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1. GEOGRAFIAS DE CINEMA: CONTEXTUALIZAÇÃO E REVISÃO

1.1. Monografias sobre Geografias de Cinema

As Monografias de conclusão de graduação são estudos introdutórios e ainda muito pouco aprofundados, se comparados às Dissertações e às Teses. Em vista disto, não é sensato tomar Monografias como referências teórico-metodológicas na elaboração de uma Tese, e não é este o caso aqui. A intenção de incluir as dezesseis Monografias a serem comentadas, é incorporar no inventário apresentado nesta revisão alguns exemplos de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no nível da graduação. Estes trabalhos poderão, futuramente, servir de referência tanto para orientadores de graduandos, quanto para aqueles graduandos que queiram trabalhar com as Geografias de Cinema.

As dezesseis Monografias listadas foram desenvolvidas no Brasil, sendo cinco de Licenciatura, Oliveira (2011), Freitas (2012), Oliveira (2012), Sobral (2012) e Silva (2013), e onze de Bacharelado: Bluwol (2003), Rivero (2007), Maia Filho (2008), Pereira (2008), Zachariatas (2008), Pechiaia (2009), Lauria (2012), Bezerra (2013), Alves (2014), Oliveira (2014), Silva (2014).

A primeira das Monografias citadas há pouco, de Oliveira (2011), tratou do uso do cinema em aulas de Geografia, com foco no estudo da Região Nordeste, a partir do filme O Auto da Compadecida, de Guel Arraes - 2000. Além de realizar entrevistas com professores da rede pública do Ceará, a respeito do uso de filmes em sala de aula, o autor propôs uma estrutura metodológica sucinta, já que a Monografia em formato de artigo tem dezenove páginas ao todo.

A Monografia de Freitas (2012), apesar de ser de Bacharelado, analisou a utilização de filmes como recurso metodológico para o estudo do fenômeno da migração nas aulas de Geografia. A autora partiu de um debate prévio sobre o tema, com um grupo de estudantes do Ensino Médio, para em seguida realizar a exibição de um filme brasileiro sobre o referido assunto, O caminho das nuvens, de Vicente Amorim - 2003, e, por fim, um novo debate e a aplicação de uma avaliação sobre a atividade proposta.

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A Monografia de Rivero (2007) foi de Bacharelado, mas teve como foco o cinema como ferramenta didática no Ensino de Geografia. A metodologia adotada pelo autor foi similar à adotada pela autora citada no parágrafo anterior. Rivero (2007) partiu de uma discussão geral sobre o uso de filmes no Ensino de Geografia, teceu relatos de experiências próprias com este tipo de trabalho, e, por fim, apresentou uma lista com cinco filmes, sobre temas geográficos distintos, filmes estes que foram exibidos para turmas de 7a e 8a séries. Cada filme foi vinculado a uma atividade didática específica, seguidas de uma avaliação do trabalho desenvolvido.

A pesquisa de Oliveira (2012) discutiu, de maneira teórica e sem um estudo de caso específico, as potencialidades do uso de filmes no Ensino de Geografia, e das vantagens e desvantagens do uso de cinema nas aulas de Geografia. O trabalho de Sobral (2012) discute o papel do discurso cinematográfico no Ensino de Geografia, seu caráter de instrumento de manipulação e legitimação de poder.

O trabalho de Silva (2013) também discutiu a utilização de obras fílmicas como recurso didático no Ensino de Geografia, porém com uma abordagem diferente das de Rivero (2007) e Freitas (2013). A pesquisa de Silva (2013) partiu de uma revisão sobre o tema, para, a partir disto, elaborar um questionário sobre a eficácia e pertinência do uso dos filmes em sala de aula. O questionário foi aplicado a seis professores da rede pública de ensino do Distrito Federal - DF. Após a avaliação dos questionários, a autora propôs aos entrevistados que todos trabalhassem com um mesmo filme brasileiro em sala de aula, Tapete vermelho, de Luiz Alberto Pereira, - 2006, do modo como preferissem, ao final a autora fez um quadro comparativo dos relatos sobre os resultados obtidos.

A Monografia de Alves (2014) é outra que, apesar de ser de bacharelado, teve como foco o uso de filmes como recurso didático para o Ensino de Geografia, neste caso para o Ensino Fundamental II, do 6o ao 9o ano. A metodologia utilizada foi bastante similar à utilizada por Silva (2013): revisão de literatura; elaboração de questionários, que foram aplicados a vinte professores e quarenta estudantes da rede pública de ensino do DF; proposta de utilização de um filme por parte dos entrevistados, o filme de animação Os sem floresta (Over the edge), de Tim Johnson e Karey Kirkpatrick - 2006; e, por fim, a elaboração de um quadro comparativo entre as diferentes unidades escolares visitadas.

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Além dos seis trabalhos arrolados nos últimos cinco parágrafos, que trataram do uso de filmes no Ensino de Geografia, há oito outras Monografias, cada uma com um foco de análise diferente, a partir de obras fílmicas. Bluwol (2003) analisou o filme Cidade dos sonhos (Muholland Drive), de David Lynch - 2002, para discutir uma abordagem teórica que ele denomina de “Geografia da tela”, mas que, no âmbito de uma Monografia, não apresenta um devido aprofundamento teórico; Maia Filho (2008) trata de representações das paisagens do semiárido no cinema brasileiro produzido entre 1996 e 2006; Pereira (2008) discutiu a organização do espaço geográfico, o espaço rural do sertão nordestino, através do filme Abril despedaçado, de Walter Salles - 2002; Zachariatas (2008) desenvolveu uma leitura geográfica do filme Adeus, Lênin! (Good bye, Lenin!), de Wolfgang Becker - 2004; Pechiaia (2009) elaborou uma leitura da paisagem a partir do Cinema Marginal produzido na Boca do Lixo, em São Paulo; Lauria (2012, p. 8) discutiu a relação da Geografia com o cinema, e as formas de se “ler, construir e utilizar representações fílmicas” nas análises socioespaciais.

Bezerra (2013) analisou espacialidades da cidade de Brasília a partir dos filmes Insolação, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch - 2009, e A Concepção, de Eduardo Belmonte - 2005; Oliveira (2014) desenvolveu uma análise do espaço a partir da obra fílmica do cineasta Luis Buñuel; já Silva (2014) discutiu representações de paisagens geográficas na periferia de Belo Horizonte a partir do filme Uma onda no ar, de Helvécio Ratton - 2002.

O conjunto de trabalhos apresentado indica que nos últimos catorze anos vem crescendo o interesse dos graduandos em Geografia de trabalhar com filmes. O Quadro 2, na página a seguir, apresenta uma síntese das 16 Monografias brasileiras comentadas nesta revisão, listando o ano de defesa, o estado no qual foi desenvolvida, o último sobrenome de cada autor, e o tema geral da pesquisa. Os trabalhos estão organizados por ordem cronológica de lançamento. Este mesmo formato será adotado para os quadros síntese das Dissertações e Teses, estrangeiras e brasileiras, a serem comentadas na sequência. A Monografia mais antiga identificada nesta revisão, a de Bluwol (2003), é o trabalho acadêmico brasileiro mais antigo, dentre não só as Monografias, mas também considerando as Dissertações e Teses.

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Ano Estado Autor Tema

2003 SP Bluwol O filme Cidade dos sonhos e a questão da “Geografia da tela”. 2007 MG Rivero Uso de filmes para o Ensino de Geografia nas 7a e 8a séries 2008 PE Maia Filho As paisagens do semiárido através do cinema brasileiro.

2008 SP Pereira A organização do espaço geográfico no filme Abril despedaçado. 2008 SP Zachariatas Uma leitura geográfica da reunificação alemã pelo filme Adeus, Lênin! 2009 SP Pechiaia Leituras da paisagem no Cinema Marginal produzido na Boca do Lixo. 2011 CE Oliveira Uso de filmes no Ensino de Geografia com foco na Região Nordeste. 2012 DF Freitas Uso de filme para o estudo de migração no Ensino Médio.

2013 DF Bezerra Análise das espacialidades de Brasília a partir dos filmes brasileiros. 2012 RJ Lauria Uso de representações fílmicas nas análises socioespaciais.

2012 SC Oliveira Potencialidades do uso de filmes no Ensino de Geografia.

2012 SP Sobral A importância do discurso cinematográfico no Ensino de Geografia. 2013 DF Silva Uso de filmes por professores de Geografia da rede pública do DF. 2014 DF Alves Uso de filmes como recurso didático para o Ensino Fundamental II. 2014 DF Oliveira Análise do espaço a partir da filmografia de Luis Buñuel

2014 MG Silva Análise de representações de paisagens a partir do filme nacional.

Quadro 2: Síntese comparativa das 16 Monografias brasileiras sobre Geografias de Cinema.