descrição dos elementos isolados; a reconstrução desses elementos e, ao mesmo tempo a interpretação da obra como um todo; a elaboração do texto final, chegando-se à análise fílmica propriamente dita. Para os autores, o pesquisador “submete os filmes a seus instrumentos de análise, a suas hipóteses”. Buscando um almejado, mas, relativo, “processo de afastamento”, já que para o pesquisador-analista, o filme “... pertence ao campo da reflexão, da produção intelectual”.

Os elementos básicos da análise fílmica são quatro, e Vanoye e Goliot-Lété (1994) apontam que estes elementos devem ser trabalhados em quatro passos consecutivos:

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- Apresentar um resumo do filme: Por mais óbvio que possa parecer, a realização de um resumo do filme é o primeiro passo para se realizar a análise fílmica. Todos os filmes, ao serem lançados, já trazem uma sinopse elaborada pelo diretor, material este a ser divulgado para os veículos de comunicação. A questão é que estas sinopses tendem a ser muito resumidas, e dar destaque aos conflitos entre os personagens e aos eventos dramáticos, mas não darem, necessariamente, destaque a questões socioespaciais, que no caso desta Tese, são os aspectos fundamentais a serem tratados na análise. Deste modo, o pesquisador deve elaborar o seu próprio resumo do filme, logo após o primeiro visionamento29, apontando, em linhas gerais, do que trata o filme e quem são os personagens principais, e, em seguida, destacando os aspectos mais importantes na análise a ser realizada.

- Segmentar o filme em grandes atos: A maioria dos livros, das peças de teatro e também dos filmes, adota a fórmula clássica de construção narrativa, dividida em três grandes atos: Primeiro ato - Introdução, apresentando o contexto socioespacial do filme e os seus personagens; Segundo ato - Desenvolvimento da trama, corresponde a maior parte do filme; Terceiro ato - Fechamento da trama, a resolução da narrativa, que pode ter um “final fechado”, quando há uma conclusão explícita na história, ou um “final aberto”, que dá margens a múltiplas interpretações para o fim, e pode deixar margem para uma continuação. Há filmes que têm outras divisões em grandes atos, certos filmes podem se desenvolver em um único ato, um fluxo narrativo constante, há outros divididos em dois atos, quatro ou mais. Este é o segundo passo do pesquisador, o de dividir o filme analisado em seus grandes atos narrativos, definir quantos atos são, quanto tempo dura cada um deles, quais os eventos narrativos que marcam a divisão entre estes atos. O leitor da análise deverá ter uma visão geral da estrutura narrativa.

- Discutir sobre o dispositivo narrativo: Um filme pode ter um ou mais narradores, é este único, ou os possíveis vários narradores, que irão desenvolver o dispositivo narrativo, ou seja, é através da ótica deles que a história será contada. Relacionando este elemento dos narradores, com um dos conceitos a serem utilizados na Tese, comentados no final do capítulo anterior, pode-se dizer que os narradores são os “personagens geográficos” apontados por Name (2008). O narrador pode ser o personagem principal, e narrar a história em primeira pessoa, e pode ser também um ou mais personagens secundários, que observam e se relacionam com o personagem principal. O narrador pode ser ainda um

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personagem que não aparece na trama, uma voz em off que serve de observador e comentador da história. Pode haver ainda a utilização de mais de uma forma de narração ao mesmo tempo, múltiplas narrações, e é este elemento do dispositivo narrativo que deve ser evidenciado e analisado pelo pesquisador, apontar quais os possíveis narradores do filme.

- Relacionar a análise narrativa e a organização espacial: Vanoye e Goliot-Lété (1994) informam que o espaço e organização espacial, nos filmes e nas análises fílmicas, muitas vezes podem aparecer de maneira vaga e confusa. O objeto da análise fílmica não é o espaço propriamente dito, mas os filmes, e a forma como o espaço aparece neles. O “espaço representado” é justamente a representação do espaço real e concreto nas obras de cinema. A narrativa fílmica se desenvolve no espaço, em um ou vários lugares diferentes, e ao se discutir o aspecto anterior, o do “dispositivo narrativo”, deve-se relacioná-lo com o “espaço representado” no filme, de que formas os personagens agem neste espaço, em que medida a representação apresentada pode ser influenciada pelo espaço real.

Além destes quatro aspectos fundamentais da análise fílmica, o autor da Tese pretende incluir também um quinto elemento à discussão, a questão da intertextualidade. Vanoye e Goliot-Lété (1994) apontam que a grande maioria dos filmes sofre influencias diretas e ou indiretas de outras obras: da fotografia, pintura, literatura, da música e, também, de outros filmes. Mesmo antes de um roteirista juntamente com um diretor começarem a trabalhar em um roteiro, elementos de obras diversas inspiram este trabalho e, posteriormente, com o filme finalizado, muitas destas referências estão presentes no filme. Os referidos autores chamam a atenção que a intertextualidade em um filme, as referências que ele utiliza, serve para evidenciar que este filme se insere em um contexto sociocultural e político mais amplo. Algumas questões servem de partida para se analisar a intertextualidade nos filmes: Quais as obras que possivelmente influenciaram o filme? Quais são as categorias artísticas destas obras, textuais, musicais, audiovisuais, iconográficas? Quanto destas obras de referência pode estar presente no filme? De que maneiras e em quais passagens do filme esta intertextualidade se faz mais evidente?